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quarta-feira, dezembro 31, 2008

No ano de 2009, inove!



Não é apenas um trocadilho curioso, mas um desejo sincero. Mudar de ano pode, muitas vezes, significar mudar de vida. Claro que é mais fácil falar que fazer. As grandes preocupações que ocuparão a mente da maioria das pessoas em 2009, serão a de manterem os seus empregos, e pagarem as suas dívidas. Porém, isso não é tudo. Temos de guardar um tempinho, e um espaço no nosso coração para a nossa familia, os nossos filhos, irmãos, mães, netos, amigos, namorados, maridos. Temos de guardar esse espacinho, pois sem eles, não faz sentido lutar por empregos ou qualidade de vida. São eles o nosso motor, a nossa motivação maior, as certezas pelas quais nos sacrificamos diariamente. Sem eles, nada faz sentido. Infelizmente, neste mundo em que vivemos temos de comprar diariamente a liberdade e o bem estar, com o preço de suor e lágrimas. Mas a nossa liberdade não está em ter mais para comprar mais, mas em ter mais para viver mais, com mais qualidade. A ilusão do ter conduziu-nos à crise que hoje vivemos, na qual o crédito mal parado de milhões de euros (e a crescer) teve um papel incontornável. As pessoas querem ter mais e mais, seguir as modas mais recentes, ir aos sítios mais in. Estão dispostos, para tal, a hipotecarem as suas vidas durante anos a fio. Isto porque a nossa sociedade vive uma espécie de paradoxo curioso: por um lado, apelos à responsabilidade e à moderação; por outro, produtos financeiros miraculosos, plafons de crédito intermináveis, apelos ao gasto, ao consumo, à felicidade empacotada. Só que os apelos à responsabilidade não têm empresas de marketing na rectaguarda, nem são suficientemente apelativos e soam a conservadorismo... Deve ser por isso que eu não tenho cartão de crédito (nem terei jamais em tempo algum). Deve ser por isso que eu continuo a achar que é preferível alugar uma casa que estar 30 anos a pagá-la, a juros sempre crescentes. Deve ser por isso que eu tenho um carro em segunda mão, mas pago a pronto. Porque acho que é mais honrado viver de acordo com as possibilidades de que dar um ar de ostentação. Porque, é por isso que a classe média está a desaparecer. Muita gente habituou-se a viver acima das suas possibilidades, confiante num futuro próspero, de contínuo enriquecimento. O futuro desmentiu-o. Mas, eu sou eu. Cada um sabe de si, e Deus sabe de todos. A grande questão, é que Deus somos nós.

Força e coragem para 2009.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Natal sem clichés



Não. Garanto que o texto que se segue não vai reproduzir nenhum dos típicos clichés do Natal. Nesta época, não há ninguém que não tenha a bondade e a compaixão pelos pobres e oprimidos, na ponta da língua. Todos os anos é assim. Multiplicam-se os votos de amor, felicidade, alegria, esperança. O problema está no que vem a seguir. Os dias que sucedem às festas geram uma espécie de alzheimer generalizado, em que na verdade todos esquecem a boa vontade e a compaixão. E esquecem, não só por culpa de cada um, mas também porque a sociedade a isso obriga. A boa vontade é relegada para um segundo plano, quando a prioridade de muita gente começa a ser ajudarem-se a si mesmas, terem emprego, darem de comer aos filhos, assegurarem a sua existência familiar de uma forma digna. A nossa sociedade está a empobrecer. Empobrece porque há cada vez menos dinheiro, menos perspectivas de realização, menos... cultura. Empobrece a partir do momento em que os cidadãos ocupam noventa por cento do seu dia a pensar se para o mês que vem terão dinheiro para pagar a renda ou a prestação da casa, ou até para alimentar os próprios filhos. Empobrece quando as melhores cabeças ficam inaproveitadas em trabalhos sem futuro, gerações inteiras de licenciados atirados para a precariedade e para empregos a termo, vendas, recibos verdes, comissões, exploração, rotinas estupidificantes, atrofiantes, desumanizadas. Empobrece quando um governo dá prioridade ao défice financeiro, sem se aperceber de muitos outros défices bem mais problemáticos e urgentes. Governo? Que governo, quando quem nos governa cada vez mais é Bruxelas? Enfim, passando à frente. A nossa sociedade está a empobrecer todos os santos dias, porque o que é preciso é que todos consumam, é preciso que todos respondam solicitamente ao borbardeamento publicitário que interpela a pseudo-programação televisiva a que se vai assistindo, em zapings sonolentos. É preciso correr atrás do melhor telemóvel, do melhor computador, do melhor carro, da melhor peça para carro, do melhor acessório. E no meio de tudo isto é preciso andar rápido, rapidinho que atrás vem gente. A sociedade está empobrecer, como um balão a esvaziar-se lentamente. A sociedade está a sangrar, devagar devagarinho. Diria que há uma estupidificação crescente, generalizada e aceite. Porque o que importa é que cada um seja «livre»; porque cada um «sabe o que quer».

Já nem sequer falo nos milhares de pessoas que vão passar o Natal ao relento, a tiritar no vão de escada, enquanto um leve cheiro a rabanadas e filhoses lhes chega ao nariz. Já não falo nos doentes, nas crianças do IPO que não têm quem as visite nessa noite, e cuja única companhia são os soros e o pessoal de saúde. Já nem falo no pessoal de saúde, nos bombeiros, na polícia, enfim, em todos aqueles que passam o Natal a trabalhar. Já não falo nas mais variadas formas de opressão que muitos telhados escondem, vidas que nenhum 25 de Abril resgatou...ainda. Já não falo no resto do mundo, porque então nunca mais terminaria este texto. Já nem falo no resto do ano. Porque há por aí muita coragem, dessa coragem verdadeira que muitos poucos conhecem ou sequer ouviram falar. Porque há gente que no Natal não diz coitado, ou tenha esperança, mas age da maneira que sabe e pode para que os coitados sejam menos coitados, e os desesperados menos desesperados. Porque há quem faça. Ponto.

Ao menos no Natal pare, escute e olhe. O ano de 2009 vai ser (mais) difícil, económica e socialmente. Se existe esperança para mudar alguma coisa, ela reside apenas em cada um de nós, na coragem que temos latente. Ela reside na responsabilidade, na inteligência, na força, na entre-ajuda, na liberdade. E isso está tudo cá dentro, estou certo disso.

Feliz 2009

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Debater é no Cenáculo



Criei um fórum ao qual podem ter acesso no scroll lateral para debate de ideias. Aceito sugestões para tópicos a serem discutidos. Vamos lá! Da discussão nasce a luz, e Portugal bem precisa de debate consciente e informado.

Boa sorte.

domingo, dezembro 14, 2008

Homem, princípio e meta - Sá Carneiro acena ao futuro



Ontem, fui dar um passeio pelo jardim da Praça Francisco Sá Carneiro. Um passeio com olhos de ver, entenda-se, não um simples passeio como quem leva o cão a fazer as suas necessidades, sem mais nada em mente do que um vazio monumental. Não estava vazio, mas cheio, como aliás estou quase sempre, sem conseguir dar vazão a todas as ideias e sensações que me atravessam minuto a minuto. Li a placa que diz Praça Francisco Sá Carneiro, e logo recordei o homem que morreu a 4 de Dezembro, e cujo mito se adensa a cada ano, a cada crise política. Em épocas de crise, são os homens maiores que emergem da penumbra, como facho de luz, por vezes sinais de uma esperança abortada em algum momento, símbolos de um porvir desejado. São os grandes homens que surgem no nevoeiro, como promessas. Promessas silenciosas, de pedra, de olhar esfíngico voltado para futuros ansiados, ideais de glória e mudança verdadeira, pontos de luz na trama da história do mundo.

Nesse dia fui até ao centro do jardim, onde dois pilares se erguem, como marcos de delfos no centro do mundo. Num dos pilares há um relevo de um homem que acena para um público inexistente, talvez do passado – quem sabe se do futuro? -. Ao lado, pode ler-se uma inscrição da qual só me lembro de um excerto, ...o homem é o nosso princípio e a nossa meta... Ali, naquele silêncio, aquela inscrição parecia ecoar no espaço, como se estivesse fora do tempo numa espécie de limbo de vozes indistintas, palavras de ordem, sangue a ferver. Sá Carneiro acenava esfingicamente, do alto, e eu repetia para mim “o homem é o nosso princípio e a nossa meta”. Saboreei ali mesmo, sozinho, essas palavras. Tentei penetrar no seu significado mais profundo, nas implicações evocadas por um compromisso tão grande como fazer do homem o nosso princípio e a nossa meta. Pensei se tal seria mesmo possível, se a política não será por vezes precisamente o contrário, fazer do homem meio para outros fins que não o próprio homem; usá-lo individualmente ou em massas indistintas, como carne para canhão, com fins obscuros e maléficos. Pensei na responsabilidade e na coragem que devem ser inerentes a um homem que assuma tal compromisso, a força que deve ter para superar todas as incompreensões, todas as chagas que lhe inflingirão no seu calvário pelo homem. Tentei perceber de que homem estava Sá Carneiro a falar. No homem que vemos na rua, que passa ao nosso lado e a quem não dirigimos palavra, símbolo da nossa total indiferença? Na Humanidade como massa disforme e indiferenciada? Em nós mesmos? Perguntei a mim mesmo até onde Sá Carneiro teria conseguido levar esse seu compromisso. Imaginei como seria este país se ele não tivesse morrido naquela noite de dia 4 de Dezembro. Seria muito diferente? Seria ele hoje um político respeitado, admirado por ter cumprido sem falhas o compromisso assumido desde os primeiros dias do PPD/PSD, e até antes disso? Teria sido sempre honesto, sempre recto e firme nas suas convicções? Acho que não consegui obter resposta para nenhuma das minhas questões. Continuo a achar, porém, que palavra e boas intenções não faltam. O que falta num político é coragem. Não é a coragem das batalhas, do sangue, da morte. É uma coragem bem mais subtil – a de nadar contra a maré, mesmo com o risco constante de afogamento. É a coragem ter como horizonte o Homem, ainda que os homens se unam para nos aniquilar. É a coragem de assumir um risco que se sabe ser maior do que a própria vida, sabendo que a glória será sempre póstuma – se sequer existir glória a haver -. Talvez seja para esse público do futuro, audiência póstuma da sua glória ainda não totalmente compreendida, que acena Sá Carneiro. Talvez seja essa a lição que ele nos quer dar: o homem que assume o compromisso da coisa pública tem de agir para o presente mas, acima de tudo, para um futuro que não conhece e que o ultrapassa largamente, muito para além da poeira e do caos de um presente que parece hostil e difícil.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Pensamentos sem espartilhos...




Nos últimos tempos o tempo não é muito. Estou ocupado com uma tradução, e a disponibilidade é pouca. No entanto, há sempre tempo para pensar e reflectir. Deixo-vos uma pequena reflexão, daquelas de horas vagas, práticamente escritas nas margens de um guardanapo.

Não quero uma vida longa. Quero uma vida cheia, preenchida e feliz. Quero uma vida interventiva, questionadora, solidária. Quero uma vida que sirva para o progresso do mundo, da humanidade em todas as suas dimensões, aberta e sem preconceito. Quero ser homem, quero esculpir-me, quero escrever o romance da minha própria vida. Quero, no fim de tudo, poder olhar para trás com uma felicidade sincera. Se morrer frustrado, que seja por ter falhado o impossível, não por ter falhado o possível. O ideal seria não morrer, ou morrer fulminado e em pé, como as árvores. Morrer fulminado e em pé, em plena acção, em plena vida, não já meio morto. Morrer sem estar à espera, não estar à espera de morrer. Podemos na vida matar o corpo, esfolá-lo e rasgá-lo em pedaços. Podemos debilitá-lo, ensanguentá-lo, desprezá-lo. Podemos tudo isto desde que, no fim, a alma fique intocada, e a ideia fortalecida. E não falo de alma no sentido religioso ou imaterial. A alma humana é muito mais do que isto. É vasta como as mais vastas planícies do mundo, perdendo-se no horizonte que divide o Céu e a Terra. A alma é a Ideia que se propaga, que influencia e persiste para além da vida, do tempo e das eras. A alma é pensamento que vive e se manifesta, cria, recria, sonha e concretiza. A alma de um homem é a memória que o mundo tem dele, o que ele sonhou e concretizou, e tudo o que dele brotou e brota até ao fim dos tempos. O Pensamento move-se e flui, cria-se, recria-se, destrói-se e reconstrói-se, refuta-se e supera-se continuamente, enquanto existir na Terra ser que pense. Terá regras ou será um movimento caótico de cariz imprevisível? Será um movimento linear, ou poderá quebrar as barreiras do tempo e do espaço? Pode, porque o próprio Tempo e o próprio Espaço são Pensamento. Na verdade, nada existe fora do Pensamento, e o mundo mais não é do que a eternidade das almas. O que existe fora do pensamento não pode ser tocado pelo pensamento sem de deixar contaminar por este, assim como não se pode saber a posição do electrão no átomo por não se poder vê-lo ou chegar a ele por meios ópticos ou de outro tipo. O electrão existe como concepção consensual, matemática e física. Nunca foi visto, foi apenas detectado numa placa de chumbo durante uma experiência. Acredita-se estar presente na electricidade, ou ser a própria electricidade, que mais não é que um fluxo que se movimenta continuamente.

(Através da escrita e do pensamento, subo à montanha para respirar um ar mais puro e ouvir o silêncio.)

Ontos é o Ser último. Ser último, que é também ser primeiro. A coisa-em-si kantiana é incognoscível pelo entendimento. Por um lado, se nada se pode dizer acerca da coisa em si, nem vale a pena continuar a reflexão. Se por outro lado, vale a pena dizer algo então, em que modo se pode falar acerca do incognoscível? Se não é cognoscível não é medível, definível e não está sujeito à verificação. Excluindo a prova, sobra apenas a crença. O espaço vazio presta-se à imaginação humana. A coisa em si, face oculta do fenómeno, presta-se à especulação. Não podendo ser alcançada pela lógica, presta-se à i-lógica. Na verdade, esse númeno é um espaço do pensamento, assim como o fenómeno. Fenómeno mais não é do que Pensamento; númeno mais não é do que pensamento aberto à possibilidade.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Sonho Cor-de-Verde da Rita - já ouviu falar?



O meu nome é Rita. Como sou muita fofinha e pequenina todos me tratam por Ritinha. Sou uma menina de cinco anos, natural da cidade do Porto e sofro de paralisia cerebral - não falo, não vejo e não ando.

São estas as palavras que se apresentam aos olhos de quem acede ao site da Rita (Clique Aqui), uma menina muito especial, que há já 5 anos vem travando uma luta difícil mas não impossível contra uma paralisia cerebral. Não é uma causa nova. Há dois anos que a mãe, Maria do Céu Santos, se desdobra em iniciativas junto da comunicação social, das empresas, das bibliotecas, para que esta história não acabe atirada para debaixo do tapete, como tantas outras. A 5 de Maio deste ano, Maria do Céu Santos, em estreita colaboração com Ana Almeida e com o patrocínio de variadíssimas empresas, nomeadamente a produtora de programas Mandala, lançou um livro chamado O Sonho Cor-Verde da Rita. Uma história bonita, cuja principal protagonista é a Ritinha, transportada para um mundo de fadas e sonho. De notar o prefácio de Idália Serrão, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, e de um segundo texto prefacial escrito por Manuela Eanes, esposa do ex-presidente da República Ramalho Eanes. Conta também com a dedicatória do Presidente da República Cavaco Silva, na contra-capa.

Recentemente, Maria do Céu Santos esteve presente na Praça de Alegria na RTP, onde apresentou o seu projecto cujo objectivo é divulgar e angariar fundos suficientes para comprar uma casa térrea, adaptada às dificuldades motoras da Ritinha, que não vê, não fala, não anda. São inúmeras as individualidades que apoiam este projecto. Poderão verificá-lo clicando no site acima, onde há pelos menos 3 fotos em que a Ritinha está ao colo de Vanessa Fernandes, ou surge rodeada de Tânia Ribas de Oliveira, ou mesmo Susana Félix.

O livro está á venda em todas as grandes livrarias e superfícies, menos na Bertrand e no Jumbo. Podem também encomendá-lo aqui.

Recebi ontem mesmo, da própria mãe da Rita, um convite para colaborar com este projecto. Aceitei com prazer. Colabore também.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Yes We Can, Obama Is Our Friend...




Obama ganhou, confirmando e até superando expectativas. Se a vitória em número de votos não foi assim tão expressiva, em número de delegados foi certamente. Ganhou nos estados mais importantes, e isso é que conta.

O discurso de vitória foi de um esplendor monumental, ombreado apenas por JFK há quase 50 anos.(leia o discurso da vitória)

Num mundo que pede mudança, que pede melhores condições de vida, melhor e mais educação, maior responsabilidade e ética daqueles que detêm cargos públicos ou mesmo privados, menos retórica de confrontação e mais de reconciliação, surge Obama e a sua promessa de mudança, como uma espécie de luz no horizonte. E com isto não quero parecer seguidista ou meramente crente da hipotética «santidade» Obama. Não sou, e tenho noção do que nele é apenas oratória formal e conteúdo concreto. Sei que as dificuldades serão grandes. Os interesses instalados e os grupos de pressão são muitos, e já «acamparam» há muito tempo nas «redondezas» da Casa Branca. E se Obama tem a maioria no Congresso e no Senado (o que lhe dá margem de manobra para ver as suas propostas e acção validadas sem dificuldades), tem por outro lado uma poderosa CIA, ciosa da sua história e demasiado habituada a controlar e a influenciar. Tem por outro lado uma poderosa imprensa, controlado por grandes lobbys, que poderão facilmente elevá-lo ou destruí-lo. Tem o petróleo e os seus tentáculos poderosos, prontos para abortar qualquer mega-projecto ambiental que o exclua do horizonte. Tem um país gigantesco, maior que a velha Europa e até mais diverso em termos étnicos e culturais. Terá muitas vezes (se de facto for essa a sua vontade) de remar contra a corrente. Remar, remar, remar. Se ficar sem barco, terá de nadar, nadar, nadar. E nessa altura, não faltará quem o queira afogar.

Apesar de tudo isto, só a sua vitória dá um sinal poderoso: a força da sociedade civil americana. Foi uma campanha praticamente toda construída pelas pessoas, e pelas suas pequenas contribuições. Deu um sinal à comunidade negra do seu poder, e da força que a partir de agora ninguém pode negar nem retirar.

Abriu um novíssimo capítulo na diplomacia e nas relações internacionais. Todos os grandes líderes de mundo saudaram Obama, e muitos deles com contentamente verdadeiro. Chavez, Raúl Castro, até Almadinejad, vêm subitamente uma oportunidade de diálogo franco e verdadeiro com os EUA, cuja diplomacia tem sido feita de retórica de ameaça e confrontação. Em vez de falar e virar costas, Obama parece querer virar-se de frente e conversar.

E, diz-se, que a mudança é possível. É importante que quem vive na opressão e na miséria, que quem diariamente se vê pisado ou ferido na sua dignidade, saiba que mudar, é mesmo possível. Depende também e sobretudo, de nós. Todos nós.

terça-feira, novembro 04, 2008

Desespero no Congo



Em época de eleições norte-americanas, e na eminência da eleição de um presidente de raizes quenianas, urge repensar o modo como as maiores potências encaram e resolvem os problemas de países como a Républica Democrática do Congo. Talvez com Obama algo posso mudar, e finalmente os EUA assumam de facto uma responsabilidade social para com o oprimido povo africano, nomeadamente deixando de vender armas a grupos rebeldes, e forçando legislação internacional nesse sentido. O vídeo ilustra bem o desespero destas pessoas, espulsas a tiro e coronhada das suas casas e dos campos de refugiados em que viviam desde o conflito de 1998/2003 no Congo. Procuram refúgio, assistência e comida.

domingo, novembro 02, 2008

Genocídio reeditado?




Mais uma vez, urge dar voz a um povo sem voz. África, muito mal curada da crise do Darfur (que parece não ter fim) e da crise no Zimbabwe (fruto da obstinação de um homem que só conhece a linguagem do poder), vê-se de novo a braços com uma situação de profunda calamidade humanitária, na República Democrática do Congo (antigo Zaire). Soa a reedição do que se passou entre 1998 e 2003, conflito que matou directa ou indirectamente 5 milhões de pessoas. Os combates deram-se na província de Kivu-Norte, sobretudo na sua capital Goma. Tudo começou, segundo o jornal Público, depois de uma ofensiva dos rebeldes Tutsis comandados pelos general Nkunda, contra as tropas governamentais do Congo.

Há coisas na vida cuja obviedade quase torna inútil a referência. Segundo David Miliband, MNE inglês, mais de 1,6 milhões de pessoas terão fugido das suas aldeias e dos campos de refugiados em Goma. Aquela zona do Congo é rica em recursos naturais, nomeadamente ouro e diamantes. É certo que este tipo de conflitos étnicos continuam a ser fomentados por potências com os EUA, a Rússia e até China, seja pela venda de armas seja pela desestabilização de governos «incómodos» através de apoios a forças rebeldes. Hoje, África é uma espécie de tabuleiro mundial, em que as várias potências económicas se degladiam para controlar os imensos recursos naturais, assegurando o monopólio da exploração dos mesmos recursos. Talvez fazer cimeiras internacionais, juntar à mesma mesa União Africana e ONU, rebeldes e governos, manter frágeis equilibrios que ao primeiro vislumbre de falta de supervisão exterior se desfazem, não chega. Não chega manter capacetes azuis durante anos nos locais de conflito, nem ONG´s a trabalhar ano após anos de forma assistencialista. Mais do que tudo isto, é preciso que os EUA, a China e a Rússia assumam as suas responsabilidades, deixem de vender armas a países com historial de conflitos étnicos à sombra da «legalidade do mercado livre».

domingo, outubro 26, 2008

W, de Oliver Stone




O filme de Oliver Stone, W, que estreou nos cinemas portugueses a 23 de Outubro, é uma interpretação muito curiosa e paradigmática de uma liderança com boas intenções, mas que perante a ignorância e obtusidade de um líder, termina por fazer mais mal que bem. Josh Brolin é o actor que dá vida à personagem cheia de trejeitos sulistas e rica em gaffes de George W Bush, o ainda presidente dos EUA. Desde a vida boémia aos bastidores truculentos e quase conspirativos de Washington e da sua administração, Stone pinta um retrato de um homem renascido, ex-alcoólico que se virou para Deus, e crente de que este lhe confiou uma missão divina.

De notar a excelente perspectiva dos bastidores que conduziram Bush à guerra no Iraque. Passa a ideia de que Bush junior agiu como filho frustrado, ávido de vontade em provar o seu valor ao pai (George Bush) que sempre o preteriu ao filho Jed, e o epitetou de falhado desde os seus tempos de juventude. Bush junior queria ir mais longe, terminar o que o pai não foi capaz de terminar, decidir onde o seu pai hesitou. Claro que esta predisposição quase freudiana foi terreno fértil para as inevitaveis pressões do poder, protagonizadas pelo seu ambicioso vice-presidente Dick Cheney e por Rumself, homem de acção e pouca profundidade. De notar a constante desinformação por parte dos seus próximos em relação ás hipotéticas armas de destruição, e o constante «passar da batata quente» entre os mesmos responsáveis quando as tais armas de destruição massiça se revelaram um logro. De notar a obtusidade de um homem como Bush, avesso a pensamentos profundos e dado a agir segundo o instinto do momento (guts). A necessidade de instaurar um império capaz de controlar o petróleo mundial, império incompleto sem o dominio absoluto das jazigas de petróleo iraquiano, um quarto de todas reservas de ouro negro do mundo. Plano este revelado por Cheney, e que pelos vistos existia desde os anos 90. De notar a oposição inicial de Colin Powel ao plano de invasão e a sua perspectiva racional, na tentativa de perceber o porquê de tanta pressa em invadir um país soberano sem provas conclusivas e coerentes da ligação de Saddam à Al-Qaeda. Bush acreditava ser o homem certo para «libertar todo o médio oriente». Na sua ignorância (e nisto não estava só) julgava que um Iraque democrata seria exemplo e motivação para todas os povos do médio oriente sedentos de liberdade (teria ele pensado nos palestinianos?), e que a democracia se propagaria como o pólen das flores. Nunca se teve em conta a questão étnica, as divisões latentes fragilmente mantidas á custa do terror de Saddam. Divisões essas responsáveis pelo pântano que é hoje o Iraque. Nunca se teve em conta o erro de usar a violência para acabar com a violência. Curioso também é o papel atribuido a Karl Rove, homem forte e de confiança de W. Bush, desde a sua candidatura a Governador do Texas. Rove foi capaz de, a pedido do próprio Bush, limar as muitas arestas que faltava limar, tentando transformar um homem ignorante do Texas - a quem não só faltava o dom da palavra como se tornava perigoso fazer uso dela – no homem mais poderoso do mundo, mas também no mais solitário.

Goste-se ou não de Bush vale a pena ir ver o filme, sobretudo para que se possa entender melhor como funcionam as tramas politicas que conduzem o mundo, e como é dificil ao homem mais poderoso do planeta conciliar todos os interesses e ser capaz de, sobre pressão, tomar as mais importantes e influentes decisões do mundo. Em época de eleições nos EUA, do filme pode-se perceber pelo menos como não agir, e como é importante que a posição de presidente da nação mais influente do mundo esteja a entregue a alguém de inteligência superior, cultura profunda, responsabilidade e visão abrangente. Neste filme Bush fica menos mal na fotografia que, por exemplo, Dick Cheney. Bem dizia Sócrates: a Ignorância é a mãe de todos os males.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Revolução a 4 de Novembro?




Estamos na prática a 3 semanas das mais disputadas e interessantes eleições do mundo. Dia 4 de Novembro saberemos se o novo inquilino da Casa Branca será o conservador McCain, ou o democrata e liberal Obama.

Como sempre, cada eleição norte-americana é terreno fértil para várias indústrias, sobretudo as do marketing. Movem milhões de dólares, dinheiro que acaba por não ser totalmente desperdiçado na medida em que há muito empregos em jogo – ainda que temporários - e empresas que recebem um novo fôlego.

Para mim, a grande incógnita não está na personalidade do novo presidente. A minha pergunta é se o novo presidente será capaz de ser mais do que um simples relações públicas dos lobbys que verdadeiramente, comandam a potência industrial, militar e política que são os EUA. Saberá o novo presidente bater o pé á CIA, ao FBI, aos lobbys petrolíferos e a quaisquer outras forças poderosas e sombrias, abrigadas nos bastidores? E se conseguir, o que impede que se torne um novo Kennedy cuja(s) bala(s) pôs(eram) fiz ao sonho da mudança? Será forte, ou será um peão? Terá conteúdo, ou será um pacote vazio de propaganda? Haverá de facto condições para uma mudança, ou o status quo é mais poderoso que o ceptro de um presidente?

O que é mais frustrante é que um candidato a presidente não possa (sob pena de perder votos) dizer aquilo que de facto pensa acerca dos assuntos que lhe são apresentados. Quando diz o que pensa, ele toma uma posição. Tomar uma posição é preterir outra, que por vezes vai contra a opinião geral do eleitorado. Os presidentes são-no frequentemente feitos de frases feitas. É assim que ganham eleições. O que são quando presidentes em exercício mostra frequentemente esta realidade.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Marcha Mundial pela Paz - Evento no Porto



No âmbito do Dia Mundial da Não Violência (proclamado a 2 de Outubro, data do nascimento de Mahatma Gandhi), o Centro de Culturas do Movimento Humanista realizou no sábado dia 6, no Porto, um evento particularmente bonito e interessante, que pretendeu divulgar a Marcha Mundial pela Paz e pela Não Violência, projecto a nível mundial organizado pela MSG (Mundo Sem Guerras). A Marcha Mundial pela Paz e pela Não Violência, tem como objectivo que em cada país, as mais variadas organizações ou grupos de cidadãos realizem as mais variadas actividades tendentes a consciencializar as populações e os agentes políticos para três pontos essenciais, vistos como prerrogativas para a Paz. São eles:

- O desaparecimento das armas nucleares, a redução progressiva e proporcional do armamento. A renúncia dos governos à guerra como meio de resolução de conflitos.

- Gerar uma consciência social mundial contrária a todo o tipo de violência (económica, física, psicológica, racial, religiosa, sexual).

- Recuperar o melhor das diversas culturas e povos da Terra.


Ora, como já vem sendo hábito, o Centro de Culturas do Movimento Humanista Português ouviu o apelo. A apresentação da Marcha Mundial teve lugar no Café Guarany pelas 15 horas, apesar de pouco tempo depois a sala se ter mostrado pequena para receber todos os curiosos que se foram juntando. Cerca de 50 pessoas estiveram presentes.
Para culminar, cerca de 50 voluntários prepararam e formaram um cordão humano em 3 pontos diferentes da cidade. Cada um dos voluntários segurava um guarda-chuva com uma letra inscrita, e no conjunto podia ler-se MARCHA MUNDIAL (PELA) PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA 2 OUT 09 - 2 JAN 10.

Ficam três fotos que ilustram bem o que se passou.







Deixe-nos um comentário dizendo o que, para si, é mais importante para que haja definitivamente Paz. Os melhores comentários serão publicados.

terça-feira, setembro 30, 2008

Pura Solidariedade Animal



Ao que parece, o instinto de solidariedade não é de todo um exclusivo da espécie humana. Cientistas sul-coreanos filmaram este video no mar do Japão, em que vários golfinhos tentam manter um seu companheiro à superficie, impedindo-o de ir ao fundo e se afogar. Ao que parece o golfinho estava muito doente. Apesar do esforço admirável dos seus companheiros em mantê-lo à superficie para que pudesse respirar, uma hora depois ele acabou por ir ao fundo e morrer.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Conto Inacabado para Governantes Inacabados





É muito dificil dirigir os homens. É mais fácil empurrá-los.
Tagore, Rabindranath





Tinha nascido para ser rei. Possuía todas as qualidades de um homem nascido para dirigir, liderar, governar. De uma inteligência fabulosa, analítica e racional; uma disciplina prodigiosa que regia a sua vida quase ascética; uma bondade e um senso de justiça exemplar; um carisma que lhe permitia estar tão à vontade com um carpinteiro como com um monarca da sua índole. Nunca acreditou nas ideias de um Maquiavel. Um príncipe não tinha que ser temido para ser respeitado; um príncipe respeitava e fazia-se respeitar, por isso era amado. Conhecia todos os funcionários, secretários, guardas e demais cortesãos pelo nome próprio. Saia frequentemente do reino, quase sempre rodeado apenas da guarda mais próximo. Raramente levava grandes comitivas. Gostava da liberdade de andar entre as pessoas, como um homem normal; partilhava em conversas de pé-de-orelha as suas próprias fraquezas; arrancava das multidões gargalhadas imensas com caricaturas de si próprio. Tinha um humor esplendoroso, brilhante e desarmante. Sabia ser sério na hora certa, mas até a mais séria das crises era enfrentada com a calma de um sorriso confiante. Achava a guerra a manifestação mais pura da fraqueza humana. Estava pronto para defender o seu povo, mas não estava pronto para matar por ele. Fá-lo-ia apenas em última e derradeira instância, quando toda a diplomacia tivesse falhado. Se os seus embaixadores falhassem, ia ele próprio face a face, confrontar o monarca belicoso com a insensatez dos seus planos. A maior parte dos que tinham coragem para fazer a guerra acobardavam-se perante a ideia de se confrontarem num diálogo franco e sério com o monarca adversário. Sabiam ser mais fácil refugiarem-se nos seus emissários e nas soluções ilusórias que a força lhes trazia; muitos conheciam a imoralidade das suas acções, mas desculpavam-se com a realpolitik, ou com a incompetência dos seus diplomatas. O nosso rei sabia tudo isto. Não lhe era indiferente a pesada dificuldade de governação. Sabia que, em certos momentos, os seus ombros quase soçobravam sob o peso de uma só decisão difícil, mas absolutamente necessária. Sabia como era importante para um governante ser inteligente, e também conhecia bem a diferença entre inteligência e esperteza. Ser inteligente, era fazer o certo na hora certa, sem atalhos ou subterfúgios. Ser inteligente era sobretudo saber o que devia ser feito, e ter a coragem para fazê-lo. Um rei devia sempre assumir as suas responsabilidades; ele era o ungido, recebendo a coroa com a noção de que o seu peso consistia mais naquilo que representava do que na quantidade de ouro ou pedras preciosas de que era feita.

O nosso monarca baseava toda a sua governação numa noção própria de Homem. A acção, o serviço governativo tinha como missão libertar o ser humano. Libertá-lo da pobreza, e sobretudo libertá-lo da ignorância. Libertá-lo, mas não forçá-lo. Toda a acção do governante deveria ser pedagógica, exprimir valores e princípios, reforçar instituições de forma a tornar a sociedade independente e auto-crítica. O primeiro dever do rei consistia em dar a todos sem excepção, os meios para por si mesmos, se libertarem da escuridão e do obscurantismo. Todos deveriam aprender a ler, escrever, mas sobretudo a conscientemente exprimirem a suas opiniões acerca do mundo; a sociedade não podia ser feita de escravos, mas de pessoas. A administração do reino tinha se de preocupar com a economia, como é lógico. Era importante que todos se alimentassem, que todos pudessem satisfazer antes de mais as necessidades mais básicas da sobrevivência. O fundamental porém, não era de carácter económico. Só um reino de cultura, de aprendizagem, educação, arte e ciência valia e pena. Um reino não era um grande mercado onde todos compravam e vendiam; onde uns enriqueciam e outros empobreciam. O reino que interessava era o reino da liberdade e da cultura.

Mais poder, mais responsabilidade.
Não basta querer glória, é preciso estar preparado para ela.
Não basta ser maior, há que pagar por isso.
O maior homem de todos os tempos é aquele que assume a responsabilidade de ser quem é.
É aquele que não se esconde,
aquele que não perde tempo a admirar o que pode vir a tornar-se, mas torna-se naquilo que pode vir a ser, deixando para os outros a tarefa de o admirar,
ou de o condenar.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Chegar ao CERN da questão - a «máquina de Deus»


O novo LHC está a dar que falar. Finalmente, 20 anos passados sobre o inicio da sua construção, a nova máquina colisora está a funcionar.

Muito se tem falado, e sobretudo, especulado sobre este laboratório gigante. A notícia que correu mundo e que motivou a abertura dos boletins noticiosos era que esta máquina iria «simular o Big Bang», e os «milésimos de segundo» que sucederam a Grande Explosão primordial. Imediatamente os jornalistas no seu «leiguismo» indisfarçável, e influenciados pela «partícula divina» da ciência (bosão de Higgs), chamaram teólogos, confrontaram-nos com cientistas e elevaram rapidamente esta experiência ao confronto último entre Deus e a Ciência. Repito, um leiguismo e uma ignorância que infelizmente os jornalistas portugueses não conseguem disfarçar. Inclusive alguns nem pretendem fazê-lo, por considerarem o seu leiguismo natural ao ponto de se regozijarem de não perceberem nada de ciência. Esta ignorância leva-os a fazerem as perguntas erradas e, inevitavelmente, informarem mal a grande maioria da população, cuja cultura científica consegue ser muitas vezes ainda mais reduzida.

Como disse um desses cientistas convidados num desses momentos extraordinários de informação, o LHC não é novidade senão na escala em que está a ser posto em prática. Existem aceleradores de partículas nos EUA há vários anos. A diferença está na energia e na escala superior a que estas colisões serão postas em prática. O LHC é um enorme complexo, cuja estrutura essencial se resume a um tubo circular de 27 km de perímetro, situado a 100 metros de profundidade em solo suíço. O objectivo é fazer com que os protões (partículas elementares opostas aos electrões e que existem em todos os núcleos atómicos) circulem nesse tubo a velocidades cada vez mais rápidas atingindo por fim uma velocidade muitíssimo próxima da velocidade da luz (300 mil km por seg). É introduzido de seguida um feixe de protões em sentido inverso ao primeiro, provocando colisões em 4 pontos diferentes da circunferência. Essas colisões absolutamente brutais, a uma velocidade brutal e uma energia inimaginável, provocam a imediata fragmentação dos protões em (assim se espera) novas e interessantes partículas (quem sabe) desconhecidas.

Ora, a matéria, por uma questão de lógica, não se pode dividir indefinidamente. Tem de haver um ponto em que não é possível dividir mais. Tal partícula terá de ser absolutamente simples, porque não composta. Por isso chamam «partícula de Deus» a esta tal partícula de Higgs, porque Deus sempre foi visto como o ser mais simples, não composto, por isso perfeito.

O tal bosão de Higgs será a mais elementar das partículas? O físico Peter Higgs (que deu o nome à hipotética partícula) acha que sim. A questão é que, no puzzle da teoria das partículas e do Big Bang, falta uma peça que explique como foi possível às primeiras partículas adquirirem massa (peso, embora não seja exactamente o mesmo. A massa é a quantidade de matéria de um corpo, e o peso é a força que a gravidade exerce sobre a massa de um corpo).

Há muitos receios por parte, inclusive, de cientistas. Alguns tiveram o desplante (ou quem sabe a coragem) de apresentar providências cautelares ao TEDH (Tribunal Europeu dos Direitos do Homem) para que esta instância impedisse o LHC de ser posto a funcionar. Não conseguiram, porém, impedi-lo. Falam em buracos negros que podem engolir a terra. Será possível? Eu próprio sou um enorme leigo nesta questão, mas até eu sei o que é necessário para criar um buraco negro, e não se parece nada com colisões de protões. Um buraco negro é criado pelo colapso gravitacional de um enorme corpo com uma massa bem superior à do nosso sol. O colapso progressivo de uma grande estrela pode chegar a um ponto tal em que a gravidade nas redondezas do corpo colapsado é tal, que nem a luz lhe consegue escapar. Toda a matéria nas suas redondezas acaba por ser «sugada» e «desaparecer», quanto mais não seja da vista de todos, pois deixa de emitir qualquer tipo de luz. Não me parece que isto possa acontecer no LHC. Se falarmos de anti-matéria, então nesse caso nunca se sabe o que pode porvir. Sabe-se que a colisão de partículas origina aqui e ali partículas de anti-matéria, mas na maior parte dos casos são partículas que não duram mais que uns milésimos de milésimos de segundo. Não têm estabilidade. A questão é que se sabe, pelo menos em teoria, que a matéria em contacto com anti-matéria provoca uma brutal libertação de energia e uma espécie de reacção em cadeia. Fala-se que na famosa explosão em 1908 em Tungusca, na Sibéria, a reacção que arrasou com a floresta num raio de 60 km, provocou um sismo que se sentiu a milhares de quilómetros e uma coluna gigante de fumo, terá sido provocada por um pedaço de anti-matéria. Não foi um meteorito porque não se encontrou qualquer cratera de impacto, nem pedaços de rocha fundida, típica de zonas de colisão. Não foi nenhuma experiência nuclear, porque em 1908 nem se sonhava ainda com a hipótese de que se pudessem construir armas nucleares. Por isso, se foi anti-matéria, o que podemos esperar no futuro?

Mas claro que são tudo hipóteses polvilhadas com a fértil imaginação humana. O LHC tem muito a ensinar-nos no futuro, se o homem aprender de uma vez por todos o equilíbrio entre ciência e moral.

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segunda-feira, setembro 08, 2008

PSD em coma profundo




A cada dia que passa, o PSD parece morrer um bocadinho. Esvaziado de ideias, fragmentado em milhentos cacos, com oposição interna visível, como uma ferida aberta, exposta ao público. O PSD parece estar ferido de morte. Mas até os feridos de morte, por vezes, se regeneram ainda com mais força e vigor.

Os factores para esta morte lenta do PSD são muitos. Na minha perspectiva, esta morte começa no afastamento prolongado do poder central. Em 33 anos de história, o PSD esteve 16 anos no governo. Inevitavelmente, este apego governativo influencia as estruturas de um partido, molda a sua forma de trabalhar, de agir e pensar. O poder une o partido, dá-lhe um motivo para existir e, inevitavelmente, sustenta esta união na base de alguns interesses que se deixam seduzir pelo doce odor do poder.

Subitamente arredado do poder, o PSD tende a comportar-se forma diferente, secciona-se e divide-se, tantos e tão diversos são os interesses que o constituem. Infelizmente, a tendência liberal do partido é como um íman para interesses económicos que, à distância do poder, longe da expectativa do interesse, não só deixam de unir o partido como o abandonam, esvaziando-o e tornando-o inócuo. Começou por ser um partido de ideologia, de marca, de carisma. Mas progressivamente foi perdendo a ideologia e o carisma, para dar lugar ao «bloco de interesses». A ideologia passou a ser nenhuma, e na capa desse contraditório de que o partido tanto se orgulha esconde-se e mascára-se esta falta de fio condutor e de meada, que o partido já perdeu há muito. Durante a meada do poder, o progresso, o desenvolvimento, a democratização, eram de facto razão e sentido para a sua existência. Terminado o poder, os interesses deslocaram-se, emigraram para outros forças políticas onde poderiam ser correspondidos. Deslocaram-se para um PS, que é hoje, não só uma sombra do que foi e um constante carnaval ideológico, como o principal defensor dos interesses económicos, financeiros, políticos que, em tempos, estavam sob a guarida do liberal PSD.

A maior desgraça do PSD é ser obrigado a fazer oposição. A desgraça do PSD é ter que dar a entender à opinião pública que se opõe ao governo, mesmo quando não sabe escolher entre o mais semelhante e o menos semelhante do pensamento dos dois partidos. O ideal seria o partido de facto dizer perante o povo «não vale a pena falar por falar, fazer oposição ao que não tem oposição porque estamos de acordo, por isso, vamos reduzir-nos a uma profunda insignificância, e só falar quando valer a pena.» E não é o que se tem passado? Não será este o pensamento mais profundo da líder actual, Manuela Ferreira Leite? Mas porque, por qualquer lei ainda não bem entendida o PSD tem mesmo de se opor, de fazer malabarismos para mostrar que é diferente e alternativo, então que se oponha com minúcia, com o cuidado de quem se quer manter credível, e quando atacar esta ou aquela proposta o faça não de forma gratuita e irresponsável, mas com uma crítica no bolso esquerdo, e uma alternativa concreta no bolso direito. Lembro-me por exemplo da crítica que o PSD de Marques Mendes soube fazer ao aeroporto da OTA, alternando de seguida, com uma proposta que tempos mais tarde, se revelou vencedora. À distância de um ano e pouco, vê-se que Marques Mendes até não era um mau político…

O PSD deve mostrar-se alternativa, mas não deve querer inventar uma sobre a pressão dos média e do desespero da sociedade. O melhor que pode fazer, é mostrar-se uma reserva para tempos vindouros, uma espécie de guarda ou polícia, pronta a intervir perante uma crise profunda, ou qualquer falha grave do governo que estiver no poder.

Bem vistas as coisas, o PSD não está morto. Está apenas em coma profundo.

quinta-feira, setembro 04, 2008

!! de Setembro - Uma exclamação para o futuro



Estamos em vias de comemorar o sétimo aniversário do atentado às Torres Gémeas, em Nova Iorque no coração dos EUA. Entenda-se que comemorar, neste caso particular, possui o verdadeiro sentido etimológico de «co-memorar», ou seja, lembrar em conjunto. Pois factos desta envergadura só podem ser lembrados em conjunto porque afectam o conjunto, e não apenas uma parte da humanidade. São factos verdadeiramente históricos, que só poderão ser compreendidos na totalidade quando a poeira da especulação, da controvérsia e dos interesses de uma época tiver finalmente assentado. Para muitos, o dia 11 de Setembro de 2001 mudou o mundo. Ora, mudou de facto alguma coisa. Mudou o modo como entendemos as relações entre as nações, fez o mundo ocidental sentir-se mais frágil e vulnerável. O facto do atentado ter sido perpetrado em pleno solo americano, não foi por acaso, nem poderia deixar de ser sentido como uma tragédia de todos. Que ninguém esperasse ver os EUA adormecidos, embevecidos no seu american dream. Era inevitável uma reacção, que tem muito de revanchista de homem com o orgulho ferido. Em plena Segunda Guerra, sofreram um Pearl Harbor, e a reacção não foi muito diferente. Foi dura, incisiva, destrutiva, expurgada de qualquer dúvida. A vingança engendrada a partir do dia 12 de Setembro de 2001 teve ainda muito deste poder. E continua a ter. Uns EUA ligeiramente esquecidos retomaram o seu lugar de «polícia do mundo». Arrogaram-se imediatamente no «direito moral» de destruir o terrorismo onde quer que se encontrasse, ainda que a ONU se opusesse com todas as suas armas legais. Lançaram em 2002 uma guerra contra o Afeganistão e, em 2003, o Iraque viu-se invadido e posto a ferro e fogo. Rapidamente os americanos se estribaram nesse seu recém-reforçado poder moral para encontrarem aliados nesta «guerra contra o terror», e ninguém esqueceu ainda as palavras de Bush: «Quem não estiver connosco, está contra nós.»

A partir de 2001 o mundo redesenhou-se numa geopolítica diferente. Em vez de blocos clássicos como «bloco capitalista» ou «bloco comunista (geopolítica da Guerra Fria), surgiram os países do Eixo do Bem, e os do Eixo do Mal. De um lado, uma espécie de cruzados contra o terror; do outro, os seus apoiantes. Churchill se fosse vivo diria que uma espécie de prisão de ferro se abateu sobre o Oriente, da Síria à Coreia do Norte. E não fugiria muito da verdade. Depois de 2001 antigos ódios emergiram, antigas divisões latentes na consciência de todos tomaram forma. A imediata e irresponsável colagem do terrorismo aos muçulmanos só poderia ter como consequência um novo cisma Cristãos/Muçulmanos, e a perigosa ideia da cruzada contra o mal e a tirania. Mas talvez a mais perigosa herança do 11 de Setembro seja a perigosíssima noção de que os meios justificam os fins, e que a segurança justifica repressão, invasão da privacidade, e um retorno aos campos de concentração onde a injustiça, a arbitrariedade e o secretismo substituem os Direitos Humanos e o Direito Internacional. Guantanamo é só comparável à ferida da escravatura na história americana. Ao mesmo tempo, as decisões unilaterais dos EUA contribuíram de forma sem precedentes para a descredibilização da única instituição mundial que pode trazer a paz – a ONU.

O 11 de Setembro fragilizou o mundo e a democracia. A resposta dada não foi nem a mais correcta, nem a mais proporcional. Na verdade, só a luta contra a ignorância e o fanatismo pode resolver de forma duradoura esse cancro do terrorismo. E ignorância e fanatismo existem em todos os países do mundo. Sete anos depois o Afeganistão e a luta contra os Talibã continua longe de terminar, e os soldados da coligação mortos são um preço demasiado alto a pagar pela precipitação. No Iraque a guerra civil é clara, e torna-se cada vez mais óbvio para todos que nunca o país do Eufrates será de novo uma nação unida. E o terrorismo continua a fazer vitimas, novos ódios vão renascendo, e o Irão parece ser agora a maior ameaça ao Ocidente. Matar árabes legitima todo aquele que disser que morre para os defender. É este o maior erro do Ocidente, dar razão a quem não tem razão mas sabe aproveitar-se do mal que está feito. Até a Rússia de hoje começa a levantar algum cabelo contra a pretensão americana de dominar e se expandir até às suas fronteiras sob a máscara da NATO. Será isto positivo? Estou certo de que o 11 de Setembro contribuiu para isto.

Morreram milhares de pessoas inocentes. O mundo chorou, o mundo comoveu-se e acordou. As duas torres são como dois pontos de exclamação que pontuam o passado e se admiram perante o futuro. Vale a pena pensar nisto.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Humanidade - Mudança - Futuro




















O que podemos e devemos esperar do futuro da humanidade, senão transformação? Se realmente acreditamos nessa coisa incerta a que chamamos futuro, não será urgente mudar qualquer coisa de forma duradoura? Nesse caso, o que mudar, e como mudar?

Talvez para muitos não seja preciso mudar nada. Há muito quem – aparentemente – esteja tão satisfeito com a sua vida que não lhe surja como prioridade imediata a mudança. Só que noventa por cento da Humanidade não está satisfeita com a sua vida, seja porque passa fome, porque esteja doente ou porque viva um dia-a-dia de opressão e sofrimento. Sim, talvez mais até do que noventa por cento… Há os que declaradamente sofrem com isso, os que declaradamente vivem na fome e na pobreza, os mesmos que vemos expostos nos telejornais, de barrigas hipertrofiadas e moscas a passear como que prenunciando a morte nos seus corpos fragilizados. Há os que declaradamente são espancados, enjaulados, censurados e mortos politicamente por forças que os ultrapassam e não vêm com bons olhos a subversão e o pensamento diferente. Há as pequenas nações sem «interesse estratégico» ou, pelo contrário, com demasiado «interesse estratégico» que são invadidas, anexadas, estropiadas por países de carisma superior, em nome de valores como a «libertação» ou a «democracia», e quantas vezes com o beneplácito de quem interpreta o direito internacional a favor de interesses obscuros. Há quem sofra declaradamente, e há quem sofra calado. Há quem viva oprimido 24 horas por dia nos países ditos do Ocidente; há telhados que escondem prisões e opressões sem precedentes, lentas decadências e auto-destruições que, mais que físicas, assumiram um carácter psicológico. Há quem esconda a pobreza por vergonha, e há quem se auto-censure e não faça valer os seus direitos para não perturbar pequenos interesses ou até um hipotético futuro. Há quem tenha medo dos tribunais e da justiça, em vez de encontrar nela o seu maior aliado e garante de liberdade. Há quem não acredite nos seus governos e no futuro, e prefira canais menos próprios para encontrar uma vida mais digna materialmente, nem que essa tal «dignidade material» implique passar por cima da dignidade que importa de facto… Há crianças que crescem e vêem os seus sonhos mortos à partida, a sua criatividade enjaulada em ditames de moral e educação que visam torná-las «aptas para o mercado» e não seres humanos no verdadeiro sentido do termo. Há idosos que se riem perante as ilusões de uma sociedade que aumentou a esperança média de vida, enquanto salivam para uma babete e ajeitam os seus corpos cansados em cadeiras de rodas, atirados para a solidão dos lares ou do abandono familiar. Há quem trabalhe uma vida e no fim não seja reconhecido.

Há criminalidade a aumentar de dia para dia. O desplante para cometer os mais hediondos crimes; um desrespeito absoluto pelo ser humano e pela dignidade deste vai devagar tomando lugar no coração das pessoas. A relatividade de valores que deixaram de ser referência, a «morte de Deus» que significa cada vez mais a morte da moral, a publicidade de uma rebeldia instituída nas televisões, no cinema; a tecnização da vida, a deificação da tecnologia e do útil, atirando as humanidades para um gueto de morte; a violência latente no descontentamento e no desenraizamento das pessoas, das comunidades, da vida; o barulho, a frenética correria pela felicidade empacotada e com livro de instruções; a competição e um individualismo cerrado fomentado pelo mercado…

Não sou nem serei última pessoa a fazer tais diagnósticos. Tornou-se praticamente senso comum.

O futuro da humanidade só pode passar por encontrar uma ética fundamentada de tal maneira que possa ser compreendida e respeitada por todos. O medo não pode de modo algum voltar a ser o tal fundamento, como em tempos as igrejas com o seu poder e sapiência fizeram valer o seu poder de controlo das massas. Não é pelo medo de ir parar ao inferno que o homem se superará e será moralmente irrepreensível. Não é pelo castigo subliminar que o homem será Homem, mas por qualquer coisa diferente. Com isto entenda-se que não falei de Deus, nem sequer de religião, mas de igrejas humanas e instituídas. O futuro da humanidade só pode passar por uma mudança clara de mentalidades, uma superação de todas as ignorâncias para que não haja equívocos quanto ao significado de Liberdade. O homem, político, cidadão comum, pai, mãe, carpinteiro, médico, professor, terá de aprender e viver segundo esta ética, estando completamente despido de ignorância, obscurantismo, eternamente crítico do mundo mas ao mesmo tempo humilde o suficiente para compreender que não possui a verdade, apenas a procura. Tem de ser um homem livre – ou talvez apenas deva -, livre de si mesmo, consciente das suas fraquezas e limitações, consciente da sua dignidade, duro o suficiente para defendê-la, flexível o suficiente para evitar conflitos. Talvez o homem do futuro deva compreender que é errado olhar demasiado para o chão esquecendo que, por cima de si, existe um imenso céu.

De onde pode vir a mudança? Há quem diga que de fora. Legislar, alterar os regimes e instituições será o caminho. Será? As pessoas mudam a sua forma de ser estejamos num regime comunista ou capitalista? Deixará de haver crimes, maldade, egoísmo, se houver mais prisões e penas mais pesadas?

E se a mudança vier de dentro?

domingo, agosto 24, 2008

Rumos Incertos




O conflito na Geórgia teve o condão de provar um aspecto assustador – o mundo não está preparado para se defender eficazmente contra veleidades imperialistas de blocos poderosos como a Rússia. A questão é simples. Assemelha-se em grande parte ao que se passou em vésperas da Segunda Grande Guerra, quando a Alemanha integrou sem um tiro e perante a imobilidade da comunidade internacional, a Áustria e a Checoslováquia. É verdade que o horror da Primeira Grande Guerra ainda estava fresco nas memórias dos agentes políticos, e não tenho dúvida que os horrores da Segunda ainda estão também frescos na memória dos agentes políticos de hoje (pelos menos na maioria, sobretudo se sabem alguma coisa de história). Nos dias de hoje, mais do que essa memória comum existe outro factor que imobiliza os estados perante novas ameaças imperialistas, sobretudo quando tais ameaças provem de blocos poderosos e bem armados. Esse factor é uma noção muito simples: qualquer guerra futura entre dois blocos poderosos recorrerá inevitavelmente ao uso de armas de destruição maciça e, ipso facto conduzirá à destruição e obliteração mútua dos blocos beligerantes. Mais do que a memória do passado, é o terror do futuro que ainda consegue atribuir valor à diplomacia perante crises da natureza do conflito russo-georgiano.

Não nos podemos iludir. Os equilíbrios que herdamos da Segunda Grande Guerra também terão o seu fim, tornar-se-ão obsoletos perante novas realidades globais. Instituições como a NATO terão de reconsiderar o seu papel no mundo de hoje, um mundo que já não se mede pelos padrões de uma guerra fria, mas pretende alicerçar a pouco e pouco os fundamentos da Paz futura. A NATO – como quem diz EUA – tem de questionar-se seriamente se vale a pena uma contínua expansão, um contínuo alargamento, que não deixa de ser sinónimo de ameaça nomeadamente ao bloco russo e chinês, acelerando uma inevitável corrida ao armamento e ao incremento de tensões. A ONU tem de se reformar, sobretudo no que concerne à constituição permanente do seu Conselho de Segurança. Nem a Rússia, nem a China, nem os EUA são hoje os mesmos de há 60 anos. Fará sentido que uma Rússia ou uma China, independentemente de recorrentes ataques ao direitos humanos continuem a ter poder de veto no CS? Não me parece que tal faça muito sentido. O poder de veto da Rússia impediu por várias vezes que se aprovassem resoluções acerca da invasão da Geórgia, e o mesmo podemos dizer acerca da invasão posta em prática pelos EUA no Iraque em 2003, que à revelia da ONU e de forma unilateral foi levada a cabo. Situações deste tipo não são do interesse de nenhum país, de nenhum bloco ou instituição, porque fragilizam e descredibilizam cada vez mais a instituição na qual se põem todas as esperanças de paz verdadeira e duradoura – a Organização das Nações Unidas. Não podemos voltar a um mundo em que os mais fortes decidem em detrimento dos mais fracos, e a lei é escrita por quem tem poder bélico, energético e humano suficiente para impor as suas regras e escrever a história à sua maneira.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Petição - Idade não é sinónimo de Invalidez

Estou a patrocinar uma petição on-line direccionada para todos aqueles desempregados com mais de 35 anos que, exactamente por terem mais de 35 anos, são discriminados na procura de emprego por critérios de recrutamento duvidosos.

Deixo um resumo do essencial

Esta petição pretende solicitar à Assembleia da República que pressione legislativamente o Governo para que tome medidas conducentes a retirar dos anúncios das ofertas de emprego a restrição relativa à idade, à semelhança do artigo 27º alínea 2 do Código de Trabalho que proíbe qualquer referência a restrições relativas ao sexo do candidato. Solicita-se também à AR para que legisle no sentido de coagir as empresas que discriminem o candidato relativamente à idade, ou promova incentivos fiscais ou de outro tipo para as empresas que empreguem candidatos com mais de 40 anos desempregados, valorizando a sua motivação e experiência. Será sem dúvida melhor para as empresas e para o país.

Para votar Clique Aqui

Não custa nada, e bastam 2500 assinaturas para pressionar a Assembleia da República ao abrigo da Lei nº43/90 de 10.08.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Resolução



De quanta imaginação não é feita uma vida para se compensar o que se não realizou! Já todos o sabemos e nunca ninguém o sabe. Se fosse coisa de se saber, não havia maníacos da droga, do fumo ou do álcool. Projecta-se milimetricamente uma reacção a ter, uma ofensa a vingar, uma desconsideração a menosprezar, uma conquista a fazer. E sai sempre outra coisa: nem nos vingamos porque se interpôs uma fraqueza, nem menosprezámos a desconsideração porque nos menosprezaram o nosso menosprezo, nem conquistámos nada porque amanhã é que é. Mas falhada a nossa reacção, logo congeminamos de novo efectivá-la e com acréscimo de efeito. Até que o tempo e a morte tudo decidam irremediavelmente por nós. E acabamos por achar que decidiu bem, porque o mais fácil de resolver é sempre o não resolver.

Vergilio Ferreira

domingo, agosto 03, 2008

Volta Já

O Cenáculo está de férias, embora prometa voltar brevemente e em força. Cumprimentos a todos os leitores que o acompanham e nele comentam.

Ruben Azevedo

segunda-feira, julho 14, 2008

Castelo das Paixões - recriação histórica e amor impossivel



Para quem tem um especial apreço pelo ambiente medieval, pelas lendas e histórias que se perdem em objectividade mas ganham em nebuloso e misterioso, fica uma bela sugestão para as sextas-feiras à noite dos meses corrente e de Agosto.

Castelo das Paixões é uma recriação histórica do cerco imposto por D. Urraca, irmã de D. Teresa de León e mãe do nosso rei fundador. Cerco que manteve D. Teresa prisioneira na sua própria casa, o castelo de Lanhoso. Pelo meio temos uma bela história de amor medieval, como não poderia deixar de ser. Amor impossível e doloroso, entre um espírito nocturno na forma de uma mulher belíssima, e um homem mortal.

Tem todos os ingredientes para ser um espectáculo envolvente. Encenado nas próprias muralhas do castelo, com tochas, vestes medievais, e um elenco fabuloso do qual fazem parte alguns actores já conhecidos do nosso panorama televisivo, Castelo das Paixões faz-nos remontar ao séc. XI e até em certos momentos, participarmos da própria encenação.

O preço do bilhete é de 10 euros e pode ser comprado no posto de turismo da Póvoa do Lanhoso.

Para saber mais clique aqui.

quarta-feira, julho 09, 2008

Causas de uma decadência anunciada - marketização e felicidade instantânea



A sociedade em que vivemos baseia-se no mercado, no económico, no consumo, no lucro. É uma sociedade que se assemelha a um enorme shopping, uma feira interminável. Seja em casa, na rua, no emprego, a publicidade e o apelo à compra estão sempre presentes para onde quer que se olhe. Há uma marketização do humano. E neste furor não é só a tecnologia que avança – uma das vantagens da economia de mercado – mas também os métodos de marketing. O marketing aprendeu a jogar com o psicológico. A verdade substituiu-se em quase todas as dimensões pela mentira bem vestida. As relações humanas são a maior parte das vezes no âmbito do prestador/cliente. Servir bem o cliente é ser-se profissional, que significa vestir bem para bem se apresentar aos olhos do consumidor. Pelo que se vê, todos os domínios do humano acabaram por viver sob o jugo da troca e lucro. A própria publicidade melhorou os seus métodos de venda de produtos, descobrindo que a melhor forma de os vender é também vendendo modelos de felicidade. O marketing logrou provar às pessoas que sem determinados produtos jamais serão felizes. Dito de outra forma, a felicidade é inatingível sem últimos modelos e topos de gama. Isto está presente em quase tudo, desde os telemóveis aos automóveis, passando pelo turismo aos livros de auto-ajuda. O que se passa neste modelo de marketização é que tudo está ao alcance mais imediato, desde que se tenha dinheiro. Ser-se feliz, reconhecido e com algum estatuto está ao alcance do livro de cheques. Porque sem consumo esta sociedade não sobrevive, morre e perde razão de existir. Vemos uma progressiva aceleração do modo de vida nos últimos anos, porque necessidades atraem necessidades, e ter coisas implica ter outras coisas, o que por sua vez implica ter dinheiro para delas usufruir, o que implica emprego, velocidade, correria, chatices várias, menos tempo para os filhos, os amigos, a vida no seu estado mais puro. Para perseguir os modelos de felicidade que nos vão sendo subliminarmente impostos, aceitamos ceder parte da nossa liberdade e felicidade para, em troca, recebermos os meios de os atingir. Só somos felizes se tivermos carro, telemóvel, mp3, dvd, mp4, ipod, e um pc portátil. Mas para ter tudo isto temos de ter um emprego que o permita. Se nesse emprego ganharmos pouco, faremos tudo para ter um melhor. Tudo tanto pode significar procurarmos uma melhor formação, como utilizarmos métodos menos próprios abdicando da nossa dignidade e escrúpulos. Nada importa, se no fim tivermos todos aqueles equipamentos de que falei anteriormente. E porque a felicidade que nos vendem é uma ilusão, isso portanto nunca nos vai chegar. Queremos mais, queremos ir de férias nos roteiros comerciais que nos impingem nas televisões e nos cartazes de rua. A moda define o que num determinado período significa ser feliz. Queremos melhores marcas, mais vistosas e opulentas. E porque queremos mais e mais permitimo-nos trabalhar mais e mais, abdicar de mais e mais tempo para os filhos, amigos, namorados, familiares. Permitimo-nos estraçalhar um pouco mais a nossa dignidade e a dos outros. E com isto não quero dizer que não há quem não tenha mérito, porque o há sem dúvida. Há quem de facto cresça e melhore o seu estatuto profissional graças ao seu trabalho incansável e inteligência superior. E ainda bem. Com isto segue-se a crise do «inútil». Porque a felicidade só se atinge pelo material, útil e funcional, tudo o que não o seja está condenado à extinção. Se para o mercado melhorar a sua oferta são precisos mais técnicos e melhores, mais especialistas e melhores, então o que interessa é seguir um emprego com saída para se ter logo acesso ao mercado do emprego, ou tornar-se mais «bem vestido» para o mercado do emprego. Ai está de novo o marketing, porque se não estivermos «bem vestidos» para o mercado do emprego podemos não conseguir cumprir o nosso último objectivo, o de ter tudo aquilo que nos fará em ultima instância felizes: carro, telemóvel, mp3, dvd, mp4, ipod, e um pc portátil, boas férias nos circuitos da moda, estatuto perante os outros. Portanto, para que servem as religiões? Para que serve a filosofia, a metafísica e as humanidades em geral? Se não for para dar lucro, se não for para terem utilidade de mercado, nada!



Como já disse anteriormente, se a felicidade que se vende é ilusória então ela nunca chega, nunca preenche. A sociedade de mercado gera, para sua própria sobrevivência, pobres. Gera pobres em grande número, mas não se pode dar ao luxo de gerar miseráveis, pois sem consumidores aquela cai como um castelo de cartas. Mas precisa de pobres porque precisa de quem trabalhe. Precisa de quem diga «sim, preciso de trabalhar para ter acesso àquilo que os outros também têm». Porque se ninguém trabalhar, as indústrias não funcionam, a não ser que um dia sejam as máquinas a fazer o trabalho todo. A sociedade liberal encerra em si um interessante paradoxo. É preciso que todos tenham dinheiro, mas só alguns podem ser ricos. Se por acaso todos começam a ter dinheiro este deixa de valer, e portanto os preços aumentam (inflação). Porque se o capital individual aumenta, aumenta também a procura e portanto os preços. Por mais que se diga e as utopias falem mais alto, a sociedade de mercado não pode ser uma sociedade de ricos. O sistema económico liberal precisa de pobres, é desta forma que está equilibrado e quando este equilíbrio está ameaçado ele de imediato o repõe gerando mecanismos para que o poder de compra baixe. Enfim, um problema grave para o futuro. Onde quero chegar é que as pessoas de hoje estão imbuídas de duas ideias: a primeira é a de que o imediato é o caminho para a felicidade; a segunda é a de que a felicidade está à venda. Já percebemos o porquê. Isto explica por exemplo o retrocesso das religiões ditas institucionais (pelo menos no espaço ocidental) e o aumento da procura de ideologias que tudo prometem. Lembro-me do caso da fraude «O Segredo». São os chamados bezerros de ouro. Desiludidas com uma felicidade que demora, que é difícil e implica valores e sacrifício, o mundo deixa-se arrastar por um mundo de promessas de felicidade instantânea. Mais uma vez é o mercado em acção. Se as pessoas querem riqueza e felicidade instantânea, não faltam editoras a viver à custa desta ânsia que editam todos os dias livros com receitas práticas e com «sucesso garantido». Basta ir a uma livraria para o comprovar. Vivemos numa nova idade média, estou certo disso. Uma idade da ignorância e do obscurantismo. As pessoas são permeáveis a promessas sem fundamento, e ideias supostamente «cientificamente provadas». Nem conseguem distinguir entre romances históricos e realidade científica! Basta ver o que aconteceu com o Código Da Vinci… A ignorância é também um trunfo da sociedade de mercado. Poderão dizer que, hoje, a informação está disponível para todos ao alcance de um clique do rato, ou que há melhores técnicos. É verdade sem dúvida, mas jamais informação significou formação, e o mercado precisa de que quem tenha informação técnica, não formação humana. A formação humana é perigosa porque considera-se capaz de consumir menos, por em causa o marketing e a felicidade de super-mercado com livro de instruções.

quinta-feira, julho 03, 2008

Irena Sadler - Anjo do Gueto de Varsóvia



Há heróis para todos os gostos. Uns têm glória cedo, outros muito tarde. Mas no fim, quase sempre são reconhecidos por aquilo que fizeram em prol de valores mais altos. O cinema e a mestria de Spielberg imortalizaram Oscar Shindler, o indutrial alemão que salvou 1000 judeus, literalmente comprando-os aos alemães e integrando-os na sua fábrica de armamento que, na verdade, nunca produziu uma bala que fosse capaz de ser disparada. Gastou todo o pecúleo acumulado durante anos e anos para comprar judeus, subornar altos oficiais alemães, manter uma fábrica falhada. Enfim, basta ver a Lista de Schindler para ter uma ideia.

No entanto, outros heróis encontraram o seu lugar ao sol da História. Recentemente ouvimos falar de uma senhora quase centenária, desconhecida até há bem pouco tempo, longe dos holofotes de Hollywood, internada num lar para idosos em Varsóvia. É daqueles casos em que a glória chega tarde, mas é sem sombra de dúvida mais que merecida.


Sabemos que os alemães, antes de enviarem os judeus para os campos e por uma questão de organização, criaram uma cidade dentro de uma cidade - um gueto -, que ficou conhecido como Gueto de Varsóvia. Neste gueto o número de judeus atingiu o meio milhão. Desta forma, os alemães foram lenta e friamente, preparando os judeus para a liquidação e extermínio nos campos de concentração. Os alemães consideravam os judeus sub-homens, homens inferiores pejados de piolhos e doenças. Como tal evitavam o contacto com estes, temendo uma epidemia de tifo que rapidamente se poderia alastrar dentro das condições precárias do gueto. Nomearam pessoal polaco para sujar as mãos e gerir o gueto. Irene Sendler trabalhava no Social Welfare Department, uma espécie de Segurança Social que geria cantinas e assistia sanitariamente e logisticamente os mais pobres de Varsóvia. Claro que os mais pobres de Varsóvia, a certa altura e perante as pesadas restrições impostas pelos alemães, eram os judeus. O tal departamento ficou também responsável por assistir o gueto e os judeus que lá viviam. Pelos vistos a sua fama de «amiga dos judeus» valeu-lhe uma «estrela», não igual à que os judeus foram obrigados a usar, mas uma espécie de marca que a designava pró-judia.

Cedo, a sua influência dentro do departamento permitiu-a entrar em contacto com as familias judias e as suas dificuldades. Permitia-lhe uma enorme liberdade dentro do gueto. A certa altura começou a transportar crianças judias dentro das ambulâncias para fora do gueto, com a desculpa de que estariam com tifo. Entusiasmada, convenceu uma pessoa em cada um dos dez centros que constituiam o departamento de Social Welfare a participar na fuga dos judeus. Conseguiu mover influências que lhe permitiram falsificar milhares de documentos falsos com novas identidades para as crianças judias que se evadiam. A certa altura, depois de sedar as crianças, conseguia evadi-las dentro de sacos de batatas e até caixotes que, supostamente carregavem géneros. Havia uma igreja cristâ dentro do gueto. Leva por vezes crianças judias consigo, fazendo-as sair por uma das duas saidas da igreja que dava para o sector ariano de Varsóvia. Entravam como judeus, saiam como cristãos à vista dos alemães. A pergunta que mais doía e mais pesava na sua consciência vinha dos pais das crianças. Hesitantes em separar-se dos filhos perguntavam-lhe «tem a certeza que vão viver?». Sim, embora não tivesse certeza, o certo é que viveram. Até há pouco tempo, antes de falecer no lar de Varsóvia, muitas desses antigas crianças hoje com 70 anos ou mais, vinham agradecer-lhe e deixar-lhe flores, depois de verem a sua foto nos jornais e a reconhecerem.

Claro que cometem-se erros que podem custar a vida. Sadler foi descoberta, denunciada, sabe-se lá. Ela era a única que sabia a história das 2500 crianças que salvou, inclusive onde viviam e que familias lhes davam acolhimento. A Gestapo torturou-a amarga e duramente, partiu-lhe as pernas, os pés, mas em nenhum momento Irena abriu a boca para contar fosse o que fosse. Ela era a depositária das vidas passadas, e a responsável pelo futuro das crianças que tinha salvo. Perante aquela pergunta «tem a certeza que vão viver?» em forma de jura e de compromisso, Irena havia jurado salvá-las. As crianças nunca souberam o verdadeiro nome da sua salvadora. Conheciam-na por Jolanta, o seu nome de código.

2500 vidas. Eis o saldo da acção desta senhora, embora até ao último dia sempre afirmasse com alguma mágoa que «poderia ter feito mais!». Aquela a quem alguns chamam «Mãe dos Judeus», faleceu a 13 de Maio do ano corrente.

quarta-feira, julho 02, 2008

Clarificação de erro cometido no artigo anterior Familia Nuclear Radioactiva

Embora não seja apologista do exercício do «diz que não disse» talvez seja melhor clarificar as minhas palavras no último parágrafo do artigo Familia Nuclear é Radioactiva, na medida em que terá dado a entender algo que eu não quis dizer, ferindo a sensibilidade de alguns leitores. Em primeiro lugar o mal entendido deve-se a um erro meu. Um erro grave em alguém que preza por escrever com a razão e não com o coração, sobretudo quando se tratam de temas sensíveis como o do artigo anterior. Esse erro é o da generalização emocional. Quando afirmei que só uma ideia de familia fragmentada e sem base moral sólida pode dar suporte ético às ideias defendidas pelos novos idealistas das jotas, queria referir apenas as ideias sobre o desprezo pela família, reflectidas no cartaz medonho que diz «Familia Nuclear é Radioactiva». Em nenhum momento me referi às famílias constituídas por homossexuais e, se o dei a entender peço desculpa. Derivou portanto de uma frase mal escrita e de uma generalização.

Obrigado.

terça-feira, julho 01, 2008

Familia Nuclear Radioactiva



Parece que a JS vai eleger um novo secretário-geral. As propostas são sempre as mesmas, sempre «modernas» e fracturantes. Espero que se compreenda porque coloquei «modernas» entre aspas. Casamento homossexual, adopção por casais 'gay' ou o reconhecimento da mudança de sexo na lei portuguesa, são as três mais importantes reivindicações desta juventude iluminada que, não sei com que consequências ou se bem ou para mal, será o futuro político do nosso país.

A questão é que a juventude, seja ela socialista, comunista, bloco-esquerdista, precisa de causas. Causas porque lutar, ideias que justifiquem a confrontação do passado. Freud dizia e muito bem, que «herói é aquele que confronta a autoridade paterna e vence». Há muita energia e criatividade latente e à espera de encontrar saidas. E enquanto há causas porque lutar, há escapes saudáveis para toda essa adrenalina.

O que, sinceramente me causa alguma comichão, é quando tais lutas ou «ideais» pseudo-modernistas põe em causa a familia. Noutros tempos, tempos de jacobinices e quando todas as instituições eram postas em causa, também a familia se viu perante as baterias destes pseudo-intelectuais. Na medida em que a Igreja era o pilar que consagrava os casamentos, consagrava e abençoava as uniões, também a familia era posta em causa. A familia era vista como uma instituição burguesa, e por alguma razão o regime comunista se outorgou o direito de submetê-la ao poder totalizante do Estado.

Claro que, só uma ideia de familia fragmentada e sem base moral sólida pode dar suporte ético às ideias defendidas pelos novos idealistas das jotas. Basta ler um dos cartazes da foto que diz «Familia Nuclear é Radioactiva». Não consigo deixar de pensar que estes meninos não sabem o que é viver em familias fragmentadas, e nunca sentiram na pele o que o desenraizamento pode fazer a um ser humano. A familia é importante porque cria bases de apoio, conforto e sentido de integração a um ser humano. A familia é tudo. Acredito que um dia que forem pais, vão entender isto.

quarta-feira, junho 25, 2008

Ricardo Araújo Pereira e a Linguagem

Todos conhecemos a personagem fedorenta do nosso amigo Ricardo Araújo Pereira, mais conhecida por «RAP». Ninguém fica indiferente a forma como transpira comédia e encarna diferentes personagens. A famosa entrevista que deu na RTP há já algum tempo revelou um homem com uma erudição admirável que, não só faz comédia como pensa, reflecte séria e profundamente sobre as mais variadas questões. RAP é a prova que o melhor humor só pode ser feito pelas cabeças mais brilhantes. Humor sem inteligência e erudição é vazio e vulgar.

O convite feito por Lobo Antunes ao RAP para que este estivesse no lançamento do seu mais recente livro pode ter sido, mais do que uma manobra de bom marketing, a prova de que a profundidade do nosso amigo fedorento quebra as usuais barreiras da comédia para penetrar nos limites da intelectualidade. E parece que o que se vai passar a partir do dia 27 no Teatro São Luiz, em Lisboa vai consagrá-lo com o epíteto de Gato Fedorentos mas Intelectual.

Isto porque a partir do dia 27, Ricardo Araújo Pereira vai subir ao palco acompanhado de dois «figurantes», que o vão ajudar a ressuscitar uma série de conferências sobre Filosofia da Linguagem proferidas pelo importante filósofo da linguagem inglês John Austin, há 43 anos. É isso mesmo. Ricardo vai pronunciar uma palestra sobre a natureza das palavras e o modo como se comportam. Quem espera humor nesta «conferência teatral» não deve desiludir-se. Primeiro porque Ricardo sabe ter piada mesmo quando algo não tem piada nenhuma, e segundo porque são as palavras e os jogos de palavras que geram o verdadeiro humor, porque como dizia Austin «falar é não só dizer, mas também fazer».

RAP apresenta a conferência

How to do things with words

A famosa série de palestras que serve de base a Ricardo Araújo Pereira foi proferida no ano de 1955 na Universidade de Harvard. São uma resposta ao apriorismo linguístico e a uma visão muito formal da linguagem. Ou seja, para um Bertrand Russell e o seu Principia Mathemática, só como exemplo, a linguagem sendo a base que elabora conceitos e que expressa a racionalidade do mundo deve ser analisada na sua perspectiva lógica e formal. Ou seja, interessa mais entender os princípios lógicos de raciocínio que dão estrutura à linguagem, do que entender a linguagem natural e as suas manifestações reais, brutas do dia-a-dia, que para estes aprioristas não passa de uma sombra de verdadeira linguagem formal que é também a linguagem primeira. Austin, um pouco na esteira de um Witgenstein, vem afirmar muito mais do que isto. A linguagem e o sentido que ela expressa não estão apenas contidos na estreiteza das relações lógicas e formais que a constituem. A linguagem verdadeira é a natural porque é performativa, faz coisas, gera reacções no receptor da mensagem, transmite não só conteúdos mas também provoca impactos de carácter emocional. Para Austin, a lógica serve-se apenas de afirmações que são passíveis de serem verificadas, ou seja, de serem verdadeiras ou falsas. Porém, não existem apenas proposições que afirmam algo acerca de algo, mas exclamações, interrogações, imperativos, desejos ou concessões que tornam a linguagem um espelho do espírito e dos seus anseios.

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