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segunda-feira, setembro 15, 2008

Chegar ao CERN da questão - a «máquina de Deus»


O novo LHC está a dar que falar. Finalmente, 20 anos passados sobre o inicio da sua construção, a nova máquina colisora está a funcionar.

Muito se tem falado, e sobretudo, especulado sobre este laboratório gigante. A notícia que correu mundo e que motivou a abertura dos boletins noticiosos era que esta máquina iria «simular o Big Bang», e os «milésimos de segundo» que sucederam a Grande Explosão primordial. Imediatamente os jornalistas no seu «leiguismo» indisfarçável, e influenciados pela «partícula divina» da ciência (bosão de Higgs), chamaram teólogos, confrontaram-nos com cientistas e elevaram rapidamente esta experiência ao confronto último entre Deus e a Ciência. Repito, um leiguismo e uma ignorância que infelizmente os jornalistas portugueses não conseguem disfarçar. Inclusive alguns nem pretendem fazê-lo, por considerarem o seu leiguismo natural ao ponto de se regozijarem de não perceberem nada de ciência. Esta ignorância leva-os a fazerem as perguntas erradas e, inevitavelmente, informarem mal a grande maioria da população, cuja cultura científica consegue ser muitas vezes ainda mais reduzida.

Como disse um desses cientistas convidados num desses momentos extraordinários de informação, o LHC não é novidade senão na escala em que está a ser posto em prática. Existem aceleradores de partículas nos EUA há vários anos. A diferença está na energia e na escala superior a que estas colisões serão postas em prática. O LHC é um enorme complexo, cuja estrutura essencial se resume a um tubo circular de 27 km de perímetro, situado a 100 metros de profundidade em solo suíço. O objectivo é fazer com que os protões (partículas elementares opostas aos electrões e que existem em todos os núcleos atómicos) circulem nesse tubo a velocidades cada vez mais rápidas atingindo por fim uma velocidade muitíssimo próxima da velocidade da luz (300 mil km por seg). É introduzido de seguida um feixe de protões em sentido inverso ao primeiro, provocando colisões em 4 pontos diferentes da circunferência. Essas colisões absolutamente brutais, a uma velocidade brutal e uma energia inimaginável, provocam a imediata fragmentação dos protões em (assim se espera) novas e interessantes partículas (quem sabe) desconhecidas.

Ora, a matéria, por uma questão de lógica, não se pode dividir indefinidamente. Tem de haver um ponto em que não é possível dividir mais. Tal partícula terá de ser absolutamente simples, porque não composta. Por isso chamam «partícula de Deus» a esta tal partícula de Higgs, porque Deus sempre foi visto como o ser mais simples, não composto, por isso perfeito.

O tal bosão de Higgs será a mais elementar das partículas? O físico Peter Higgs (que deu o nome à hipotética partícula) acha que sim. A questão é que, no puzzle da teoria das partículas e do Big Bang, falta uma peça que explique como foi possível às primeiras partículas adquirirem massa (peso, embora não seja exactamente o mesmo. A massa é a quantidade de matéria de um corpo, e o peso é a força que a gravidade exerce sobre a massa de um corpo).

Há muitos receios por parte, inclusive, de cientistas. Alguns tiveram o desplante (ou quem sabe a coragem) de apresentar providências cautelares ao TEDH (Tribunal Europeu dos Direitos do Homem) para que esta instância impedisse o LHC de ser posto a funcionar. Não conseguiram, porém, impedi-lo. Falam em buracos negros que podem engolir a terra. Será possível? Eu próprio sou um enorme leigo nesta questão, mas até eu sei o que é necessário para criar um buraco negro, e não se parece nada com colisões de protões. Um buraco negro é criado pelo colapso gravitacional de um enorme corpo com uma massa bem superior à do nosso sol. O colapso progressivo de uma grande estrela pode chegar a um ponto tal em que a gravidade nas redondezas do corpo colapsado é tal, que nem a luz lhe consegue escapar. Toda a matéria nas suas redondezas acaba por ser «sugada» e «desaparecer», quanto mais não seja da vista de todos, pois deixa de emitir qualquer tipo de luz. Não me parece que isto possa acontecer no LHC. Se falarmos de anti-matéria, então nesse caso nunca se sabe o que pode porvir. Sabe-se que a colisão de partículas origina aqui e ali partículas de anti-matéria, mas na maior parte dos casos são partículas que não duram mais que uns milésimos de milésimos de segundo. Não têm estabilidade. A questão é que se sabe, pelo menos em teoria, que a matéria em contacto com anti-matéria provoca uma brutal libertação de energia e uma espécie de reacção em cadeia. Fala-se que na famosa explosão em 1908 em Tungusca, na Sibéria, a reacção que arrasou com a floresta num raio de 60 km, provocou um sismo que se sentiu a milhares de quilómetros e uma coluna gigante de fumo, terá sido provocada por um pedaço de anti-matéria. Não foi um meteorito porque não se encontrou qualquer cratera de impacto, nem pedaços de rocha fundida, típica de zonas de colisão. Não foi nenhuma experiência nuclear, porque em 1908 nem se sonhava ainda com a hipótese de que se pudessem construir armas nucleares. Por isso, se foi anti-matéria, o que podemos esperar no futuro?

Mas claro que são tudo hipóteses polvilhadas com a fértil imaginação humana. O LHC tem muito a ensinar-nos no futuro, se o homem aprender de uma vez por todos o equilíbrio entre ciência e moral.

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