Anúncios google

quarta-feira, novembro 23, 2005

Homossexuais a sacerdotes? Mulheres? Porque não?

Não é surpresa que o recém eleito papa tenha tomado a decisão de reforçar a já existente proibição da ingressão no sacerdócio por homossexuais. Sem me perder com considerações acerca da modernidade – o que, diga-se de passagem, não deixa de estar na moda – vou directamente à questão que importa realmente.

De facto todos sabemos – até por uma questão de bom-senso – que este tipo de proibições não são dignas da época em que vivemos, e muito menos de uma instituição como a Igreja, que tem como objectivo escatológico instalar um reino de paz e amor sobre a Terra. Seria bom lembrar apenas como simples nota de rodapé, que a palavra Católico vem do grego Katholikos, e que significa universal... O que importa de facto é que os críticos das associações assim como o critico comum, saiba fundamentar a sua opinião, não só nesta matéria, mas em todas as que são inerentes à sua vida em sociedade. Não basta afirmar que está mal, e que a Igreja não tem autoridade moral para atacar minorias. Nem a Igreja tem autoridade para atacar as minorias, nem as minorias autoridade para atacar a Igreja. No final cumpre-se o evangelho: «quem nunca pecou que atire a primeira pedra.». Não me vou alongar com considerações teológicas, embora o meu objectivo seja de facto oferecer uma critica mais ou menos razoável.

De facto quem quiser perder um pouco do seu precioso tempo (que a maior parte das vezes é precioso para não se fazer nada), para segurar a Bíblia na sua mão, e ter o cuidado de passar os olhos pelos evangelhos, rapidamente se dará conta de que absolutamente nada lá está explicitamente ou implicitamente a proibir o sacerdócio de homossexuais ou de mulheres. Afinal um dos principais discípulos de Jesus era uma mulher, que se chamava Maria de Magdala. Cada vez mais se tem a noção da importância fundamental desta mulher no apostolado de Cristo, embora os próprios evangelistas – que estavam naturalmente sujeitos a uma determinada época – tivessem tentado obscurecer um pouco esta verdade, já para não falar nos posteriores «doutores da Igreja»... Além disso não sabemos com certeza se algum dos apóstolos de Cristo eram verdadeiramente heterossexuais, e penso que nunca vamos sabê-lo realmente. Temos de estar cientes que os evangelhos são sobretudo interpretações dos acontecimentos, e que postular teorias sobre eles é sobretudo postular teorias sobre interpretações de outros ( para não dizer que o evangelho de S. Lucas foi escrito com base no se S. Marcos). Se avançarmos um pouco verificamos que a primeira das interpretações, se assim podemos dizer, da missão confiada por Cristo aos homens, foi-nos dada por Paulo nas suas cartas. É ele o primeiro dos doutores, e aquele que primeiramente postula teorias sobre como deve funcionar a Igreja futura, quais devem ser os seus dogmas e crenças principais. E agora isto é importante: é ele que afirma numa das suas cartas que os homens «não devem perder-se em concupiscência.» Estamos a falar da opinião de um homem que supostamente contactou com Cristo e se converteu ao Cristianismo. A opinião de um homem, repito, não a de Cristo nem a dos evangelhos.

É importante que se clarifique que o pedido de Cristo foi apenas e só que se amassem uns aos outros, como ele os amou, vestissem uma túnica rasgada, agarrassem um cajado e partissem como peregrinos pelo mundo para proclamarem a mensagem de amor universal. Estes sim eram os sacerdotes, porque no Cristianismo sacerdote é primeiramente um apóstolo que humildemente deve proclamar o amor e a compaixão. E apóstolos foram não só homens, como mulheres, como homossexuais, como heterossexuais, como todos. E todo aquele que compreender a Verdade é apóstolo, e é-o a cada momento da sua vida. Aquilo que se é define-se pelos actos que se pratica. Vale a pena ler a Bíblia, como vale ler os Vedas, ou a Tora.

Sendo assim só peço ao eminente Papa Bento XVI que volte a ler os evangelhos com atenção, como se o fizesse pela primeira vez. Como sei que ele não vai ler esta mensagem, espero que os senhores sacerdotes comecem a pensar mais pelas suas próprias cabeças, em vez de se limitarem pelos conselhos de doutores ou dos seus chefes máximos.

sábado, novembro 19, 2005

Conhece-te a ti mesmo

Ao longo da vida há uma aparente incoerência de aprendizagens e de vivências que, progressivamente, vão modelando o carácter do ser humano. Heraclito dizia que o carácter de um homem é o seu destino. Pois esta aparente desordem não é mais do que a construção determinada de um destino necessário ao mundo, e ao Universo. É uma progressiva identidade que emerge.

Não nos podermos conhecer completamente, porque não conhecemos verdadeiramente o nosso destino. Podemos agourar sobre os nossos desejos e anseios. Podemos até analisar mais ou menos sistematicamente o nosso passado, e tentar vislumbrar uma linha de coerência que nos ilumine, e nos ajude a crescer. Mas na verdade só o tempo e as circunstâncias nos darão a resposta de que precisamos.

Podemos questionar-nos sobre o sentido da vida: da nossa vida; da minha vida. E como resposta podemos enlouquecer, desistir, ou aprender. Enlouquecemos porque desejamos profundamente uma resposta agora, já, imediatamente. Arrogamo-nos no direito à iluminação imediata, e a um conhecimento que nos devolva à vida, à nossa vida. Desistimos porque não temos os dados todos na mão, e a nossa análise ficou-se pela superficialidade do momentâneo e pela parcialidade da nossa ignorância.

Mas podemos também aprender. Diria que devemos. Porque estamos sempre a aprender não podemos imaginar que num determinado momento estamos completos e realizados. Porque estamos desanimados não podemos afirmar que não estaremos animados e radiantes, pois o sofrimento e o desânimo são também degraus necessários à progressiva aprendizagem da vida. Clamamos por um sentido porque acreditamos que ele existe, e está aí, a cada passo que damos, a cada decisão que tomamos, a cada erro que cometemos. O caos é sempre ordem que não compreendemos, porque não conhecemos de antemão nem as suas causas nem os seus objectivos.

terça-feira, novembro 15, 2005

Aos aspirantes a cultos

O movimento humano designa uma vontade comum, essa mesma vontade de mudança que faz evoluir uma ideia, uma tese, um ideal. Se nos juntamos para mudar, é porque sabemos que juntos seremos mais fortes. Um partido não pode nem deve representar apenas os elementos que o constituem. Sendo assim esse partido não representa ninguém senão aqueles cujos interesses individuais falam mais alto. Por isso um partido deve desde logo ser o porta-voz de um determinado grupo, comunidade ou classe. Os mais instruídos desta sociedade tem a obrigação cultural de lutar pela justiça, pela verdade, e por todos aqueles ideais que progressivamente e à força de muita luta, obrigarão a sociedade a subir no patamar do desenvolvimento verdadeiro. Nós que estudamos, que felizmente estamos ligados à cultura, ao saber e à história; nós que somos fieis depositários e transfiguradores do conhecimento, temos a obrigação de contribuir para a verdade e democracia. Somos os escultores do mundo. Como tal, é nossa obrigação polir pacientemente as arestas desta rude pedra que nos é entregue pelos nossos pais, e onde vivemos para a entregar aos vindouros, na esperança que continuem nobremente este trabalho. Mas para tal não basta que nos juntemos para dar voz a esta verdade. Não bastam palavras, nem alusões vazias à podridão do mundo, dessas que se dizem bem sentados e bem comidos, à mesa do café. Mudar o mundo começa por nos mudarmos a nós mesmos. Só mudando quem somos podemos mudar o que o mundo será. Porque o mundo somos nós, e o exemplo para a mudança não o devemos esperar de mais ninguém senão de nós mesmos.