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quarta-feira, dezembro 27, 2006

Ano Novo - Nova Felicidade





Todos os anos abundam os votos, os desejos de um bom começo, muito sucesso, muito amor. Em cada Natal, assim como em cada Ano Novo, há uma corrente de amor e de sinceridade – assim aparenta – que percorre o mundo. Queremos que todos sejam felizes, todos cumpram os seus sonhos, todos progridam e se tornem em pessoas mais alegres e realizadas. Fala-se em amor, fala-se em paz. Na boca de cada um há sempre uma palavra bonita, um conceito elevado, como se cada um reconhecesse de facto o que é isso de paz, de amor, e como se realmente desejasse e afirmasse na sua vida a partir desse momento essas verdades, praticando-as com fervor. Eu próprio já escrevi poemas, já exortei à compreensão, ao voluntarismo e à caridade como caminhos fundamentais para que o mundo se torne pelo menos mais digno. A realidade, porém, é pesada e não tarda a afundar de novo todas as exortações tão bem intencionadas, para que caiam, mais uma vez, no esquecimento até que um novo Natal ou um novo ano as resgate do fundo do inconsciente colectivo.

É triste, porque o mundo não melhora a cada ano que passa. Todos reconhecem o valor dos ideais elevados, mas no geral, a forma de agir repete-se indefinidamente, os mesmos ódios, as mesmas intrigas, o mesmo egoísmo disfarçado, a mesma hipocrisia. Nas suas vidas normais é raro que alguém responda ao mal que lhe fazem com o bem - nem pensar, isso ainda é visto como «dar a parte fraca»! Em Israel e na Palestina continua a filosofia do «Olho por olho, dente por dente»; os grandes continuam a resolver os problemas, já em si radicados no ódio, fomentando ainda mais ódio. «Nunca cortes o que pode ser desatado», li eu algures e não me esqueci nunca mais. Tanto a uma escala mais pequena, na nossa vida de todos os dias em que somos como actores que representam incessantemente, é difícil cultivar a paciência de resolver as situações mais delicadas desatando o nó – é mais fácil cortá-lo. Porém, ao cortar estragamos o fio, e já nem podemos amarrar nem coser…Os grandes fazem a guerra porque a força é uma tentação de quem tem muito poder. Não significa inteligência, mas pobreza de espírito. O que parece ficar resolvido à força de obuses há-de voltar contra nós com muito mais intensidade e de uma forma muito mais indomável. É só uma questão de tempo…

Para este início de ano que se avizinha aconselho vivamente a leitura de algumas biografias. Desde já gostaria de ver mais gente a ler e a estudar a personalidade de um ser superior que passou alguns anos nesta terra e com a força da sua passividade mudou o mundo. Falo de Gandhi. Exorto à leitura. Exorto à leitura de poetas como Tagore, exorto a que se leia mais sobre as religiões do mundo, que se aprenda mais e mais aprofundadamente sobre as formas de pensar a vida, e a divindade. É saudável, torna-nos muito mais tolerantes, e sobretudo mais críticos em relação às nossas concepções de vida, concepções que nos vendem todos os dias através dos media e das pressões sociais a que não podemos fugir. Exorto a que cada um dentro das suas possibilidades faça algum tipo de trabalho social. Melhora-nos por dentro, aumenta-nos a auto-estima, prova que podemos descer do palanque que pensamos ocupar sem nos humilharmos. Prova que todas as barreiras que criamos perante os outros homens são uma pura ilusão dos sentidos. Proponho que se pare para pensar nas razões do egoísmo. Proponho que façamos exercícios simples, exercícios de desprendimento e de dádiva. Já não é a primeira vez que atiro de boa vontade uma moeda, de um ou dois euros, para as mãos de quem me pede, mesmo quando sei que precisaria deles noutra circunstância. É um exercício de liberdade. Não sou escravo dos poucos bens materiais que possuo (ou me possuem?), antes sou deles dono e deles disponho bem ou mal sem alterar o meu estado de espírito. Já agora, encaminho-vos novamente para outras leituras como Agostinho da Silva e as suas obras dispersas, reunidas numa só colecção por Paulo Borges.

Na verdade, aquilo que quero neste texto breve é fazer diferente do que se tem feito por aí. Não pretendo só exortar vagamente ao amor, à paz, e todos esses ideais elevados. Quero dar alguns métodos práticos para o crescimento individual. Porém, faço aqui um aviso que considero importante. Podemos aprender a crescer. Há maneiras e formas de viver e de agir que nos podem tornar pessoas melhores e, por inerência, mais felizes. Peço que não se confunda isto com as célebres receitas do seja feliz que se encontram nas prateleiras da secção espiritualidades de qualquer livraria. Qualquer receita dessas só pode ocultar mentiras e sobretudo enormes perigos. Não se é feliz primeiro e, só depois, uma pessoa melhor. É-se primeiro uma pessoa melhor e, só depois de muito exercício, muita meditação sobre questões essenciais e sobre os problemas da vida através de um perspectiva alargada e séria, é que se pode atingir um determinado estado de calma e de paz interior que nos dá – só nessa altura – condições para então buscarmos essa felicidade legitima que a que todos temos direito. Peço que se atente a isto muito seriamente.

De facto para o ano que se avizinha exorto - embora não diga absolutamente nada de novo - ao Amor. Como? Já o disseram muitos outros antes de mim, entre eles o nosso amigo Cristo a quem devemos em parte a sociedade que somos hoje. Mas só em parte, diga-se, porque também somos filhos de Maquiavel, só como exemplo…

Queremos amor, certo? Todos queremos amor. Todos nos achamos com direito ao amor, todos nos achamos com direito de pedir aos outros que nos amem, todos nos achamos no direito de possuir o amor dos outros. Devemos questionar em primeiro lugar que tipo de Amor é que na realidade queremos. Se um amor frágil, fundamentado em sentimentos do momento, volátil e sujeito às intempéries, ou por outro lado um amor resistente, sólido, que não pretende possuir nada nem ninguém mas somente dar-se. Isto mais uma vez parece vago. Façamos pois exercícios para treinar este amor. Já falei em trabalho social. É uma forma de aprender a amar, mesmo quando não há contrapartidas imediatas. Trabalhar com idosos ou crianças carenciadas e difíceis obriga-nos a pôr de parte a possibilidade do outro nos devolver o amor, e cultivar a necessidade de procurar mais profundamente sinais dessa resposta. Sendo que naturalmente olhamos para uma mulher ou um homem com certo interesse consoante a beleza física, é também natural que nos sintamos mais atraídos ou sintamos «amor» por aqueles que nos podem oferecer alguma coisa em resposta ao nosso esforço. Pois entendamos que há um amor maior que pode resultar de um esforço maior. Procurar quem não tem nada para nos dar é uma forma de cultivar esse «amor maior». É lógico que também estamos em busca de alguma coisa que o outro nos possa dar, estamos sempre, não há um altruísmo absoluto, mas é de facto melhor para todos se devagar cada um de nós aprender a amar de uma forma mais ampla, ouvindo e cultivando a paciência, sorrindo perante a felicidade de que já não se está só porque há de facto quem precise de nós e quem desse tudo para nos ter por perto. Há coisas simples no nosso dia a dia para quem não tem grande tempo para trabalho social. Em primeiro lugar podemos aprender a olhar nos olhos quem fala connosco. Podemos aprender a cumprimentar olhos nos olhos, mão firme e sorriso nos lábios. É uma boa forma de dizermos «estamos aqui, sou teu irmão, posso ajudar-te?». Temos que acabar com os olhares desconfiados na porta do prédio, os bons dias meio sussurrados a olhar para o chão. Somos todos irmãos e, como tal, o facto de não nos conhecermos não nos torna diferentes uns dos outros e muito menos inimigos. Temos de ganhar coragem para falarmos a quem não conhecemos, no metro ou na rua, como se o víssemos todos os dias. Temos de ganhar coragem para sentarmos ao nosso lado na mesa do café o mendigo que nos pede cinquenta cêntimos e a nossa companhia, como já fiz uma vez. A não ser que seja proibido no estabelecimento junto com a proibição à entrada de animais. Nesse caso não tenhamos medo de protestar e de acompanhar o nosso homem à rua e prometer que não voltamos a pôr os pés num café estilo apartheid.

Em pequenos gestos podemos cultivar o amor todos os dias. Quando tivermos vontade de gritar com alguém procuremos entender que o que enviamos vem de volta. Assim procuremos convencer pela razão e menos pelo barulho… Só leva a que fiquemos com dores de cabeça e a garganta arranhada, e se a outra pessoa não tiver hipótese de resposta porque é frágil ou menos dotada, o que acabamos por fazer é semear o ódio que à força de um tempo retorna em forma de vingança. E sobretudo, temos de aprender a aceitar compromissos. Quando dissermos sim a alguma coisa saibamos ultrapassar dificuldades de uma forma madura para honrarmos esse sim. Não passemos a vida a dizer sim a tudo já com o contrato de rescisão anexado. Assim não damos tempo para desenvolver esse amor verdadeiro, construído, cimentado – a cumplicidade de quem já partilhou vivências. E não falo só do casamento, mas das relações em geral.

Amor, amor! Que mais posso dizer sobre o cultivo do amor que desejo para o ano que vem? Perdoar, a forma mais elevada de amor. O perdão tem um efeito bloqueador do ódio. Se alguém nos ofende e retribuímos, recebemos o ódio e voltamos a enviá-lo. Provavelmente continuaremos nisto até o ódio crescer de tal forma que se torne uma barreira irredutível entre nós. É um exercício de compreensão. Durante os meses de Agosto e Setembro, enquanto estive em Moçambique em missão, visitei a prisão da Macia, a vila onde estive. Compreendi como, as pessoas que lá estavam presas, não podiam ser vistas apenas e só como criminosos institucionalizados, que mereciam deveras o castigo pelos crimes que cometeram. Julgá-los de cima para baixo iria, provavelmente, fazer-me sentir um certo ódio por eles, neste caso, um certo desprezo. Quando estivesse entre eles não estaria a ajudá-los, não estaria a transmitir-lhes confiança e humanidade, mas só e apenas distância, o que lhes daria ainda mais razões para se auto-marginalizarem. Não. Preferi cumprimentá-los de mão aberta, de olhos nos olhos, de sorriso nos lábios. Uma palavra de compreensão, uma balela de entendimento e já era como eles. Foi o suficiente para se sentirem homens, que como sabemos é difícil num país com uma democracia deficiente, uma justiça de acordo, e uma educação nada melhor. Perdoar é acordar nos outros a sua humanidade mais profunda, mostrar que depois do erro há uma possibilidade de superação, e lá estaremos ao lado prontos para ajudar, como fez Gandhi ao suportar no corpo as vergastadas da policia inglesa na Índia colonial. A sociedade não é perfeita, está muito longe sequer de ser boa. Prender, matar, executar é só uma prova de que ainda estamos longe de resolver os nossos problemas mais sérios. Prender, matar, executar, até abortar, é a prova de que algo está seriamente a falhar, ou já falhou de todo na sociedade.

E quanto à paz que se deseja também por esta altura? Está intimamente ligada ao amor? É claro. O amor tem de ser amplo, a paz não foge à regra. A paz tem de ser a capacidade de estar sereno durante as maiores tempestades, embora seja das coisas mais difíceis que se possa pedir a um ser humano. A paz tem de vir de dentro, porque se estiver dependente do que está fora de nós, ou daquilo que não depende da nossa vontade, então nunca seremos paz – porque ter paz significa ser paz -. Certo, mais uma vez vago demais não é? Exercícios para ter paz: não é muito diferente do que já disse. Se fizermos por ter/dar amor, teremos paz. Se fizermos um esforço por nos tornarmos donos do que temos, e não escravos, será mais uma razão para não perdermos a calma quando não pudermos comprar o carro de que gostávamos, ou o telemóvel que andamos a namorar. Tudo depende de exercitarmos a nossa liberdade, porque a liberdade é isso mesmo – um exercício da vontade verdadeira. Se ouvirmos uma boa musica, se fizermos um esforço por captar a beleza mesmo quando não vemos senão escuridão, então saberemos que mesmo na adversidade podemos ter paz e sorrir. Temos de ter coisas para fazer e construir. Um conselho: se não tiver nada para fazer não caia na fácil tentação de ligar a tv e ver a novela x ou fazer zapping ad aeternum. É fácil, mas é extremamente deprimente. Leia coisas, saia à rua, fale com pessoas. Sinta que está a desenvolver, sinta que em cada coisa que faz, em cada coisa que diz há mais uma coisa que aprende, há mais um neurónio que acorda do seu sono milenar, há mais um degrau ultrapassado no seu crescimento pessoal. Agostinho da Silva dizia que para o homem talvez não seja essencial ser feliz, embora seja de facto essencial ser alegre. Tenha motivos para se alegrar. Admire-se com o mistério de uma noite estrelada, ou com um pensamento, ou uma obra de arte que o ultrapasse. Mas uma coisa eu digo e repito: ter paz não é um caminho fácil, mas difícil. É importante que saibamos distinguir entre uma paz medíocre, que é aquela que resulta do medo que fazer algo, de arriscar por vezes, essa paz que é aquela de que falava o Pessoa, «Triste de quem é feliz/ contente com o seu lar/ sem que um sonho num erguer de asa/faça até mais rubra a brasa/ da lareira a abandonar.». Aconselho a que faça, arrisque, vá à procura. Será mais satisfatória a paz associada à vitoria, do que a paz no sopé da montanha, onde só paira a sombra das alturas que se podiam ter atingido, mas por medo, não se atingiram. Saiba porém bem aquilo que procura. Não se meta em empresas por causa do lucro, por causa de bens materiais ou outras coisas afins. Se vai, então vá por aquilo que de facto vale a pena. Proponho um exercício: quando agarrar no cajado ponha a pergunta e visualize – serei uma pessoa melhor e mais pacifica depois disto? Então vá.

Agora um clichézinho para terminar: aquilo que quiser, dê aos outros, vai ver que não dói nada, e no próximo ano talvez possamos conversar de novo com mais boas notícias para discutir. Talvez possamos ouvir por exemplo que a guerra entre Israel e a Palestina terminou, ou que o Iraque se tornou um país pacífico e senhor de si mesmo. E se pensa que estas notícias não dependerão de si, engane-se. Somos todos culpados! Somos todos cúmplices dos males do mundo! Todos, todos, todos! Ou irmãos, ou nada!

terça-feira, dezembro 19, 2006

O que é o Natal? - Mensagem para todos





Não…! Não é a prenda mais cara, não é a mesa cheia, não é o champanhe francês, o bacalhau com todos, a casa mais iluminada, a árvore maior com as decorações mais brilhantes…



Não…! O Natal não é apenas agora… é todos os dias da nossa Vida.



Não…! O Natal não é lembrar daqueles amigos, que durante o ano esquecemos, porque não houve tempo…



Então o que é o Natal?



O Natal é Amor…



É olhar para a mesa cheia e lembrar que, lá fora, alguém está passando fome. Então porque não dividir?



É sentir o calor aconchegante da nossa casa e pensar que, noutro canto qualquer, o vento cortante, a chuva gelada, causa a dor no nosso próximo. Então porque não distribuir calor?



É pensar que a fome não se mata apenas com pão, bacalhau e bolo-rei. Colmata-se com pão ou, simplesmente, com muito amor, carinho e um abraço amigo. Porque também se morre de falta de Amor!



Neste Natal, não se preocupe se o dinheiro não chega para comprar a prenda que tanto desejava, só com a preocupação de mostrar ao amigo que dele não se esqueceu.



Neste Natal, chame o seu amigo, dê-lhe um abraço e diga-lhe como ele é importante para si. Diga-lhe que o tempo jamais o impedirá de lhe dizer quanto o ama.



Neste Natal, mesmo que os bolsos estejam vazios, abra o seu coração, e divida a plenitude da sua alma com todos os que o rodearem.



Neste Natal, abra o seu regaço e receba em Amor todo aquele que é ser humano.



Neste Natal, ao passar na rua, se vir um desconhecido maltrapilho, sujo e pobre, não se afaste dele. Mostre-lhe que ele também existe e que o olha e sente. Dê-lhe um pedaço do seu Amor que não se gasta.



Quanto mais Amor distribuir, mais Amor terá dentro de si!



E, porque não fica caro, não custa nada, e fá-lo-à feliz, distribua sorrisos, estenda a mão aberta e diga, a quem quer que seja:



“Eu estou aqui e não te abandono! O meu calor é teu, o meu pão divido contigo e, quando a tristeza te cercar, não chores. Aqui, neste canto, de bolsos vazios, tenho um colo para te aconchegar…e muito, muito Amor para te dar!”



A todos um Feliz Natal…Para todos, muito Amor…




Ana Paula, a minha adorada mãe...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

1ª Sessão Pública de Apresentação de Instituições com Programas de Voluntariado




O Núcleo de Gaia do Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária - ISU Gaia - tem o prazer de o convidar a participar na 1ª Sessão Pública de Apresentação de Instituições com Programas de Voluntariado. Pretende-se que esta sessão constitua um momento privilegiado de diálogo e de partilha de experiências entre instituições e voluntários da região do Grande Porto. Coincidirá ainda com a conclusão da 2ª edição do Curso de Formação Geral para o Voluntariado – Voluntariado, Desenvolvimento e Cidadania, cujos objectivos gerais consistem em:


1. Sensibilizar a sociedade portuense, e os seus estudantes universitários em particular, para a importância do voluntariado enquanto exercício de uma cidadania activa e solidária e também como fonte de aprendizagem
e mudança (inter) pessoal;
2. Promover uma assumpção do voluntariado como um compromisso responsável e continuado;
3. Facilitar a articulação entre os participantes e instituições locais onde estes se possam integrar como voluntários.

INSTITUIÇÕES presentes:

Escola Superior de Educação Paula Frassinetti (pessoas sem-abrigo e mães adolescentes)

Médicos do Mundo Porto (pessoas sem-abrigo e idosos)

Reviravolta (Comércio Justo)

CREU-IL Grupos de Visitadores de Prisões (reclusos)

GAS Porto (acção social local e em países em vias de desenvolvimento)


Data: 16 de Dezembro de 2006

Horário: 14:30h - 17:30h


Local: Escola Superior de Educação Paula Frassinetti (Rua Gil Vicente, 138, a 50mt do Marquês, Porto)

Informações: isu_gaia@yahoo.com ou 917457918

sexta-feira, novembro 24, 2006

Mude



Mude
Mas comece devagar,
comece na sua velocidade.

Sente-se diferente, em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, ande pelo outro lado da rua,
depois mude de caminho,
ande por outras ruas, mais devagar,
observando os lugares por onde passa.
Tome outros ônibus, se for o caso.

Mude por uns tempos o estilo das roupas,
dê os seus sapatos velhos,
procure andar descalço por uns dias.
Tire uma tarde livre
para passear no parque ou na praia.
Saia sozinho para ouvir o canto dos pássaros.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, de ponta-cabeça.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
viva outros romances.
Troque de carro.
Não faça do hábito um estilo de vida.

- Ame a novidade.

Corrija a postura, faça ginástica, durma mais tarde, ou acorde mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Escolha novas comidas, temperos, cores,
diferentes delícias.
Experimente a gostosura da pouca quantidade.

- Tente o novo todo dia.
O novo lado,
o novo método,
o novo jeito,
o novo sabor,
o novo prazer,
o novo amor.
- A nova vida.

Faça novos amigos, mantenha novas relações,
almoce em outros lugares,
vá a outros restaurantes,
tome outros tipos de bebida,
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde - ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabão, novos cremes.
Tome banho em horários variáveis.
Use canetas de outras cores.

Vá passear em outros lugares.
(Comece agora uma viagem para bem longe do aqui.)

Faça amor de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas.
compre novos óculos,
escreva outras poesias, jogue fora o despertador.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, novos cabeleireiros,
outros teatros.
Visite novos museus.

- Mude.

Você conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo,
a energia.
Dessa forma, apenas dessa forma - você viverá.
- Só o que está morto não muda!


Edson Marques
No livro Solidão a Mil

quarta-feira, novembro 22, 2006

pseudo-espiritualidade

Muito se fala hoje de espiritualidade e exercícios espirituais. É como uma nova moda, em que abundam as práticas, os métodos, os modelos a seguir. A óptica do seja feliz é hoje um produto de venda fácil ao alcance de qualquer um. A verdade é que já ninguém admite instituições que imponham uma determinada espiritualidade, e a apelo tipicamente ocidental à supremacia do indivíduo passou a fazer parte também dos métodos ditos espirituais. É um pouco a ideia do faça vossa mesmo, sirva-se, como se o ser feliz fosse como ir ao supermercado escolher o produto mais barato, ou de melhor qualidade, desta ou daquela marca. As várias técnicas, muitas derivadas de técnicas orientais (muitas vezes deturpadas), prometem todo o tipo de Nirvanas possíveis, serenidade, calma. Prometem melhor rendimento no trabalho, mais dinheiro, mais amizades e melhores. Prometem libertar-nos dos medos, dos traumas, limpar-nos os chacras, fazer da nossa casa um ninho de energia positiva. E de facto parece tudo tão fácil! É só ir à prateleira da secção Espiritualidades, e está lá tudo. Ou então dois ou três meses de Reiki, ou Yoga, ou tudo ao mesmo tempo num sincretismo de última hora, ao jeito dos modelos de automóveis! A busca da transcendência deixou de ser difícil e tortuosa, aberta apenas aos que se dispõem a abnegação e ao sacrifício, para se tornar uma filosofia de vida ao serviço de um tipo de felicidade tudo menos espiritual. Nenhuma pessoa devidamente votada a uma prática realmente espiritual fá-lo porque quer mais dinheiro, ou mais sucesso no trabalho. Não é para servir uma sociedade assim individualista, que a espiritualidade existe. Toda a prática dita espiritual torna-se puramente exterior e fugaz quando não tem como fim ideais maiores de justiça, igualdade, fraternidade. A sociedade democrática liberal de que fazemos parte aprendeu a relegar para segundo plano toda a prática religiosa. O civil sobrepõe-se ao religioso. Aprendemos que há religiões que são autênticas filosofias de vida, porque não estamos habituados a viver a espiritualidade quotidianamente, até ao mais ínfimo pormenor da nossa existência ao jeito de um hindu ou um muçulmano. O budismo é tão filosofia de vida como o Cristianismo. A diferença está em viver ou não a religião que se abraça. Não há budistas nem hindus só ao Domingo (de manhã), mas todos os dias e a todas as horas. E o mesmo se aplica à maioria dos muçulmanos.

A espiritualidade em voga na sociedade ocidental de hoje está menos ao serviço de um aperfeiçoamento verdadeiro do espírito do que ao dos próprios interesses económicos de que deriva. Não se faz yoga ou reiki, ou budismo para se um ser humano melhor. Não se lê Depkap Chopra, ou o Código Da Vinci porque de facto liberte. Lê-se porque o fosso espiritual é tão grande, o vazio de ideais tão agravado por anos e anos de positivismo infundamentado e idolatria do Lucro, que a necessidade do homem light é prover-se de um apoio qualquer que torne a sua vida mais significante, no meio da insignificância e do atordoamento geral do sem-sentido.
A espiritualidade verdadeira é outra, e essa exige sacrifico, abnegação, aperfeiçoamento da sensibilidade, do amor aos homens e à Verdade. Todas essas pseudo espiritualidades são perfeitamente válidas se assentarem numa vontade verdadeiramente sentida de mudança, aperfeiçoamento; se forem instrumentos de procura do caminho do Ser, e não do Ter; se nos levarem a uma redescoberta de nós mesmos e da nossa posição no Universo; se de facto servirem o altruísmo e não o egoísmo. Assim, aprende mais quem larga tudo para correr em busca de quem já não tem forças para lutar, do que quem atropela um velho no passeio porque já vai atrasado para a aula de tai chi…Fico mais enriquecido a ler a biografia de um Gandhi, do que toda a obra do Osho

quarta-feira, novembro 15, 2006

Ao jeito dialéctico

Colocarei uma questão à qual me esforçarei para dar resposta. Deus existe? Comecemos muito devagar, com passos breves mas sólidos. Em primeiro lugar devemos definir Deus e existência. É verdade. A pergunta só vale se soubermos ao certo o que entender por Deus, e o que entender por existência. Poderemos chegar a dois caminhos distintos. Um dir-nos-á que a pergunta de facto é absurda, e nunca se poderá pô-la nestes termos; o outro dar-nos-á, senão uma resposta, pelo menos uma proposta humilde de resolução. O problema começa na definição de Deus, e se de facto Deus pode sequer definir-se. Se por um lado ele de facto existe, então cabe-nos perceber se a definição que dele possuímos, ou a ideia que dele possuímos de facto corresponde ao Deus real. Se não existe, cabe-nos entender então se o que existe é Deus, ou uma ideia profundamente enraizada, ou até várias ideias enraizadas dele. O problema desta questão é que nunca de facto perceberemos se Deus é de facto Deus, enquanto não respondermos à primeira das questões que propus. Responder à primeira das questões implica responder a uma vasta panóplia de outras questões. E porquê? Porque, a existir, Deus não é uma realidade a que se tenha acesso facilmente, como uma árvore, uma maça, um homem. Estamos formatados para pôr em questão tudo o que não se apresente de forma imediata, palpável, mensurável. Faz-nos uma enorme confusão que algo possa fugir à régua, ao esquadro, que algo possa ser tido como existente quando nunca foi medido, registado e anotado numa categoria aceite universalmente. Falo de ciência. Porque relatos da visão de Deus existem em todas as religiões. E aqui provavelmente já estou a pecar, pois já estou a alargar Deus a todas as formas de adoração. Neste sentido, e porque quando se afirma também se nega, já estou a negar um conceito de Deus mais fechado, como o é o Deus dos Cristãos, ou o dos muçulmanos, ou dos judeus. Busquemos a essência das religiões monoteístas e de forma quase imediata encontramos o mesmo Deus. E os hindus? Nos hindus temos o Absoluto de onde tudo emana: Brahma. No budismo temos o quê? Alguns dizem o Nada e negam que se possa falar num Deus. A mim não me parece, pois o budismo não é mais do que uma das muitas formas de hinduísmo. O hinduísmo vem há séculos clamando pela libertação, pela iluminação, pelo Nirvana. O Budismo é sobretudo uma doutrina que resulta de um caminho que um homem fez em direcção ao Nirvana. Esse homem mais não fez do que cumprir o mandamento hindu da compaixão, ensinando o seu caminho a outros. Então, podemos afirmar que nestas que são as principais religiões está presente uma entidade. Em traços essenciais, quais são as características desta entidade? Todas as formas de adoração reclamam a sua existência. É criadora, não criada, portanto, eterna. Revela-se a seres humanos especiais: os profetas, os imãs, os bodisatvas. Mas, sem me alargar pela definição e pela história das religiões, é importante que volte ao caminho de onde vim. Deus é incognoscível? Se o for, nada o poderá provar, no verdadeiro sentido. Está fora de qualquer conceptualização. Nada feito. Se Deus for cognoscível, conceptualizavel, qual o sentido da Fé? Qual o sentido do Mistério? Devemos de facto eliminar a dimensão do Mistério considerando-a apenas uma deficiência, a manifestação de uma falta a suprir no conhecimento do Deus, ou como uma importante dimensão da relação que temos com o divino? Se assim for, põe-se de facto a hipótese, não só da absoluta impossibilidade de conhecer Deus no sentido ontológico das categorias racionais, mas sobretudo da impossibilidade de separar Deus do seu Mistério, ou da Fé. Se assim não for, e Deus for tão cognoscível como um planeta ou uma árvore à espera de uma taxinomia que a faça pertencer ao panteão dos fenómenos observáveis, devemos então questionarmo-nos sobre a incapacidade da nossa razão em ainda não ter descoberto nada. Afinal o que pode estar a falhar? Muita coisa. Em primeiro lugar podemos estar enganados acerca do objecto que procuramos. Em segundo podemos não estar a procurar de forma correcta. Em terceiro lugar podemos não só estar enganados acerca do que procuramos, como não estarmos sequer a procurar da melhor maneira. No fundo podemos estar na demanda de uma ilusão, como cavaleiros do Graal, ou então a ilusão esteja na forma como procuramos. Por ventura, talvez nem devêssemos procurar…

Existência. A existência do latim «ekxistere» implica uma presença, a admissão por parte de um sujeito de um objecto definível, qualificável. Não nego porém a outra possibilidade: existe também o que não foi admitido e apercebido pelo sujeito, pelo menos como uma possibilidade de ser. Existir é no fundo a concretização de uma realidade, embora essa realidade possa ter dimensões variadas consoante os sujeitos que as apercebem, as suas intencionalidades, os seus valores. Quando alguém nos pergunta...

Continua...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Do lado de fora





Somos no caminho tomados pelas mais excruciantes questões. Os escolhos atravessam-se, as dúvidas insistem tolher-nos a velocidade, lesta e constante, provavelmente para lugar nenhum. Dicere quid? Fazer o quê? Andar mais devagar? Sentar enquanto a turba passa, olhares sem brilho, braços cruzando os espaços sem uma força maior que os anime, um desejo mais profundo que os faça cortar o ar em socos de profunda vontade de superação das verdades aceites. São pontos que vagueiam em círculos, varas da roda da necessidade – e vejam que não digo roda da verdade -.
Estou sentado. Para muitos dos que passam estou parado. Estagnei. Não tardará a que seja esquecido, ou a que me passem por cima como um pobre de espírito que não logrou integrar-se. Sou um inadaptado.
Do lado de cá só sei sorrir. Do lado de cá só sei chorar. Ainda não compreenderam eles que andar em círculos é andar para lado nenhum. Que estando eu parado a seus olhos, não faço mais do que arrepiar caminho numa direcção diferente, e acreditem eles que não tardará a que sintam vontade de me seguir. E eu tudo farei para que me sigam. Engano-me, sigam o meu caminho, que não é mais do que a mais básica vereda aos país de todos os caminhos, que só ao homem pertencem, e só o homem poderá reclamá-los para si na mais que legitima procura do seu ser verdadeiro.
Estamos bem devagar cimentando muros à nossa volta. A Liberdade é cada vez mais o produto da nossa própria ignorância. Não tardará a que chamemos casa às grades que levantamos, glorificando a chave com que fechamos a porta como se fosse a chave da próprio Sentido.
Eu talvez prefira manter a porta aberta, e bem aberta. No que depender de mim a chave fica longe, atiro-a ao primeiro ribeiro por onde passe. Mas na prisão, ribeiros não os há…

domingo, outubro 22, 2006

"À MESA DO MUNDO" - LANÇAMENTO DE 5 NOVOS LIVROS

A Corposeditora convida vossas excelências para "À Mesa do Mundo".

O Evento irá ocorrer no próximo dia 10 de Novembro de 2006, 6a Feira,pelas 22H30m, no bar Blá Blá, em Matosinhos, e contará com o lançamento dos seguintes Livros:

- Paulo Themudo "Repousadas Mãos que Sentem"
- Nuno Fernando "Facas e Alguidares"
- Miguel Nogueira "Fragmentos de Ninguém"
- Amadeu Liberto "A Pele"
- Ruben de Azevedo "Metanoia"

Teremos ainda:
-Actuação de Ex-Ricardo dePinho Teixeira, com a participação de Ironic Salazar, Pedro Romualdo e Elisa Nair.
-Actuação dos Sotto Voce.
-Instalação de Marta Silva
-Dj Miguel TT

Entrada: 5€

terça-feira, outubro 17, 2006

Lançamento de Livro

Caros amigos e visitantes deste blog!

Desde já vos convido para o lançamento do meu livro (Metanoia) que terá lugar dia 10 de Novembro (Sexta-Feira, à noite (hora ainda a confirmar), na discoteca Bla Bla em Massarelos.

Confirmem para o meu mail.

manotime@gmail.com

Obrigado.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Novo Blog

Caros visitantes.

Criei recentemente um novo blog, que mais não é do que um ponto de encontro, uma base de dados, para todos aqueles que se preocupam com o problema do ensino, da educação, da cultura do individuo, do ser mestre, do ser aluno.

Para professores, alunos, comunidade educativa em geral.

Visitem e contribuam participando no fórum.

Obrigado.

http://educarcultivarlibertar.blogspot.com/

quarta-feira, outubro 04, 2006

Fórum Humanista Europeu

Vai decorrer nos próximos dias 3, 4 e 4 de Novembro o Fórum Internacional Europeu.

é sobretudo um encontro aberto a todas as pessoas e organizações com um mesmo objectivo - promover um mundo mais justo, respeitador e emancipador do Homem!

é preciso voluntários!

Para mais informações visitem o Link e divulguem!

terça-feira, junho 27, 2006

Grandeza de um homem

O homem grande não é aquele que se faz grande. Não é aquele cujo estatuto de grandeza é sancionado e institucionalizado pela sociedade em que vive. No máximo esse homem tem fama, não grandeza.

O homem grande não é aquele que tem muito, principalmente quando o Ter o impede de Ser, e o faz levantar muros entre si e os seus irmãos.

O homem grande não é aquele que conquista terras, ou vence batalhas de espada em punho. O homem grande não faz nada com vista ao prazer ou glória imediatos, e muito menos pretende que o exaltem em praça a publica como um grande líder ou um homem poderoso.

O homem grande é paciente, por isso não corta o que pode ser desatado. O homem grande não desanima mesmo na noite mais escura, porque mesmo nas trevas sabe que não está só.

O homem grande sabe que nada sabe, porque a única sabedoria que procura é saber aprender.

O homem grande admite que tem medo, mas raramente permite que este lhe tolha os movimentos. Pelo contrario, é corajoso, não porque não tenha medo, mas porque assumindo o medo ultrapassa-o. O homem grande ao assumir a sua infinita humanidade, assume as suas infinitas limitações. Ao assumir-se nada, é tudo.

O homem grande é como um barco, cujo abundante lastro o mantém firme à superfície das àguas mesmo durante a maior das tempestades.

O homem grande sabe perseverar num caminho até ao fim, mas sabe também desistir dele se o entender necessário, ainda que pareça tarde.

O homem grande sabe que toda a sua vida é uma demanda em busca de si mesmo.

O homem grande sabe ser prudente, mas conhece bem o poder da loucura.

O homem grande ama o Mistério; sabendo-o infinitamente infinito sabe procurá-lo. O homem grande abomina o dogma e a lei que cristalizam fora de si mesmo, pois para ele toda a lei é dinâmica e tendente à liberdade mais plena.

O homem grande não espera que seja o mundo a mudar; muda ele primeiro.

O homem grande não se acorrenta a si mesmo.

O homem grande nada satisfeito no oceano pleno da sua liberdade.

O homem grande entrega-se sempre de corpo e alma; mas a alma nunca a perde.

O homem grande sabe onde está a riqueza verdadeira. Por isso está disposto a abdicar de si mesmo para a encontrar.

O homem grande exercita-se constantemente no amor verdadeiro; por isso ama o irmão na sua liberdade.

O homem grande exercita-se constantemente no ser criança. Por isso procura a companhia das crianças e aprende com elas.

O homem grande exercita-se constantemente no ser velho. Por isso procura a companhia dos idosos e aprende com eles.

O homem grande sabe viver por uma causa, mas sabe também morrer por ela.

terça-feira, junho 20, 2006

Mais do mesmo...

Cada dia que passa se ouvem mais e mais protestos dos professores, e cada vez mais e mais justificações mal justificadas para medidas educativas que são cuspidas para a opinião pública sem uma coerência aparente, nem algo que faça adivinhar um plano orientador para a acção governativa na área da educação.

Parece que, cada vez mais o problema fundamental da educação tem a haver com questões de pessoal e de logística que, a meu ver, se confundem tantas vezes com questões financeiras de redução da função pública, a maldita questão dos supranumerários, entre outras questões que parecem ocultar como único plano de fundo a poupança, e a sustentabilidade da segurança social. Na confusão dos discursos sobra apenas tempo para discussões que nada concernem ao que de facto me parece o maior problema do sistema de ensino português – o próprio sistema de ensino! De facto não me parece que alguém consiga mergulhar sob o mar de problemas e de remendos sobre os quais caminha infelizmente toda a polémica, por onde o barco do governo continua a abrir caminho embora muitas vezes aos círculos e de marcha a ré.

A pergunta que devemos fazer desde logo, e a única que de facto nos servirá de hipótese de trabalho é a seguinte: está o sistema de ensino, em todas as suas dimensões e âmbitos, realmente preparado para formar o indivíduo em todas as suas vertentes de cidadão, ser humano, autónomo, livre, responsável, aberto ao mundo?

A partir desta questão simples e básica, devemos nós construir desde os alicerces um sistema dito ideal, e deitar por terra todos os defeitos que por ventura observemos no sistema que hoje temos. Devemos só como exemplo questionarmo-nos sobre o conceito de pessoa, ou indivíduo sobre o qual se baseia o sistema de hoje, e o conceito de pessoa do sistema que desejamos. Como sabemos, a questão do individuo acarreta consigo toda uma panóplia de predicados fundamentais como o ser livre, ser autónomo, que fazem parte do conceito de pessoa e que, na questão da aprendizagem e/ou ensino são fundamentais para entendermos o porquê de certos problemas de hoje, e como podemos resolvê-los amanhã.

Devemos também pôr a tónica na sociedade de hoje, pois o ensino tende a ser mais tarde ou mais cedo o reflexo da sociedade que o tutela, dos seus objectivos, propósitos, contextos culturais. A sociedade tende a formar para seu uso corrente, se assim posso dizer, um conceito de pessoa que tende a ser mais ou menos útil à própria sociedade onde o indivíduo se insere. Vejamos o exemplo do socialismo e do indivíduo como colectividade, ou o capitalismo e o indivíduo como ser livre, consumidor e produto.

Assim, como é a sociedade de hoje? Qual o conceito de pessoa de hoje? Qual o conceito de individuo de amanhã, para que se crie a sociedade de amanhã? De que modo a educação se deve portar perante um novo conceito de indivíduo, e de sociedade?

Responda-se a estas questões e muitos problemas se resolverão.

sexta-feira, junho 09, 2006

Cenáculo de parabéns!!!



É verdade!

Passou um ano desde que pela primeira vez postei a minha reflexão inaugural! Desde então este blog tem sido o depositário de muitas das minhas reflexões, embora continue a ser a ponta do iceberg!

É um dia importante para o Mundo! Não, a Margarida Rebelo Pinto continua a escrever livros, não é isso!

Dêm-lhe os parabéns deixando um comentário. Serão postados no próprio blog!

Como dizia o Pessoa, o melhor do mundo são as danças, as crianças... e o meu blog!

Abraço a todos!!

domingo, junho 04, 2006

O melhor do mundo

Porque as crianças são de facto melhor do mundo, vale a pena que nos lembremos delas todos os dias da nossa vida como verdadeiros arautos de liberdade, de porvir, de pura esperança.

O dia 1 de Junho deve apenas servir para nos fazer reflectir seriamente sobre o estado do mundo no que concerne ao valor que se dá à criança, e às condições que este mesmo mundo apresenta para este ser magnifico se desenvolver em toda a sua plenitude, enquanto nos ensina o valor do olhar surpreendido, do porquê recorrente, do sentimento puro e sem interesse. Nos dias que correm, ser criança é um risco imenso. Só aqueles que logram sobreviverem à fome, à guerra, aos maus-tratos, à exploração; só aqueles que podem usufruir de educação, de uma família, de amor, e tem também a sorte de poder crescer em todas as dimensões sem os entraves sempre redutores dos adultos e da sociedade sempre militarizada - quanto mais não seja por exigir competição ao invés da cooperação -, serão os poetas, os condutores de nações, os santos, como tão bem nos ensinou Agostinho da Silva.

São imensas as situações no mundo de hoje que comprovam como ainda estamos longe de poder dar as nossas crianças um mundo de plenas possibilidades. Nas montanha
s de Timor, 500.000 refugiados lutam por sobreviver as terríveis condições em que se encontram por culpa de um major caprichoso sem amor pelo seu país nem pelo povo que o criou. No Sri Lanka as crianças que vivem nas zonas mais afectadas pelo tsunami estão agora também subjugadas por confrontos no país. No Corno de África, há 40.000 crianças filhas de pastores nómadas que sofrem de má nutrição. A UNICEF afirmou hoje que apesar das chuvas torrenciais de Abril, dezenas de milhares de crianças que dependem da pastorícia ainda correm risco de vida. Poderia continuar a enumerar as muitas formas de atentar contra a vida da criança, desde a prostituição, o tráfico, o trabalho infantil.

Vale a pena dar uma vista de olhos ao site da UNICEF.

quinta-feira, abril 27, 2006

25 de Abril - Revolução inacabada


Hoje comemora-se o 32º aniversário da revolução dos cravos. Importa que nos questionemos 32 anos depois sobre o significado que esta data continua a ter na mente dos portugueses, e em que medida vale a pena que, ano sobre ano, continuemos a lembrá-la com pompa e circunstância.
O lugar-comum é o da Liberdade. Porque a investida dos capitães de Abril resultou na instauração de um regime democrático – embora com muitos percalços pelo caminho -, a dimensão que resulta e que nos faz brilhar o olhar ao pensarmos na revolução, é a emancipação das liberdades cívicas. Principalmente quando falamos com um ex- preso político, ou com um ex- combatente, ou apenas com alguém que presenciou todos aqueles momentos inolvidáveis no terreiro do Paço, ou no Largo do Carmo, como se o ter pertencido e presenciado a história em si fosse como avistar um tesouro e querer partilhá-lo com outrem – e é mesmo! Será no entanto importante lembrar que o primeiro dos objectivos do 25 de Abril não foi instaurar uma democracia, mas sobretudo terminar com uma guerra que da qual não se conhecia o fim, para onde se enviavam almas para morrer por uma causa há muito perdida.
Para os mais jovens, aqueles que do 25 de Abril só conhecem o que lhes foi debitado na escola, ou dos testemunhos dos mais velhos, esta data não representa nada que de facto os faça vibrar de emoção – é mais um feriado para gozar – e mesmo que se fale em liberdade não é de facto um termo que conheçam bem, visto que, como o ar que se respira, está lá e não é perceptível nem compreensível que há um preço por ser-se livre.
E porque nenhuma revolução exterior de facto dura, senão quando transfigurada absolutamente em revolução interior, o 25 de Abril - ou aquilo que com ele se iniciou e nunca de facto terminará -, deverá ser interiorizado e sobre ele devemos cada um com os seus botões entender o que com ele se pretendeu, se conseguiu, conquistou, e aquilo que cada um de nós como cidadãos responsáveis deve aprender e, sobretudo, continuar!
O 25 de Abril, assim como a Revolução Francesa, ou qualquer outra revolução que tenha existido no passado, está aí, à nossa frente, e depende de cada um de nós, assimilando a nossa responsabilidade e nunca a nossa distância como se algo que se tivesse passado há 32 anos não fosse da nossa conta.
Por isto não tolero minimamente que hoje, os bem acomodados covardes da nossa politica, das nossas forças armadas, ou de qualquer outro sector da vida cívica falem da revolução cheios de propriedade, e na sua vida de todos os dias continuem egoístas para quem está ao seu lado, ou covardes a cada momento com quem os subordina, sempre em busca de um estatuto ou de uma posição mais segura. Se há neste momento alguém que admiro no 25 de Abril só pode ser uma pessoa, a única que nunca correu atrás do poder, nem fugiu mesmo quando soube e percebeu que a sua carreira tinha caído por terra, e que se a revolução corresse mal, nunca mais veria o seu país. O único, que anos depois da data em que todos o relembram de fato militar e cenho franzido pela responsabilidade da história, assumiu de facto o ideal e nele depositou a sua fé absoluta. Morreu novo, pobre Maia, talvez por desgosto ao ver naquilo que o país se estava a tornar...
Viva toda a revolução que não termina!

sexta-feira, abril 21, 2006

Sobre caminhar

Continuo em busca de mim mesmo. Sigo por caminhos escolhidos, veículos de procura e de aperfeiçoamento pessoal. Caminhei por montes e vales, por estradas quentes, por riachos, apoiei-me no meu «cajado ecuménico» cada vez com mais força, como que pedindo dele uma resposta para a minha inquietação. Depois de ter provado o travo do amor verdadeiro, aquele que nos enche com alegria e serenidade de espírito; depois de ter vivido sonhos e ter recebido escolhos, o mesmo vazio, a mesma inquietação ainda se move no meu espírito, ainda que parte da resposta tenha sido obtida, ainda que tenha aprendido que na vida só as perguntas e as pedras do caminho contam realmente…
Não tenho dúvidas agora de que a vida em comunidade fraterna nos enche quase na totalidade, preenchendo aqueles vazios interiores da falta de integração, e desviando-nos o pensamento das questões ditas existenciais, que muitas vezes mais não são do que o resultado do não saber de facto viver. Não tenho dúvidas de que o destino do homem reside no aperfeiçoamento da vida em comum, na diluição progressiva do individualismo selvagem (nunca do individuo), e na consciência de grupo e de unidade, fundamental para o crescimento do próprio eu como identidade. Porém, nesta sociedade de encontros e desencontros em que tudo são bocados, como dizia Pessoa, estes vislumbres são raros, prenúncios talvez do futuro mas tão efémeros quanto o empenhamento de quem por eles passa.
Há uma aprendizagem fundamental para se viver em comunidade. Exige-se sobretudo esforço, compreensão, abnegação, e para ligar tudo isto, Amor. Grande parte dos conflitos são provocados pelo egoísmo e pela falta de capacidade de ouvir e colocar-se no lugar do que está ao nosso lado. Viver em conjunto tem de significar entrega, serviço, abertura. No entanto não significa a perda da sua própria identidade, ou a dissolução da individualidade como uma gota num lago. Pelo contrário: quanto maior a integração maior deve ser a afirmação do próprio eu. Um grupo saudável tem de ser um veículo através do qual cada elemento possa caminhar até ele mesmo, e nunca para alguém diferente de si, ou para um alguém colectivo abstracto. Um comunidade que procure diluir o indivíduo acabará mais cedo ou mais tarde por se tornar uma comunidade do ressentimento, e é aí que entram em acção os mais terríveis instintos do homem: a vingança, o ódio velado, a violência. É verdade que o conflito pode ser evitado, mas porque a vida em comunidade é como uma tectónica de placas exigindo ajustamentos aqui e ali, há pequenos conflitos que são saudáveis e promovem a união. É importante que o indivíduo tenha presente que existe abertura e liberdade para exprimir as suas impressões e mais profundos sentimentos sem qualquer restrição. É a melhor forma de ver garantida a sua individualidade e de afastar o ressentimento.
Por tendência natural o homem tende a amar a igualdade, e a rejeitar a diferença. Sobretudo porque é no que é igual e familiar que o homem encontra algum controlo e domínio, ou sobre si, ou sobre o mundo, e muitas vezes o diferente acarreta consigo alguns riscos. Amar a diferença é o primeiro passo para o respeito, e consequentemente para uma vida comunitária mais saudável. A riqueza reside exactamente nesta abertura ao diferente e ao novo, e à constante readaptação a estes. Um grupo que tende à uniformização tende ao fechamento. O fechamento tende à entropia. A entropia acaba em pobreza absoluta, em estagnação. Não tarda que a inquisição seja a instituição predilecta… É por isto que a Lei como elemento normativo e organizador deve precaver-se contra a estagnação. Porque em todo o grupo há mais cedo ou mais tarde a tentação de legislar. Em primeiro lugar porque há um desejo de conservar em base sólidas determinadas conquistas – elemento conservador; se o grupo se deu bem segundo determinadas linhas de orientação então há que registá-las para que não se percam. -. Em segundo lugar porque há uma tendência em qualquer grupo para a institucionalização, no sentido de se cristalizar como um facto garantido e pleno de direitos perante a comunidade social. E é neste ponto que reside o maior perigo. Porque determinadas conquistas são obtidas a lei pode tender à dogmatização, contrária à abertura e ao movimento essencial e fundamental em qualquer grupo. A lei pode não ser mais do que a materialização em leis cristalizadas de uma lei tácita, que deixa de estar presente nos elementos e na intuição colectiva de um grupo, para se exteriorizar a estes e consequentemente desumanizar-se. Cuidado com a lei, principalmente quando deixa de partir do coração para passar a partir do mármore em que foi gravada. A própria norma não deve tornar-se um fim em si mesma para o qual tende e de onde parte a acção do grupo e dos seus elementos, mas só e apenas o meio através do qual se cumprem as condições essenciais à boa comunhão e ao atingir dos objectivos. A lei deve ser viva, e não um peso morto que impeça o saudável movimento e devir da comunidade. A lei é provisória porque define apenas a melhor solução encontrada até aquele momento para regular uma determinada circunstância. Veja-se a lei que define o crescimento de uma flor. Jamais esta evita que a flor se deixe de movimentar consoante o sol, ou feche ou abra o botão consoante é dia ou noite. Isto porque a lei que a define não é o fim em si mesma, mas o meio através da qual a flor aprende a adaptar-se. A lei orienta de forma abrangente, não determina objectivamente.

quinta-feira, março 30, 2006

....isso...

Atravessa o tempo e o espaço,
O segundo alado em asas de sonho…
E a vida, o momento vivido passa logo,
esquecido perdido tento agarrá-lo à distância do meu olhar…
E enquanto amo,
Enquanto vivo embalado na nuvem que passa,
Enquanto sou homem, carne
E sangue…e choro,
Penso já na saudade antecipada daquilo que é para não voltar a ser
Nunca mais…
E na alegria que antecipa a lágrima,
Pressinto já o chão que me foge,
O segundo que vai e não volta,
E choro.

E na vida tudo são bocados,
Já dizia o Pessoa.
E é quando bebemos da fonte que a àgua nos parece eterna porque nos sacia a sede também ela eterna…

Seja eterno enquanto dure,
Já dizia o Vinicius.
E é como se nesse instante não houvesse essa doença chamada memória,
E sendo assim morresse também o tempo,
Seu herdeiro…

Depois disto só silêncio
E Saudade.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Cavaleiro da Utopia


Hoje, dia 13 de Fevereiro de 2006, comemora-se o centenário do nascimento daquele que foi, na opinião de muitos, o maior filosofo português – chamem-lhe pensador, pedagogo, universalista, pois ele foi tudo isso e mais qualquer coisa!-. Fosse ele vivo e a sua ironia sublime não deixaria escapar um qualquer comentário ao facto de terem institucionalizado a sua pessoa, coisa a que sempre foi avesso. Muitos não o conhecem, diria até a maior parte da população portuguesa, o que talvez por fatalidade – a mesma fatalidade na qual ele tanto acreditava pertencer ao português – o faz reconhecidissimo no Brasil e noutras partes deste nosso mundo, onde com amor e desvelo disseminou o seu saber e estímulo.

Falar de Agostinho de Silva é sobretudo falar de liberdade. Não vale a pena abordá-lo em termos de escolas filosóficas, partidos, ideologias. Tudo isso é parte, e este homem elaborou sobretudo uma critica a todas as formas de pensamento. Critica esta subtil cujo único objectivo foi provar que a verdade é total, e não parte. O homem agostiniano é sobretudo um universalista, muito ao jeito do sábio do renascimento, que sabia de tudo um pouco, cultivava a arte e o humanismo livre e aberto. Falar de Agostinho é falar de um combatente inveterado, preso pela PIDE por se recusar a assinar um despacho garantindo que não pertencia nem nunca pertenceria ao uma qualquer organização subversiva. Recusou-se por impulso puro e simples de liberdade, que torna o homem igualmente imputável. Por isso não teve medo da prisão. Para ele os obstáculos significavam oportunidades para crescer, como os rios que encontram o seu caminho através dos caprichos do caminho. Falar de Agostinho é falar cultura aberta a todos; é falar do mesmo impulso que o fazia levantar-se às três da manhã para trabalhar nos seus cadernos Iniciação, e os não menos interessantes pertencentes à série Antologia e Volta ao Mundo. Falar de Agostinho é falar de um homem cansado de Portugal, não dos portugueses nem da terra, mas dos governos e da mesquinhice que os caracterizava. Parte em auto-exilio para o Brasil em 1944 onde se entrega de corpo e alma naquilo que mais amava – a emancipação da cultura. Funda institutos, universidades, não só no Brasil mas no Japão! Faz conferências por todo o mundo, e por todo o mundo o seu carisma e energia influenciam formas de ser e de pensar. Um homem absolutamente litúrgico sem religião oficial; um homem absolutamente político sem deixar de ser santo; um absoluto santo da prática e da Utopia, sem deixar de ser político. Um verdadeiro cavaleiro da Utopia. Essa mesma utopia por si idealizada em que o homem, absolutamente livre e espiritual, pudesse ser sobretudo criador!

Fica o link acima!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

As coisas que se aprendem quando se corrigem exames... qual destas a melhor!

Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.

O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.

Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

O vento é uma imensa quantidade de ar.

O Chile é um país muito alto e magro.

Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

As glândulas salivares só trabalham quando a gente tem vontade de cuspir.

Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.

O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

O nervo ótico transmite idéias luminosas ao cérebro.

A principal função da raiz é se enterrar.

As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia.

Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.

O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d'água.

O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.

A principal função da raiz é se enterrar.

A igreja ultimamente vem perdendo muita clientela.

Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

A harpa é uma asa que toca.

A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.

O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.

A prosopopéia é o começo de uma epopéia.

Os crustáceos fora d’água respiram como podem.

O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

A respiração anaeróbia é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.

As aves têm na boca um dente chamado bico.

A insônia consiste em dormir ao contrário.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Certos momentos pedem-me palavras.
Reclamam-nas, com um fluir metafísico que não ignoro...

Talvez porque o aceite
Integro-o subtilmente na sina que me rege -
Dever etéreo e pleno de toda a Verdade...

É um entender musical,
Emergido do não-sei-quê da melodia que penso pensar
- melhor dito, que me pensa -
e por onde erro pisando o chão outonal de um brumoso jardim...

- Talvez uma nobre e breve aceitação -

Quem sabe a Verdade surgida do meu carácter abstracto
- interior inquilino que me mora -

...
Eu...

Lágrimas
Tensões libertadas.
Espaços para chorar tudo o que se é
E não é...

Ó melodia...
Por que trazes alada em ti a emoção de um cadáver deserto?
Redimes a carne carregando em ti todas as tristezas humanas?

Pobre Homem
Procuro escrever uma sinfonia.
Não sei se me bastam as palavras...
Não sei se a melodia a que me proponho é Parte
Ou Tudo.

Talvez nunca a complete.
Talvez não me esteja destinada tal proeza
Senão a da intuição quase carnal desse,
Tudo...

Lá vou vencendo em espaços, lapsos temporais –
Simples pedaços...

Carrego o fardo supremo do Arké
Sem nunca o ter objectivamente vislumbrado
- porque se o fizesse deixaria de ser Arké -
...

Não me escapam em certos momentos
Os élans vitais...
Sei-os apenas e só,
De um saber simpático
...