Artigo proposto a concurso na edição 2013 do Concurso de Ensaio Filosófico da Sociedade Portuguesa de Filosofia (versão sem cortes e com nome acrescentado a posteriori)
Resumo: Este artigo começa por problematizar o pressuposto de que temos deveres
para com as futuras gerações, antes de enunciar qualquer dever. Qual o
fundamento ético desse dever? Um caminho possível é o do princípio de
responsabilidade de Jonas, que institui como primeiro dever para com as
gerações futuras, o dever de prudência. Este traduz-se “numa nova espécie de
humildade” que reconhece a debilidade do poder de prever e ajuizar face ao poder
de agir. Largos domínios tecnológicos – biotecnologia, da genética, etc. –
estão abrangidos por este princípio pois influem diretamente na matriz da
condição humana. Os riscos são tanto maiores quanto maior é o desconhecimento
das consequências. Há todavia domínios cujas consequências para o ser humano
estão cientificamente bem documentadas e decorrem da ação humana no planeta.
Conhecemos não apenas as consequências, mas temos também o poder de agir.
Falamos do impacto da ação humana no planeta, traduzida em consequências
ecológicas graves que decorrem do sistema económico-político das chamadas
“sociedades do crescimento”. Se nada for feito para diminuir a “pegada
ecológica” da ação humana, o futuro do planeta ficará seriamente comprometido e
com ele as futuras gerações. Neste contexto, é não só prudente como urgente
agir. O crescimento pelo crescimento é pernicioso para as sociedades e para a
biosfera como um todo. Assim, elegemos a proposta do “decrescimento sereno” como
hipótese de trabalho económica e quadro ético-político para a mudança que urge
implementar. A proposta tal como é sistematizada por Latouche (2012) consiste
não apenas numa reestruturação do económico (menos consumo e predação de
recursos, respeito pelos ritmos da natureza), mas sobretudo do político, com
base num quadro ético que privilegia os valores da verdade, do sentido de
justiça e da solidariedade, e atribui maior prioridade aos bens convivenciais,
relacionais e espirituais do que ao bens materiais.
Palavras-chave: prudência, crescimento, decrescimento, economia, capitalismo, ecologia,
política, obsolescência programada, consumo.