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terça-feira, maio 27, 2014

Quais os nossos deveres para com as gerações futuras? - O "decrescimento" como proposta

Artigo proposto a concurso na edição 2013 do Concurso de Ensaio Filosófico da Sociedade Portuguesa de Filosofia (versão sem cortes e com nome acrescentado a posteriori)

Resumo: Este artigo começa por problematizar o pressuposto de que temos deveres para com as futuras gerações, antes de enunciar qualquer dever. Qual o fundamento ético desse dever? Um caminho possível é o do princípio de responsabilidade de Jonas, que institui como primeiro dever para com as gerações futuras, o dever de prudência. Este traduz-se “numa nova espécie de humildade” que reconhece a debilidade do poder de prever e ajuizar face ao poder de agir. Largos domínios tecnológicos – biotecnologia, da genética, etc. – estão abrangidos por este princípio pois influem diretamente na matriz da condição humana. Os riscos são tanto maiores quanto maior é o desconhecimento das consequências. Há todavia domínios cujas consequências para o ser humano estão cientificamente bem documentadas e decorrem da ação humana no planeta. Conhecemos não apenas as consequências, mas temos também o poder de agir. Falamos do impacto da ação humana no planeta, traduzida em consequências ecológicas graves que decorrem do sistema económico-político das chamadas “sociedades do crescimento”. Se nada for feito para diminuir a “pegada ecológica” da ação humana, o futuro do planeta ficará seriamente comprometido e com ele as futuras gerações. Neste contexto, é não só prudente como urgente agir. O crescimento pelo crescimento é pernicioso para as sociedades e para a biosfera como um todo. Assim, elegemos a proposta do “decrescimento sereno” como hipótese de trabalho económica e quadro ético-político para a mudança que urge implementar. A proposta tal como é sistematizada por Latouche (2012) consiste não apenas numa reestruturação do económico (menos consumo e predação de recursos, respeito pelos ritmos da natureza), mas sobretudo do político, com base num quadro ético que privilegia os valores da verdade, do sentido de justiça e da solidariedade, e atribui maior prioridade aos bens convivenciais, relacionais e espirituais do que ao bens materiais.

Palavras-chave: prudência, crescimento, decrescimento, economia, capitalismo, ecologia, política, obsolescência programada, consumo.