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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Aos pequenos partidos em vias de extinção



Um partido só pode crescer quando a sociedade, ou uma parte dela, se sente representada nesse mesmo partido. Tem de haver um compromisso sério entre a sociedade e o partido. Um compromete-se a confiar, o outro a dar voz. Um partido que se limite a dar voz a minorias, como os emigrantes ou os homossexuais, está a fazer um trabalho legitimo e positivo, mas nunca terá voz suficiente nem poder para de facto inverter os problemas e resolvê-los. Nesta medida, o partido deve continuar a apoiar as minorias, mas também apoiar e dar voz a outras problemáticas mais abrangentes. Um partido deve divulgar perante a sociedade civil os problemas dessas minorias, convencendo as pessoas de que grande parte dos problemas dessas fatias da sociedade são também da sua inteira responsabilidade.

Um partido para crescer tem de ser credível, e ser credível implica ser transparente. Essa transparência passa pela capacidade de defender às claras e sem rodeios ou golpes de marketing, a sua ideologia fundamental. Deve aproveitar todas as oportunidades que os meios de comunicação fornecem para divulgar as suas ideias para a economia, a saúde, a educação. Tais ideias não podem consistir em medidas vagas e muito gerais, mas em medidas concretas com impacto imediato na vida das pessoas que representa e, se possível, nas que não representa. Isto porque há muitos pequenos partidos que como sabemos, têm matrizes marxistas-leninistas ou maoístas, trotskistas. Há por outro lado os de direita, ou extrema direita, mas estes dificilmente conseguem disfarçar as suas matrizes nazistas ou fascistas. Enfim, uma miríade de ideologias que em última análise resultam em modelos de poder totalitários e levam as pessoas a desconfiar das pequenas formações partidárias como o MRPP por exemplo.

Um partido não pode ser um lobo vestido de cordeiro.

Neste sentido qualquer nova formação partidária tem de ser defensora da democracia, com ideias novas e diferentes de sociedade a nível económico e/ou social. Tem em certa medida de marcar a diferença, porque a monotonia política traduzida nos mesmos gestos, nas mesmas formas de actuar, tem o condão de acordar o estereótipo nas pessoas de que «os políticos são todos iguais».

A explanação clara da sua matriz ideológica não pode nem deve fechá-lo numa concha, paralisando-o. O partido antes de ser uma instituição, é um movimento. Progride com a sociedade, transforma-se, evolui, altera o seu ADN para se adaptar às circunstâncias e às mudanças da sociedade. Não se trata de oportunismo porque a mudança não se dará às escondidas. Será apenas capacidade de adaptação que não dispensa o partido da sua sempre habitual transparência pública. Um partido não deve ter militantes. Soa a exército, a seguidores sem consciência, a meios com o dever de serem usados com vista aos fins incertos de uma elite partidária. Um partido não pode ter elites. Cada «militante» é apenas mais um contribuinte activo; não um seguidor mas um decisor.

Eis a reflexão que deixo a todos os pequenos partidos.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Aspiração



Há uma intuição de beleza que em tudo flui, como a Verdade, que se oculta em cada coisa, como uma totalidade intrínseca e absoluta. Dessa verdade, só aspiro a uma realização mais plena, um horizonte mais amplo. Do mundo, só aspiro a um viver sem mágoas, uma liberdade duradoura, uma paz que se reflicta em todos os olhares, como uma chama eterna, alimentada pelo Amor. Só aspiro a uma plena responsabilidade, a um pleno Ser liberto de todos os preconceitos, de todas as ilusões, de todo o Ter. Aspiro a uma humanidade que olhe para o céu com a mesma admiração, e a todos a abrace, como irmãos na descoberta, na contemplação, no absoluto Mistério.
E onde está esse futuro? De que profundezas insuspeitas devemos resgatá-lo? Estará no obus preventivo? Estará no ouro negro fruto de tanta discórdia? Estará na metralhadora de um Che Guevara? Ou no cajado de um Gandhi? Estará afinal… dentro de nós? Qual será então o melhor caminho para lá chegar? Será com apelo às massas? Com procissões imensas e palavras de ordem? Será com assaltos repentinos às forças do poder, e tomadas de bastilhas à baioneta? Serão afinal os outros a ter de lá chegar primeiro? Ou seremos nós sem esperar a solicitação de outrém, que devemos agarrar no nosso cajado, e partir sem demora?

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Tratado (Reformador) no Parlamento



Previsivelmente a ratificação ao tratado europeu em Portugal, será feita por via parlamentar. Não é ainda oficial, mas durante o debate quinzenal de hoje, Sócrates confirmará publicamente o que quase já se podia adivinhar.
Se mentiu não sei. Se quebrou uma promessa eleitoral, talvez. Digo talvez porque a promessa radicava no «Tratado Constitucional», que está morto, enterrado e a fazer tijolo. Ora, não tinha pensado nisto, mas de facto a «Constituição» está a fazer tijolo. Onde? No «tijolo» que constitui o Tratado de Lisboa! Como diria um tal Clooney, what else?

Apesar da pressão altamente previsível da oposição, Sócrates teve quem lhe preparasse caminho subtilmente. O presidente em funções da UE, Javier Jansa, fez questão de chamar a atenção para o perigo de um referendo, e o consequente e arriscado efeito dominó. A Inglaterra está sobre pressão da oposição conservadora e da maioria eurocéptica da população, sendo que um referendo em Portugal seria o mote e uma arma legítima da oposição para a reivindicação de um referendo em terras de Sua Majestade. Como se não bastasse, o PR fez questão de sublinhar que o fracasso do tratado seria um retrocesso com consequências indesejáveis. Conclusão: com as costas bem quentes e o apoio do PS, Sócrates fará hoje um passeio glorioso pela avenida dos «heróis», como um líder que chega de grandes conquistas para ser recebido por hossanas. Era o que pretendia, e como alguém inteligente e sobretudo, muito esperto, soube esperar.

Cheguei a acreditar, com sinceridade, que Sócrates ia dar a volta à questão de uma outra forma, numa cambalhota genial de recurso em que mataria dois coelhos de uma cajadada. Seria um golpe esperto, mas só lhe aumentaria a aura de «trapaceiro» e mentiroso. Via já o nosso PM a propor um referendo, encostando o PSD à parede, dizendo depois que tal referendo não sendo vinculativo por elevada percentagem de abstenção, não deixaria outra hipótese ao governo senão ratificá-lo por via parlamentar. Ora, ninguém poderia dizer que a promessa não fora cumprida, e o tratado acabaria ratificado. No entanto Sócrates não quis apostar tão alto e, na minha muito humilde opinião, o nosso PM foi honesto consigo mesmo e com o país. Não gastou dinheiro dos contribuintes com cambalhotas ilusórias e populistas, e jogou pelo seguro. É assim a vida, é assim a democracia.

Não deixo porém de acreditar que o referendo seria mais justo, e até mais interessante. Acredito que um referendo bem feito não se limitaria como é óbvio ao dia do voto, mas a um período preparatório de debates, de informação das pessoas acerca das vantagens e desvantagens do tratado, de mobilização das universidades e outras entidades dedicadas à formação e à informação para a promoção de colóquios, conferências, e outras formas de promoção pública do debate acerca do Tratado Reformador. Nessa altura, talvez tivesse sido possível uma séria descolagem da imagem governativa do próprio conceito do tratado, e talvez nessa altura um referendo tivesse sido útil e o resultado pudesse reflectir de facto, a vontade consciente dos cidadãos.

Historicamente, nem a Adesão à UE, nem o Tratado de Maastricht tiveram tal debate público, ou foram sequer referendados. Porque teria este de o ser? Na minha perspectiva, por uma simples razão: talvez esteja na altura de envolver as pessoas activamente naquilo que objectivamente vai mexer com a sua vida a curto ou longo prazo.