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domingo, março 30, 2008

Fixos, Metas, Finalidades

Vivemos num mar de dúvidas. Lançados ao mundo esforçamo-nos por ancorar algures, por encontrar fixos que nos garantam um sentido, descobrir rotas que nos levem a locais certos e bem definidos. Queremos bem no fundo de nós mesmos chegar à Verdade, a uma espécie de chão que não ceda, um absoluto.

Na verdade não sabemos o que está certo. Muitos aceitam a submissão a uma doutrina religiosa que preencha esse vazio e indique sentidos consagrados por milénios de sabedoria. É como se ao percorrermos uma longa estrada, a certa altura parássemos o carro para perguntar a um homem que por ali passasse «Isto vai para onde?». Se esse homem tivesse vindo precisamente do sítio para onde pretendemos ir, a sua palavra seria para nós a verdade. Seguiríamos as suas indicações sem duvidar.
Outras pessoas preferem intelectualizar a questão, descobrir pela via racional os caminhos mais verdadeiros, ou que pelo menos tenham mais lógica. Outros procuram aprender com gente mais sabedora, com gente de todos os séculos, cujas biografias se tornam exemplos de vidas cheias, completas. Vidas que valeram a pena por terem concretizado sonhos, elevado a humanidade, ensinado e apontado o foco de luz em direcção a novos atalhos. Outros simplesmente concluem que não há fixos que lhes valham. Nada tem sentido, e como tal só o sentido de uma bala atravessando o cérebro lhes parece interessante.

Liberdade, Igualdade, Solidariedade, Verdade, Bem, Mal. Podia continuar dias e dias enunciando valores que conhecemos, que tomamos como nossos, que nos ensinaram e nós tomámos como fixos. A Humanidade merece continuar a existir, o Bem deve prevalecer acima do mal. Sabemos disto. Mas, sabemos porquê? Qual é o fundamento desta moral que tomamos como certa? Uns diriam que é Deus, e portanto só a Fé fundamenta. Para outros, Deus não chega. Kant tentou justificar através da Razão. Se agirmos tendo sempre para a Humanidade em geral, em princípio estaremos a agir bem. Se matarmos um homem e elevarmos isso a regra universal, todos os homens acabarão mortos, portanto não se deve matar. Se mentirmos uma vez, e elevarmos isso a norma universal, todos os homens acabarão a mentir uns ao outros e portanto ninguém se entende, portanto não devemos mentir. Devemos ser solidários, e se elevarmos isso a regra universal então todos serão solidários com todos e o mundo confunde-se com o próprio paraíso. É para aí que deve seguir a humanidade, ou pelo contrário seria muito melhor que nos comportássemos segunda a mais selvagem lei da selva? O mais forte sobrevive, e ponto final. Dizemos prontamente que não. Temos horror à selvajaria. E porquê? O que torna a Humanidade tão especial para que se deva comportar de um modo também ele especial? O que nos leva a adoptar tão singularmente valores de Liberdade, Igualdade, Fraternidade? Porque nos comovem tanto estes valores? No mais profundo de mim, quero acreditar que há de facto algo especial que fundamenta essa moral. Não diria Deus num sentido estrito, mas uma Finalidade que se confunde com o próprio Universo.

Comecei este texto com outro objectivo. Deixei-me levar. Quero seguir os meus fixos, quero aprender mais e mais, porque quero entender o que fazemos aqui e, afinal que propósito é este de estarmos vivos. Não concebo que haja quem pense que é inútil tudo o que não encha a barriga. Não compreendo que haja quem pense que só existimos para «encher a barriga». Porque para encher a barriga não precisamos de um sistema brutal, económico, cultural, social. Seria bem mais simples vivermos como cães, gatos, formigas ou elefantes. Não faz sentido. E também não faz sentido atirarmos areia para cima da chama da dúvida. Ela não se apaga. Não estamos no mundo só para amar, só para nos divertirmos, só para «gozar enquanto cá estamos». Isso chama-se bebedeira. Estamos no mundo para mais qualquer coisa que ultrapassa a própria vida. Negar isso é embriaguez.

quinta-feira, março 27, 2008

Pensa por Ti



Há pequenas reflexões que encerram grandes verdades. Num tempo de amorfismo intelectual, talvez valha a pena ler o que se segue:

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.

Agostinho da Silva, in 'Cartas a um Jovem Filósofo'

segunda-feira, março 24, 2008

Dignidade

Tudo se ilumina ao toque de um beijo
Tudo se abre ao fechar de um abraço
Tudo se liberta num aperto de mão
O mundo é de quem ama mais e melhor
Todos os dias.

Não penses que não consegues
Não acredites no não acreditar
Acredita que podes mudar o mundo
Começando por mudar quem és.

Não te deixes abater
Até na noite mais escura
Uma vela acesa faz toda a diferença.

Não te deixes subjugar
A tua dignidade é intocável
Faz por ser digno.

O mundo precisa de ti
O mundo precisa que chores por ele
O mundo precisa que dês voz a quem a não tem
Ou a quem de tanto gritar
Já a perdeu.

O mundo precisa que gostes dele
Que retribuas da mesma moeda o bem que te faz
Que sem perder a tua dignidade
Saibas ter força para ser Bom na hora certa
No momento certo.

Porque ser forte não é usar a força..
Ser forte é fazer o certo na hora certa
Não cortar o que pode ser desatado
Não vingar, mas superar o mal.

Sê corajoso
Para superares os teus próprios defeitos
Para superares as tuas fraquezas
Para não seres cobarde e não te arrependeres
De não teres cumprido o teu dever.

Age segundo a tua consciência
Seguir a multidão é seguir uma tempestade de areia
Que tanto vem como se esfumaça
sem deixar rasto.

Olha sempre nos olhos
Nem de cima para baixo
Nem de baixo para cima
Ao mesmo nível.

Aprende sempre com todos
Todos são teus mestres
Cuja missão é ensinar-te
A aprender.

Não puxes de galões para te superiorizares
Humilhar os outros nunca foi boa solução
Não és feito de estatutos
És feito porque te vais fazendo
Homem.