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quarta-feira, junho 25, 2008

Ricardo Araújo Pereira e a Linguagem

Todos conhecemos a personagem fedorenta do nosso amigo Ricardo Araújo Pereira, mais conhecida por «RAP». Ninguém fica indiferente a forma como transpira comédia e encarna diferentes personagens. A famosa entrevista que deu na RTP há já algum tempo revelou um homem com uma erudição admirável que, não só faz comédia como pensa, reflecte séria e profundamente sobre as mais variadas questões. RAP é a prova que o melhor humor só pode ser feito pelas cabeças mais brilhantes. Humor sem inteligência e erudição é vazio e vulgar.

O convite feito por Lobo Antunes ao RAP para que este estivesse no lançamento do seu mais recente livro pode ter sido, mais do que uma manobra de bom marketing, a prova de que a profundidade do nosso amigo fedorento quebra as usuais barreiras da comédia para penetrar nos limites da intelectualidade. E parece que o que se vai passar a partir do dia 27 no Teatro São Luiz, em Lisboa vai consagrá-lo com o epíteto de Gato Fedorentos mas Intelectual.

Isto porque a partir do dia 27, Ricardo Araújo Pereira vai subir ao palco acompanhado de dois «figurantes», que o vão ajudar a ressuscitar uma série de conferências sobre Filosofia da Linguagem proferidas pelo importante filósofo da linguagem inglês John Austin, há 43 anos. É isso mesmo. Ricardo vai pronunciar uma palestra sobre a natureza das palavras e o modo como se comportam. Quem espera humor nesta «conferência teatral» não deve desiludir-se. Primeiro porque Ricardo sabe ter piada mesmo quando algo não tem piada nenhuma, e segundo porque são as palavras e os jogos de palavras que geram o verdadeiro humor, porque como dizia Austin «falar é não só dizer, mas também fazer».

RAP apresenta a conferência

How to do things with words

A famosa série de palestras que serve de base a Ricardo Araújo Pereira foi proferida no ano de 1955 na Universidade de Harvard. São uma resposta ao apriorismo linguístico e a uma visão muito formal da linguagem. Ou seja, para um Bertrand Russell e o seu Principia Mathemática, só como exemplo, a linguagem sendo a base que elabora conceitos e que expressa a racionalidade do mundo deve ser analisada na sua perspectiva lógica e formal. Ou seja, interessa mais entender os princípios lógicos de raciocínio que dão estrutura à linguagem, do que entender a linguagem natural e as suas manifestações reais, brutas do dia-a-dia, que para estes aprioristas não passa de uma sombra de verdadeira linguagem formal que é também a linguagem primeira. Austin, um pouco na esteira de um Witgenstein, vem afirmar muito mais do que isto. A linguagem e o sentido que ela expressa não estão apenas contidos na estreiteza das relações lógicas e formais que a constituem. A linguagem verdadeira é a natural porque é performativa, faz coisas, gera reacções no receptor da mensagem, transmite não só conteúdos mas também provoca impactos de carácter emocional. Para Austin, a lógica serve-se apenas de afirmações que são passíveis de serem verificadas, ou seja, de serem verdadeiras ou falsas. Porém, não existem apenas proposições que afirmam algo acerca de algo, mas exclamações, interrogações, imperativos, desejos ou concessões que tornam a linguagem um espelho do espírito e dos seus anseios.

Para ler mais Clique aqui

terça-feira, junho 24, 2008

Sugestões

O meu blog, é também o blog de quem quer participar. Nem sempre há tempo para escrever, e nem sempre o que se escreve vai de encontro aos interesses de quem lê. Há tanto no mundo para falar, tanto para pensar e reflectir que é dificil conjugar tudo.

Por isso peço aos leitores deste blog que sugiram, comentem, solicitem determinadas reflexões que possam intrigar, dúvidas que queiram eventualmente ver numa outra perspectiva.

Utilizem o mail que está no scroll do lado esquerdo ou deixem comentário.

Sempre vosso

Ruben Azevedo

terça-feira, junho 17, 2008

I do not Know what tomorrow will bring - Pessoas



No passado dia 13 de Junho comemoraram-se os 120 anos do nosso maior poeta da modernidade, Fernando António Nogueira Pessoa. Não há quem nunca tenha ouvido falar dele, embora nem todos o tenham lido de facto, ou sequer depois de o lerem o tenham entendido. E não os censuro. Fernando Pessoa é não só um poeta, mas uma literatura (não sei quem o disse mas soa bem). Ao longo da sua curta vida de 47 anos (…morrem cedo aqueles que os deuses amam…), Pessoa criou pelo menos 72 heterónimos diferentes. Porque:

O Poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


Publicou um único livro em toda a sua vida graças a um concurso promovido pelo Secretariado de Propaganda Nacional. Neste concurso, o grande Pessoa ficou em segundo lugar em detrimento de um tal sacerdote que escreveu um livro com mais de cem páginas, enquanto A Mensagem de Pessoa tinha apenas 44 poemas, embora todos eles de profundo significado místico. Quem nunca leu

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


?

E um muito apropriado à época em que vivemos, e em geral a todas as épocas de crise:

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!


Ou mesmo um que sempre me inspirou bastante, heróico e verdadeiro:

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?


Cada vez mais me convenço que a escola não sabe ensinar poesia. A escola matematiza e profissionaliza a poesia. É errado e noventa por cento (numa perspectiva optimista) dos alunos que terminam o secundário não percebe nem gosta de poesia. O que é pena porque pode aprender mais sobre a vida lendo Fernando Pessoa do que tirando uma licenciatura ou lendo os maiores calhamaços intitulados tratados de qualquer disciplina.


Pessoa é o único poeta que continua a publicar anos depois de morto. Há sempre inéditos que vão sendo descobertos. Recentemente até contos policiais foram descobertos e publicados. No entanto, podemos de facto questionar a veracidade de muitas dessas edições ditas «inéditas». Não haverá gente a ganhar dinheiro à custa de pseudo escritos de Fernando Pessoa?

Não me vou estender com biografias. Seria uma hipocrisia escrever aqui uma biografia de Pessoa quando tanta gente já o fez, e o tio Google disponibiliza à distância de um Enter.

Ao morrer Pessoa escreveu: I do not know what tomorrow will bring.

Os grandes homens nunca morrem e merecem toda a nossa admiração.

quinta-feira, junho 12, 2008

Blog de Parabéns!!! - 3 anos e 116 posts depois



E foi assim que no dia 13 de Junho de 2005, dei inicio à aventura deste blog:

Reflexão inaugural

Pura e simplesmente escrever, eis o meu desejo. Tudo flui nesta vida, nestas horas que passam sem dar noticia de nada, neste tédio abrupto em que me encontro e que se me afigura eterno. Penso momentaneamente em qualquer coisa realmente produtiva e que no seu gérmen possua o espírito da eternidade. Tenho de estudar – é verdade! Leio um pouco sobre Antero, o realismo e o positivismo. Eis a Revolução a meus olhos, as grandes ideias, os grandes timoneiros das revolução que, pacientes e convictos nos puxam do lodo da nossa própria mediocridade... E morro de olhos fechados enquanto ouço Chopin.
Talvez a Humanidade nunca se tenha realmente apercebido do essencial. A mudança e a revolução são sonhos demasiado altos e abstractos. O que interessa de facto é viver...mas para quê? Leio Agostinho. Ele acredita fervorosamente no V império. E porquê? De que vale viver se não acreditarmos que o futuro nos trará as soluções para os problemas da sociedade de hoje? Então fico confuso. Viver é criar, e não me basta vegetar no amor e na paixão desenfreada. Há um projecto. Todos somos parte dele. Fomos criados para criar, eis o nosso futuro e objectivo de toda a existência! Aos outros seres vivos ( não lhes chamo animais porque estaria a considerar-me fora desta categoria o que é um puro acto de arrogância, portanto de estupidez), estão determinados pela existência a serem como são. A evolução trouxe-os até um determinado patamar, e hei-los felizes. Nós seres humanos somos os mais infelizes animais do Universo. A necessidade que temos de nos agarrar seja a que metafísica for, a procura constante da moralidade, a consciência lúcida da nosso carácter inacabado deixa-nos pouco tempo para viver. Mas porque nos trouxe a evolução até este patamar privilegiado (ou não)? Paro um pouco e sinto falta de uma cigarrilha. Já fumei uma hoje e não pretendo abrir precedentes e fumar outra. Tantas vezes esbarrei contra a vastidão imensa das grandes questões, e sempre que isso acontece sinto uma náusea mental imensa. Peço à minha irmã para pôr Chopin de novo. Preciso da sua melodia para lucidamente ir puxando a meada que já vislumbro, mas que raras vezes tenho coragem para puxar até ao fim, o que na prática é impossível...
Onde é que eu ia?
Na Natureza e nesta intrincada máquina a que chamamos mundo, nada acontece por acaso. Não sou Deus, e deveria talvez abster-me de afirmar tal coisa mas sinto que, no mais profundo de mim mesmo, àquela profundidade onde me confundo com Absoluto e me dissolvo no Uno, o Ser caminha subtilmente e constante por veredas determinadas. É a intuição de alguém que é feito da massa do Universo, como o filho que subtilmente se apercebe dos pensamentos da mãe por do seu ventre ter derivado.
Somos Natureza. Não podemos negá-lo. Talvez quisesse o Universo tomar consciência de si mesmo através dos nossos olhos. Usar os nossos sentidos e capacidades para se compreender, se moralizar, se perspectivar, se experimentar... Porque não nos foi dada a verdade de mãos beijadas? Porque não nos foi dado o caminho, apesar de sermos máquinas tão perfeitas e complexas? Terão as placas de Moisés a resposta? Serão os preceitos de tantos profetas a verdade e o caminho? Talvez até tudo já nos tenha sido oferecido de mãos beijadas, ou talvez o tenhamos pago com todo o sangue derramado pelos séculos dos séculos. Se já nos foi dada porque continuamos a questionar? Talvez a sociedade e a moral sejam isso mesmo – simples motores de aceitação passiva da verdade, para que o acto de questionar se dissolva progressivamente e o Universo em nós se compreenda... mas para quê? Não me parece que o Universo pretenda compreender-se definitivamente com simples convenções tantas vezes humanas e mal interpretadas. Não está nos seus objectivos supremos Não matar, Não mentir, Não cometer adultério, Não adorar outros deuses, etc. Não nego que são convenções importantes, são porém um caminho dado para alguma coisa mais que não compreendemos. Quererá o Universo contemplar-se pura e simplesmente como um Narciso que passa horas a olhar-se reflectido no lago? Temos sempre de resistir à tentação de antropomorfizar a realidade: eis o maior dos pecados! Não me parece que o Absoluto seja qualquer coisa de semelhante a vaidoso...
Tantas questões e tão poucas respostas. Afinal se todas as respostas fossem desveladas o que seriamos nós e a nossa natureza inquisidora?


3 anos e 116 posts depois, o blog continua cada vez mais florescente, cada vez mais sério e interventivo. Está bem diferente em conteúdo e em imagem em relação aqueles primeiros e ingénuos dias de 2005. Desde poemas a artigos, a simples reflexões e até a desabafos simples. Um blog que nasceu de uma vontade de reflexão, e muito deve agredecer a esses senhores do séc XIX que se juntavam em «Cenáculos» para discutir e contribuir para a regeneração cultural do nosso país.

Acredito que está de parabéns. Obrigado a todos os que têm acompanhado este lugar de reflexão, e aqui e ali também contribuiram de alguma forma com comentários e sugestões.

3 anos é apenas a infância. Ainda tem uma vida pela frente e muito a aprender, assim espero.

Ruben

sexta-feira, junho 06, 2008

Agricultura Non Grata - quando teremos de plantar o que comemos?

Foto Público On-Line - Cidadão inglês cultiva horta caseira

A crise alimentar deve-se também, em parte, ao abandono da agricultura. O centro de gravidade das sociedades derivou do rural para o urbano, e a agricultura deixou de ser para quase todos, um futuro desejável em termos vocacionais.

A economia de mercado e a crescente dependência da UE e das suas prerrogativas federais impõe que o cidadão europeu, mais do que produzir, consuma. Para produzir existem cotas estritas de mercado que não podem ser ultrapassadas, havendo risco de não haver mercado para os stocks e os preços descerem abruptamente. Há cotas para a agricultura, para a pesca, enfim, para um sector terciário cada vez mais frágil e mal visto.

Um país que tenha a veleidade de querer ultrapassar estas prerrogativas e se preste, como uma Inglaterra patriótica e de longa tradição democrática, a fomentar o cultivo nacional e o consumo também nacional, é de imediato acusado de proteccionismo de mercado como se tal método fosse um papão a abater. E é de facto um papão para os grandes grupos que possuem o monopólio dos mercados, porque se um país produzir tudo o que precisa é lógico que não vai comprar fora. É uma das desvantagens de pertencer a uma União de Estados, o facto de tal união implicar forçosamente o incremento das dependências.

É isto que falta a Portugal, um verdadeiro sentido patriótico como o que levou os ingleses em plena Segunda Grande Guerra a atender ao apelo do necessário esforço de contenção que impunha racionamentos dos então escassos recursos. Um apelo que levou os cidadãos comuns a plantar as suas pequenas hortas caseiras, à semelhança do nosso amigo na foto.

Infelizmente em Portugal sempre se fomentaram dependências. Em várias épocas da nossa história sempre preferimos depender, ir para fora para enriquecer, trocar géneros como o vinho por textéis, viver subsidiados e raramente contrariados. Entrar para a UE também nos satisfez um pouco esta vontade de subsidariedade. Os fundos estruturais que de lá vêm fresquinhos de tempos a tempos sempre nos souberam muito bem. A emigração em massa para França, Suiça, EUA, contribuiram também em parte para o abandono das terras e do cultivo, em parte por causa de um regime não muito libertador e, sobretudo, pouco interessado em libertar o povo de uma ignorância quase crónica. Os anos de colonialismo também contribuiram para tirar o brilho ao nacional e alimentar o mito de que, lá fora, é que se podia de facto enriquecer. É verdade que muitos enriqueceram, mas entretanto no país real, aquele de que hoje somos herdeiros, os campos iam ficando abandonados ao tempo e às silvas, a produção nacional foi sendo encostada para canto como recurso secundário, sempre secundário e nada interessante.

Enfim, quando teremos também de pegar nas sacholas e começar a plantar aquilo que comemos?

Segundo um interessante site chamado Lusotopia, Portugal possui 38% de floresta. 93% pertence a privados, mas para que fim são utilizados os recursos florestais? Celulose, sempre celulose, eucalipto à fartasana para papel. Agricultura? Pouca. Diz também que neste momento só 5% do total da empregabilidade é na àrea agricola. Sintomas a diagnosticar...

quarta-feira, junho 04, 2008

Morre Lentamente - Pablo Neruda

Tive oportunidade de ler um poema muito interessante do grande poeta chileno Pablo Neruda num blog chamado «O Nosso Cenáculo». Tomei conhecimento da existência deste blog recentemente, e chamou-me a atenção pela semelhança relativamente ao nome deste mesmo blog. São 4 simpáticas raparigas unidas, tenho a certeza, pelo gosto da escrita e do pensamento. Agradeço-lhes e tomo a liberdade de também aqui publicar o poema.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...

Pablo Neruda


Agora, parece-me que este poema/texto/pensamento merece, mais do que estar exposto à vista de todos, alguma reflexão individual sobre o que está escrito. Reflexão profunda, reflexão que faça aderir estas palavras à nossa própria vida, como se dispuséssemos um papel vegetal sobre a nossa vida para depois redesenharmos os contornos e as proeminências. As palavras comovem muita gente, arrancam suspiros umas vezes sinceros outras vezes apenas corteses. Está na altura de através da carne entendermos o espírito.

terça-feira, junho 03, 2008

A ONU e as recomendações contra a Crise Alimentar - Quem vai ouvi-las?


Segundo o Público On-Line, Banki Moon anunciou hoje as primeiras recomendações para enfrentar a crise alimentar mundial. Recomendações essas a que os governos devem estar atentos.

Transcrevo parte da noticia:

O responsável defendeu que a comunidade internacional deve apoiar os países que estão a ajudar os seus agricultores fornecendo-lhes sementes e fertilizantes, os dois factores de produção que mais repercutiram o aumento do preço do petróleo.

Lembrando que esta crise poderá acrescentar mais 100 milhões de pessoas aos 850 milhões que já passavam fome, Ban Ki Mon anunciou algumas das primeiras recomendação do grupo de trabalho criado no seio da ONU para responder à crise alimentar. O primeiro passo, disse, é permitir o acesso a alimentação por parte das pessoas mais vulneráveis o que passará por aumentar a ajuda alimentar, expandir programas de protecção social e incrementar a produção agrícola dos pequenos produtores através da doação de sementes e fertilizantes de forma a que possam plantar ainda este ano.


Ou seja, para os países ditos desenvolvidos a solução passa por um incremento dos apoios dos estado à agricultura, suportanto algumas das despesas relativas à matéria prima. Para os países em vias de desenvolvimento, Banki Moon anuncia apoios financeiros em larga escala:

Para já, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que organiza esta conferência, apelou à doação de 1100 milhões de euros para apoiar a agricultura dos países mais pobres. O Programa Alimentar Mundial conseguiu arrecadar, junto de 31 nações, os 486 milhões de euros que necessitava para responder aos compromissos que assumiu para este ano. O Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola irá transferir 129 milhões de euros para os agricultores pobres e o Banco Mundial criou um sistema de financiamento de 770 milhões de euros para apoiar também a produção de alimentos.

Desde que tais ajudas financeiras não fomentem mais ainda o assistencialismo dos países em vias de desenvolvimento, estamos bem. O Programa Alimentar Mundial é essencial para apoio a comunidades desfavorecidas, nomeadamente a refugiados. Agora, o que importa de facto é que os países em vias de desenvolvimento aumentem a sua produção agricola e, sobretudo, a diversifiquem. As ONG´S têm o dever de apoiar e formar futuros agricultores em África. Não basta atirar dinheiro para cima dos problemas. É preciso encontrar mediadores sérios que levem o dinheiro para onde ele é mais preciso, e sobretudo que saibam o que fazer com ele. Só as ONG´S podem fazê-lo, e bem feito. Sabemos que os Estados mais pobres raramente são Estados de Direito, e portanto os governo destes estados nunca são bons intermediários.

segunda-feira, junho 02, 2008

Rock in Rio - Caos, Espectáculo e Vinho da Casa



90 mil pessoas encheram o parque da Bela Vista no primeiro dia do Rock in Rio. 90 mil pessoas responderam ao apelo das luzes, do espectáculo, da embriaguez que o mergulho na multidão e no transe musical sempre trazem. Eu próprio lá estive.

Será uma questão sociológica? Filosófica? Talvez. As pessoas precisam de se diluir na multidão, de perder a sua identidade acreditando que, com isso também as suas tristes vidas se dissolverão na confusão, na batida e nas melodias pungentes. As pessoas precisam de quebrar as suas rotinas enfadonhas e de pelo menos durante umas horas, não pensarem nos problemas e nas variadas frustrações de que é feita a vida.

Exemplo disto mesmo foi uma senhora de nome Amy Whinehouse, que enfureceu os seus fãs ao chegar 40 minutos atrasada ao palco Mundo, ainda por cima em condições deploráveis, dignas de um trapo humano. Bebeu, fumou, quase caiu. Pediu desculpas e da parte dos fãs havia sempre um pano quente, porque afinal «Amy é mesmo assim, toda a gente sabe!». 90 por cento das pessoas condenaram aquela figura, outros 10 por cento tiveram compaixão daquele «talento tão jovem e promissor cheio de mágoa». As pessoas na verdade gostam de espectáculo, quanto mais sujo e degradante melhor. Basta pensar nas lutas de gladiadores do passado, ou no afamado vício português do «mirone» que pára até no meio da auto-estrada para ver um corpo acidentado e exangue. Neste acaso era apenas uma rapariga de 24 anos, vítima da solidão própria da fama, vítima de um passado que talvez ainda hoje determine o seu comportamento, vítima de uma má aprendizagem acerca do modo com se lida com as frustrações e os nãos da vida. E nem a fortuna de 12 milhões de euros a pode salvar de si própria, se a razão e o bom senso não prevalecerem. Pelo contrário, pode ajudar a destrui-la. É um bom exemplo para todos nós, ainda que um mau exemplo para muita juventude mal informada e que vê nela um modelo de vida.