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quinta-feira, abril 19, 2007

Política e serviço






A política começa na acção altruísta, que se baseia no principio de que o homem e a sua liberdade são o primeiro e último fins da sua acção. Esta não deve nem pode ser presa fácil do oportunista, do demagogo, do sedento de prestígio, ou daquele que coloca sempre os seus interesses, ou os interesses dos grupos que o suportam acima do interesse geral.

A política é uma forma de estar ao serviço do homem, da Humanidade e dos valores mais altos e profundos a que todos, em última análise, aspiramos. É uma forma de voluntariado, sem dúvida alguma. Para o que se diz político, agir politicamente é uma forma de se realizar, uma oportunidade para dar o melhor de si mesmo, fazer valer as suas capacidades perante os que o elegeram.

Política é acima de tudo, um sacerdócio.

O político não ingere directamente na vida daqueles por quem é responsável. Ele fornece meios, potencializa condições, conjunturas. Ele constrói a estrada, mas a decisão de andar nela, e a forma de andar nela, não depende dele. O político não pode jamais ser fraco, mas forte e corajoso, para que nos momentos certos não erre por fraqueza de espírito, por passividade, que é pior do que errar verdadeiramente por maldade. Ser bom tem de ser uma força no político, e não uma fraqueza.
O bom político lê Maquiavel sabendo desde logo que se o autor estivesse certo quanto à Natureza humana, então não valeria de nada o esforço político na «defesa do Estado», e toda aquela panóplia de imoralidades na defesa daquele que é, em última análise, feito de pessoas. Um político sabe bem que os fins não podem de forma nenhuma justificar os meios, porque os meios abrem sempre precedentes e legitimam mais tarde ou mais cedo, fins da mesma natureza. Não se usa a guerra para fazer a paz, porque a guerra é como o chumbo, pode parecer que desapareceu de todo, mas continua a contaminar os solos e as águas durante décadas e décadas.
O político não exige nada aqueles àqueles a quem serve que não exija a si mesmo, a dobrar...

To be continue

quinta-feira, abril 12, 2007

..um tal homem de Nazaré..






Estava eu sentado no chão poeirento. O vento sibilava nos meus ouvidos, o calor fazia-me sentir absolutamente sonolento. Não pensava em nada, senão em beber água fresca. Foi quando vi vindo ao longe, na curva da estrada, meio toldado pela calor que distorcia o que quer que fosse aquela distância, como que emanado da terra vermelha.
Vinha rodeado de gente. Seguiam-no como se trouxesse um tesouro atrás de si. Como se fora um arauto de uma qualquer nova há muito aguardada. Não entendo porquê. Porém, ele vinha-se aproximando e eu já o distinguia claramente com o seu ar sereno e altivo. Nunca o havia visto em toda a minha vida, e sei que o mesmo se passava da sua parte, mas nunca entendi porque é que naquele momento ele fixou os olhos em mim como se absolutamente me conhecesse, como se esperasse de mim uma qualquer resposta ou sinal. Ainda que cada vez mais rodeado pela multidão que o ia aclamando, e lhe puxava a túnica, não tirava os olhos de mim e, ainda que eu quisesse, não conseguia deixar lhe corresponder. Olhei-o sempre, e ele a mim, até ao momento em que, passando à minha frente, me levantei e quis saber-lhe o nome. Não consegui, todos queriam segui-lo, a multidão não me deixou chegar a ele. Desisti, voltei a sentar-me embora não conseguisse despregar o olhar. Senti que ele me sorria, embora muito subtilmente. Não pensei mais no calor, nem tive mais sede. Fui ouvindo a multidão a afastar-se, e ele com ela.
Não o vi mais. Disseram-me que era um tal homem de Nazaré que fazia milagres. Parece que tinha curado uma porção de gente, sobretudo leprosos. Fiquei admirado. Soube que foi crucificado pelos romanos em Jerusalém há algum tempo. Pobre homem. Não tinha aspecto de criminoso.