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domingo, agosto 24, 2008

Rumos Incertos




O conflito na Geórgia teve o condão de provar um aspecto assustador – o mundo não está preparado para se defender eficazmente contra veleidades imperialistas de blocos poderosos como a Rússia. A questão é simples. Assemelha-se em grande parte ao que se passou em vésperas da Segunda Grande Guerra, quando a Alemanha integrou sem um tiro e perante a imobilidade da comunidade internacional, a Áustria e a Checoslováquia. É verdade que o horror da Primeira Grande Guerra ainda estava fresco nas memórias dos agentes políticos, e não tenho dúvida que os horrores da Segunda ainda estão também frescos na memória dos agentes políticos de hoje (pelos menos na maioria, sobretudo se sabem alguma coisa de história). Nos dias de hoje, mais do que essa memória comum existe outro factor que imobiliza os estados perante novas ameaças imperialistas, sobretudo quando tais ameaças provem de blocos poderosos e bem armados. Esse factor é uma noção muito simples: qualquer guerra futura entre dois blocos poderosos recorrerá inevitavelmente ao uso de armas de destruição maciça e, ipso facto conduzirá à destruição e obliteração mútua dos blocos beligerantes. Mais do que a memória do passado, é o terror do futuro que ainda consegue atribuir valor à diplomacia perante crises da natureza do conflito russo-georgiano.

Não nos podemos iludir. Os equilíbrios que herdamos da Segunda Grande Guerra também terão o seu fim, tornar-se-ão obsoletos perante novas realidades globais. Instituições como a NATO terão de reconsiderar o seu papel no mundo de hoje, um mundo que já não se mede pelos padrões de uma guerra fria, mas pretende alicerçar a pouco e pouco os fundamentos da Paz futura. A NATO – como quem diz EUA – tem de questionar-se seriamente se vale a pena uma contínua expansão, um contínuo alargamento, que não deixa de ser sinónimo de ameaça nomeadamente ao bloco russo e chinês, acelerando uma inevitável corrida ao armamento e ao incremento de tensões. A ONU tem de se reformar, sobretudo no que concerne à constituição permanente do seu Conselho de Segurança. Nem a Rússia, nem a China, nem os EUA são hoje os mesmos de há 60 anos. Fará sentido que uma Rússia ou uma China, independentemente de recorrentes ataques ao direitos humanos continuem a ter poder de veto no CS? Não me parece que tal faça muito sentido. O poder de veto da Rússia impediu por várias vezes que se aprovassem resoluções acerca da invasão da Geórgia, e o mesmo podemos dizer acerca da invasão posta em prática pelos EUA no Iraque em 2003, que à revelia da ONU e de forma unilateral foi levada a cabo. Situações deste tipo não são do interesse de nenhum país, de nenhum bloco ou instituição, porque fragilizam e descredibilizam cada vez mais a instituição na qual se põem todas as esperanças de paz verdadeira e duradoura – a Organização das Nações Unidas. Não podemos voltar a um mundo em que os mais fortes decidem em detrimento dos mais fracos, e a lei é escrita por quem tem poder bélico, energético e humano suficiente para impor as suas regras e escrever a história à sua maneira.

1 comentário:

Maria Strüder disse...

Tenho que te parabenizar pela escrita!

(ainda eu ousei mostrar-te o meu blog... estou envergonhadíssima perante tamanho rigor e deliciosa precisão)