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terça-feira, outubro 25, 2016

RESENHA SOBRE O MEU LIVRO "ENIGMA - NOEMAS EM TORNO DO MISTÉRIO DO SER E DO EXISTIR"



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O livrito reflete, como um todo, uma crença muito pessoal: a busca pela verdade e pelo conhecimento, para ser completa, tem de visar o "real-objetivo" e o "real-subjetivo". Por outras palavras, não há conhecimento pleno sem autoconhecimento. Nenhuma demanda pelos factos do mundo e da vida pode dispensar uma outra demanda que lhe é paralela e, sem a qual, aquela não fica completa, nem chega a ser existencialmente útil para o Homem.

Por isso mesmo, o livrito divide-se em duas partes: a primeira titulada "Noemas em verso", exprime sobretudo o "real-subjetivo", isto é, nela procuro dar forma escrita - a forma escrita possível dada a inefabilidade de certos sentimentos - às minhas mais profundas inquietações, aos meus mais profundos desejos, ao meu contínuo assombro perante o mistério do Ser e do Existir, e também à esperança - em suma, às motivações subjetivas que definem o meu modo de ser e estar no mundo, e perante o mundo. Aquilo que emocionalmente me move e determina a orientação da minha vida, entendida como demanda existencial cujo Horizonte é a Verdade.

Trata-se nesta primeira parte, fundamentalmente, de tornar claras para mim próprio as minhas reais motivações existenciais, modelando pela palavra, ou vestindo pela palavra (parece-me a metáfora mais adequada) sentimentos, ânsias e visões internas que se mostram frequentemente de forma turva e difusa, por forma a que se tornem inteligíveis, em primeiro lugar de mim para mim próprio. Daí serem mais "noemas" do que "poemas", pois etimologicamente poesia significa criação (do grego "poiésis"), e mais do que criar, eu acredito que, no que diz respeito ao meu real-subjetivo, à minha interioridade profunda, eu me limito a procurar dar forma escrita a sentimentos, ideias, formas e visões, "noemas" (do grego "noema", ideia, conceito, visão) que se insinuam na minha consciência, que emergem e se revelam de forma confusa, às vezes opaca. Mas que são essenciais, pois possivelmente trazem consigo a marca da sua origem profunda, que é a das profundidades arcaicas da consciência de onde brotam as tendências singulares da personalidade individual, e por conseguinte do destino individual. Logo, constituem vias de real autoconhecimento. Autoconhecimento sempre indireto, que requer sempre interpretação; que requer observação através do espelho das ideias e das palavras, e não de forma imediata, face a face. Mas não é sempre assim? E será que terá de ser sempre assim?

A segunda parte, titulada "Noemas em prosa", constitui globalmente o capítulo dedicado ao real-objetivo. Nele exploro alguns temas do mundo e da vida numa atitude mais impessoal, isto é, mais argumentativa e filosófica, temas como o da Verdade, o Amor, Deus, o Conhecimento e a sua importância na vertente individual mas também social-civilizacional, a Educação em sentido amplo e radical, a Consciência, etc. Mas é claro: tendo sempre como pano de fundo, como retaguarda motivacional, as mesmas motivações, anseios, e desejos subjetivos profundos que assistem à primeira parte. Só que agora a atitude é diferente, visa o exterior, a explicação, a racionalidade pública. Mesmo quando no fundamento da explicação racional, da argumentação, estão crenças subjetivas profundamente enraizadas, crenças existenciais como todas aquelas que definem a minha fé básica no Transcendente - sim, Deus, Consciência ontológica do universo; Sentido, Alma, Lei e inteligência cósmica (Logos), etc. E por aí, fé fundamental no Homem, na sua liberdade, e na possibilidade derradeira da sua realização plena, integral; no limite, admito mesmo uma escatologia da salvação, mesmo que seja a da eternidade realizada mil vezes ao longo da História, em cada homem, a cada geração de homens. Digo-o desassombradamente.

O texto ou "noema em prosa" de maior fôlego e alcance nesta segunda parte é precisamente aquele que tem como horizonte o da realidade última, o fundamento ontológico do real; se quiserem, a escatologia do real - pois não é o conhecimento da origem simultaneamente o conhecimento do fim? Trata-se do artigo "(Con)siderações metafísicas em torno da natureza última da realidade". Para quem é da área da filosofia, em particular da metafísica ou da ontologia, aconselho vivamente a sua leitura, por mais discutíveis que sejam as teses que nele defendo. Em termos muito básicos, o que nele defendo é o seguinte:

1º - É impossível conhecer ou descrever a natureza última da realidade, a "coisa em si", tal como Kant defende, pelo menos do mesmo modo que conhecemos e descrevemos realidades como as árvores, as pessoas e os frutos, pois só podemos conhecer e definir aquilo que podemos relacionar com outras ideias e conceitos relativos; só podemos conhecer de forma relativa, e a realidade última, sendo a última das realidades e portanto a mais abrangente possível, não pode ser descrita ou definida por nada que lhe seja exterior, do mesmo modo que não se pode descrever o Ser com outro predicado qualquer fora do Ser, mas apenas dizendo que O SER É.

2º - Sabemos que a realidade última, a "coisa em si", seja lá o que for, É, mas conhecê-la por via de categorias abstratas como a de Absoluto ou Ser não nos chega; conhecer a realidade última de forma mediada, isto é, por conceitos e ideias, não nos interessa EXISTENCIALMENTE FALANDO.

3º - Assim, um conhecimento realmente interessante da "coisa em si" só pode ser, para o ser que existe, uma outra forma de existência. Isto é, para que a realidade última possa ser conhecida plenamente, ela tem de ser "existida". Ela tem de ser experienciada do ponto de vista do "ser-para-si", do mesmo modo que os indivíduos conscientes se experimentam a si próprios e às suas vidas a partir de dentro das suas próprias consciências, como "seres-para-si".

4º - A "coisa em si", tal como cada um de nós próprios para si próprio, constitui um "ser-para-si", isto é, uma subjetividade absoluta. Todas as nossas perceções das coisas, das árvores, das pessoas, dos objetos à nossa volta, são apenas imagens, formas de "ser-para-nós", fenómenos que se oferecem às nossas consciências; mas se nos retirarmos a nós e às nossas consciências, o que resta dessas coisas? Resta o "ser-para-nós", as imagens que delas mantemos nas nossas mentes; mas o que resta fora de nós e das nossas consciências? Resta a "coisa em si", que só pode ser um "ser-para-si" que a nós completamente nos escapa, pois trata-se de uma outra subjetividade que nos é absolutamente alheia, absolutamente outra.

5º - Mas repare-se que a realidade última também está em nós e dentro de nós. A natureza profunda das nossas mentes e consciências é também ela constituída dessa natureza última; por conseguinte, a "coisa em si" que é ser-para-si reside também enraizada no mais profundo de nós. Dito de outra forma, a Subjetividade Absoluta está profundamente enraizada no fundamento da nossa subjetividade relativa.

6º - Se não podemos apor a nossa consciência relativa sobre a natureza última do mundo no sentido de a conhecermos como conceito, teoria e ideia, será que podemos pelo menos mergulhar nas profundidades da nossa própria consciência no sentido de chegarmos precisamente a TOMAR CONSCIÊNCIA da sua natureza última, isto é, do Absoluto que nela reside, e que está por toda a parte, e fundamenta todo o Real?

7º - Será que a consciência pode chegar a tornar-se plenamente consciente de si própria, ao ponto de em si mesma ser capaz de dissolver a distinção entre sujeito e objeto, tornando-se plena e absolutamente presente para si própria? E não será, em última análise, esse o modo de chegarmos a conhecer simultaneamente a natureza e o sentido últimos do universo e de nós próprios? Não será precisamente nesse lugar que conhecimento e autoconhecimento podem chegar a cruzar-se, nesse infinito profundo da Consciência? E como lá chegar? Não necessariamente pela via estritamente cognitiva-intelectual, mas por vias mais intuitivas que incluam formas de meditação ou contemplação, já previstas, aliás, em várias tradições espirituais e religiosas.

Porque escolho este texto? Porque nele está refletida aquela que é a motivação e o estilo que pautam a minha forma de buscar a verdade: uma busca na qual todo o conhecimento se visa como pretexto para o autoconhecimento; conhecer, e conhecer-me como sou conhecido, para usar as palavras de São Paulo; reconhecer que, para já, estamos limitados a conhecer de forma mediada e confusa, através do espelho das ideias e das palavras, mas que não está fechada a possibilidade de que possamos vir a conhecer face a face, de que possamos vir a conhecer o Sentido que subjaz a todos os sentidos.

Enfim, por tudo isto, faço votos para que adquiram o livrito, quanto mais não seja para que vos desperte e estimule a pensar o impensável, ou a refutar e discutir o que aqui o ali vos parece absurdo e impossível.

A todos um bem-haja,

Ruben David Azevedo