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quarta-feira, julho 27, 2005

Casos paradigmáticos

Hoje, enquanto lia o meu jornal calmamente e confortavelmente sentado, vasculhando as noticias e os diversos artigos de opinião, estaquei subitamente num pequeno e tímido artigo escrito por uma leitora indignada, que me chamou a atenção. Embora pequeno em tamanho, o artigo era enorme em conteúdo. Possuía uma mensagem que ultrapassava em larga escala o imediato daquilo que se consegue apreender no momento. Nele se sintetizava a indignação generalizada que cada vez mais se faz sentir no grosso da opinião pública em Portugal, e não sem razão em muitos aspectos.
Explicava a dita senhora, e muito bem, que ao chegar à farmácia para comprar um substituto lácteo para a sua criança, foi informada de que o governo retirou a comparticipação para este produto: pausa para reflexão. Que o governo pretendia retirar a comparticipação para grande parte dos medicamentos já todos tínhamos conhecimento, mas quando somos confrontados com histórias deste calibre, concretas e objectivas, o impacto é muito maior, e apesar de não serem connosco continuamos a senti-las como fortes chapadas na cara, das quais não conseguimos esquivar-nos. Adiante!
Sei que corro o risco de cair em lugares-comuns, mas não posso de modo algum deixar de expressar o meu total descrédito em medidas como estas. A minha questão põem-se mais ou menos nestes termos: em nome de quê? Em nome do financiamento do afamado aeroporto da Ota, cujo único objectivo é satisfazer os caprichos de determinados grupos económicos tais como a TAP? Em nome do financiamento do TGV, que não passa de uma infra-estrutura absurda para servir a fachada do desenvolvimento, para apressadamente nos equipararmos à França ou à Alemanha?
São estas as tão apregoadas «medidas estruturais»? É estrutural retirar comparticipações essenciais ao progresso humano e sustentável? São as crianças que terão de beber menos leite para que alguns grupos económicos (a maior parte afectos aos partidos no poder) satisfaçam os seus caprichos? Peço desculpa pela minha ignorância, mas na minha humildade parece-me necessário pedir à classe política para avaliar radicalmente (e quando digo radicalmente é até aos fundamentos) o seu conceito de desenvolvimento, tão utilizado e tão mal compreendido.
Desenvolvimento não é de todo sinónimo de emburguesamento! Desenvolvimento não consiste em atabalhoar projectos aparentemente «modernos e futuristas», sem uma base sólida de educação, cidadania, e sobretudo meus amigos, de cultura e responsabilidade! Mas na política, e parafraseando um pouco Napoleão que dizia ser o poder baseado na aparência, o que interessa não é o desenvolvimento alicerçado em cultura, verdade e humanidade. Interessa pois, a aparência do desenvolvimento...
Na verdade, o poder não é exercido pelo povo «de forma soberana», como afirmam os hipócritas e os ignorantes, que ainda acreditam que votar de quatro em quatro anos lhes dá um poder extraordinário... O poder está nas mãos dos grupos económicos e nos burgueses ricos e poderosos que, escondidos na sombra dos partidos e seus dirigentes, sussurram aos ouvidos destes manipulando-os de encontro a interesses próprios. Neste contexto, cai por terra a ideia de representatividade e, por consequência, a democracia fica bastante fragilizada.
Voltando à vaca fria: este governo (assim como os últimos, exceptuando talvez o de Cavaco Silva) perdeu crédito, e arrastou com a sua desgraça as próprias estruturas do poder político e até constitucional. Está visto que na situação actual precisamos de um governo mais forte, unificado, e pouco ou nada de retórica. Reduzir a máquina do estado não começa nem acaba no despedimento do simples funcionário público, nem com ataques cerrados àqueles que representam tudo o que é fundamental no progresso social, como sejam os polícias, os professores, e os profissionais de saúde. A própria estrutura democrática deve alterar-se: presidencialismo, com a abolição do chefe de estado como simples instrumento representativo de poderes quase nulos. O mesmo deve assumir a presidência do executivo de acordo com o modelo francês.
A democracia está em crise, e em grande parte por causa dela mesma e daquilo que provocou. Antes de crescer economicamente senhores políticos, mais do que atabalhoadamente correr atrás de daquilo que os outros países já fizeram a nível material (e insisto no material), ou mesmo atrás daquilo que já liberalizaram como drogas, aborto, ou casamento entre homossexuais, urge educar! Portugal é Portugal, não é a França nem a Alemanha ( e ainda bem)! Além de termos uma identidade própria que urge salvar, temos, e isto é o mais importante, um povo que tem de se educar. E educar não é especializar senhores capitalistas, que querem agora submeter o ensino às leis do mercado!
Educar consiste em abrir o homem às problemáticas mais universais, à arte e à sensibilidade. A verdadeira liberdade da verdadeira democracia, é por contingência a verdadeira responsabilidade. Depois há a história dos referendos que eu acho digna de comédia. Todos vão sempre em favor das liberalizações, porque na verdade é o que todos desejam: toda a liberdade e nenhuma responsabilidade.
Para terminar: construir o edifício da Liberdade sobre alicerces de incultura, iliteracía e ignorância, é desde logo condená-lo à ruína. Temos de ter atenção para onde estamos a caminhar.

sábado, julho 23, 2005

A saída do governo do ministro das finanças, Dr. Campos e Cunha, vem confirmar o dito segundo o qual, na política, os honestos e verdadeiros não têm lugar. E se alguns dizem que o sr. ministro era um técnico sem experiência política, não vejo no que isso o tornaria mais ou menos competente. Talvez não fosse nem hipócrita nem demagogo, que é um pouco aquilo que entendo por «experiência política», mas em frente...
De facto se exístia alguém que se opunha à demagogia e megalómania do governo, era o próprio Luis Campos e Cunha que, ao ser responsável pela gestão das contas públicas cumpriu (ou tentou cumprir) o legítimissimo dever de alertar para o perigo de se praticarem investimentos para os quais o país real (e insísto nesta expressão) não tem recursos satisfatórios. Lógicamente que nos tempos que correm, políticas de verdade e coerência não vendem, nem satisfazem a sede de facilidade e abundância presente na opinião pública portuguesa. Ficou claro para todos que a saída de Campos e Cunha não foi de todo voluntária. No máximo terá sido gentilmente e hábilmente convidado a sair, de certo com boas palavras e correcção, numa atitude de «compreendo a tua preocupação, mas és demasiado verdadeiro para ficares entre nós». Melhor seria para o país que o sr. primeiro-ministro explicasse as razões porque o fez (apesar de estarmos cansados de saber porquê). Fica bem, tem certo charme, e ao menos não nos faz passar por ídiotas...
Muito sinceramente, para mim - assim como para todos os cidadãos esclarecidos e conscientes - tudo isto leva-me questionar a credibilidade deste governo, e as políticas que com ele virão...
No tempo de Salazar todos os ministérios tinham que passar pelo crivo do Ministério das Finanças, isto se se queria sair da crise. No nosso tempo, é o o Ministério das Finanças que tem se submeter aos outros, de preferência sem grande alarido. Contenção? Consolidação? Palavras cheias de entoação, de retórica! Quem ousa reclamar perante tais expressões?

domingo, julho 17, 2005

Ser santo é,
No pulso forte da verdade,
Concentrar toda a bondade,
Dos que amam plenamente!

É ser todo em cada coisa,
Diluindo no Eterno,
Todo o tempo e toda a carne,
E ser espírito somente.

Desce o santo à imperfeita terra
da iniquidade.
Abdica o espírito do céu
- do perfeito Nirvana que é seu –
por amor à Humanidade!
Quando se atinge a calma
Suprema
Ou se está
Morto
Ou se atingiu o
Nirvana.

Ambas são formas de
Dissolução
Dissolve-se o Ser no
Não-Ser
A identidade do Nada no
Nada da Identidade
E perde-se a consciência grosseira na
Consciência Subtil do
Absoluto.

Consciencializa-se a consciência da sua
Mesquinhez...
Consciencializa-se a complexidade da
Simplicidade...
O Separado do
Uno...
E o subjectivo mergulha na
Objectividade...

Morte
ou
Nirvana
As duas faces da mesma
Moeda
As duas margens do mesmo
Rio
.