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segunda-feira, novembro 17, 2008

Pensamentos sem espartilhos...




Nos últimos tempos o tempo não é muito. Estou ocupado com uma tradução, e a disponibilidade é pouca. No entanto, há sempre tempo para pensar e reflectir. Deixo-vos uma pequena reflexão, daquelas de horas vagas, práticamente escritas nas margens de um guardanapo.

Não quero uma vida longa. Quero uma vida cheia, preenchida e feliz. Quero uma vida interventiva, questionadora, solidária. Quero uma vida que sirva para o progresso do mundo, da humanidade em todas as suas dimensões, aberta e sem preconceito. Quero ser homem, quero esculpir-me, quero escrever o romance da minha própria vida. Quero, no fim de tudo, poder olhar para trás com uma felicidade sincera. Se morrer frustrado, que seja por ter falhado o impossível, não por ter falhado o possível. O ideal seria não morrer, ou morrer fulminado e em pé, como as árvores. Morrer fulminado e em pé, em plena acção, em plena vida, não já meio morto. Morrer sem estar à espera, não estar à espera de morrer. Podemos na vida matar o corpo, esfolá-lo e rasgá-lo em pedaços. Podemos debilitá-lo, ensanguentá-lo, desprezá-lo. Podemos tudo isto desde que, no fim, a alma fique intocada, e a ideia fortalecida. E não falo de alma no sentido religioso ou imaterial. A alma humana é muito mais do que isto. É vasta como as mais vastas planícies do mundo, perdendo-se no horizonte que divide o Céu e a Terra. A alma é a Ideia que se propaga, que influencia e persiste para além da vida, do tempo e das eras. A alma é pensamento que vive e se manifesta, cria, recria, sonha e concretiza. A alma de um homem é a memória que o mundo tem dele, o que ele sonhou e concretizou, e tudo o que dele brotou e brota até ao fim dos tempos. O Pensamento move-se e flui, cria-se, recria-se, destrói-se e reconstrói-se, refuta-se e supera-se continuamente, enquanto existir na Terra ser que pense. Terá regras ou será um movimento caótico de cariz imprevisível? Será um movimento linear, ou poderá quebrar as barreiras do tempo e do espaço? Pode, porque o próprio Tempo e o próprio Espaço são Pensamento. Na verdade, nada existe fora do Pensamento, e o mundo mais não é do que a eternidade das almas. O que existe fora do pensamento não pode ser tocado pelo pensamento sem de deixar contaminar por este, assim como não se pode saber a posição do electrão no átomo por não se poder vê-lo ou chegar a ele por meios ópticos ou de outro tipo. O electrão existe como concepção consensual, matemática e física. Nunca foi visto, foi apenas detectado numa placa de chumbo durante uma experiência. Acredita-se estar presente na electricidade, ou ser a própria electricidade, que mais não é que um fluxo que se movimenta continuamente.

(Através da escrita e do pensamento, subo à montanha para respirar um ar mais puro e ouvir o silêncio.)

Ontos é o Ser último. Ser último, que é também ser primeiro. A coisa-em-si kantiana é incognoscível pelo entendimento. Por um lado, se nada se pode dizer acerca da coisa em si, nem vale a pena continuar a reflexão. Se por outro lado, vale a pena dizer algo então, em que modo se pode falar acerca do incognoscível? Se não é cognoscível não é medível, definível e não está sujeito à verificação. Excluindo a prova, sobra apenas a crença. O espaço vazio presta-se à imaginação humana. A coisa em si, face oculta do fenómeno, presta-se à especulação. Não podendo ser alcançada pela lógica, presta-se à i-lógica. Na verdade, esse númeno é um espaço do pensamento, assim como o fenómeno. Fenómeno mais não é do que Pensamento; númeno mais não é do que pensamento aberto à possibilidade.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Sonho Cor-de-Verde da Rita - já ouviu falar?



O meu nome é Rita. Como sou muita fofinha e pequenina todos me tratam por Ritinha. Sou uma menina de cinco anos, natural da cidade do Porto e sofro de paralisia cerebral - não falo, não vejo e não ando.

São estas as palavras que se apresentam aos olhos de quem acede ao site da Rita (Clique Aqui), uma menina muito especial, que há já 5 anos vem travando uma luta difícil mas não impossível contra uma paralisia cerebral. Não é uma causa nova. Há dois anos que a mãe, Maria do Céu Santos, se desdobra em iniciativas junto da comunicação social, das empresas, das bibliotecas, para que esta história não acabe atirada para debaixo do tapete, como tantas outras. A 5 de Maio deste ano, Maria do Céu Santos, em estreita colaboração com Ana Almeida e com o patrocínio de variadíssimas empresas, nomeadamente a produtora de programas Mandala, lançou um livro chamado O Sonho Cor-Verde da Rita. Uma história bonita, cuja principal protagonista é a Ritinha, transportada para um mundo de fadas e sonho. De notar o prefácio de Idália Serrão, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, e de um segundo texto prefacial escrito por Manuela Eanes, esposa do ex-presidente da República Ramalho Eanes. Conta também com a dedicatória do Presidente da República Cavaco Silva, na contra-capa.

Recentemente, Maria do Céu Santos esteve presente na Praça de Alegria na RTP, onde apresentou o seu projecto cujo objectivo é divulgar e angariar fundos suficientes para comprar uma casa térrea, adaptada às dificuldades motoras da Ritinha, que não vê, não fala, não anda. São inúmeras as individualidades que apoiam este projecto. Poderão verificá-lo clicando no site acima, onde há pelos menos 3 fotos em que a Ritinha está ao colo de Vanessa Fernandes, ou surge rodeada de Tânia Ribas de Oliveira, ou mesmo Susana Félix.

O livro está á venda em todas as grandes livrarias e superfícies, menos na Bertrand e no Jumbo. Podem também encomendá-lo aqui.

Recebi ontem mesmo, da própria mãe da Rita, um convite para colaborar com este projecto. Aceitei com prazer. Colabore também.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Yes We Can, Obama Is Our Friend...




Obama ganhou, confirmando e até superando expectativas. Se a vitória em número de votos não foi assim tão expressiva, em número de delegados foi certamente. Ganhou nos estados mais importantes, e isso é que conta.

O discurso de vitória foi de um esplendor monumental, ombreado apenas por JFK há quase 50 anos.(leia o discurso da vitória)

Num mundo que pede mudança, que pede melhores condições de vida, melhor e mais educação, maior responsabilidade e ética daqueles que detêm cargos públicos ou mesmo privados, menos retórica de confrontação e mais de reconciliação, surge Obama e a sua promessa de mudança, como uma espécie de luz no horizonte. E com isto não quero parecer seguidista ou meramente crente da hipotética «santidade» Obama. Não sou, e tenho noção do que nele é apenas oratória formal e conteúdo concreto. Sei que as dificuldades serão grandes. Os interesses instalados e os grupos de pressão são muitos, e já «acamparam» há muito tempo nas «redondezas» da Casa Branca. E se Obama tem a maioria no Congresso e no Senado (o que lhe dá margem de manobra para ver as suas propostas e acção validadas sem dificuldades), tem por outro lado uma poderosa CIA, ciosa da sua história e demasiado habituada a controlar e a influenciar. Tem por outro lado uma poderosa imprensa, controlado por grandes lobbys, que poderão facilmente elevá-lo ou destruí-lo. Tem o petróleo e os seus tentáculos poderosos, prontos para abortar qualquer mega-projecto ambiental que o exclua do horizonte. Tem um país gigantesco, maior que a velha Europa e até mais diverso em termos étnicos e culturais. Terá muitas vezes (se de facto for essa a sua vontade) de remar contra a corrente. Remar, remar, remar. Se ficar sem barco, terá de nadar, nadar, nadar. E nessa altura, não faltará quem o queira afogar.

Apesar de tudo isto, só a sua vitória dá um sinal poderoso: a força da sociedade civil americana. Foi uma campanha praticamente toda construída pelas pessoas, e pelas suas pequenas contribuições. Deu um sinal à comunidade negra do seu poder, e da força que a partir de agora ninguém pode negar nem retirar.

Abriu um novíssimo capítulo na diplomacia e nas relações internacionais. Todos os grandes líderes de mundo saudaram Obama, e muitos deles com contentamente verdadeiro. Chavez, Raúl Castro, até Almadinejad, vêm subitamente uma oportunidade de diálogo franco e verdadeiro com os EUA, cuja diplomacia tem sido feita de retórica de ameaça e confrontação. Em vez de falar e virar costas, Obama parece querer virar-se de frente e conversar.

E, diz-se, que a mudança é possível. É importante que quem vive na opressão e na miséria, que quem diariamente se vê pisado ou ferido na sua dignidade, saiba que mudar, é mesmo possível. Depende também e sobretudo, de nós. Todos nós.

terça-feira, novembro 04, 2008

Desespero no Congo



Em época de eleições norte-americanas, e na eminência da eleição de um presidente de raizes quenianas, urge repensar o modo como as maiores potências encaram e resolvem os problemas de países como a Républica Democrática do Congo. Talvez com Obama algo posso mudar, e finalmente os EUA assumam de facto uma responsabilidade social para com o oprimido povo africano, nomeadamente deixando de vender armas a grupos rebeldes, e forçando legislação internacional nesse sentido. O vídeo ilustra bem o desespero destas pessoas, espulsas a tiro e coronhada das suas casas e dos campos de refugiados em que viviam desde o conflito de 1998/2003 no Congo. Procuram refúgio, assistência e comida.

domingo, novembro 02, 2008

Genocídio reeditado?




Mais uma vez, urge dar voz a um povo sem voz. África, muito mal curada da crise do Darfur (que parece não ter fim) e da crise no Zimbabwe (fruto da obstinação de um homem que só conhece a linguagem do poder), vê-se de novo a braços com uma situação de profunda calamidade humanitária, na República Democrática do Congo (antigo Zaire). Soa a reedição do que se passou entre 1998 e 2003, conflito que matou directa ou indirectamente 5 milhões de pessoas. Os combates deram-se na província de Kivu-Norte, sobretudo na sua capital Goma. Tudo começou, segundo o jornal Público, depois de uma ofensiva dos rebeldes Tutsis comandados pelos general Nkunda, contra as tropas governamentais do Congo.

Há coisas na vida cuja obviedade quase torna inútil a referência. Segundo David Miliband, MNE inglês, mais de 1,6 milhões de pessoas terão fugido das suas aldeias e dos campos de refugiados em Goma. Aquela zona do Congo é rica em recursos naturais, nomeadamente ouro e diamantes. É certo que este tipo de conflitos étnicos continuam a ser fomentados por potências com os EUA, a Rússia e até China, seja pela venda de armas seja pela desestabilização de governos «incómodos» através de apoios a forças rebeldes. Hoje, África é uma espécie de tabuleiro mundial, em que as várias potências económicas se degladiam para controlar os imensos recursos naturais, assegurando o monopólio da exploração dos mesmos recursos. Talvez fazer cimeiras internacionais, juntar à mesma mesa União Africana e ONU, rebeldes e governos, manter frágeis equilibrios que ao primeiro vislumbre de falta de supervisão exterior se desfazem, não chega. Não chega manter capacetes azuis durante anos nos locais de conflito, nem ONG´s a trabalhar ano após anos de forma assistencialista. Mais do que tudo isto, é preciso que os EUA, a China e a Rússia assumam as suas responsabilidades, deixem de vender armas a países com historial de conflitos étnicos à sombra da «legalidade do mercado livre».