Anúncios google

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Pen-sementes




A amizade é a melhor coisa do mundo porque responde à necessidade humana de reconhecimento, partilha e compreensão.

O caminho para a complexidade só serve se for o caminho para a simplicidade.

A política não existe para subjugar, mas para servir.

Amar é seguir o caminho mais curto entre o eu e o outro. Por vezes só a distância o permite.

A verdade é inatingível; o mistério está em saber que existe; a procura começa sabendo que nunca lá se chegará.

...................................

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Cimeira a preto e branco



Lisboa foi o palco da Cimeira Europa África e se habitualmente é já uma cidade agitada, nos três dias do evento tornou-se febril. Por mais que Sócrates e Amado falem numa «agenda», a todos esta «agenda» permanece um mistério em que é posta em questão a qualidade do sumo que a laranja do encontro vai espremer.

Apesar de tudo a presidência portuguesa cumpriu. Se Portugal demonstrou ser apenas um menino bem comportado, ou se pelo contrário mostrou ter personalidade e ideias próprias não sabemos bem. Mas cumpriu. É claro que a presidência portuguesa não faz nem fará quaisquer milagres até porque forças maiores e bem mais poderosas nas decisões que a África e ao mundo concernem se mantiveram a bem dizer, na sombra. Claro que se trata de uma cimeira «Europa-África», mas seria muito interessante termos os EUA, a China, e já agora a eurocéptica e birrenta Inglaterra sentados à mesa do diálogo. Por mais boa vontade que a Europa no seu conjunto possa ter em relação ao continente africano, são os EUA e a China os maiores actores do panorama económico deste continente. São os maiores interessados nos recursos imensos deste grande continente (nomeadamente no petróleo, recurso sine qua non) como tal politicamente, estão lá - ainda que subliminarmente - nos conflitos mais ou menos pequenos que vão existindo no Darfur e na Etiópia, só para citar dois casos. Claro que a Europa nomeadamente a França, Portugal, e (por mais que lhes doa) a Inglaterra, são parte do problema actual do continente mãe. Séculos de colonização, de escravidão, de cortes e costuras no tecido territorial africano pagam-se caro nos dias de hoje. A venda de armas, os apoios convenientes a esta ou aquela etnia, tornaram África num tabuleiro de xadrez desequilibrado. Isto porque antes dos ocidentais se terem servido a seu bel-prazer cada um com a sua fatia do grande bolo de África, já existiam tribos estabelecidas, equilíbrios naturais que os indígenas haviam construído há séculos. Nós ocidentais fornecemos o mote para o desequilíbrio deste status quo secular. Quem mais paga esta factura são os próprios africanos. Cada país colonizador, para seu bem e do bem dos países que colonizou tem de assumir responsabilidades rapidamente. Com isto não quero dizer que os indígenas do continente africano não pensem por si, ou sequer sejam inimputáveis. Grande parte dos líderes de libertação era até bastante culto, informado, e sabia bem o que pretendiam quando apelaram à revolução armada nos seus países. Mas o povo saberia? Que responsabilidade terá Portugal em, só como exemplo, ter proibido que a maioria dos negros dos países que colonizou concluíssem os estudos para além da 4º classe, quando muito? Manter os povos na ignorância torna-os inevitavelmente manipuláveis. E se havia uma ânsia de libertação e independência já enraizada e interiorizada, é consequente que qualquer discurso político que tivesse como mote o «povo unido», ou «pão para todos», ou até «revolução armada» teria uma adesão indígena maciça. Parece-me neste aspecto que a Rússia (ex-URSS) claramente também deve explicações pela propaganda comunista e apoio logístico oferecido aos partidos de libertação. A responsabilidade está dividida por todos. Seria bom que cada um a assumisse. A tradicional divisão bons/maus não existe no caso africano.

sexta-feira, novembro 23, 2007

O erro de Dawkins


Este breve texto será publicado na página do leitor do jn amanhã, ou no domingo

Pretendo com este texto responder a um senhor que escreveu nesta página uma breve exposição acerca de Richard Dawkins e do seu livro sobre Deus. É verdade que Dawkins culpabiliza Deus por todos os males do mundo. É um inglês profundamente materialista que não diviniza Deus mas dá-lhe outro nome – Ciência. Mas entendo que quando lemos seja o que for, não nos devemos deixar persuadir pela autoridade do autor nem aceitar o que é dito sem nós próprios o digerirmos e o tornarmos nosso. Como tal não concordo que o ateísmo tenha superioridade moral em relação ao crentismo. Não tem de todo, e a prova é que nos países comunistas de carácter ateu, o ateísmo fez imensos estragos. Na Rússia ninguém destruiu Meca, mas só não o fizeram porque não puderam. De resto tudo o que eram templos, igrejas, santuários foi reduzido a escombros. Em nome de quê? Do Ateísmo caros leitores. O que o Sr. Dawkins na sua inteligência de cientista parece não ter percebido, é que não é a religião o mal de todas as coisas, mas o fanatismo. Qualquer fanatismo é perigoso e destruidor, seja ele religioso ou ateu. É verdade que foram cometidas atrocidades em nome de Deus, e continuam a acontecer. Mas também foram cometidas atrocidades em nome do Ateísmo, por ventura mais sanguinárias. A religião pode trazer a paz, se for entendida na sua essência como apelo à Unidade verdadeira de todas as coisas. A ortodoxia, e tudo o que a rigidez dos rituais e das más interpretações humanas trazem é que conduz ao fanatismo. Os comunistas diziam que a religião é um cancro, uma doença que impede o homem de progredir. Veja-se o que fizeram ao Tibete os nossos amigos chineses, reduzindo a pó os templos budistas, estropiando e matando a sangue frio os pobres monges. A que Deus remetiam os nosso chineses estas chacinas, em nome de quem? Seria este deus o próprio Mao Tse Tung? Pois é, porque quando se expropria o homem de Deus outros deuses nascem por força das circunstâncias. Nascem os «bezerros de ouro». Diga-se o que se disser, o homem precisa da transcendência, chame-se-lhe Deus, Tao, Brahma.. Mas como não tenho a autoridade do Sr. Dawkins, não serei ouvido nem entendido.

terça-feira, novembro 20, 2007

Congresso de Aconselhamento Ético Filosófico




No passado fim de semana (16,17 e 18 de Novembro) teve lugar em Faro o Congresso Internacional de Filosofia Aplicada dinamizado pela APAEF. Contou com a presença de personalidades reconhecidas nacional e internacionalmente, nesta nova disciplina a que chamam Aconselhamento Ético Filosófico.

Porque eu já havia ouvido falar na Filosofia Clínica, e tinha achado o conceito interessante e inovador, decidi percorrer o país de norte a sul para assistir ao congresso. O auditório da Escola Secundária João de Deus, apesar de tudo, não estava tão repleto como eu pensava que iria estar. As pessoas que encontrei eram na maioria do Algarve, e muitas pertenciam à APAEF. Como alguém haveria de dizer «são sempre os mesmos». Para mim não eram os mesmos, eram todos novos.

Abordaram-se temáticas relacionadas com a saúde numa vertente holística. Apresentaram-se métodos inovadores de aconselhamento: Raciopoetismo, Project, Análise de Sonhos, entre outros. Enfim, uma miríade de metodologias que neste momento devem menos a um estudo realmente sistemático e sintético, do que ao à vontade e imaginação de quem os pratica. Na prática, qualquer licenciado em Filosofia pode abrir um consultório de aconselhamento. Não existe nenhuma licença especial, embora seja conveniente ter uma formação creditada pela APAEF. Formação que passa normalmente por workshops mais ou menos elaborados, mais ou menos longos. Tudo está muito no começo, embora haja já um sinal da credibilidade que a disciplina de aconselhamento poderá vir a assumir, na medida em que o Instituto Piaget vai abrir uma pós-graduação nesta área.

Achei também muito interessante a ideia de criar gabinetes de apoio filosófico nas escolas. Os psicólogos que se cuidem. Havia muitos psicólogos na conferência mas não participaram como eu esperava, nem se levantaram em nenhum momento para defender de espada em punho a sua ciência. Nem quando um dos conferencistas praticamente reduziu a Psicologia ao estudo do inconsciente… Continuando. Claramente as escolas têm imensa matéria prima para os conselheiros filosóficos. Não falo apenas dos adolescentes, assoberbados em dilemas típicos desta fase, mas dos professores e até dos pais.

Pareceu-me que a ideia fundamental do aconselhamento passa por ajudar, ou dar as ferramentas para que o «cliente» clarifique perante si mesmo as suas dúvidas, os seus temores, as suas concepções de vida. Clarificar passa por fazer uma análise conceptual dos conceitos que estruturam o seu pensamento. Há aqui algo de socrático nesta ideia de «extrair» do outro a concepção que ele próprio tem dentro de si mas de que se esqueceu, ou ocultou com o véu dos seus preconceitos, ou dos seus erros e falácias do seu pensamento. E atenção que aqui não cabe a psicanálise, nem os egos ou super-egos freudianos. Segundo alguns dos conferencistas, é preciso evitar uma atitude paternalista por parte do conselheiro, ou uma situação de superioridade moral ou ética deste, em relação ao seu cliente. O conselheiro é só e apenas um orientador. A imagem no ínicio é um retrato de María Zambrano, importante filósofa espanhola do séc XX que parece ter sido a mãe da ideia de que se poderia pôr em prática um tipo de aconselhamento eminentemente filosófico.

A ver. Um dia também eu vou abrir o meu consultório de aconselhamento.

sábado, novembro 10, 2007

Metanoia - um ano passado para um livro sem tempo




Hoje, dia 10 de Novembro, faz um ano que o Metanóia foi oficialmente publicado. O balanço deste ano não foi muito positivo em termos de vendas, o que sinceramente não me faz qualquer diferença. Ao longo do ano tive gente que me foi fazendo perguntas acerca do livro, gente que foi ganhando curiosidade, e que acabou por comprar.

Infelizmente foi um edição pequena. A editora não ajudou nada em termos de divulgação. No entanto sinto que este meu livro (que de meu já tem pouco) muito devagar ganhará vida própria, e um dia terá o seu lugar ao sol. As obras verdadeiramente importantes estão fora do tempo. São aliás de todos os tempos. O Metanóiae a sua mensagem ecoarão para a Eternidade.

Ainda vão muito a tempo de o adquirir. Podem fazê-lo na Almedina do Arrábida Shopping, onde ainda existem alguns exemplares à venda. Podem também fazê-lo via internet através do seguinte link

http://www.corposeditora.com/site/mostra_obra.asp?idcoleccao=1&idobra=214

Resumo-vos numa frase:

A verdadeira revolução, a mais duradoura, é dentro de nós.

Remeto-vos por fim, para o arquivo de Março, à vossa esquerda, onde encontram a transcrição das minhas palavras sobre a obra, durante a apresentação do Metanóia na Fnac de Santa Catarina, no Porto.

Bem Haja.

domingo, novembro 04, 2007

Apresentação do livro Versos Nus



O escritor Tiago Nené, 25 anos, natural do Algarve, apresentou o seu primeiro livro Versos Nus , no passado dia 29 de Setembro no Magnolia Caffé, em Lisboa. O sucesso desta primeira apresentação pedia muito mais, pelo que outras oportunidades para contactar com a obra e com o escritor vão ter lugar dia 8 deste mês em Huelva (Espanha), e também dia 24 na Fnac do Algarve Shopping.

Nas palavras do autor A poesia deste livro está carregada de influências literárias estrangeiras, tais como Allen Ginsberg, Uberto Stabile ou Charles Bukowski.

Deixo-vos uma pequena fracção desta obra, um poema que, se não fala pelo todo, deixa-nos pelo menos de àgua na boca...

Escreve um poema
Mergulha no branco
Entra no improvável
Sê humilde
Não penses no que sabes
Esquece o que sentes
Sente
Se não sentes tira a roupa
Bebe água
Pinta um quadro
Esquece as cores que conheces
Imagina cores
Troca-lhes a lógica
Segue
Persegue
Respira debaixo da água do quadro
Transpira
Bebe água
Bebe mais água
Grita
Chora
Chora pela tua mãe
No teu sonho
Ela vem buscar-te
Inspira
Expira
Continua a pintar
Pinta até que o dia nasça no quadro
É difícil
Então mergulha mais fundo
Até veres os peixes
Ouve os seus lamentos
Eles também nadam neles
Não há só água no seu oceano..
No teu também não há só sorte ou amor ou lógica
Há contradições
Por isso não nades só..
Também mergulha
Mergulhar é fugir
Sem que a fuga seja cobarde.


Versos Nus - Magna Editora - 2007

Para mais informações visitar o site do escritor

http://www.tiagonene.pt.vu/

segunda-feira, outubro 22, 2007

Tratado/Constituição Europeia



Tudo muda, nada é. Já dizia Heraclito há 2500 anos. O mundo por mais que nos custe, por mais que nos queiramos agarrar às nossas memórias, muda. Claro que mudar em si para melhor ou pior, só a História pode de facto avaliar, com a devida distanciação.

O tratado (constituição velada) europeu é um sinal dessa mudança. Podemos afirmar que é mais uma manifestação concreta de uma necessidade global de mudança, de actualização. Não vou tão longe como Hegel, mas também não tenho dúvidas que existe um «espírito» de mudança, que continuamente progride numa direcção clara. Isto é, para a frente. Quando digo que progride, não digo que necessariamente evolua – pode também progredir no sentido de um regredir. Mas a história também funciona desta forma – anda em círculos para poder ir em frente.

O mundo é dominado pela economia. Disso ninguém duvida. Os mercados vencem quando são competitivos, quando lucram mais, quando dominam monopólios. Estes mercados não existem por si só. Vivem à sombra de governos, de ditas «nações». Como é lógico, a competição económica convive com a competição política, como tal as nações procuram prestigiar-se, elevar-se umas acima das outras. Sendo que a economia, o poder do dinheiro domina e aparentemente compra tudo, as nações procuram-se elevar-se procurando ter mais dinheiro, ou propiciando condições para que nelas se gere mais dinheiro.

No século passado, no dealbar das revoluções industriais, a Inglaterra era a grande senhora do mercado, a mãe do capitalismo como o conhecemos hoje. O estado controlava pouco ou quase nada, e os capitalistas donos de fábricas e industrias tinham todo o poder para produzir, gerir pessoas com os mais baixos salários e os mais prolongados horários de trabalho. Isto em regimes democráticos por natureza. Tal filosofia de trabalho durou enquanto o socialismo não germinou como ideologia, enquanto Marx e Engels não propuseram um modelo de sociedade, no papel, mais justa. Países como a China, a India, o Japão (hoje as potencias económicas emergentes) só conheciam o que os tradicionais e artesanais métodos de produção lhes davam. Mesmo após a segunda guerra mundial, quando os EUA assumiram a hegemonia económica, falamos de um regime em si democrático mas com uma economia totalmente livre, ou quase. Associava-se muito mais o patriotismo, a noção de nacionalidade, à economia e a sua força. Fenómenos como a fuga de empresas para países de mão de obra barata ainda não existiam de facto, da forma endémica como hoje existem. Eis um dos grande males do capitalismo, que talvez venha a condenar o naufrágio dos valores e da sociedade dita «ocidental». Ao esbater a noção de nacionalidade na economia, ou de «patriotismo económico» (não confundir com proteccionismo), e ao construir as sociedades cada vez mais sujeitas ao económico na dependência das grandes empresas, ou das grandes multinacionais de que os governos cada vez mais dependem, estamos a assistir à deslocação de muitas dessas empresas para países que lhes oferecem mais condições para gerar lucro. Infelizmente essas condições passam pelos salários mais baixos, e pela ausência de direitos laborais. Se observarmos com atenção, hoje são precisamente os países que menos respeitam os direitos laborais, cujos governos fortes controlam a economia, que começam a eclipsar as antigas grandes potencias. Os estados unidos estão condenados a ser ultrapassados na cena mundial. A velha Europa, ou corre atrás, ou morre politica e economicamente. E tudo tende a mudar porque cada dia que passa, a economia sobrepõe-se a qualquer tipo de ética ou moral. A competição torna-se absolutamente desleal, porque um país onde as pessoas trabalham 40 horas semanais e onde o salário mínimo é de 400 euros, não pode competir com um país onde o limite de horas de trabalho é o da própria resistência corporal, e o salário mínimo fica ao critério do empregador. E enquanto isto sucede, os países ocidentais condenam o proteccionismo, e a China, India, Japão, vão lançando bases para um proteccionismo forte, associado naturalmente a um nacionalismo feroz que nós europeus, ocidentais, já esquecemos.

Como reagir a tudo isto? O que pretende o tratado com tudo isto? Afirmar uma «nacionalidade europeia» que possa dar um novo alento ideológico e político à economia, para que tendo orgulho em ser europeu, faça tudo para manter cá as minhas empresas, e os próprios consumidores tenham orgulho em comprar o que é produzido cá dentro. Assim, a crise económica reafirma o nacionalismo, daí que o futuro talvez nos traga mais governos de direita do que seria de esperar. O perigo aqui está na pressa. Porque correr atrás da globalização significa equipararmo-nos politica e juridicamente aos países mais bem sucedidos economicamente. Daí todos os «ataques» aos direitos laborais consagrados. O crescimento económico não pode ser conseguido a qualquer preço, e é aqui que o Ocidente tem um papel fundamental na globalização: a afirmação da liberdade, da solidariedade, da fraternidade como fim civilizacional, onde o lucro e o crescimento económico são apenas meios, nunca fins. Se a Europa não quer morrer politicamente perante as potencias que emergem, tem de se afirmar economicamente. Para se afirmar economicamente tem que se unir, se agilizar burocraticamente. Ou seja, as instituições têm de funcionar bem oleadas, sem bloqueios jurídicos. O tratado, com todos os defeitos que possa ter, é uma resposta a essa agilização institucional.

O futuro dirá se será bom ou mau para a Europa.

sábado, setembro 22, 2007

febre



Há uma dor que acorda à noite
Enquanto procuramos dormir e não conseguimos
Como uma febre..
Todas as febres são maiores à noite
Quando o corpo, amolecido pela cansaço do dia
Está mais frágil e débil..

Há uma dor comum
Uma saudade que corrói como uma úlcera
Enquanto tentamos esquecer
E todas as nossas acções mais não são
Do que afogar esta vontade
De gritar..

Abro a janela e vejo a noite
Cansada como eu..
Estristecida pelo Verão que se despede..
Suspiro..
O que me falta? Quem sou eu?

Apetece-me acender um cigarro..
Apetece-me o amor..
Todos os homens guardam em si a memória
do seio materno..
Sublimo em fumo a frustração
Fecho os olhos..

Onde estás mulher que me assombras
Como te adoro – como te amo..
Como queria completar contigo o vazio que me consome..
A noite está quieta
E eu tão profundamente e febrilmente
inquieto..

...

domingo, agosto 19, 2007

Misseis com Amor



Todos dias há desastres, catástrofes e acidentes que ceifam vidas, destroem e arruínam. Todos os dias o sol levanta-se para presenciar dor, morte, sofrimento e desespero de quem perde tudo mesmo quando já nada tem a perder. No Iraque são às centenas todos os dias. Morrem como se a morte fosse uma forma de vida. Hoje 185 mineiros na China esperam pela morte enquanto as águas continuam a subir e a obstruir-lhes a saída. Já para não falar nos 5000 que todos os anos perdem a vida nas minas chinesas… Ou naqueles que são condenados à morte sem ninguém saber, só para satisfazer a ganância de regimes corruptos, e negócios pouco claros.

Nas estradas morrem outros tantos. Todos os dias há uma mãe, uma filha, um pai, um irmão que recebe um agente da polícia na sua casa para receber a triste notícia: «Não sobreviveu aos ferimentos, lamento profundamente.» O formalismo e imparcialidade dos jornalistas esconde o drama dos nomes por trás das notícias. Esconde a angústia desses pais, dessas mães, irmãs ou namoradas, dessa gente que vive na própria carne a dor da perda, da estupidez das circunstâncias e a dúvida, o eterno «porquê?».

Ao mesmo tempo vamos recebendo notícias de novas corridas ao armamento, ajustes de contas, novos ódios entre civilizações que criam raízes, novas ditaduras a emergir da sombra, novos motivos para odiar. Devagar o passado vai ficando esquecido, cristalizado nos livros de história como se já não nos pertencesse. E os mesmos erros são cometidos, os mesmos apelos e as mesmas palavras de ordem que no passado serviram para arrebanhar gente são utilizados agora, para satisfazer os planos de alguns.

No meio de tudo isto vejo a minha vida. Vejo-me a mim em busca do amor, da simplicidade de um banco à beira mar, com a pessoa que amo, trocando beijos e palavras cúmplices, e pergunto: quererão destruir isto? Porque querem os que não têm amor, destruir os que o procuram? Valerá mesmo a pena um escudo anti-misseis para isolar, ou serão preferíveis palavras de ânimo e cumplicidade para unir?

quinta-feira, junho 21, 2007

Não se pode decretar a Felicidade





Não se pode decretar a felicidade. Não se pode dizer, por mais poder que alguém possua, que a partir de um determinado momento a humanidade será justa, fraterna, feliz.

A Justiça é difícil. A Fraternidade implica um lento aperfeiçoamento interior. A Felicidade é um caminho margeado pela Justiça de um lado, e pela Fraternidade do outro.

Comecemos pelo possível.

É possível, para já, sermos justos utilizando a razão, treinando-a para que se torne esclarecida e liberta de preconceitos e ideias feitas.

É possível, para já, ser-se fraterno, não só com quem nos está próximo, mas sobretudo com aqueles que acreditamos estar para sempre separados de nós pela desconfiança, pelo egoísmo, ou pela ilusão do «Estatuto».

É possível, para já, ser-se feliz começando por ser-se alegre, e acreditando que é possível nunca ferir a Justiça, e a Fraternidade.

Mas de uma coisa temos de estar certos:

É possivel.

sábado, maio 05, 2007

Ser





Porque não haveria o homem de ser tudo aquilo que nasceu para ser?
Porque não hei-de eu desejar cumprir-me em toda a minha plenitude?
Porque hei-de eu assumir desde logo uma vida abortada?

Não!
Digo eu, embora só de Deus venha o Não ou o Sim definitivo…
Afirmo em mim a possibilidade da escolha, da decisão
e da força que só do Espírito deriva;
Afirmo!
A verdadeira liberdade reside no assumir da não liberdade.
A verdadeira liberdade é um prisma absoluto de infinitas faces,
Com variantes de cor, diferenças de tonalidade na luz deflectida…
A verdade não precisa de nada para ser.
Não precisa que digamos que é verdade, ou que é mentira, má ou boa…
A Verdade é – ou não é – ou pura simplesmente se cala…
Se cala.



O silêncio é sempre o ponto de partida… também será de chegada.
As palavras só derivam do silêncio aspirando pelo silêncio;
O dizer só deriva da vontade do não dizer,
O simples equilíbrio de tudo estar tacitamente compreendido…
O Universo inteiro só aspira pelo silêncio.
O Verbo é só uma etapa necessária para a consumação do Não-Verbo.
Tudo começou quando o homem acreditou. Etetetegegegegeghehehehehejejejejejekekekekekelelelelememememenenenebebebevevevecececexexexezezezesededefefegehehehejejejekeleçepeoeieueyeterdesecevevebebenhenenmmemekeejehehegegefefededeegferetegefeddefefegdhgdhhhjejj
A busca é a Lei.
O Equilíbrio o escopo.





..
..
..
..
.

Tudo é semente.
A verdade é só semente, não a semente…
A verdade é só gérmen de dúvida..
A verdade é principio, não fim.

quinta-feira, abril 19, 2007

Política e serviço






A política começa na acção altruísta, que se baseia no principio de que o homem e a sua liberdade são o primeiro e último fins da sua acção. Esta não deve nem pode ser presa fácil do oportunista, do demagogo, do sedento de prestígio, ou daquele que coloca sempre os seus interesses, ou os interesses dos grupos que o suportam acima do interesse geral.

A política é uma forma de estar ao serviço do homem, da Humanidade e dos valores mais altos e profundos a que todos, em última análise, aspiramos. É uma forma de voluntariado, sem dúvida alguma. Para o que se diz político, agir politicamente é uma forma de se realizar, uma oportunidade para dar o melhor de si mesmo, fazer valer as suas capacidades perante os que o elegeram.

Política é acima de tudo, um sacerdócio.

O político não ingere directamente na vida daqueles por quem é responsável. Ele fornece meios, potencializa condições, conjunturas. Ele constrói a estrada, mas a decisão de andar nela, e a forma de andar nela, não depende dele. O político não pode jamais ser fraco, mas forte e corajoso, para que nos momentos certos não erre por fraqueza de espírito, por passividade, que é pior do que errar verdadeiramente por maldade. Ser bom tem de ser uma força no político, e não uma fraqueza.
O bom político lê Maquiavel sabendo desde logo que se o autor estivesse certo quanto à Natureza humana, então não valeria de nada o esforço político na «defesa do Estado», e toda aquela panóplia de imoralidades na defesa daquele que é, em última análise, feito de pessoas. Um político sabe bem que os fins não podem de forma nenhuma justificar os meios, porque os meios abrem sempre precedentes e legitimam mais tarde ou mais cedo, fins da mesma natureza. Não se usa a guerra para fazer a paz, porque a guerra é como o chumbo, pode parecer que desapareceu de todo, mas continua a contaminar os solos e as águas durante décadas e décadas.
O político não exige nada aqueles àqueles a quem serve que não exija a si mesmo, a dobrar...

To be continue

quinta-feira, abril 12, 2007

..um tal homem de Nazaré..






Estava eu sentado no chão poeirento. O vento sibilava nos meus ouvidos, o calor fazia-me sentir absolutamente sonolento. Não pensava em nada, senão em beber água fresca. Foi quando vi vindo ao longe, na curva da estrada, meio toldado pela calor que distorcia o que quer que fosse aquela distância, como que emanado da terra vermelha.
Vinha rodeado de gente. Seguiam-no como se trouxesse um tesouro atrás de si. Como se fora um arauto de uma qualquer nova há muito aguardada. Não entendo porquê. Porém, ele vinha-se aproximando e eu já o distinguia claramente com o seu ar sereno e altivo. Nunca o havia visto em toda a minha vida, e sei que o mesmo se passava da sua parte, mas nunca entendi porque é que naquele momento ele fixou os olhos em mim como se absolutamente me conhecesse, como se esperasse de mim uma qualquer resposta ou sinal. Ainda que cada vez mais rodeado pela multidão que o ia aclamando, e lhe puxava a túnica, não tirava os olhos de mim e, ainda que eu quisesse, não conseguia deixar lhe corresponder. Olhei-o sempre, e ele a mim, até ao momento em que, passando à minha frente, me levantei e quis saber-lhe o nome. Não consegui, todos queriam segui-lo, a multidão não me deixou chegar a ele. Desisti, voltei a sentar-me embora não conseguisse despregar o olhar. Senti que ele me sorria, embora muito subtilmente. Não pensei mais no calor, nem tive mais sede. Fui ouvindo a multidão a afastar-se, e ele com ela.
Não o vi mais. Disseram-me que era um tal homem de Nazaré que fazia milagres. Parece que tinha curado uma porção de gente, sobretudo leprosos. Fiquei admirado. Soube que foi crucificado pelos romanos em Jerusalém há algum tempo. Pobre homem. Não tinha aspecto de criminoso.

quarta-feira, março 21, 2007

Transcrição da Apresentação do «Metanóia» na Fnac, no dia 21 de Fevereiro de 2007



Transcrevo para todos aqueles que não foram, ou não quiseram ir (escusado será dizer que haviam coisas supostamente muito mais interessantes para fazer, como um tal jogo de futebol entre o Porto e o Chelsea), as palavras que proferi na apresentação do meu livro no dia 21 de Fevereiro, pelas 19 horas.

Não transcrevi os poemas que foram lidos para não maçar demasiado.

Aqui fica o que foi dito.


Por volta das 19 horas e 12 minutos...

Começa com uma leitura da minha colega Teresa, do texto da pág. 66...

Eu dou seguimento...


Boa tarde! O meu nome é Ruben Azevedo, e estou aqui, hoje, para vos apresentar – diria até representar – o livro que escrevi faz talvez um ano ou mais. Escrevi, ou talvez seria mais certo dizer que fui escrevendo consoante os apetites, consoante captava aqui e ali lampejos de eternidade, e não nego aqui a responsabilidade da própria vida, colocando-me desafios e obstáculos que estimularam e fomentaram uma procura mais alta e mais ampla, que superasse toda a mediocridade que o corpo, e a reboque, o espírito, se vêm forçados a viver. É a tal historia da «insustentável leveza do ser», livro aliás, que aconselho vivamente, entre muitos que contribuíram activamente para a minha ideia do que deve ser a caminhada do ser humano individual em direcção á Liberdade, e direi até sem qualquer receio, em direcção á Libertação!

Ao longo da minha ainda curta mas já algo preenchida vida (21 anos), tive suficientes experiências de alegria e sofrimento, que aliás todos temos, tivemos, e não deixaremos nunca de ter. A questão está em aprender ou não com essas experiências, em utilizá-las para nos elevarmos, aceitando-as como a pedra aceita o desbaste do maço, porque sabe desde logo que dentro de si se esconde uma obra de arte que urge resgatar.

Em alguma altura da nossa vida, todos vislumbrámos um mundo diferente, possivel ou impossivel; apenas um mundo que estivesse livre de tudo aquilo que consideramos mediocre. Há sobretudo uma determinada fase da adolescência que pode ensinar muito à Humanidade. Uma fase idealista, de fuga e quebra com valores e ideais vigentes. Nesta fase buscamos sobretudo compreensão por parte daqueles que acreditamos que não a sabem dar, porque parecem viver num mundo muito diferente do nosso. E a verdade é que vivem, porque em si mesmos houve uma chama que se apagou, algo que foi destruído nos constantes embates da vida a que aprendemos a chamar «realidade». Mas é aqui, na questão da «realidade» que começa a verdadeira mudança. O que é a realidada? Quando a certa altura da vida deixamos de questionar, e damos tudo como certo, e eterno, perde-se esta centelha fundamental que reside nessa sensação de mistério que guardamos bem no fundo de nós, e da qual temos muitas vezes medo, porque deixamos de saber lidar com essa sensação. Temos medo de perder aquilo que a «realidade» nos deu; temos medo de não conseguir acompanhar o rebanho, embora eu tenha a certeza de que nenhum de nós sabe muito bem para onde segue este rebanho... Talvez para o matadouro..



É preciso ter muito cuidado, porque a máquina social mata-nos a dúvida, mata em nós tudo aquilo que pode subverter a própria sociedade, subjugando. Onde quero chegar é que esse ímpeto de mudança, essa sensação que todos temos de que «a vida não é aqui» (Kundera outra vez) é a única forma de salvar a Humanidade; é o único sentimento que tudo ultrapassa, aliado ao Amor. Na adolescência, este ímpeto revolucionário é quase sempre incipiente, mas não devemos confundir a manifestação desse ímpeto, com o ímpeto em si mesmo, que todos devemos proteger como o maior dos tesouros. O que nos salva é que homens houveram que sempre souberam cultivar esta vontade de mudar.

A questão é agora como mudar.

Pois no meu livro (finalmente) está implicito o meu próprio crescimento pessoal e, sobretudo, a defesa e um contributo para aquela que considero ser a mais importante e duradoura das revoluções – a Metanóia!

Se todos sairmos daqui diferentes, mais livres, mais homens, mais mulheres, então todos teremos contribuído para o mundo que esperamos..


Leitura do Primeiro poema do Primeiro Capítulo...

Tudo começa na consciência do Eu. Se não fosse por existirmos como uma identidade separada, independente, nenhuma destas questões seria colocada. Mas somos «eus» que olham para «tus». Há esta separação entre sujeito e objecto que nos leva a questionar sobre quem somos, e o que é o mundo.

Acredito que para mudarmos de visão (além da possibilidade de ir à Multiópticas) devemos antes de mais reflectir sobre o nosso Eu, e o lugar que este ocupa no Universo.

Para mim foi simples quando comecei por perceber que o nosso pequeno planeta não está no centro do Universo, nem sequer o Sistema Solar está no centro da Galáxia, e muito menos esta está no centro seja do que for... Existem cem mil milhões de galáxias no Universo conhecido. Cada galáxia tem em média cem mil milhões de estrelas. E nós navegamos algures numa rocha azul em torno de uma dessas estrelas simples, que por sua vez gira em torno do centro da Via Láctea, perdida num dos braços desta.

Isto dá-nos desde logo outra noção do nosso Eu. Os nossos problemas, as nossas vidas, parecem muito insignificantes no meio desta imensidão, e é verdade, mas o facto de sermos pequenos e raros torna cada um de nós único, e portanto incomensuravelmente valioso.

Para mim foi importante cultivar esta necessidade de procurar sempre algo superior, e esta tentativa de ver outros horizontes mais amplos vai-nos ensinando a olhar a vida não com os olhos pequenos de quem está demasiado embrenhado nela, mas com a vista aberta ao mistério de quem vê em tudo uma manifestação de algo muito maior que os homens.

O nosso tempo, a nossa época, é no fundo como o nosso pequeno planeta. Uma simples página, ou mesmo uma simples nota de rodapé no livro da História – ou não?

Por isso mudar de visão é também olhar o nosso tempo com os olhos da História, e desta forma agir no tempo que nos foi dado através da própria Eternidade, nunca agarrado a preconceitos ou morais limitadoras enraizadas numa historicidade própria, tão prisioneira de modas.

Demócrito ria, Heraclito chorava. Temos de saber ser um pouco dos dois.


Leitura de um poema do segundo capítulo

Quando aprendemos a ver o mundo com um olhar mais descomprometido a modas e épocas, verificamos que o que nos motiva a maior parte das vozes são coisas puramente temporais, pelas quais não vale sequer a pena sofrer.

Aprendemos que muito do que nos move reside em puras ilusões do pensar consciente. É o nosso Eu mais uma vez, no seu esforço para deslindar entre o que é certo, e o que é errado. Acho que uma cadeira pode bem ajudar-nos...

Quando observamos uma simples cadeira, o que vemos? As nossas mentes naturalmente realistas dirão «vemos uma cadeira, que é aquilo que ela é, e serve apenas para que nos sentemos nela...». Reparem no «...ela é...» e no «serve». A cadeira é ou possuir «ser» porque nós lhe atribuímos qualidades. É verde, é alta, é baixa, é dura, é fofa. É um objecto para nos sentarmos, claro, foi para isso mesmo que a construímos. Façamos agora um exercício: vamos todos embora desta sala e deixemos a cadeira só e abandonada. O que resta dela? Dirão vocês que a cadeira continua lá, estejamos a observá-la, ou não. E eu pergunto: será mesmo assim?

Se não estiver ninguém na sala a olhar a cadeira, quem poderá dizer que a esta é verde? Dirão talvez que se lembram de que antes de deixarem a sala, esta era verde. Mas neste caso, onde está a qualidade «verde», na cadeira em si, ou na vossa memória?

Serve para sentar? Porquê? Porque a forma, o encosto apropriado, as pernas, fazem-nos recordar qualquer coisa que já vimos antes. A própria pessoa que a construiu, fê-lo com uma intenção. Se não estiver ninguém na sala para olhar a cadeira através dessa intenção, o que resta da cadeira? A verdade é que a cadeira existe porque «é» algo. É porque nós mesmos, a nossa mente, lhe atribui qualidades (defeitos também). Gostamos, ou não gostamos. Se não houver ninguém que lhe «passe cartão», a cadeira que conhecemos deixa simplesmente de existir.

Deixo-vos a tarefa de pensar nisto.

A realidade que abraçamos como eterna, como nossa, e que fazemos tudo para defender, que impingimos às nossas crianças para que se tornam «adultas» fica uma pouco abalado com tudo isto, ou não?

Até os valores que damos como certos.. São eles próprios cadeiras, frágeis e ilusórias.. Cabe-nos então continuar a buscar essa realidade verdadeira, independente de nós, das nossas mentes naturalmente formatadas. E que está aqui! Está ali mesmo naquela cadeira, embora não a possamos vislumbrar! Faz parte também daquilo de que somos feitos – é aquilo de que somos feitos! Aplique-se isto ao Tempo, ao Espaço. Tudo se dilui.

Nem o Eu porventura ficará incólume, esse Eu que tanto amamos e defendemos...

Pensem nisto.


Leitura do Primeiro poema do Terceiro Capítulo..

Esta sensação interior de que nada é como pensavamos, alimentada pela nossa vontade de crescer e contribuirmos com o nosso crescimento para o novo mundo, semeia em nós uma fé maior no caminho que percorremos. Sim, porque a Metanóia é um caminho, uma peregrinação dentro de nós mesmos na demanda da Liberdade – é a única revolução que não usa armas, não verte sangue, e não fomenta ódios..

Enraiza-se a ideia de que o mundo pode ser diferente, e que com a nossa própria transformação (esperando pouco de fora) podemos relançar a construção do futuro.

A ideia de uma realidade última, essencial a tudo o que existe, que não pode ser conhecida nem pensada (de todo misteriosa) obriga-nos a ir em frente. Acredito que a Fé não tem nada a ver com a observância estrita e cega de uma religião institucional, que nos dá as regras de fora, com as pautas já escritas. A Fé, o gosto pelo desconhecido, pelo misterioso, pelo que nos transcende sempre, existe desde que nos conhecemos como humanidade. Foi esse sentimento que nos fez sair das savanas e percorrer o mundo quando eramos pouco mais que caçadores-recolectores. Foi esse Mistério que pôs os portugueses à frente de caravelas, à procura, nesse acreditar de que o horizonte (embora inatingível) não é o fim, nem sequer a meta. Foi também essa Fé que pôr um Einstein a trabalhar, trabalhar, trabalhar, porque não conseguia libertar-se do pressentimento de uma racionalidade intima ao próprio Universo, que pode ser descrita por leis físicas.
Chamem-lhe Deus, Infinito, Javé, Alá, são tudo conceitos que, como já vimos anteriormente, são fruto da mente. A essência do Tudo não precisa não precisa de nós para existir, mas o pressentimento de que está aí pode sim ajudar-nos a resistir, e a lutar por um mundo mais digno.

Estas ideias são fruto do meu interesse crescente pela Arte, pela Filosofia, pela Ciência, e sobretudo do estudo das várias religiões do mundo. Entendo que o Infinito tem muitas faces, e o ser humano, como animal vencedor que é no mundo, aprendeu a adaptar-se e a manifestar de muitas formas este amor ao que o transcende. Estudar outras religiões que não a que professamos, outras formas de pensamento, outras faces da Verdade, torna-nos mais tolerantes e, acima de tudo, abertos ao mundo e à diferença. Porque a Verdade que todos procuramos, para ser de facto «a» Verdade, não pode ser separada de nada – tem de ser una e consistente em si mesma. As ideologias aqui e ali cada uma a Verdade. A idelogia pensa que pode conter a Verdade, mas esta teima em fugir-lhe pelas frinchas. A Verdade é incontinente. O mais que podemos fazer (e é essa a mensagem última das religiões) é manter a abertura, porque não sabemos absolutamente nada, e cada pedrinha que encontramos no caminho pode ser um importante contributo para a Verdade. A ideologia é apenas uma forma de caminhar, um método talvez. Porque a ideologia que põe um ídolo num pedestal acaba por se fechar em si mesma. Um Buda, um Cristo, um Gandhi, não apontam para si mesmos nem pedem para ser adorados. Caminham apenas de uma determinada maneira e apontam direcções possiveis. Buda antes de morrer terá dito aos seus discípulos para não perderem tempo a adorar o seu corpo, mas para perseverarem no caminho.

Olhemos pois para onde os grandes mestres apontaram, e continuam a apontar. O dedo que aponta não interessa para nada.

Uma questão: é mentira dizer que o homem é um «animal racional». Mito absoluto. No máximo o homem será um «animal lógico», porque utiliza formas lógicas para chegar aos seus fins (na maior parte das vezes nada racionais). As nossas convicções, as ideias que abraçamos sustentam-se numa lógica própria. Mas assim como nas matemáticas existem sistemas aqui e ali muitas vezes algo contraditórios, também a nossa lógica pode falhar por lhe faltar a visão global do Sistema. Por isso devemos amar a diferença. Nunca se sabe quando a contradição não é apenas a manifestação dispersa de uma unidade lógica essencial. Acontece com todas as teses, e «anti-teses». Mais tarde ou mais cedo surge sempre alguém absolutamente genial que as funde numa «sin-tese», e deixa todos boquiabertos. Não morram nem pela tese, nem pela antítese – prefiram a Síntese!



Leitura do Primeiro poema do Quarto e último Capítulo

E chegamos agora à revolução pretendida. Nestes bocados estivemos praticamente de olhos postos em nós mesmos. Mas eis que levantamos o olhar e o mundo mudou! Porquê? Porque nós mudamos primeiro, e o mundo somos nós! Lá fora saberemos ver o mundo com outros olhos. Nenhuma moral demasiado limitadora nos pode constranger, porque sabemos agora o que de facto importa.

Para ser verdadeiramente livre, terei de deixar pelo caminho o que me tolhe os pés. Deverei amar mais o Ser, sendo mais e melhor, e preocupar-me menos com o Ter, e no estatuto que este me possa trazer. Quem vale pelo que é, para si, para os outros, não precisa de galões nos ombros, bens materiais para ostentar, ou títulos para fazer calar os outros.

Serei eu apenas, num esforço para aprender a amar os outros de uma forma mais plena, sem esperar nada em troca senão um melhoramento interior.

Sei agora largar tudo, porque a Paz não vem de fora de mim. Cultivo-a eu mesmo, cá dentro. E é quando tudo parece desabar a nossa volta que se revela a bússola interior que todos temos, e que mantém o Norte.

Obrigado.


Terminou-se com um poema especial acompanhado com o «Requiem» de Mozart em fundo

Superior é a ideia humana ainda que grosseiramente se deturpe
Na turva atmosfera do corrompido
E aí está a voz humana num crescendum divino...
É a unidade das vozes e das vontades que projecta o Ser
E o chão vibra – também o céu contagiado troveja...

No olho do furacão e do fragor da luta
Repousa a Verdade.
O pleno devir já se confunde com as nuvens etéreas do sonho...
Sonhar! Oh sonhar com o porvir da felicidade!
Chorar sempre – carpir de amor à Humanidade
Esticar o braço lasso mas convicto e tocar a mão de Deus...

O agora é já prenúncio
É a Arte medidora e já faz tremer os corações frios
Já a natureza do instinto renasceu das cinzas como Fénix
E o natural regressa ao templo da harmonia
- o clássico do Homem renasceu -
A Alma renova-se a cada momento sempre mais intenso,
E o espírito novo repousa sem pressas
No coração humano!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007



Aberto a todos os que aspiram por um mundo diferente..

Dia 17 de Março pelas 19 horas, na Praça D.João I...

Eu estarei lá!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Tempo de mudança


Algumas pessoas estão condenadas a ver o mundo passar, a ver o fluir, a sentir em si mesmos a força da mutabilidade e o facto de que «tudo são bocados», como dizia Pessoa.

Tudo são bocados. Cada bocado é a absorção momentânea de uma aprendizagem, uma pedra que guardamos no algoz para construirmos o nosso castelo, lá bem nesse futuro que entrevemos, e que nos faz sentir por momentos um odor de eternidade.

Um corpo que se habitua a mudanças é forte, está pronto para encontrar em si mesmo algo que nunca muda – a Sabedoria. Hoje estou levemente melancólico, talvez porque veja mais uma vez a mudança a chegar, e todo o mundo me pareça um enorme palco que muda de cenário para deixar entrar um novo acto.

Cada vez que se muda, cresce-se. É a minha convicção. Nunca sabemos na verdade se mudamos para melhor ou para pior, mas sabemos que parte da nossa aprendizagem, da nossa liberdade, reside aí mesmo, na capacidade de adaptação e sobretudo, de superação. Por vezes a liberdade não se obtém pela fuga, mas pelo mergulho sem temor no seio da batalha, onde os nossos braços saberão erguer a espada, e se tornarão mais rijos e fortes ao manejá-la. É pois assim que me sinto. É pois isso que desejo.

As minhas características, a minha covardia, as arestas que é preciso limar até a forma final, são pois as mensagens de Deus para que não tenha medo de sofrer a pancada do maço, e o desbaste do pincel. Estou aqui. Não há nada que não possa suportar, porque não há nada que me seja dado que não possa ultrapassar. O escultor sabe muito bem escolher a pedra que usa para criar, e nunca bate tão forte, ou desbasta tão fundo que possa quebrá-la. Pois é preciso erguer o olhar, e ir em frente.

Hoje estou triste, amanhã porém serei mais rico.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Metanóia - o livro




Muito me perguntam sobre o que entender por Metanoia. É visivel nas suas expressões que, à primeira vista, esta ideia só poderá ter surgido de uma mente um pouco demente, ou de um indivíduo sem significatica vida social. A verdade é que na sociedade de todos os dias - essa mesma onde somos solicitados a todos os momentos para as mais fúteis tarefas -, falar de espiritualidade e da mudança do mundo através de uma nova mundivisão, pode parecer digno de alguém que «anda sempre na lua», ou que ainda não «pousou na realidade» (é interessante o conceito de realidade que a sociedade economicista progressivamente instituiu). De facto as meras palavras pderão ser insuficientes para que se compreenda verdadeiramente o significado desta ideia. A Metanoia não pretende ser entendida por todos, porque não é uma ideologia de massas. Muitissimo pelo contrário. Há uma passagem de um dos evangelhos do Novo Testamento em que Cristo explica aos seus discipulos a razão porque fala em parábolas. É que a todos é dado ouvir, mas só a alguns é dado compreender. Isto é verdade, porque as grandes mudanças, duradouras e verdadeiras, só se dão ao longo de muito tempo, e progressivamente, através de uma mudança de mentalidade que não está aberta às massas, porque as massas nunca entendem até ao âmago da experiência. As massas querem guias que lhes dêem curas, feitiços, regras de conduta. Porém a verdadeira espiritualidade não pretende apenas ser entendida. Ela tem de ser vivida.
Perceber e evidenciar essa transfiguração de crenças é um espiral de compreensão ao alcance de muito poucos, cujo centro de gravidade se situa entre o factor testemunho, e o factor revelação experimentada. Como tal, cada homem iluminado é uma vitória; um degrau superado na direcção do novo mundo.


Metanoia, pág. 66, Cap. Pensementes


Para adquirir o meu livro de poesia Metanoia dirija-se a loja Bertrand do MaiaShopping, ou Almedina do ArrábidaShopping, ou encomende numa Fnac mais perto de si.

Pode adquiri-lo também enviando um mail com nome, morada, numero de telefone ou télemovel para info@corposeditora.com ou manotime@gmail.com

Mude a sério com o Novo Ano.

Ruben David