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quarta-feira, dezembro 07, 2011

Ora, e para dar o mote e preencher aquele vazio monumental na "Casa do Ser" - que estava em vias de se tornar a "Casa do Não-Ser", aproveito para publicar um artigo que escrevi no âmbito do mestrado. É sempre importante pensar o papel da educação em democracia e para a democracia, sobretudo em tempos de alguma confusão e até "asfixia" democrática...

Construção da Cidade - Educação ao serviço do Reino dos Fins


Obrigado.

sexta-feira, novembro 18, 2011

Porquê o Algo em vez do Nada? - uma metafísica do Sentido?




Esta pergunta radica numa estranheza: a estranheza do existir. Porque existe algo em vez de nada? Porquê e para quê a existência? Podemos colocar a questão nestes termos: "Porque existe tudo o que existe?". A existência de algo torna-se, então, para nós seres pensantes, problemática. Só a existência pode ser problemática. A não existência, o Nada, não pode ser problemático em si mesmo. O Nada só é problemático quando no seu lugar devia estar algo que não está. O Nada só pode ser problemático enquanto ausência, não enquanto presença. Dizemos das chaves do carro quando as perdemos "porque não estão onde deviam estar?". Noutras palavras, porque existe a ausência das chaves em vez das chaves? O Nada como presença não pode ser problemático. Perguntar "porque existe o nada em vez de algo?" seria já afirmar uma existência, portanto, deixa de fazer sentido perguntar o porquê de existir o nada. Isto é diferente de perguntar "porque existe a ausência de algo em vez de algo?". A ausência de um objeto não é o mesmo que nada. A ausência pressupõe preexistência. O algo existe, ainda que exista noutro lugar. O Nada é absoluto, o ausente é relativo. Ainda que o Universo deixasse de existir, e um ser infinito fosse capaz de se inquietar com a súbita ausência de algo - o universo -, o nada que subsistiria seria ainda assim mera ausência. Ora, perguntar "porque existe algo em vez de nada" não é o mesmo que perguntar "porque existe algo que é ausência de nada, e não nada que é ausência de algo?". Ou seja, ao perguntarmos porque existe algo em vez de nada, esta questão não nos surge da inquietação de nos depararmos com a ausência de nada que o algo representa. A não ser, contudo, que anteriormente ao algo tivessemos tido consciência do nada. Inquieto-me com a ausência das chaves que deviam estar em cima da mesa. Em vez de chaves no mesmo lugar tenho a ausência das chaves. Por outro lado, inquieto-me com a ausência do nada se em vez de nada encontrar a ausência do nada, ou seja, o algo - as chaves neste caso -. O algo como ausência do nada, o nada como ausência de algo. Se perguntamos "porque existe algo em vez de nada?" parece que nos inquieta que, em vez de nada, encontremos ausência de nada. Teremos nós, porém, memória do Nada? Memória do Nada implicaria que o Nada é algo, logo, não é possível, tanto quanto sabemos, possuir alguma inquietação relativamente à ausência de algo que nunca foi, nunca existiu. Assim, voltamos à questão:"Porquê algo em vez de nada?" Coloquemos a questão da seguinte forma: porquê existe 1 em vez de 0? A ideia de zero é semelhante em tudo à ideia de nada. Nada como nulidade, não quantificável, não mensurável. O cardinal "0" assim como a palavra "nada" são imagens, conceitos que designam a mesma ideia de nulidade, não mensurabilidade, vacuidade. Ora, penso ser legítimo afirmar que a ideia de "algo" não pode ser produzida a partir da ideia de "nada", mas antes ao contrário. O conceito de "nada" resulta do conceito de "algo". Dito de outra forma, é a partir da negação de algo que a ideia de nada surge. O nada é, portanto, não-algo, do inglês "nothing" (no thing (não coisa), do latim "nihil" (aquilo não existente). Do nada absoluto nada se pode dizer. Isto é o mesmo que afirmar que do Nada, nada pode vir a ser ou ter ser. Os cientistas e cosmólogos debatem-se com a eterna questão de como foi possível do Nada ter nascido o Tudo, e nem a teoria do Big Bang é capaz de lhe responder satisfatoriamente. A lógica, a exigência de coerência da mente humana considera impossível que do Nada absoluto possa ter sido criado algo, porque toda a causa tem um efeito e nenhum efeito pode brotar, como geração espontânea, de uma causa não existente, como um "motor imóvel" aristoteliano. Assim, a noção de Nada a que o senso comum deita mão deriva, em primeiro lugar, da noção de algo. A consciência da existência precede a consciência da não-existência. Assim, a questão cuja possibilidade procuramos compreender "Porquê o Algo em vez do Nada?" é, antes demais, um esforço por responder à questão mais essencial de "Porquê o Algo?", porque do Nada absoluto nada podemos dizer, não conhecemos, não temos qualquer experiência porque esta, simplesmente, não é possível. O Algo, a Existência surge assim, em si mesma, como um problema. Não como "existência enquanto mundo", ou "existência enquanto objeto". A existência enquanto objeto é problemática para a ciência. A Existência enquanto existência, enquanto possibilidade em si mesma, é problema mais profundo. Existência com letra maiúscula, e não com letra minúscula. Existência e não "existência de". Diriamos, noutras palavras e indo de encontro ao dito objeto da Filosofia, existência enquanto existência, ou ser enquanto ser. Porquê o ser ao invés do não-ser? Ora, se o Ser ou a Existência são em si problemáticos, a questão é agora a de saber se é ou não possível responder satisfatoriamente à questão, ou se a questão simplesmente não tem resposta. Toda a metafísica tem sido, ao longo da História, uma tentativa de responder a esta questão. Em todas as tentativas a resposta assenta na elencagem de modos de ser ou existir. A existência "diz-se" enquanto qualidade, quantidade, modo, substância, tempo, lugar, entre outros "modos de ser". Uns tomaram-no como essência, outros como substância, outros ainda como transcendentalidade do sujeito que conhece. Noutras palavras, para uns o existir está no mundo, para outros está em quem conhece. Para uns o que existe, existe fora do sujeito, para outros existe na medida em que o sujeito o conhece. A nossa questão porém não é esta. Por um lado, é a questão de saber se é ou não possível compreender o "que" é o ser, o que é a existência em si mesma, não enquanto modo de existir, e, por outro, "por-que" a Existência. Por um lado, o que é, mas antes de mais, porque é, qual a sua causa e finalidade. É, porém, uma questão que causa tanto mais estranheza quanto mais vezes nela se pensa. No sentido mais profundo, a questão colocada de forma introspetiva, no íntimo de cada um de nós, parece tocar no limite da razão, aquele lugar que situa na fronteira do que a razão é capaz, e o raciocínio lógico se suspende para dar lugar ao paradoxo. Aparentemente, a única coisa que podemos afirmar de forma coerente acerca da Existência é a de que só a Existência pode ser a sua causa, e não qualquer outra "coisa". A não-existência nunca poderia ser como já vimos. Quanto ao "que" é a Existência, o Ser, só podemos afirmar que é existência, é ser. A sua possibilidade consiste em existir, a sua essência consiste em ser. A Existência "é", a Existência "está". A sua possibilidade afeta-nos, tem impacto em nós, sugere-nos um absurdo, um não-sentido. A questão da Existência é ao mesmo tempo a questão do Sentido, porque só é para nós problemático aquilo cujo sentido não nos é claro. O seu Sentido, mais do que o seu Ser. A metafísica procura dar responsta ao Ser, mas não existe uma metafísica do Sentido, ou talvez exista uma ou outra tentativa existencial ou existencialista sempre voltadas para o humano, sempre introvertidas, e algumas até surgem como metafísicas do Não-sentido. Eu quereria ver uma metafísica do Sentido, do Sentido em si mesmo, enquanto possibilidade. A Existência é clara, o Sentido não, e é pelo Sentido que problematizamos a Existência. Para a razão humana, tudo o que é possui um sentido. O que é ou deriva do humano tem sempre uma "razão de ser" que é também a sua "finalidade". Fora do humano, tudo tem uma causa, e pela indagação acerca da causa o homem tenta desvelar uma finalidade. A Finalidade do Universo não é clara, e pode até não existir uma finalidade, ou até esta estar para além da nossa compreensão. A nossa questão, portanto, tem uma resposta. Estará porventura ao nosso alcance, ou para sempre fora dele. É uma questão que se situa no limite, na fronteira do paradoxo. A resposta relativamente ao Sentido é a resposta das respostas, cuja posse significaria o fim de todas as outras perguntas. É, portanto, uma daquelas questões que está no princípio e no fim do nosso caminho, uma questão a que chamo de tipo "alfa e ómega", que nos permite avançar no caminho, progredir, evoluir. A resposta talvez não passe de um conjunto infinito de muitas outras questões e talvez revele algo fundamental acerca do humano - a nossa existência é problemática e problematizante. O homem não vive sem colocar questões, e a sua insatisfação é a mãe de todos os males mas também de todos os bens. O caminhar em direção ao Sentido pode ser assim visto como uma questão ética sobre "como devemos viver".

sábado, outubro 08, 2011

Da especificidade da educação filosófica



A especificidade da educação filosófica está em devolver ao homem, em todas as épocas, independentemente do contexto histórico, social, económico ou político, o ónus da reflexão crítica, serena e universal acerca de si e da sua circunstância, da sua humanidade e das obras que são fruto da sua condição de “animal de projetos”. O projeto educativo da filosofia deve ser o de “religar”, não num sentido religioso e doutrinário – atitude nada filosófica -, mas no sentido de devolver ao homem uma perspetiva universal do conhecimento e da sua face mais utilitária – a técnica. O objetivo não passa por ensinar a fazer ciência, engenharia ou medicina, mas o de assumir uma postura desconstrutiva – que não é o mesmo que destruidora – perante o “saber construído” no sentido de fornecer instrumentos críticos que permitam, em todos os momentos, a compreensão global de um problema, um conceito, uma teoria ou um método. Não que o aprendiz de filósofo tenha de saber tudo acerca de tudo. Há séculos que a Filosofia deixou de ser ao mesmo tempo ciência da natureza, medicina, retórica, ou ética. O progresso do conhecimento nas diversas áreas conduziu-as à especialização e ao seu extremo – o isolamento. A insularidade das áreas da técnica e do conhecimento só poderia conduzir, em última análise, ao desconhecimento mútuo e a fragmentação do próprio humano. Assim, a especificidade da educação filosófica está em promover uma atitude fundamental, e não a aprendizagem de um corpo de conhecimentos mais ou menos científicos ou doutrinários. Essa atitude baseia-se em dois pilares originais – universalidade e radicalidade.

Universalidade sem radicalidade é universalismo; radicalidade sem universalidade é radicalismo. Noutras palavras, para assumir uma atitude crítica, racional e bem fundamentada, é preciso compreender o objeto que se crítica. É preciso ter uma ideia geral acerca do contexto em que se insere o problema/método/ideia, e do modo como esta se relaciona com outros problemas/ideias/métodos. Isto porém, não chega. Não passa de universalismo. É preciso radicalidade, e ser radical é “ir à raiz”. Em termos filosóficos, é preciso ir às “causas”, conhecer os “princípios”. Na mesma medida, a aprendizagem da atitude filosófica deve consistir num constante diálogo com a Origem, as bases do pensar filosófico que são, em última análise, os alicerces fundamentais onde assenta toda a estrutura da ciência e do pensamento hodierno. Tudo isto por uma necessidade de progresso, e a Filosofia não é inimiga do progresso, senão de um progresso estropiado, deficiente e unilateral. A educação filosófica, através do desenvolvimento de uma atitude desconstrutiva, crítica, radical, dialógica, aberta a todas as áreas de saber, tanto ao nível das disciplinas de pensamento sincrónicas bem como das suas congéneres diacrónicas, promove um progresso verdadeiramente humano, para que o homem na sua integralidade não perca o norte de si mesmo, não caia no esquecimento da sua humanidade em prol de uma qualquer outra entidade científica, política, ou de um ideal que vise o homem como um meio, e não como um fim.

sábado, setembro 24, 2011

O papel do professor e a relação entre educação e cultura



(Artigo escrito no âmbito da disciplina de Ética e Deontologia, Mestrado em Ensino da Filosofia)


Se partirmos de uma definição meramente etimológica, o professor é aquele que professa, ou seja, aquele que serve de veículo a uma doutrina, de um pensamento ou de um conjunto de ideias. Neste contexto, o seu papel é o de transmitir ao outro aquilo que este não sabe, não conhece, não professa. O professor é aquele que cultiva, que faz profissão, que se dedica a algo. Nas primeiras civilizações, muito antes de o professor se assumir como um profissional do ato de professar – ou ensinar se quisermos -, a educação e a transmissão de conhecimento eram exercidos pelos conhecedores do ofício que se pretendia ensinar. Não existia uma verdadeira separação entre o praticante, o artista, o filósofo, o profissional, e o mestre. Poucos tinham acesso a um verdadeiro “sistema de ensino integral”, pelo que estava bem diferenciada a aprendizagem e os seus vários contextos. Na Suméria, no Egipto ou mesmo na Grécia, a aprendizagem da escrita, dos elementos da matemática e da geometria, e de outros conhecimentos considerados “superiores”, não estava acessível a todos, mas apenas a uma elite considerada destinada a administração do estado, ou ao sacerdócio. Os restantes, o povo, estava limitado aos conhecimentos que os seus pais, os seus avós, os seus bisavós, iam eternizando de geração em geração, num processo de transmissão de conhecimentos práticos básicos, suficientes para garantir que o ofício dos antepassados seria praticado pelos descendentes, sem grandes expectativas de ascensão a um outro plano da hierarquia social, garante de uma ordem sancionada pelos deuses. Neste contexto, é legitimo afirmar que o processo educacional – se é que podemos falar assim – servia única e exclusivamente como garante da tradição. A sobrevivência de uma civilização, de uma cultura, a sua perenidade ao longo das eras, a sua supremacia cultural e política, dependia do modo como as novas gerações compreendessem e perpetuassem os costumes, tradições e mitos dos antepassados.

O advento da democracia grega foi acompanhado por uma democratização do processo educacional. Se cada cidadão de pleno direito era chamado, a certa altura da sua vida, a participar da administração da pólis, não se podia esperar que ele desempenhasse bem o seu papel sem um conhecimento elementar da escrita, da aritmética e da cultura gregas. Sabemos também da importância atribuída pelos gregos à cultura do físico, à ideia de “mente sã em corpo são”, à integralidade clássica do desenvolvimento do indivíduo. Integralidade essa da qual somos herdeiros ainda hoje. A importância da palavra, do verbo, a liberdade especulativa e política da Atenas democrática, criou as bases para o surgimento de “escolas”, não no sentido que atribuímos hoje, mas no sentido de movimentos cívicos, sociais, mais ou menos abertos, geralmente iniciados por indivíduos que se consideravam “sábios”, ou pelo menos “amigos da sabedoria”. Não estavam limitados por nenhum programa ou currículo estatal, nenhuma doutrina ou tradição. Ensinavam a “arte de bem falar”, especulavam acerca do mundo fazendo uso de argumentos mais ou menos naturais, traziam consigo conhecimentos geográficos e matemáticos que aprendiam nas suas longas viagens pelo mundo antigo, nomeadamente pelo Egipto, Pérsia e Índia. O contributo destes “filósofos” foi fundamental para a sedimentação de uma forma clássica de ver o mundo. É óbvio que a proliferação destes “mestres profissionais” pôs em evidência muitos charlatães e “demagogos”, tão denunciados por Platão nas suas obras. Claro que a democracia grega não era perfeita, e o caso Sócrates é disso exemplo, acusado de “corromper os jovens e negar os deuses da cidade”, mas em última análise podemos entender isto como uma reação à atitude de um homem que fez cair do pedestal da “sabedoria” muitos falsos sábios que, naturalmente, nutriram contra ele ódio e ressentimento. O que não significa que não fosse ele próprio uma espécie de demagogo… mas isso é outra história.

Hoje, o papel do professor e a importância da sua ação na cultura da sociedade, é em grande medida herança do advento da razão, dos direitos humanos, da conceção do indivíduo como dotado de direitos inalienáveis e, portanto, digno em si mesmo de ter acesso à cultura e de ser, ele mesmo, criador de cultura. A educação, vista como um processo de transmissão de conhecimentos diversos – científicos, filosóficos, técnicos –, bem como de desenvolvimento de competências, alargou-se e democratizou-se como nunca antes na história humana. A consequência foi a da necessidade imediata de formar profissionais da educação em grande número, e rapidamente, no sentido de “educar as massas”. O caso português, sobretudo no pós-25 de abril, é paradigmático das consequências de uma repentina democratização do processo de ensino. Apressadamente, foram colocados ao serviço milhares de professores para responder à necessidade de “educar o povo”, com prejuízo da própria qualidade do ensino. Tivessem as coisas sido feitas de outra forma, sem processos “revolucionários” mas com inteligência e espírito de serviço, e talvez a percentagem de analfabetos em Portugal nas vésperas do 25 de Abril de 1974 – oitenta por cento! - não fosse dramaticamente maior que a percentagem de analfabetos na Grã-Bretanha em finais do séc. XIX – que, já agora, se situava nos quarenta por cento - .

O professor é sempre, em qualquer época, um veículo de cultura, mesmo que se trate de uma “não-cultura”. É inegável hoje que a técnica, a vertente “profissionalizante”, a criação de capital – inclusive dessa coisa extraordinária chamada “capital humano” – define a orientação do sistema de ensino, dá-lhe corpo e justifica o que vem sendo feito até hoje nesta área. A integridade clássica está a perder-se, e o aluno já não é um “homem”, ou indivíduo, com tudo o que lhe está inerente, mas um futuro produtor/consumidor. Assim, quem perde é não só o aluno, como perde a sociedade, como perde a relevância social do professor, sobretudo os das chamadas “ciências humanas”, menosprezados como supostos promotores de “inutilidades” ou de “diletantismos” vários.

Neste contexto, o papel do professor deve ser o de desconstruir este estado de coisas. Já não se trata apenas de ensinar, ou de educar, mas de intervir até politicamente numa base crítica, de não-conformismo, para mudar este estado de coisas. É preciso também produzir cultura, numa sociedade desorientada, sem referências sérias de bases para além do imediato, do “útil” e das exigências dos mercados.

sexta-feira, setembro 09, 2011

Liberdade e consciência de si



Quando tomamos consciência de nós, já estamos no mundo. Tanto quanto sabemos, a nossa existência não deriva de um ato de escolha. Nenhum processo de decisão tem lugar, e em nenhum momento nos colocam a opção de não nascer. O estar aqui, o ser no mundo, não depende verdadeiramente de nós. Alguns, se a vida lhes corre de feição, se a existência lhes é fácil e pródiga em dádivas, talvez nunca se lembrem disto. O mais natural é aceitarem de bom grado esta condição sem colocarem questões. Outros, menos aventurados, sofrem calvários, e o caminho que lhes é colocado sob os pés é feito de espinhos e escolhos de diversa espécie. Estes, se a certa altura a chama da consciência neles despontar, poderão dar de caras com o absurdo e perguntar “Porque nasci se a minha existência é apenas sofrimento?”. Talvez aqueles que nunca viveram noutra condição, que sempre sofreram e não recordam outra forma de viver, cedam à força do hábito e não deparem com nenhum abismo entre o que é, e o que deve ser. Assim, nunca chegam a questionar o que lhes é dado. Para eles, estar vivo não implica necessariamente um estado de felicidade, nem se revoltam contra a vida se esse estado de beatude não se segue necessariamente ao ato de vir ao mundo. Um escravo que sempre foi escravo, poderá vir a aspirar ser livre?

Para aqueles que acreditam que a humanidade caminha no sentido da liberdade, há pois que perguntar onde se situa, ou em que consiste este gérmen de libertação. Povos houveram que se desenvolveram em torno de uma matriz cultural, que fundaram civilizações mais ou menos complexas, e que subitamente se viram escravizados e vencidos. A queda original é precisamente o movimento de perda de uma condição adquirida. A esses, o quadro da sua condição anterior constituído pelas justificações da sua dignidade como homens, passa a constituir o escopo da sua luta pela libertação, a condição original onde é mister regressar, o ómega da sua emergência da perdição. Para estes povos, a tradição é mais do que um elemento de agregação, mais do que um conjunto bonito de histórias, lendas e símbolos. É uma necessidade de sobrevivência. Consiste na memória que permitirá chegar ao fim do caminho, que dará aos mais jovens, aos que nunca viveram o “paraíso”, o significado da sua dignidade como homens e como povo, para que não esmoreça a luta. Assim nascem os mitos e os heróis de toda a espécie. A afirmação de um povo é pois a afirmação de um mito que dá consistência e motivação a um esforço de emancipação.

Os que procuram escravizar, estropiar a dignidade de um povo, submetê-lo a uma nova ordem, vêem-se por isso na necessidade de mutilar, em primeiro lugar, os pilares que justificam a sua existência – a tradição, os mitos fundadores, os seus rituais. É preciso mutilar a memória, gerar o esquecimento generalizado, para que os mais novos se desliguem dos justificativos da sua dignidade e, consequentemente, esmoreça a sua ânsia de retorno ao “paraíso”. Sem memória não há passado. Apenas futuro. Quando existe apenas futuro é fácil dividir e integrar. É também mais fácil manipular.

Porém, mesmo nas sociedades sem memória, nos povos estropiados de uma tradição que se vêem subitamente integrados numa cultura maior, há mínimos de dignidade de humana que não dependerão, penso eu, de uma tradição. São esses mínimos de dignidade que pede qualquer homem: direito à vida, liberdade e segurança. Mesmo o escravo sem memória, desligado dos feitos dos seus antepassados, sentirá revolta perante o carrasco que o vergasta por mero capricho, ou perante os que roubam o fruto do seu trabalho impedindo-o de se alimentar a si e aos seus filhos. A primeira luz da dignidade humana não é divina, não é revelada. É antes figadal, vem das entranhas e da revolta reprimida. É humana até às fezes. Porém, é inconsistente e não gera união se não encontra bases mais profundas – na tradição.

Assim, podemos afirmar que se não existe memória, é preciso encontrá-la. E a memória da Europa ocidental da idade média era sobretudo a memória da doutrina cristã, dos caminhos de Cristo, dos apóstolos e dos seus feitos. Seria, em larga medida e para a maioria dos homens, uma memória baseada num mito de servidão necessária para o merecimento da vida eterna. O reino não era deste mundo, mas do outro. Seria totalmente irrelevante, assim, lutar por uma emancipação em direção a um “reino” de liberdade anterior, político e concreto. Esse reino estava no céu, e cada homem seria um Adão expulso do éden pelo pecado original, que só retornaria a ele pelo sofrimento e pela virtude incondicional. A memória dos mosteiros, dos “scriptoriums” das abadias, era outra e bem diferente. Para quem tinha acesso aos gregos e aos seus escritos, aos romanos e ao seu direito, aos sábios muçulmanos tradutores do grego, aos filósofos cristãos e pagãos, a memória era outra, de outro tipo. E esta, era mister manter oculta pois significava o perigo da subversão. Noutras palavras, o perigo da emancipação do homem e um justificativo sólido para a sua dignidade.

Os oprimidos e os opressores sentiam no seu íntimo – de acordo aliás com os mais puros sentimentos cristãos – que a condição humana pedia outra atenção, outro espaço para se expandir e para ser. Não é por acaso que o renascimento europeu seja, ao mesmo tempo, a era do retorno ao pensamento greco-latino…e da reforma protestante.

Assim como um homem, a certa altura da vida, acorda do seu sono para ganhar consciência de si e do seu lugar no mundo, também a civilização tem o seu tempo e hora para acordar do seu sono e reaver a sua memória. Toda a civilização começa pela afirmação de si mesma, no caldo dos mitos. Progride no sentido da tradição, ou seja, na constante actualização da sua memória através dos ritos – que são precisamente atos no presente que servem para presentificar os significados do passado -, transmitindo o passado através da linha do futuro. Daí a palavra tradição derivar do latim traditio, ou seja, transmissão. A fase seguinte é da dúvida. A era da dúvida nas sociedades pode ser muitas vezes um tempo de criação, mas também de destruição. Pode ser um tempo de retorno ao passado, de reformulação de mitos, ou de invenção de novos. A última fase, diria eu, é o niilismo pessoal assente em mitos fundados no indivíduo. Uma nova idade média?

Isto em traços muito gerais.

domingo, agosto 14, 2011

Mitos europeus




O sucedâneo das crises que lentamente, progressivamente, angustiantemente, vão afundando a Europa, é revelador de outras crises mais profundas. Todos os dias surgem novos problemas, e para esses mesmos problemas surgem as mesmas já mastigadas soluções. Atingiu-se uma espécie de limite da teoria económica para além do qual não existe novidade. Os decisores europeus - e porque não também os decisores norte-americanos? - parecem ter esgotado as suas panaceias. As mezinhas da austeridade e dos discursos da "confiança" deixaram de surtir efeito, à semelhança de um antibiótico que já não destrói bactérias que entretanto se tornaram resistentes. Precisam-se de novos antibióticos, novas soluções. Depois, há sempre ideias que vão sendo veiculadas e depois reverberadas pelos políticos, mas que, se bem estudadas, não representam solução nenhuma.

Pois vejamos: criação de uma agência de rating europeia. Primeiro, não entendo a necessidade de criar uma agência de rating europeia quando elas já existem em muitos países da União Europeia, inclusive em Portugal, e talvez o importante fosse começar a dar-lhes mais atenção procurando quebrar a hegemonia das agências "clássicas". Segundo: a criação de uma agência europeia de rating representa uma exemplo típico de "batota". Pois, de que tipo de agência estamos a falar? De uma agência patrocinada pelos estados ou uma empresa privada? Num caso ou no outro, tenho dúvidas que os investidores lhe dessem algum tipo de credibilidade se ela apenas servisse para veicular as opiniões dos estados acerca de si mesmos, a da Europa acerca de si mesma. Terceiro: para quem está atento ao que se passa nos EUA, logo pode concluir que o facto de existirem várias agências norte-americanas não invalida que estas se virem contra o "dono". Nada nem ninguém impediu a Standard&Poors de baixar o rating dos EUA de AAA para AA+, mesmo depois de os responsáveis do governo lhes terem demonstrado que as contas em que se basearam estavam erradas.

Outro dos mitos é o dos chamados "Eurobonds", ou títulos de dívida europeia. De nada serviria ao BCE emitir títulos de dívida europeia se os estados europeus pudessem continuar a endividar-se individualmente, sem um maior controlo político de Bruxelas. Emitir dívida europeia implicaria mais federalismo, mais governança económica europeia, e até um orçamento europeu. A dívida teria de ser comum, partilhada por todos de forma igual, e por isso, não é de esperar que no actual estado de coisas os estados menos endividados aceitem partilhar o fardo dos mais endividados.

E isto digo eu, que não percebo nada de economia nem de finanças, nem consta que tenha biblioteca.


sábado, agosto 06, 2011

Reflexões sobre a Origem



A necessidade da Origem radica na absurdidade do Infinito. Na esteira de uma lógica clássica, todo o efeito tem necessariamente uma causa. Contudo, não é possível prolongar a cadeia das causas e dos efeitos ad infinitum. A "causa primeira", o "motor imóvel", a "causa não-causada", o agora sem antes. Pensar a Origem é como fazer vibrar a corda do paradoxo em tensão infinita. Perante o indeterminado, a infinitude, é o próprio juízo que se suspende, formatado que está pela regularidade clássica do mundo.

Do mesmo modo que transportamos nos núcleos das nossas células os vestígios remotos de um antepassado comum, transportamos igualmente a herança da Origem, gravada algures, subtilmente, no ser que somos. Existiram, porém, muitas origens depois da Origem. Muitos começos. O passado está cheio de começos. Hoje mesmo, muitas são as possibilidades que se abrem a novos futuros. É possível que a compreensão da Origem do Tudo esteja inacessível ao entendimento humano. É provável que os "big bang" de hoje não passem de teorias acerca da origem de qualquer coisa diferente da Origem, meros fenómenos de continuidade. Pode-se aventar que o universo - o "nosso" universo -, esta dimensão de espaço-tempo, não passa de um estertor final, a manifestação do fim de qualquer coisa, destroços projectados de um cataclismo escatológico, e não expressão de um princípio. Também é legítimo pensar o contrário... Talvez o Tudo não passe de uma excepção à regra - o Nada. Um efémero desiquilíbrio na malha do Equilíbrio.

Dito isto, proponho que toda a Física não passe de física de partículas. O comportamento manifesto do universo talvez não passe de uma expressão de um comportamento mais subtil e elementar - o das partículas mais simples. Diria que a física dita clássica ou relativista talvez não passe de um véu de Maya, uma construção maior mas mais instável e grosseira, cujo fundamento está na física mais simples e estável das partículas mais elementares. Assim, será legítimo afirmar que a história da Origem é a história de como as partículas elementares vieram a ser o que são.

Pois, imagine-se que as partículas elementares são cartas de um baralho. A sobrevivência de tais partículas, num universo primordial, dependeria em larga medida de uma organização, uma coesão estável entre as mesmas. À semelhança de um castelo de cartas, as partículas estariam ameaçadas constantemente pela destruição, pelo caos desorganizador, por uma anti-força, ou seja, uma potência que se oporia à sua organização e complexificação. No caso do castelo de cartas é a gravidade, sempre pronta a tirar partido da fragilidade da sua estrutura para a desmoronar. No caso das partículas elementares, chamaria anti-força. Toda a organização é, portanto, um combate constante em sentido contrário a uma força caótica, fragmentadora e aniquilatória. Podemos construir um castelo de cartas até um certo ponto em que a gravidade vence e ele desmorona-se. Podemos aventar que, no princípio, as partículas organizaram-se fragilmente, nunca logrando um maior nível de complexificação, incapazes de vencer esta anti-força. Algo, porém, conduziu-as a uma complexificação da sua organização capaz de um equilíbrio mais estável. Eis que surgem os primeiros núcleos atómicos, os primeiros protões, electrões, fotões e, numa outra fase, átomos.

Cabe aos físicos e matemáticos dar expressão matemática a estas reflexões.

quarta-feira, julho 06, 2011

A irracionalidade consagrada



Começa a ser fatigante. A dependência dos Estados, sobretudo dos mais endividados e politicamente mais fracos relativamente às poderosissimas Moody´s, Fitch e Standard & Poors, é sintoma da irracionalidade crescente do sistema económico-político. Dá que pensar. Os estados democráticos estão constantemente sob uma espada de Dâmocles que, a qualquer momento, pode desabar sobre as suas cabeças, remetendo o que resta da sua credibilidade externa perante os investidores para o "lixo". Lixo, pois, é o que representa hoje a credibilidade de Portugal. Num mundo cada vez mais dominado pela especulação, pelo comércio de tudo, pela desinformação e pela competição desenfreada que tudo legitima, é no mínimo de bom senso que os governos - se é que ainda resta algum vestígio de poder político efectivo - se esforcem por compreender o que está por detrás dos "mercados", das agências e dos seus critérios de análise de duvidosa cientificidade. Compreender e, já agora, regular. Não ponho em causa o mercado, o sistema dito liberal ou capitalista. Ponho em causa os defeitos e vícios que o minam lentamente, gerando novos poderes, oligarquias e plutocracias que fogem a todo e qualquer controlo político e democrático. Isto não é aceitável. Não é aceitável que a "ansiedade" e a "delicadeza" emocional dos mercados subvertam a "razão" dos estados que é, como quem diz, o primado da Lei (é verdade! Já se fala hoje nos aspectos emocionais dos mercados financeiros, como noutros tempos era imperioso considerar as emoções e os estados de espírito dos soberanos absolutos, quando o poder ainda era um capricho e não uma expressão de um dever de serviço baseado no Direito). Talvez não precisemos já de políticos, economistas e técnicos de finanças, mas de psicólogos! Não existem receitas práticas, e o valor dos acordos e da bilateralidade dos estados entre si, ou dos estados entre as associações de estados, periga hoje em detrimento da consagrada imprevisibilidade do sistema, fundado cada vez mais na irracionalidade da especulação. Portugal assinou um acordo com instituições internacionais para não se ver subitamente desarmado, expropriado, incapaz de cumprir os seus compromissos internos e externos. Nestas circunstâncias, é o próprio estado que está ameaçado na sua existência. Está em causa a coesão de uma sociedade, e o equilíbrio entre a ordem e a anarquia. Isto é muito sério, e não pode estar dependente de factores "emocionais" que subvertem a letra da lei.

A questão é simples: ainda que Portugal cumpra escrupulosamente os seus compromissos, não existe nenhuma garantia de que a sua credibilidade recupere a ponto de voltar daqui a três ou quatro anos a tomar o seu lugar nos mercados financeiros. Nesse caso, o nosso país poderá acabar como uma Grécia, no fio da navalha da desagregação, no limbo do colapso social e económico. Porquê? Porque os "emocionais" mercados não reagem, resistem e aumentam a pressão. E a Europa e o primado da Lei? Dificuldades, silêncios, meias palavras. A solidariedade quebra-se perante os cordelinhos do poder efectivo, oculto nos corredores das instituições europeias, nos governos e na interdependências das dívidas.

Fala-se muito em criar uma agência europeia de rating para contrariar a influências das agências norte-americanas. Toda a gente já percebeu - ainda que muitos responsáveis governativos europeus tardem em perceber - que existe uma agenda oculta dos investidores norte-americanos para destabilizar, destruir, enfraquecer o Euro. Neste sentido, é fácil concluir que não existe nenhuma boa vontade por parte desses mesmos investidores na recuperação das economias periféricas do euro. Assim, é difícil de entender que se continue a dar alguma credibilidade que seja aos ratings das agências norte-americanas e não se ponha em acção, desde já, um plano europeu de clarificação dos critérios de análise postos em prática por estas. Não podemos esquecer que estamos a pagar, temos contratos celebrados com estas agências. No caso português, estão destinados 9 milhões do Orçamento de Estado, todos os anos, para pagar os serviços destas agências. Seria de exigir, no mínimo, que cada descida ou subida de rating fosse acompanhada de uma fundamentação criteriosa. Que métodos, que critérios científicos, que dados considerados para a análise. Os estados deviam exigir essas informações, e não aceitarem passivamente o "julgamento" destas agências. Para tal, os estados deveriam poder recorrer à concorrência. Não falo propriamente da existência de uma agência de rating europeia, mas de recorrer às que já existem! E, é um facto, existem bastantes por toda a Europa, inclusive em Portugal. Seria justo pedir mais que uma opinião, como se faz com os médicos. É necessária maior transparência, concorrência e objectividade nas análises. Não precisamos de mercados "ansiosos", mas de rigor, objectividade e critérios científicos (na medida do possível e tendo em conta, como é óbvio, os limites dos métodos e da objectividade científica quando falamos em economia). Ou isso, ou talvez seja preferível rescindir unilateralmente esses contratos. Talvez não fiquemos muito pior..

O sistema é absurdo, e a sua irracionalidade reflecte-se no fenómeno designado por "profecia auto-cumprida". Portugal está num caminho que se pretende que seja o da reabilitação. A sua recuperação depende da credibilidade que mês a mês, ano a ano, venha a merecer dos investidores, ou seja, de quem nos empresta dinheiro. Contudo, os mesmos diversos prognósticos de rating que fizeram subir os juros e nos empurraram para a ajuda externa, afirmam hoje nas suas análises que é muito possível que Portugal venha a pedir uma segunda ajuda por vir a estar, no futuro, em risco de não cumprir o primeiro acordo. Ora, precisamente a divulgação deste tipo de análises, associada a crendice dos investidores nas mesmas, conduzirão muito provavelmente a concretização deste tipo de "profecias".. Isto aconteceu muitas vezes, e vai continuar a acontecer, num ciclo vicioso cujo epilogo poderá bem vir a ser a desagregação da zona euro, ou, como quem diz, da Europa.

Porém, a culpa não deve morrer solteira. Os estados durante anos, mercê de más governações sucessivas e sem visão de futuro, puseram-se a jeito. Sofrem hoje as consequências das decisões apressadas, do adiar de reformas estruturais fundamentais de médio e longo prazo. Isso, porém, é outra história.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Abstenção não é solução - votem na sondagem

Caros amigos/conhecidos

Aproximam-se perigosamente mais umas eleições presidenciais. Nas últimas décadas temos assistido a um aumento significativo, exponencial, da abstenção. Torna-se preocupante, ainda que seja compreensível visto que o descontentamento com os políticos e a política está a crescer. Contudo, não se explica esta aumento apenas com o descontentamento. Descontentamento é ainda interesse, mesmo que interesse desiludido e gorado pelas circunstâncias. O problema está sobretudo no desinteresse e nas generalizações fáceis que a grande maioria da população vai fazendo. "São todos iguais", "É tudo a mesma m..." Etc. Etc. Na maioria das vezes reflectem apenas desculpas fáceis de sofá para justificar a falta de interesse pela "coisa pública". Reflectem também uma forte iliteracia política que mais não é do que a manifestação de uma iliteracia mais alargada. Reflecte também uma falta de respeito cívico pela instituição do voto, instituição que foi conquistada através do sacrifício de alguns - muitas vezes da própria vida e liberdade - em prol de muitos. Contudo, o problema está em que hoje a cidadania não é conquistada. Ela vem naturalmente com a idade, como se fosse uma manifestação púbere qualquer que surge aos 18 anos. Uma cidadania que não é conquistada não é valorizada. Infelizmente é essa a verdade.

Quanto à abstenção, em que medida pode ser uma solução? Que legitimidade tem um governo ou um presidente quando eleitos apenas por 30 por cento dos votantes, tendo em conta que o universo total de votantes representa no máximo 10 por cento da população? Quando nos abstemos, estamos ou não a permitir que sejam os outros a escolher por nós?