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segunda-feira, junho 08, 2009

Vitória a saber a social-democracia



A vitória do PSD era tudo menos previsível, sobretudo naquela dimensão e contra a maioria das sondagens. É óbvio que estas eleições capitalizaram todo o descontentamento contra o governo e a sofreguidão de quatro anos de reformas duras, anti-corporativas, pouco concertadas e, quase todas elas, inacabadas. Nunca um governo teve um desgaste tão grande em quatro anos! Parece que Sócrates já está no governo há 8 anos, parecem ter já passado dois mandatos consecutivos, tal é o desgaste que a sua imagem tem levado perante a contestação social, dos professores, dos agricultores, das polícias. A imprensa tem também a sua quota de responsabilidade no cartório, empolando, reavivando, trazendo a lume suspeições, freeportes, casas da beira, licenciaturas mal amanhadas ao domingo, primos amantes de kung fu. É caso para dizer que a imprensa livre não dá descanso ao primeiro-ministro! Por um lado, é esse o papel da imprensa independente numa democracia saudável. Por outro, é preciso ser de aço para resistir às investidas e a um escrutínio tão rigoroso.

Um percentagem de 63 por cento de abstenção é só por si uma vergonha, e não abona em nada a mudança que se pretende para Portugal. Contudo, daqui é possível fazer uma análise para as legislativas. Se tivermos em conta que em relação à esquerda e ao seu eleitorado tradicional, pouca ou nenhuma abstenção existe (e com esquerda quero significar desde a CDU ao PS, passando pelo BE), seja pelo facto das suas máquinas partidárias serem melhor oleadas, ou de haver um certo sentido de dever e militarismo que não existe no centro, ou mais à direita, é bem possível que, a existir uma menor abstenção - como é de esperar - nas legislativas, o PSD e o CDS poderão não só manter, como subir nas intenções de voto, o que já torna o cenário da vitória do PSD nas legislativas possível, ainda que sem maioria absoluta. Será, quase certamente, a reedição da coligação PSD/CDS de há alguns anos. Será mau? Será pelo menos preferível ao caos de uma vitória minoritária do PS. O PS está sozinho, não tem aliados nem parceiros a quem recorrer. Nem o BE nem a CDU se querem deixar contaminar com uma possível parceria pós-eleitoral com o PS. São demasiado diferentes, e exigiria de Sócrates uma viragem de leme que se advinha radical. Seria coligação de pouca dura. Com o CDS? Nos tempos de Soares e Freitas do Amaral, não deu resultado. Daria agora? Com o PSD? Bloco Central? Talvez fosse mais plausível, sobretudo em pontos chave como a justiça, mas também me parece uma parceria difícil, talvez condenada à partida. Uns querem obras públicas, outros não. Estilos diferentes, práticas diferentes, mundos diferentes. Sócrates não está habituado a partilhar, não é o seu estilo. Provavelmente, perante uma minoria ou a necessidade de acordos vastos, eu até acreditaria que Sócrates apresentasse a demissão. Num país como o nosso em que a oposição, salvo raras excepções, é irresponsável e conflituosa, dificilmente um governo minoritário sobrevive. E do que o país precisa é de estabilidade e de um governo capaz de levar a cabo reformas até ao fim. Isto é muito importante: até ao fim. Precisamos de mais serenidade, de responsabilidade e coragem. Precisamos de aprender a ter objectivos comuns, e todos os intervenientes a nível nacional, desde a imprensa (pública ou privada), às empresas, às instituições, à própria sociedade civil, têm de aprender a cooperar e a remar para o mesmo lado, em vez de cada um puxar a brasa para a sua sardinha numa conflitualidade sem fim.

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