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sexta-feira, junho 06, 2008

Agricultura Non Grata - quando teremos de plantar o que comemos?

Foto Público On-Line - Cidadão inglês cultiva horta caseira

A crise alimentar deve-se também, em parte, ao abandono da agricultura. O centro de gravidade das sociedades derivou do rural para o urbano, e a agricultura deixou de ser para quase todos, um futuro desejável em termos vocacionais.

A economia de mercado e a crescente dependência da UE e das suas prerrogativas federais impõe que o cidadão europeu, mais do que produzir, consuma. Para produzir existem cotas estritas de mercado que não podem ser ultrapassadas, havendo risco de não haver mercado para os stocks e os preços descerem abruptamente. Há cotas para a agricultura, para a pesca, enfim, para um sector terciário cada vez mais frágil e mal visto.

Um país que tenha a veleidade de querer ultrapassar estas prerrogativas e se preste, como uma Inglaterra patriótica e de longa tradição democrática, a fomentar o cultivo nacional e o consumo também nacional, é de imediato acusado de proteccionismo de mercado como se tal método fosse um papão a abater. E é de facto um papão para os grandes grupos que possuem o monopólio dos mercados, porque se um país produzir tudo o que precisa é lógico que não vai comprar fora. É uma das desvantagens de pertencer a uma União de Estados, o facto de tal união implicar forçosamente o incremento das dependências.

É isto que falta a Portugal, um verdadeiro sentido patriótico como o que levou os ingleses em plena Segunda Grande Guerra a atender ao apelo do necessário esforço de contenção que impunha racionamentos dos então escassos recursos. Um apelo que levou os cidadãos comuns a plantar as suas pequenas hortas caseiras, à semelhança do nosso amigo na foto.

Infelizmente em Portugal sempre se fomentaram dependências. Em várias épocas da nossa história sempre preferimos depender, ir para fora para enriquecer, trocar géneros como o vinho por textéis, viver subsidiados e raramente contrariados. Entrar para a UE também nos satisfez um pouco esta vontade de subsidariedade. Os fundos estruturais que de lá vêm fresquinhos de tempos a tempos sempre nos souberam muito bem. A emigração em massa para França, Suiça, EUA, contribuiram também em parte para o abandono das terras e do cultivo, em parte por causa de um regime não muito libertador e, sobretudo, pouco interessado em libertar o povo de uma ignorância quase crónica. Os anos de colonialismo também contribuiram para tirar o brilho ao nacional e alimentar o mito de que, lá fora, é que se podia de facto enriquecer. É verdade que muitos enriqueceram, mas entretanto no país real, aquele de que hoje somos herdeiros, os campos iam ficando abandonados ao tempo e às silvas, a produção nacional foi sendo encostada para canto como recurso secundário, sempre secundário e nada interessante.

Enfim, quando teremos também de pegar nas sacholas e começar a plantar aquilo que comemos?

Segundo um interessante site chamado Lusotopia, Portugal possui 38% de floresta. 93% pertence a privados, mas para que fim são utilizados os recursos florestais? Celulose, sempre celulose, eucalipto à fartasana para papel. Agricultura? Pouca. Diz também que neste momento só 5% do total da empregabilidade é na àrea agricola. Sintomas a diagnosticar...

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