Anúncios google

quarta-feira, novembro 22, 2006

pseudo-espiritualidade

Muito se fala hoje de espiritualidade e exercícios espirituais. É como uma nova moda, em que abundam as práticas, os métodos, os modelos a seguir. A óptica do seja feliz é hoje um produto de venda fácil ao alcance de qualquer um. A verdade é que já ninguém admite instituições que imponham uma determinada espiritualidade, e a apelo tipicamente ocidental à supremacia do indivíduo passou a fazer parte também dos métodos ditos espirituais. É um pouco a ideia do faça vossa mesmo, sirva-se, como se o ser feliz fosse como ir ao supermercado escolher o produto mais barato, ou de melhor qualidade, desta ou daquela marca. As várias técnicas, muitas derivadas de técnicas orientais (muitas vezes deturpadas), prometem todo o tipo de Nirvanas possíveis, serenidade, calma. Prometem melhor rendimento no trabalho, mais dinheiro, mais amizades e melhores. Prometem libertar-nos dos medos, dos traumas, limpar-nos os chacras, fazer da nossa casa um ninho de energia positiva. E de facto parece tudo tão fácil! É só ir à prateleira da secção Espiritualidades, e está lá tudo. Ou então dois ou três meses de Reiki, ou Yoga, ou tudo ao mesmo tempo num sincretismo de última hora, ao jeito dos modelos de automóveis! A busca da transcendência deixou de ser difícil e tortuosa, aberta apenas aos que se dispõem a abnegação e ao sacrifício, para se tornar uma filosofia de vida ao serviço de um tipo de felicidade tudo menos espiritual. Nenhuma pessoa devidamente votada a uma prática realmente espiritual fá-lo porque quer mais dinheiro, ou mais sucesso no trabalho. Não é para servir uma sociedade assim individualista, que a espiritualidade existe. Toda a prática dita espiritual torna-se puramente exterior e fugaz quando não tem como fim ideais maiores de justiça, igualdade, fraternidade. A sociedade democrática liberal de que fazemos parte aprendeu a relegar para segundo plano toda a prática religiosa. O civil sobrepõe-se ao religioso. Aprendemos que há religiões que são autênticas filosofias de vida, porque não estamos habituados a viver a espiritualidade quotidianamente, até ao mais ínfimo pormenor da nossa existência ao jeito de um hindu ou um muçulmano. O budismo é tão filosofia de vida como o Cristianismo. A diferença está em viver ou não a religião que se abraça. Não há budistas nem hindus só ao Domingo (de manhã), mas todos os dias e a todas as horas. E o mesmo se aplica à maioria dos muçulmanos.

A espiritualidade em voga na sociedade ocidental de hoje está menos ao serviço de um aperfeiçoamento verdadeiro do espírito do que ao dos próprios interesses económicos de que deriva. Não se faz yoga ou reiki, ou budismo para se um ser humano melhor. Não se lê Depkap Chopra, ou o Código Da Vinci porque de facto liberte. Lê-se porque o fosso espiritual é tão grande, o vazio de ideais tão agravado por anos e anos de positivismo infundamentado e idolatria do Lucro, que a necessidade do homem light é prover-se de um apoio qualquer que torne a sua vida mais significante, no meio da insignificância e do atordoamento geral do sem-sentido.
A espiritualidade verdadeira é outra, e essa exige sacrifico, abnegação, aperfeiçoamento da sensibilidade, do amor aos homens e à Verdade. Todas essas pseudo espiritualidades são perfeitamente válidas se assentarem numa vontade verdadeiramente sentida de mudança, aperfeiçoamento; se forem instrumentos de procura do caminho do Ser, e não do Ter; se nos levarem a uma redescoberta de nós mesmos e da nossa posição no Universo; se de facto servirem o altruísmo e não o egoísmo. Assim, aprende mais quem larga tudo para correr em busca de quem já não tem forças para lutar, do que quem atropela um velho no passeio porque já vai atrasado para a aula de tai chi…Fico mais enriquecido a ler a biografia de um Gandhi, do que toda a obra do Osho

Sem comentários: