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quarta-feira, agosto 27, 2008

Humanidade - Mudança - Futuro




















O que podemos e devemos esperar do futuro da humanidade, senão transformação? Se realmente acreditamos nessa coisa incerta a que chamamos futuro, não será urgente mudar qualquer coisa de forma duradoura? Nesse caso, o que mudar, e como mudar?

Talvez para muitos não seja preciso mudar nada. Há muito quem – aparentemente – esteja tão satisfeito com a sua vida que não lhe surja como prioridade imediata a mudança. Só que noventa por cento da Humanidade não está satisfeita com a sua vida, seja porque passa fome, porque esteja doente ou porque viva um dia-a-dia de opressão e sofrimento. Sim, talvez mais até do que noventa por cento… Há os que declaradamente sofrem com isso, os que declaradamente vivem na fome e na pobreza, os mesmos que vemos expostos nos telejornais, de barrigas hipertrofiadas e moscas a passear como que prenunciando a morte nos seus corpos fragilizados. Há os que declaradamente são espancados, enjaulados, censurados e mortos politicamente por forças que os ultrapassam e não vêm com bons olhos a subversão e o pensamento diferente. Há as pequenas nações sem «interesse estratégico» ou, pelo contrário, com demasiado «interesse estratégico» que são invadidas, anexadas, estropiadas por países de carisma superior, em nome de valores como a «libertação» ou a «democracia», e quantas vezes com o beneplácito de quem interpreta o direito internacional a favor de interesses obscuros. Há quem sofra declaradamente, e há quem sofra calado. Há quem viva oprimido 24 horas por dia nos países ditos do Ocidente; há telhados que escondem prisões e opressões sem precedentes, lentas decadências e auto-destruições que, mais que físicas, assumiram um carácter psicológico. Há quem esconda a pobreza por vergonha, e há quem se auto-censure e não faça valer os seus direitos para não perturbar pequenos interesses ou até um hipotético futuro. Há quem tenha medo dos tribunais e da justiça, em vez de encontrar nela o seu maior aliado e garante de liberdade. Há quem não acredite nos seus governos e no futuro, e prefira canais menos próprios para encontrar uma vida mais digna materialmente, nem que essa tal «dignidade material» implique passar por cima da dignidade que importa de facto… Há crianças que crescem e vêem os seus sonhos mortos à partida, a sua criatividade enjaulada em ditames de moral e educação que visam torná-las «aptas para o mercado» e não seres humanos no verdadeiro sentido do termo. Há idosos que se riem perante as ilusões de uma sociedade que aumentou a esperança média de vida, enquanto salivam para uma babete e ajeitam os seus corpos cansados em cadeiras de rodas, atirados para a solidão dos lares ou do abandono familiar. Há quem trabalhe uma vida e no fim não seja reconhecido.

Há criminalidade a aumentar de dia para dia. O desplante para cometer os mais hediondos crimes; um desrespeito absoluto pelo ser humano e pela dignidade deste vai devagar tomando lugar no coração das pessoas. A relatividade de valores que deixaram de ser referência, a «morte de Deus» que significa cada vez mais a morte da moral, a publicidade de uma rebeldia instituída nas televisões, no cinema; a tecnização da vida, a deificação da tecnologia e do útil, atirando as humanidades para um gueto de morte; a violência latente no descontentamento e no desenraizamento das pessoas, das comunidades, da vida; o barulho, a frenética correria pela felicidade empacotada e com livro de instruções; a competição e um individualismo cerrado fomentado pelo mercado…

Não sou nem serei última pessoa a fazer tais diagnósticos. Tornou-se praticamente senso comum.

O futuro da humanidade só pode passar por encontrar uma ética fundamentada de tal maneira que possa ser compreendida e respeitada por todos. O medo não pode de modo algum voltar a ser o tal fundamento, como em tempos as igrejas com o seu poder e sapiência fizeram valer o seu poder de controlo das massas. Não é pelo medo de ir parar ao inferno que o homem se superará e será moralmente irrepreensível. Não é pelo castigo subliminar que o homem será Homem, mas por qualquer coisa diferente. Com isto entenda-se que não falei de Deus, nem sequer de religião, mas de igrejas humanas e instituídas. O futuro da humanidade só pode passar por uma mudança clara de mentalidades, uma superação de todas as ignorâncias para que não haja equívocos quanto ao significado de Liberdade. O homem, político, cidadão comum, pai, mãe, carpinteiro, médico, professor, terá de aprender e viver segundo esta ética, estando completamente despido de ignorância, obscurantismo, eternamente crítico do mundo mas ao mesmo tempo humilde o suficiente para compreender que não possui a verdade, apenas a procura. Tem de ser um homem livre – ou talvez apenas deva -, livre de si mesmo, consciente das suas fraquezas e limitações, consciente da sua dignidade, duro o suficiente para defendê-la, flexível o suficiente para evitar conflitos. Talvez o homem do futuro deva compreender que é errado olhar demasiado para o chão esquecendo que, por cima de si, existe um imenso céu.

De onde pode vir a mudança? Há quem diga que de fora. Legislar, alterar os regimes e instituições será o caminho. Será? As pessoas mudam a sua forma de ser estejamos num regime comunista ou capitalista? Deixará de haver crimes, maldade, egoísmo, se houver mais prisões e penas mais pesadas?

E se a mudança vier de dentro?

3 comentários:

Anónimo disse...

A Mudança é como a Luz...
Todos a buscam exteriormente a Si.
No entanto, ela está à nossa mão, bem dentro de Nós.
Para isso, basta apenas que tentemos conhecer-nos a nós próprios.
Da nossa Luz, tudo nasce... O próprio desejo de ajudar a Mudar, a Construir, a Criar...
Adorei... como sempre
Mãe

Anónimo disse...

O texto está muito bem escrito, parabéns pela forma! Em relação ao conteúdo, já te perguntaste: Quando é que as coisas foram diferentes? Ao longo da história profetas do mau agoiro dizem-nos que o fim do mundo só pode estar a chegar porque os jovens não respeitam os pais, os políticos são decadentes, a criminalidade aumenta e outros males idênticos afligem as sociedades (já desde o Sócrates, Platão e outros que tais; o Eça de Queiróz tem mesmo uma passagem deliciosa acerca disto n' Os Maias). Nada de novo aí portanto. Que a injustiça social existe é óbvio. Que a solução para a fome, a guerra, etc passa pela redistribuição de recursos é óbvio. Mas estamos mesmo preparados para que toda a gente tenha as mesmas oportunidades? Estamos preparados para pagar o preço desta igualdade? De abrir mão dos "falsos deuses" do consumo? Estás tu preparado para o fazer? Escrever e falar é fácil. Fazer é que é difícil!

Anónimo disse...

quando se considera idoso, uma pessoa cheia de experiencia de vida, e que ainda muito tem para dar, apenas devemos reconhecer que esta sociedade tal como a conhecemos tem os seus dias contados. Ainda alguém dúvida que a natureza se encarrega das coisas?