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terça-feira, fevereiro 19, 2008

Perspectivas de uma Entrevista

A entrevista de ontem (dia 18 de Fevereiro) pareceu-me esclarecedora. Todos sabemos da tendência natural que o nosso PM tem em apimentar ou adocicar o discurso, tornando-o naturalmente permeável e maleável.

No entanto, não me parece que tenha sido uma «sessão de propaganda», nas palavras de Vasco Pulido Valente. Parece-me sim que o PM tem um bom conhecimento das problemáticas do país, jogando com aquilo que sabe com alguma destreza, e sempre pincelando as palavras com uma dose reforçada de confiança. Acho porém que ele peca por se auto-elogiar em demasia.
Ficava-lhe melhor uma certa contenção, mas também acredito que quando se é enxovalhado pela imprensa e opinião pública em geral, tem-se uma natural propensão para o auto-elogio como forma de defesa. Pareceu-me notável que a certa altura da entrevista ele tenha admitido que se viu forçado a quebrar uma promessa eleitoral, ou seja, não aumentar o IVA. Fê-lo por uma questão de responsabilidade, na mesma medida em que terá quebrado a promessa do referendo ao tratado/constituição. Não acho que seja «imoral» quebrar uma promessa eleitoral quando as circunstâncias mudam e a realidade o exige. O que para mim é imoral é fazer promessas quando se sabe ou se desconfia que não será possível cumpri-las. Aí entra uma boa dose de propaganda à qual os políticos não resistem ou inibem de utilizar.

A verdade é que este governo tem actuado. Erros todos cometem, sobretudo quando não sabem dialogar, mas Portugal esteve parado durante muito tempo, foi-se deixando levar por sucessivos governos sem capacidade ou noção da realidade. Este governo pode ter um PM propagandista, mas talvez tenha sabido rodear-se de gente competente que vai actuando nos bastidores. Cavaco terá dito há alguns anos - não me recordo se terá sido no famoso artigo sobre o monstro ou noutro qualquer – que haviam reformas que deveriam ser postas em prática o quanto antes, caso contrário «haveriam mortos e feridos». Ora, se há já 7 ou 8 anos essas reformas tardavam, parece que agora elas não só tardam como têm de ser feitas à pressa porque o mundo não espera. Há dificuldades, há resistências naturais aos processos de mudança rápida, mas há uma aura de inevitabilidade que reside no facto de vivermos num mundo cada vez mais global e competitivo. Não é de modo algum o meu projecto de Utopia, mas é o mundo que temos por agora. Do que gostaria era de ver a oposição a apresentar propostas de método, e não tanto de política concreta. A política ou as políticas, grande parte delas serão de facto necessárias, mas talvez os métodos não sejam os mais adequados. Além de que gostaria de ter visto a oposição a dar propostas concretas sobre como baixar o défice em 3 anos sem pôr em causa importantes serviços públicos ou aumentar os impostos, o que me parece virtualmente impossível. É que havia compromissos concretos que Portugal havia assumido, e um deles consistia em baixar o défice para 3 por cento, caso contrário o nosso país seria avultantemente multado. E é verdade que sem contas públicas na ordem o Estado não pode de modo nenhum criar políticas sociais. Não só não pode como é irresponsável, ao contrário do que o PC acredita. Portugal é diferente da Finlândia, isto gostaria eu que percebesse o nosso PM. As pessoas são diferentes, mais quentes e menos propensas ao trabalho racional, frio e organizado. A par das disciplinas de engenharia técnica que o nosso PM frequentou na Independente, deveria ter também frequentado Cultura Portuguesa.

Sócrates disse numa entrevista a uma revista francesa que «um político só pode contar com a sua própria vontade». Parece-me verdade, sobretudo quando a opinião pública é volátil como uma nuvem. Num dia somos bestiais, noutro bestas. É assim a vida. O que se pede de um lado e do outro é sempre a mesma coisa – sensibilidade e bom senso.

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