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domingo, fevereiro 10, 2008

Cosmos, para onde vais?


Desde tempos imemoriais que o homem levanta a cabeça em direcção à abóbada celeste, e para ela remete tudo o que há de divino e, por consequência, ordenado e perfeito. O facto de estarem «em cima» elevou os astros à posição de deuses e ou mensageiros destes. Provas recentes demonstram que, muito do que chamamos de «antiguidade», muitos dos monumentos e vestígios que hoje ainda resistem à força devoradora do tempo, são uma espécie de hino ao céu numa tentativa de reescrever na Terra a estrutura celestial entendida como «perfeita e divina». O conjunto das pirâmides do planalto de Gizé no Egipto, são disso exemplo eloquente. A disposição quase linear das três grandes pirâmides de Menkauré, Quéfren e Queóps, assemelha-se à constelação de Orion, enquanto as gravuras de Nazca no Peru parecem também reflectir, como um espelho de terra, constelações do céu.
Ptolomeu no séc. II DC descreveu o Universo segundo a ideia rigorosa e ordenada de um cosmos geocêntrico, cujos planetas, constelações e o próprio sol desenhavam órbitas rigorosamente circulares desde o inicio dos inícios. Esta ideia - que vigorou teimosamente até Copérnico a colocar em causa como hipótese em pleno séc. XV - defendia o conceito de universo ordenado e perfeito no sentido de acabado, ou completo*. Mesmo depois, com Galileu e Kepler, a noção de cosmos acabado, perfeito e limitado teve continuidade plena, embora se tivesse retirado a Terra do centro e devolvido ao Sol, o lugar de rei do cosmos. Só no séc. XX de facto se alargaram as fronteiras do sistema solar. A Teoria da Relatividade de Einstein abriu novas fronteiras físicas e colocou novas hipóteses teóricas que forneceram uma visão do Universo bem mais alargada, longe da perfeição de relojoeiro do nosso Sistema Solar. A descoberta de novas galáxias, a hipótese dos buracos negros, a teórica flexibilidade do tecido temporal e espacial, Heisenberg e a incerteza, Niels Bör e a Quântica, tudo noções e teorias que alargaram a visão caseira do nosso «pequeno» Sistema Solar, e de alguma forma tornaram menos previsível o comportamento e a finalidade do próprio Universo. Einstein morreu acreditando que nada é por acaso e que a ordem do Universo pode ser conhecida e traduzida matematicamente. «Deus não joga aos dados», diria um quase moribundo Einstein ao seu amigo/rival Bör. A conclusão dos cientistas de hoje é a de que o Universo evolui. O Universo de hoje é muito diferente do Universo de há 12 mil milhões de anos. Depois do Bang inicial cuja origem é desconhecida e misteriosa, as primeiras partículas de energia propagaram-se pelo espaço (ou são o próprio espaço?), e naturalmente algumas dessas partículas atraíram-se mutuamente dando origem em primeiro lugar ao elemento mais simples e ubíquo do Universo – o Hidrogénio. Obedecendo a essa que parece ser a regra mais fundamental de todas, a da atracção ou gravidade (nas palavras de um Newton aplicadas num outro contexto), as partículas de hidrogénio uniram-se por sua vez em grandes aglomerados dando literalmente à luz as primeiras estrelas. A caminhada não se ficou por aqui. A lei da atracção universal fez com que as estrelas por sua vez se unissem em grandes aglomerados chamados de galáxias. Este processo de criação de estrelas foi contínuo, e ainda hoje 15 mil milhões de anos volvidos, não pára. Mais estrelas geravam mais galáxias. As estrelas mais velhas começaram a morrer gerando anãs brancas, estrelas de neutrões, ou se a massa fosse grande o suficiente, buracos negros. Os cadáveres das estrelas mortas, no centro das galáxias, deram lugar a buracos negros gigantes que vão engolindo matéria continuamente (para onde não se sabe) e emitindo radiação a velocidades próximas das da luz. Mas o processo de atracção não se aplicou na plenitude às galáxias. Por agora elas limitam-se a afastar-se umas das outras. Há teorias que garantem que um dia o processo vai inverter-se e teremos um Big Crunch.
Recentemente os cientistas aperceberam-se que este processo de afastamento, em vez de abrandar como seria de esperar, acelerou... parece que o Universo é muito mais imprevisível do que se pensava. A pergunta para onde vai e porquê? faz cada vez mais sentido.
Parece não haver uma ordem perfeita. O universo em todas as suas dimensões é um devir, quase no sentido Heraclitiano. Tudo procura equilíbrio, e desde o primeiro segundo do Universo, precisamente quando o Equilíbrio se quebrou, que o Cosmos procura repor esse equilíbrio, através de equilíbrios progressivamente maiores mas sempre temporários. Mas em que consiste afinal o Equilíbrio total? Para quando esse momento? E se existia total equilíbrio, como e porquê foi quebrado? E se o Equilíbrio é simplicidade, porque se complexificaram as estruturas? Será a complexidade crescente do nosso Universo um caminho para a simplicidade, para a economia?





*Copérnico não foi o «inventor» da teoria heliocêntrica. Limitou-se alías a pegar numa ideia que vinha de Aristarco de Samos, filósofo grego do séc V, e a testá-la matemáticamente.

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