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O livrito reflete, como um todo, uma crença muito pessoal: a
busca pela verdade e pelo conhecimento, para ser completa, tem de visar o
"real-objetivo" e o "real-subjetivo". Por outras palavras,
não há conhecimento pleno sem autoconhecimento. Nenhuma demanda pelos factos do
mundo e da vida pode dispensar uma outra demanda que lhe é paralela e, sem a
qual, aquela não fica completa, nem chega a ser existencialmente útil para o
Homem.
Por isso mesmo, o livrito divide-se em duas partes: a
primeira titulada "Noemas em verso", exprime sobretudo o
"real-subjetivo", isto é, nela procuro dar forma escrita - a forma
escrita possível dada a inefabilidade de certos sentimentos - às minhas mais
profundas inquietações, aos meus mais profundos desejos, ao meu contínuo
assombro perante o mistério do Ser e do Existir, e também à esperança - em suma,
às motivações subjetivas que definem o meu modo de ser e estar no mundo, e
perante o mundo. Aquilo que emocionalmente me move e determina a orientação da
minha vida, entendida como demanda existencial cujo Horizonte é a Verdade.
Trata-se nesta primeira parte, fundamentalmente, de tornar
claras para mim próprio as minhas reais motivações existenciais, modelando pela
palavra, ou vestindo pela palavra (parece-me a metáfora mais adequada)
sentimentos, ânsias e visões internas que se mostram frequentemente de forma
turva e difusa, por forma a que se tornem inteligíveis, em primeiro lugar de
mim para mim próprio. Daí serem mais "noemas" do que
"poemas", pois etimologicamente poesia significa criação (do grego
"poiésis"), e mais do que criar, eu acredito que, no que diz respeito
ao meu real-subjetivo, à minha interioridade profunda, eu me limito a procurar
dar forma escrita a sentimentos, ideias, formas e visões, "noemas"
(do grego "noema", ideia, conceito, visão) que se insinuam na minha
consciência, que emergem e se revelam de forma confusa, às vezes opaca. Mas que
são essenciais, pois possivelmente trazem consigo a marca da sua origem
profunda, que é a das profundidades arcaicas da consciência de onde brotam as
tendências singulares da personalidade individual, e por conseguinte do destino
individual. Logo, constituem vias de real autoconhecimento. Autoconhecimento
sempre indireto, que requer sempre interpretação; que requer observação através
do espelho das ideias e das palavras, e não de forma imediata, face a face. Mas
não é sempre assim? E será que terá de ser sempre assim?
A segunda parte, titulada "Noemas em prosa",
constitui globalmente o capítulo dedicado ao real-objetivo. Nele exploro alguns
temas do mundo e da vida numa atitude mais impessoal, isto é, mais
argumentativa e filosófica, temas como o da Verdade, o Amor, Deus, o
Conhecimento e a sua importância na vertente individual mas também
social-civilizacional, a Educação em sentido amplo e radical, a Consciência,
etc. Mas é claro: tendo sempre como pano de fundo, como retaguarda
motivacional, as mesmas motivações, anseios, e desejos subjetivos profundos que
assistem à primeira parte. Só que agora a atitude é diferente, visa o exterior,
a explicação, a racionalidade pública. Mesmo quando no fundamento da explicação
racional, da argumentação, estão crenças subjetivas profundamente enraizadas,
crenças existenciais como todas aquelas que definem a minha fé básica no
Transcendente - sim, Deus, Consciência ontológica do universo; Sentido, Alma,
Lei e inteligência cósmica (Logos), etc. E por aí, fé fundamental no Homem, na
sua liberdade, e na possibilidade derradeira da sua realização plena, integral;
no limite, admito mesmo uma escatologia da salvação, mesmo que seja a da
eternidade realizada mil vezes ao longo da História, em cada homem, a cada
geração de homens. Digo-o desassombradamente.
O texto ou "noema em prosa" de maior fôlego e
alcance nesta segunda parte é precisamente aquele que tem como horizonte o da
realidade última, o fundamento ontológico do real; se quiserem, a escatologia
do real - pois não é o conhecimento da origem simultaneamente o conhecimento do
fim? Trata-se do artigo "(Con)siderações metafísicas em torno da natureza
última da realidade". Para quem é da área da filosofia, em particular da
metafísica ou da ontologia, aconselho vivamente a sua leitura, por mais
discutíveis que sejam as teses que nele defendo. Em termos muito básicos, o que
nele defendo é o seguinte:
1º - É impossível conhecer ou descrever a natureza última da
realidade, a "coisa em si", tal como Kant defende, pelo menos do
mesmo modo que conhecemos e descrevemos realidades como as árvores, as pessoas
e os frutos, pois só podemos conhecer e definir aquilo que podemos relacionar
com outras ideias e conceitos relativos; só podemos conhecer de forma relativa,
e a realidade última, sendo a última das realidades e portanto a mais
abrangente possível, não pode ser descrita ou definida por nada que lhe seja
exterior, do mesmo modo que não se pode descrever o Ser com outro predicado qualquer
fora do Ser, mas apenas dizendo que O SER É.
2º - Sabemos que a realidade última, a "coisa em
si", seja lá o que for, É, mas conhecê-la por via de categorias abstratas
como a de Absoluto ou Ser não nos chega; conhecer a realidade última de forma
mediada, isto é, por conceitos e ideias, não nos interessa EXISTENCIALMENTE
FALANDO.
3º - Assim, um conhecimento realmente interessante da
"coisa em si" só pode ser, para o ser que existe, uma outra forma de
existência. Isto é, para que a realidade última possa ser conhecida plenamente,
ela tem de ser "existida". Ela tem de ser experienciada do ponto de
vista do "ser-para-si", do mesmo modo que os indivíduos conscientes
se experimentam a si próprios e às suas vidas a partir de dentro das suas
próprias consciências, como "seres-para-si".
4º - A "coisa em si", tal como cada um de nós
próprios para si próprio, constitui um "ser-para-si", isto é, uma
subjetividade absoluta. Todas as nossas perceções das coisas, das árvores, das
pessoas, dos objetos à nossa volta, são apenas imagens, formas de
"ser-para-nós", fenómenos que se oferecem às nossas consciências; mas
se nos retirarmos a nós e às nossas consciências, o que resta dessas coisas?
Resta o "ser-para-nós", as imagens que delas mantemos nas nossas
mentes; mas o que resta fora de nós e das nossas consciências? Resta a
"coisa em si", que só pode ser um "ser-para-si" que a nós
completamente nos escapa, pois trata-se de uma outra subjetividade que nos é
absolutamente alheia, absolutamente outra.
5º - Mas repare-se que a realidade última também está em nós
e dentro de nós. A natureza profunda das nossas mentes e consciências é também
ela constituída dessa natureza última; por conseguinte, a "coisa em
si" que é ser-para-si reside também enraizada no mais profundo de nós.
Dito de outra forma, a Subjetividade Absoluta está profundamente enraizada no
fundamento da nossa subjetividade relativa.
6º - Se não podemos apor a nossa consciência relativa sobre
a natureza última do mundo no sentido de a conhecermos como conceito, teoria e
ideia, será que podemos pelo menos mergulhar nas profundidades da nossa própria
consciência no sentido de chegarmos precisamente a TOMAR CONSCIÊNCIA da sua
natureza última, isto é, do Absoluto que nela reside, e que está por toda a
parte, e fundamenta todo o Real?
7º - Será que a consciência pode chegar a tornar-se
plenamente consciente de si própria, ao ponto de em si mesma ser capaz de
dissolver a distinção entre sujeito e objeto, tornando-se plena e absolutamente
presente para si própria? E não será, em última análise, esse o modo de
chegarmos a conhecer simultaneamente a natureza e o sentido últimos do universo
e de nós próprios? Não será precisamente nesse lugar que conhecimento e
autoconhecimento podem chegar a cruzar-se, nesse infinito profundo da
Consciência? E como lá chegar? Não necessariamente pela via estritamente
cognitiva-intelectual, mas por vias mais intuitivas que incluam formas de
meditação ou contemplação, já previstas, aliás, em várias tradições espirituais
e religiosas.
Porque escolho este texto? Porque nele está refletida aquela
que é a motivação e o estilo que pautam a minha forma de buscar a verdade: uma
busca na qual todo o conhecimento se visa como pretexto para o
autoconhecimento; conhecer, e conhecer-me como sou conhecido, para usar as palavras
de São Paulo; reconhecer que, para já, estamos limitados a conhecer de forma
mediada e confusa, através do espelho das ideias e das palavras, mas que não
está fechada a possibilidade de que possamos vir a conhecer face a face, de que
possamos vir a conhecer o Sentido que subjaz a todos os sentidos.
Enfim, por tudo isto, faço votos para que adquiram o
livrito, quanto mais não seja para que vos desperte e estimule a pensar o
impensável, ou a refutar e discutir o que aqui o ali vos parece absurdo e
impossível.
A todos um bem-haja,
Ruben David Azevedo
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