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domingo, julho 11, 2010

Aforismos e meditações dispersas




Mais importante do que acreditares em Deus, é Deus acreditar em ti.


Tu és o primeiro agente da mudança, o teu próprio Messias.


As grande pirâmides ensinam que nada de verdadeiramente grandioso é possível sem sangue, suor e lágrimas.


Um dia, de pé em cima de uma rocha em frente ao mar, seguia um barco que se afastava do cais, cada vez mais longe confundia-se com o horizonte indeterminado. Quando menos esperava, escorreguei e caí desamparado do promontório numa fracção de segundos. Com as pernas e os braços esmurrados, levantei-me e compreendi: aquele que não está preparado para ver o horizonte, e mesmo para além deste, há-de cair sempre até que o hábito de subir o promontório lhe enrijeça os músculos, a vontade e a sensibilidade.


Antes de pretenderes ser feliz, pretende ser sereno. Estar sereno e conciliado com o mundo – é isso que deve procurar.


O mundo é terrivelmente imprevisível, e a consciência dessa imprevisibilidade conduz-nos a um estado permanente de preocupação e insónia. De um momento para outro podemos perder alguém que amamos, o emprego que nos traz pão para a mesa, o estatuto ou a reputação. A roda da fortuna é implacável no seu movimento. A tua vida pode ser uma luta constante contra o imprevisível; podes muralhá-la toda de várias maneiras: isolando-te dos outros, lendo fábulas, não saindo de casa, ou até reescrevendo o mundo numa metafísica que satisfaça a tua necessidade de ordem e previsibilidade. Há milhares de desculpas possíveis para evitar o perigo. Quanto mais o fizeres mais medo terás do mundo. Chegarás a um ponto em que a própria ideia de sair das tuas quatro paredes te enche de temor. Nesse dia morreste antes de morreres. Preparas o teu corpo para as quatro tábuas que substitituirão as quatro muralhas que à tua volta ergueste.


Na vida há dois tipos de problemas: os que têm solução, e os que não têm. Os que têm solução devem ser abordados com a mesma frieza com que se aborda um problema matemático, ou um puzzle. Só podemos resolver aquilo que está ao nosso alcance resolver. Assim, quando um problema não tem solução, devemos aceitar e assumir com a mesma frieza as nossas próprias limitações e tentar, na medida das nossas possibilidades, integrar o problema na nossa vida de modo a que se ajuste o melhor possível na nossa condição de seres humanos. O primeiro passo para resolver um problema, é colocá-lo. Não podemos dar respostas precisas sem formular perguntas precisas.


Os problemas podem surgir-nos a um nível superficial, mas todos os problemas derivam de outros problemas mais profundos. Por vezes, há pequenos problemas que vão surgindo e que, na mesma medida, vamos resolvendo. Contudo, eles continuam a surgir incessantemente. Porquê? Porque derivam de um problema maior cuja resolução é mais complexa, e cuja formulação exige um esforço maior por parte do indivíduo. O mesmo acontece com as ervas daninhas. Por mais que as arranquemos, elas continuam a surgir. Se utilizarmos herbicida é possível que tenhamos algum sucesso, ainda que temporário, pois as raízes manter-se-ão mais ou menos intocadas e acabarão por dar origem a mais ervas daninhas, mais fortes e resistentes que as primeiras. Portanto, para eliminar definitivamente as ervas daninhas, só arrancando as próprias raízes e eliminando da terra quaisquer sementes que possam existir.


Conquista os teus vícios; cultiva as tuas virtudes.


O homem de hoje já não conhece nem celebra o carácter litúrgico da vida. Cada dia é apenas mais um no correr das semanas, meses e anos. Já não se sacraliza o nascer do sol como a vitória da luz sobre as trevas, nem o banho matinal como um novo baptismo que purifica e renova através da água o corpo e o espírito. Neste aspecto temos tudo a aprender com civilizações ditas “arcaicas”.


A primeira das prerrogativas para se atingir um patamar considerável de serenidade consiste em aprender a não estar só. O sentido de pertença a uma comunidade é reconfortante por garantir apoio e entre-ajuda em qualquer circunstância, o que reduz a dor da imprevisibilidade. A comunidade garante, em princípio, o exercício da amizade e da lealdade para com os outros, bem como o seu reconhecimento e afecto para connosco. A partilha dos medos torna-os mais suportáveis, e o mesmo acontece com o sofrimento e a dor. Isto não retira importância ao estar só. Estar sozinho é também muitas vezes uma necessidade fundamental para o auto-conhecimento e clarificação das próprias ideias e objectivos. Contudo, é grande a diferença entre estar só e estar isolado. A pertença a uma comunidade, para ser verdadeiramente frutuosa, tem de partir de um acto voluntário de adesão, e o mesmo se passa com a vontade de estar só. A verdadeira pertença implica que o indivíduo seja capaz de ser ele mesmo no seio do grupo, estando perfeitamente à vontade para agir segundo as suas próprias idiossincrasias sem, como é óbvio, desrespeitar os restantes membros da comunidade. Um ser humano isolado dificilmente é feliz.


A razão nem sempre nos leva por caminhos fáceis. É o preço a pagar por se escolher a verdade, ainda assim muito menor que o preço a pagar por se persistir no erro.


Quando somos crianças não existe metafísica. O tempo não existe, nem responsabilidade, nem nada mais que o jogo que se joga, a corrida que se dá, a história que se inventa. Há uma felicidade inquestionável e inconsciente de si mesma no acto de brincar, um sentimento de completude no qual se esbatem todas as preocupações do passado ou do futuro. Quando nos tornamos adultos, andamos toda a vida à procura deste sentimento, e chamamos-lhe felicidade. Porquê? Porque não soubemos encontrar ainda o ponto de equilíbrio. Há pessoas que prorrogam o fim da sua infância até demasiado tarde, e outros, por força das circunstâncias, demasiado o antecipam. No primeiro, toda a sua vida é um esforço e uma frustração na tentativa de retornar ao passado dessa infância perdida; no segundo, toda a sua vida é esforço e frustração na tentativa de viver a infância que nunca conheceu verdadeiramente. Ambos, não vivem a sua idade como deveriam. Vivem antes uma idade que não é a sua.


O Deus da Bíblia é a projecção de uma humanidade


Em todo o mito ou cosmogonia está patente um princípio divino para a criação e a existência.


Essa divindade assenta no carácter absolutamente misterioso da existência.


O Deus de hoje é ele mesmo símbolo e metáfora de um princípio divino imanente a tudo. Esse princípio é movimento, procura de equilíbrio, liberdade e criatividade, criação e destruição. Os deuses são as forças que constituem o próprio universo. Conhecidas essas forças, explicadas e definidas pela ciência, resta o indefinível. Todas as forças fazem parte de outras forças, mais complexas, que por sua vez remetem para um única força, incognoscível. Essa força parece esconder um finalidade, uma intencionalidade última que nos é completamente alheia, mesmo que procuremos intuí-la através da razão, da metafísica, ou mesmo do esvaziamento mental. Essa finalidade é Deus, na sua matriz derradeira. A vida, ou seja, nós seres humanos, partilhamos dessa finalidade, somos expressão de uma dessas poderosas forças do universo que ainda não conseguimos definir. O deus da vida é a alma, porque a própria força da vida continua indefinível aos olhos de qualquer ciência. Será a vida apenas o resultado da soma das componentes físicas, de aglomerados celulares e relações neuronais, ou algo mais? Será o corpo apenas uma máquina aperfeiçoada por milhares de milhões de anos de evolução biológica, de tentativas e erros, de selecção natural? É possível que sim, mas isso não dessacraliza o valor da vida e o seu mistério. A vida complexa é o resultado da vida simples, mas continuamos sem saber o que é a vida. O que permite que um complexo orgânico, constituído essencialmente por átomos de carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto, possua autonomia de movimentos e seja capaz de gerar pensamentos ou ideias? Como é possível que esse mesmo aglomerado seja capaz de reflectir sobre si mesmo e dizer “eu sou”. É admirável e misterioso. Que admirável mundo novo é esse o da consciência... Que admirável e notável maquinaria biológica permite que um aglomerado orgânico abra os olhos e “acorde” para a sua existência e a do mundo. O que lhe permite fazer poesia, ou escrever sinfonias? O que lhe permite fazer ciência, elaborar teorias baseadas em relações matemáticas ou lógicas? O que lhe permite ter fé ou ideais abstractos? Claro que a vida de que falo é apenas uma parte muito ínfima do conjunto de toda a vida conhecida. O fenómeno da vida é incrivelmente variável e complexo, manifesta-se das formas mais insuspeitas e inimagináveis, adapta-se a diversos meios e ecossistemas. Além de ser das mais ubíquas – pelo menos no que respeita ao nosso mundo -, é das forças mais persistentes e duradouras. Uma vez surgida dificilmente é eliminada completamente. Foram várias as extinções em massa e os momentos em que a vida esteve quase a desaparecer da face da Terra. Porém, ela recuperou e prevaleceu, instituindo o seu domínio sobre a Terra uma e outra vez. O mesmo acontecerá no futuro, se não neste planeta noutro concerteza. É caso para perguntar, qual a importância da vida para a finalidade do universo? Porquê a inevitabilidade da vida? Aquilo que é divino é aquilo que é último, e que, por ser último é ao mesmo tempo primeiro. Deus é o princípio e o fim. É o Alfa e o Ómega.

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