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domingo, setembro 20, 2009

Uma campanha de espuma e vagas promessas



Num esforço óbvio para obliterar os adversários políticos, conquistar indecisos e «maiorias silenciosas», os partidos – sobretudo o PS – apostam numa política de dramatização e de colagem, de julgamentos prévios relativamente às intenções de todos os outros. O PS acusa o PSD de ter um programa com entrelinhas e «apagões», ocultando medidas como a privatização da Segurança Social e da Saúde. Obviamente, para quem lê atentamente o programa, não é disso que se trata, embora seja notória uma certa intenção de diminuir a intervenção estatal dividindo responsabilidades com o privado, e até muitas vezes incentivando o recurso ao privado sobretudo para aqueles que mais posses têm. Há ainda uma tentativa para colar o PSD ao tempo da «outra senhora», visando a gafe de Ferreira Leite relativamente à independência económica. Só quem de facto quer atirar areia para os olhos dos portugueses é que não entende que Ferreira Leite tem uma enorme dificuldade em dizer o que pensa, o que a leva frequentemente a não pensar o que diz. Há pessoas que não funcionam sobre pressão, que são levadas a falar porque não podem ficar caladas. Ferreira Leite é certamente uma delas. Com isto não pretendo denegrir o partido em si. Devo apenas dizer que simpatizo com o PSD, mas não com este PSD. Ao contrário do que têm dito muitos (pseudo)fazedores de opinião da praça pública – alguns defendendo uma espécie de vitória moral de Ferreira Leite sobre Sócrates no debate respectivo -, a líder do PSD foi largamente subjugada pelo poderio comunicacional de Sócrates, diria até que de uma forma embaraçosa até para quem estava a ver. Ainda que Sócrates seja um demagogo – e sabemos bem que o é em grande medida -, ainda que faça uso de paralogismos e falácias para vencer a qualquer custo, não se viu da histórica do PSD uma ideia concreta, um contraditório verdadeiramente fundamentado com dados estatísticos, contra-propostas, escrutínio do trabalho do governo do PS. Deixou passar em branco grande parte das promessas não cumpridas do governo, perdeu inúmeras oportunidades para calar a jactância do líder do PS, e a determinado momento morreu para o debate que passou a consistir em dois intervenientes: Sócrates e Clara de Sousa. Depois - como quem acha que se tem razão porque se fala mais alto -, saiu-se com a pérola da defesa de Portugal contra os espanhóis, que se não fosse de chorar dava para rir.

Temos também um CDS que procura capitalizar o eleitorado tradicional do PSD, bem como essa tal de «maioria silenciosa» que pensa como o partido (diz o líder…). Para além de toda a demagogia – que não deixa de ser uma característica mais ou menos presente em qualquer partido -, o partido de Paulo Portas tem-se dedicado a capitalizar o descontentamento das empresas que se debatem com o peso da carga fiscal, o dos pensionistas, o dos veteranos das forças armadas, o do povo português em geral com o papão da insegurança e da má legislação penal. Tem sido o partido mais coerente e mais capaz a todos os níveis, tanto a fazer oposição como a fazer campanha eleitoral. Não se vê grande espuma para os lados do partido azul e branco. Sobra apenas uma espécie de ressentimento tácito contra todas as sondagens que os colocam abaixo dos dez por cento (injustamente na minha modesta opinião).

Da CDU só posso dizer uma coisa: igual a si mesma – agora com o ligeiro up-grade do apoio às pequenas e médias empresas -. Parece claro que a CDU tem vindo a perder força e credibilidade para o BE, que tem sido – e vai ser – a grande surpresa. O BE fala em duas grandes nacionalizações que estão na base da inversão do panorama de crise actual: a da GALP, e a da EDP. O que Louçã parece ter ainda dificuldade em explicar é a) com que dinheiro se vão pagar as chorudas indemnizações aos accionistas privados destas empresas, b) que garantia existe de que as novas administrações públicas destas empresas serão mais capazes que as privadas, c) que garantia existe de que só serão nacionalizadas essas duas grande empresas e que não reviveremos os anos do PREC. Pode parecer uma espécie de enviesamento ideológico da minha parte, mas gostava de ver estas perguntas cabalmente esclarecidas. Devo dizer também ao Sr Louçã que o facto de trezentas mil pessoas terem feito o download do programa do BE, não é sinónimo de que essas mesmas trezentas mil pessoas venham a votar nesta força partidária. Muitas, acicatadas apenas pela radicalidade de certas propostas, podem simplesmente ter sentido uma espécie de curiosidade mórbida do tipo «será mesmo verdade?», ou, «estarão mesmo a falar a sério?».

Vemos, de resto, uma série de pequenos (e médios) partidos, alguns tão antigos como a democracia, outros bem mais novos que a legislatura Sócrates, a debaterem-se por um lugar ao Sol no panorama político português, e porque o Sol não chega, a um lugar no parlamento. O mais prometedor parece ser o MEP (Movimento Esperança Portugal), que nas últimas eleições galvanizou dois por cento do eleitorado, mesmo com uma percentagem de abstenção superior aos sessenta por cento. Parece-me que, a confirmarem-se as previsões e as expectativas deste partido verde e branco, conseguirão eleger pelo menos um deputado. É bom, é positivo, é saudável existir este tipo de renovação, tendo também em conta que os partidos pequenos de matriz moderada são em larga medida os favoritos para capitalizar descontentamentos de vária ordem.

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