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segunda-feira, abril 06, 2009

Lisboa e o prenúncio de um desastre



Um sismo em Itália, imprevisto por um lado (pois a ciência da previsão sismográfica ainda não permite prever matematicamente a ocorrência de um sismo), mas previsível por outro, pois o centro de Itália está precisamente em cima de uma falha tectónica.

É muito difícil prever um sismo. O processo de «previsão» baseia-se em meras probabilidades, sendo bem mais fácil prever que vai chover ou que vai estar sol, do que adivinhar que amanhã a terra vai tremer. Há zonas onde é mais provável ocorrer um sismo, e o melhor que se pode fazer é monitorizar a zona tentando perceber a frequência com que pequenos sismos vão ocorrendo. Porém, ninguém pode, com rigor, afirmar que a energia acumulada nas entranhas da Terra um dia se vai libertar com estrondo, sangue e lágrimas. Como em tudo na vida, o melhor é prevenir.

Em terra de cegos, quem tem olho é rei. Em Portugal continuamos cegos, como se vivêssemos numa espécie de utopia saramaguiana. Lisboa é um barril de pólvora. Quem não percebe isto, não percebe nada de nada. Em 1755, o sismo de Lisboa não só abalou a capital, como teve eco mediático por toda a Europa! Voltaire escreveu abundantemente sobre o terramoto de Lisboa, e os cientistas de hoje afirmam com grande certeza que o sismo atingiu a magnitude de 9 na escala de Richter! Só para se ter uma ideia, o terramoto que provocou o tsunami no sudeste asiático em 2004 foi de 8.5. O epicentro do terramoto de Lisboa, à semelhança do terramoto no sudeste asiático, foi também no mar, a cerca de 200 km a sudoeste de Lisboa. Sabe-se também que, pouco depois do sismo, e para horror daqueles que se refugiaram na zona portuária de Lisboa, uma terrível sequência de vagas de 6 a 10 metros de altura arrasaram o que restava da já fustigada cidade. Sabe-se que a água terá chegado até perto do local onde hoje se situa a Assembleia da República.

Ora, parece-me que a questão que se põe é a seguinte: estão as populações e os agentes políticos de hoje verdadeiramente conscientes do perigo? É óbvio, até para o mais leigo dos leigos em ciências, de que mais tarde ou mais cedo ocorrerá um novo sismo em Lisboa. Se será em proporções tão apocalípticas não se sabe, mas se ocorreu uma vez, certamente que ocorrerá no futuro. A questão é quando, e não se.

Quando penso que a grande maioria dos edifícios de Lisboa datam do tempo do Pombal, e que a construção mais recente, sobretudo nos arredores de Lisboa, se baseia na quantidade, e pouco na qualidade; quando penso que a zona de Lisboa está sobre sedimentos, argilas, ao contrário do Porto que se situa em maciço central granítico; quando penso que milhares de pessoas vivem em caixotes urbanísticos, sem planos de emergência, sem saídas ou entradas suficientemente largas, sem infra-estruturas ou saídas adequadas para as águas (vê-se que basta chover dois ou três dias para ocorrerem logo cheias em certos pontos da cidade); quando me lembro que, por exemplo, aquando da construção do metro no Terreiro do Paço abriu-se um buraco de um dia para outro, sem causa aparente; e, sobretudo, quando penso que o metro de Lisboa, nomeadamente na linha do Terreiro do Paço, se situa abaixo do nível das águas do Tejo, enterrado num solo argilento, sedimentar, pouco estável... quando penso em tudo isto, tremo e não auguro nada de bom. Ora, quanto a isto, quanto à verdadeira prevenção, há algo a ser feito pela câmara, pelo governo, pelo país? Será que se as entidades políticas terão mais ânimo para fazer alguma coisa se souberem que o Terreiro do Paço – ou seja, os ministérios – ainda que sobrevivam ao sismo, serão apagados do mapa pelo maremoto? Está a Lisboa de hoje preparada para o desastre de amanhã? Será que, em vez de equipar a AR com tudo o que há de melhor a nível tecnológico, em vez de distribuir Magalhães ou alargar o ADSL a todas as escolas, não seria mais apropriado criar um plano de emergência a sério, com monitorização constante, ou apostar na construção anti-sísmica em toda e qualquer nova construção lisboeta, acompanhada pela recuperação das mais antigas, sobretudo as que foram construídas logo depois do fatídico ano de 1755?

1 comentário:

Vânia Silva disse...

Acabei de engolir em seco e nem consigo pestanejar...AMIGO, VOU PARA LISBOA e ja estou em panico!