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sexta-feira, abril 04, 2008

Tibete sinónimo de Opressão

Todos os dias ouvimos notícias sobre o Tibete. Nos últimos tempos, um pouco a reboque dos Jogos Olímpicos, esta questão ganhou novo ânimo, e ainda bem. Pouco ou nada sabemos do que realmente se passa no Tibete. Aquilo que vemos nas televisões são as únicas imagens que conseguem escapar à censura do governo chinês, que não poupa ninguém, nem sequer os jornalistas e o seu trabalho.

Porém, os chineses não conseguem calar o mundo. Há gente que passou pelo Tibete, jornalistas que trazem memórias vivas do que viram, do que passaram. E ainda bem que assim é. O mundo contínua surdo e mudo aos apelos dos tibetanos, subjuga-se gritantemente ao medo que se vai adensando em relação à China. Um medo que se baseia no poder económico deste país. Um poder elefantísiaco que se não for travado pode modificar todo o paradigma ocidental de democracia e levar a civilização para uma nova idade das trevas. Começa a adensar-se a pura ilusão de que os países de modelo democrático liberal podem ser ultrapassados economicamente por países de modelos mais autoritários, e de que o modelo liberal está a falhar redondamente e não garante um desenvolvimento seguro para as empresas e para a economia. O comércio livre e a permissividade dos estados vai deixando fugir empresas e multinacionais para países de mão-de-obra barata, onde a exploração é o pão-nosso de cada dia do trabalhador, e os direitos humanos são o tapete onde se limpa os pés. E os estados tudo permitem, os proteccionismos são atacados e vistos como coisa do passado. Serão? Para além do comércio livre, onde está o comércio justo? Nós ocidentais conquistámos direitos, e devemos perdê-los para competirmos com uma China economicamente, ou pelo contrário devemos afirmar peremptoriamente esses direitos e lutar por um comércio justo e respeitador dos direitos humanos?

Deixo a transcrição de um e-mail que recebi recentemente, um testemunho de alguém que esteve no Tibete e que viu um pouco mais do que nos é dado conhecer:

Meus queridos amigos,
Cheguei ontem ao Nepal, após dias muito violentos passados no Tibete.
Estou muito muito cansada. Um cansaço diferente... estou sem energia. Tenho que comer e descansar, para conseguir pôr as ideias mais claras e escrever sobre tudo o que aconteceu. (…)

Mas, agora que posso, tenho que começar a falar. Devem saber o que se passa no Tibete... O que vos posso dizer é que tudo é muito mais violento do que mostram na televisão. Foi muito muito violento. Para os tibetanos vai ser um massacre. Nunca vamos saber quantos morreram ou morrerão. Para nós, além de violento psicologicamente, foi mais perigoso porque acabou por se saber que fomos os dois (eu e o Miguel) as únicas testemunhas do principio de tudo (no mosteiro de Drepung, onde estávamos no dia 10 de Março, por acaso). Ficamos imediatamente controlados pela polícia ao ponto de, a caminho para o Nepal, nos dizerem que estávamos presos no hotel. Nunca tinha sentido o que era estar 'presa' não porque tivesse feito alguma coisa mas porque não queriam que falássemos. O nosso mail e telefone ficaram, também, imediatamente controlados e as nossas máquinas fotográficas bem inspeccionadas.
Vimos a maior violência policial que podem imaginar, sobre pessoas desarmadas. Não vimos ninguém morrer, mas sabemos que muitos dos monges com quem estivemos durante todo o dia 10, morreram depois, nesse mesmo dia.

Vai ser um massacre em Lassa. Tudo o que disserem nas notícias de contrário podem acreditar que é mentira.
Há lugares no mundo onde pessoas morrem por terem opinião. Não se passa apenas na distância da televisão, ou em filmes com actores conhecidos, passa-se na realidade e muito perto de nós.

Desculpem a violência do mail. Não vos contei nem metade do que vi e vivi nestes dias. Mas não posso ficar mais dias em silêncio.
Espero que compreendam...

Muitos beijos. Adoro-vos.
Clara

2 comentários:

Jaime V. disse...

Depois desta defesa tão acalorada das democracias liberais como os regimes ideais e justos, apetece perguntar: Interroga os sem-abrigo e pergunta-lhes porque foram lançados para a rua.
Interroga os que estão desempregados a quem é negado o direito sagrado ao trabalho como forma de sobrevivência.
Estes nossos regimes são de facto fantásticos, até dão aos cidadãos o "direito" de morrerem de fome e frio pelas ruas das cidades; mas tudo em nome da liberdade de alguns, poucos, açambarcarem a riqueza por todos produzida e assumi-la como só sua.

Quanto aos problemas do Tibete, não será o mesmo do País Basco, da Corsega e não foi o mesmo do Kosovo?
Pergunto ainda: Naquele dia, àquela hora, qual a explicação para estarem ali tantos reporteres de imagem e não só?
E porquê a "feliz" coincidência com a aproximação dos jogos olímpicos e mais precisamente com a proximidade do dia em que ía ser acesa a tocha olímpica para dar a volta ao mundo?

Se é verdade que correu sangue de tibetanos, o que todos lamentamos, porque nos chocamos só com o sangue destes quando aos nossos olhos todos os dias chegam imagens de massacres sanguinolentos na Palestina, no Iraque, etc?
Será porque o Dalai Lama é bem quisto no mundo ocidental e é obviamente um "ingénuo" que foi logo a correr aos Estados Unidos da América buscar mais uma medalha?

Ruben David Azevedo disse...

Caro Jaime, gostava de lhe responder mas visto que não tenho outro contacto deixo-lhe um comentário na esperança que volte ao blog:

Ninguém defende as democracias liberais como regime ideal, mas sem dúvidas que vai sendo o mais junto para um maior numero de pessoas. É o melhor que temos por agora. Por trás das suas palavras há uma defesa dos regimes comunistas. Talvez seja mesmo comunista. Optimo, concordo. A pluralidade é uma qualidade das democracias liberais, o que já não acontece na China ou na Coreia do Norte, por exemplo. Poderia falar com um sem abrigo ou um desempregado, mas podia também fazer-lhe uma sugestão semelhante: dirija-se a uma prisão chinesa e fale com um preso político, um simples estudante por exemplo que tenha sido preso por expressar livremente as suas ideias...
Passando à frente. É verdade que o capitalismo, ou o liberalismo numa linguagem mais corrente fabrica ricos, assim como pobres. Mas fabrica também classes médias. Que eu saiba um regime comunista fabrica apenas e só POBRES.(tirando a elite no poder que tem tudo e mais alguma coisa). O problema do comunismo são aliás, dois: 1-igualitarismo forçado à custa da liberdade; 2- violência como arma política (lembre-se do ideal revolucionario comunista que diz que é legitimo pegar em armas para fazer a revolução).
Quanto aos exemplo que o sr deu, Kosovo etc, enfim, não falarei caso a caso porque cada caso é um caso. E lhe digo, qualquer caso de colonialismo forçado, genocida é terrivel, terrivel, terrivel. Deve ser condenado por todos da forma mais veemente. Agora, não tente desculpar a China com esses exemplos meu amigo.. O tibete foi esventrado por dentro... Todos os colonialismos são maus, e não me interessa minimamente se são de esquerda ou de direita... a si, parece que faz diferença.
Cumprimentos