Palavras/Expressões-chave: Ser, "Coisa em si", Perceção, Realidade última, Consciência, Absoluto, Presença.
I
Qual a natureza última da realidade?
É inevitável que procuremos responder a esta questão a partir das nossas
próprias ideias e referências concetuais. Mas, como pensar algo que, por
natureza, se situa para além de tudo o que conhecemos, e até daquilo que
podemos conhecer? O que quer que seja essa realidade fundamental, basilar, que
se encontra no núcleo cósmico da matéria e do ser, que os físicos designam por
“energia” – sem que saibam efetivamente do que se trata, de onde vem e para
onde vai –, é possível que se situe para sempre fora do alcance do nosso
conhecimento, pois só conhecemos o que podemos compreender, e só compreendemos aquilo
que podemos integrar e relacionar no contexto de uma teoria, de um todo
sistemático e coerente. Só podemos racionalmente compreender aquilo que podemos
definir, isto é, atribuir qualidades e predicados, inserir em categorias.
Ora, essa realidade última que
procuramos não pode ser definida relativamente a nada; nenhum conceito ou
categoria mais abrangente poderá contê-la, pois ela própria, pela sua natureza
fundamental, é a mais abrangente das categorias: tudo é energia; mas o que é a
energia? Tudo é ser; mas o que é o ser?
O Ser, enquanto conceito mais
abrangente, não é definível senão pelo próprio Ser. Não há conceito ou
predicado mais abrangente que possa dizer
o Ser, senão o do próprio Ser – o Ser é,
e é tudo.
Para pensar a realidade última somos
tentados a “sair para o exterior” dos nossos conceitos, a subirmos de nível
reflexivo para nos libertarmos dos nossos preconceitos habituais, tendo em
vista uma “purificação” da razão que nos torne mais abertos à compreensão de um
realidade completamente nova, sem que os nossos (pré)conceitos, conjeturas e
categorias habituais nos ceguem a essa visão. Em nome de uma maior
objetividade, é preciso que sejamos capazes de distanciação, que nos coloquemos
num ponto de vista exterior àquilo que procuramos conhecer. Mas será que a
realidade última, que é “última”, admite uma plano exterior a si própria, isto
é, admite ser recolocada num contexto mais abrangente que ela própria?
Ora, se nós próprios, de corpo,
mente e consciência estamos irremediavelmente mergulhados na realidade última
que procuramos compreender, a que título julgamos poder colocar-nos num plano
exterior, separado dela? Em que medida a abstração racional permitirá o
conhecimento de qualquer coisa do qual não podemos realmente abstrair-nos, pois
está presente em tudo o que somos, inclusive na matéria da nossa consciência?
Tal conhecimento, se fosse possível, seria sempre incompleto, baço.
Kant defende que certas realidades
últimas, como sejam aquelas das quais intuímos uma unidade fundamental, mas que
estão para sempre além da nossa experiência possível (Deus, Mundo, Alma),
jamais podem ser conhecidas fenoménicamente, embora possam, no máximo, ser pensadas. Esta capacidade de pensar
a unidade e a totalidade denota uma profunda necessidade da razão em buscar
permanentemente a síntese, a unidade do conhecimento, no sentido de conferir
progressivamente maior sentido e coerência ao real. Este - o real - está sempre
sob interrogação, como um Todo. A questão da realidade última será, assim, a
questão de todas as questões, pois não é apenas uma dada realidade particular
que está em questão, mas antes a realidade cuja natureza confere sentido à
totalidade do real.
II
A razão e a experiência têm limites,
e quanto mais descemos aos abismos da matéria, mergulhando nos fenómenos
quânticos e suas estranhas leis, mais contraintuitivo e menos lógico nos parece
o comportamento da matéria a um nível fundamental, como se tratasse de uma
dimensão completamente díspar.
Dada a configuração da nossa razão, a sua dependência de
princípios/regras lógicas e categorias como espaço, tempo e localidade, é
possível que o conhecimento científico, isto é, teórico e estritamente racional
da realidade última, enquanto realidade metafísica, nos esteja para sempre
vedado. É mesmo possível que qualquer tipo de conhecimento fenomenológico baseado
numa dicotomia tradicional sujeito-objeto, em que cada um se situa de forma
clara e bem delimitada fora de esfera um do outro, e o sujeito num posição de
aparente neutralidade epistemológica, também não seja aplicável aqui. Se for
verdade que a realidade é monista, isto é, é constituída exclusivamente por uma
e uma só substância, e se nós, em corpo, mente e consciência, somos feitos
dessa mesma substância fundamental, então essa substância fundamental, enquanto
“objeto” do nosso conhecimento, não pode estar absolutamente separada do
“sujeito” do conhecimento, que somos nós.
Em resumo, o conhecimento da realidade última a partir do exterior, com
base num sujeito que conhece e num objeto que é conhecido, em que o sujeito é
ativo e capaz de com-preender o objeto (isto é, possui-lo, contê-lo num
conceito, numa ideia ou categoria), é inviável. Pois, no caso da realidade
última, não só o sujeito não está separado do objeto, como é o próprio objeto
que “contém” o sujeito, e não o inverso. Não é possível possuir, cognitivamente
falando (i.e. apreender numa ideia, perceção ou conceito bem definido) algo
que, antes de mais, nos possui, porque é anterior e constitutivo de tudo,
inclusive do próprio ato de conhecer.
III
Um conhecimento baseado em ideias e
conceitos é sempre relativo, mediado por representações. Isto significa que se
o conhecimento da realidade última for mediado por representações (conceitos,
fórmulas, etc.), então não poderemos de facto conhecê-la senão através de uma
muito fraca, baça e parcelar aproximação, porquanto nenhuma dessas
representações poderá realmente ser fiel, porque relativa, a uma realidade que
é absoluta. Dito de outro modo, não podemos obter um conhecimento total da
realidade se nos mantivermos irredutivelmente imersos no nosso ponto de vista
relativo.
É claro que falamos sempre a partir
do pressuposto aparentemente inquestionado de que existe um “exterior” às
nossas perceções, e, no limite, uma realidade exterior última, “metafísica”,
que abrange e pervade todos os fenómenos. Não a conhecemos nem temos acesso
imediato a ela através da experiência, mas “intuimo-la”, isto é, algo nos
sugere que o universo fragmentário dos fenómenos sensoriais a que chamamos
“mundo”, não se sustenta por si mesmo, mas remete, em última análise, e necessariamente,
para um fundamento, que é também uno e absoluto. Intuímos que, de certo modo, tudo
se encontra relacionado a um nível fundamental, mesmo os fenómenos mais
dispersos e diversos.
Mesmo em nós, seres biológicos e conscientes, intuímos que existe uma
unidade fundamental que nos torna superiores à soma das nossas partes; uma
unidade metafísica radicada na base do “eu”, o fundamento da sua
irredutibilidade e continuidade, da sua persistência existencial; o centro em
torno do qual se constrói a nossa identidade mas que, tal como a “unidade do
mundo”, igualmente nos escapa na sua natureza mais profunda, se a tem.
Não sabemos se essa unidade
metafísica subjacente aos fenómenos é real. Pode ser que não passe de algo que
a nossa razão, por natureza e necessidade, impõe aos fenómenos no sentido de
lhes conferir unidade, coerência e inteligibilidade. Quem sabe se não se trata
de uma projeção da unidade do “eu” sobre o mundo, como se fossemos naturalmente
levados a antropomorfizar ou “pessoalizar” um universo fundamentalmente
impessoal e fragmentário. Daí que sejamos frequentemente levados a “reduzir” o
fragmentário ao unitário, por exemplo através de leis físicas ou fórmulas
matemáticas simples. Daí que sejamos levados a formular princípios metafísicos
unitários como Deus, Brahman, Logos ou Energia, reduzindo o real a um só
princípio que não só o sustenta como lhe confere inteligibilidade, ordem,
continuidade e consistência ontológica.
Talvez seja tudo uma ilusão, ou
talvez não. Imaginemos o seguinte caso hipotético: nem eu nem o leitor alguma
vez vimos um cérebro. Ouvimos falar dele, mas desconhecemos por completo a sua
configuração, e também a sua função. Um dia entramos num laboratório e vemos um
pela primeira vez, mergulhado num frasco em formol. Para nós, aquela “coisa”
que vemos em nada é diferente de uma mesa, uma cadeira e até de um simples
computador. Não passa disso mesmo: uma coisa, sem interioridade, apenas
exterioridade. Um objeto como qualquer outro. Concordamos, porém, que
estaríamos a cometer a maior injustiça se negássemos por completo que aquela
“coisa” que se chama “cérebro” um dia albergou, de um modo misterioso, uma
consciência pessoal, uma interioridade subjetiva, um “qualia”. Alguma vez
suspeitaríamos se tal não nos fosse dito? Claro que não; não lhe atribuiríamos
mais “metafísica” do que a uma pedra.
Não estaremos a cometer uma
injustiça semelhante ao negar à própria natureza do real a sua “metafísica”,
isto é, a sua realidade última, uma espécie de interioridade, atribuindo-lhe apenas
exterioridade, funcionalidade, mecânica? A realidade da consciência, da
interioridade subjetiva, coloca-nos perante um facto inegável: o universo admite o metafísico; isto é, admite que
a matéria na sua face exterior, objetal, seja perpassada medularmente por uma
subjetividade, isto é, uma consciência capaz de “ser para si” de forma
irredutível e intransmissível. A não ser que sejamos paladinos de um ceticismo
extremo relativamente à existência das outras mentes, temos de admitir que cada
um de nós é uma prova viva – em particular cada um de nós, para si próprio, na
experiência irredutível da sua interioridade subjetiva – da realidade
metafísica da consciência, cuja existência e unidade está muito para além do
funcionamento orgânico fragmentário do nosso cérebro, essa “coisa” no meio de
tantas outras “coisas” no mundo.
Ao analisar o mundo exclusivamente
do ponto de vista do seu funcionamento e mecânica, corremos precisamente o
risco de ficar aquém da sua essência, roçando apenas a sua face exterior, a
face que se entrega à mensurabilidade e à explicação científica. Analogamente,
se nunca tivéssemos visto um cérebro e o analisássemos, mesmo que
cientificamente, poderíamos talvez concluir que se trata de uma extraordinária
máquina biológica de processamento de informação, mas alguma vez chegaríamos a
compreender que “ali” algures emergiu uma consciência viva, uma identidade
pessoal, uma interioridade mental, intelectual, emocional, moral?
IV
A experiência subjetiva da “minha”
identidade, do meu “Eu”, sugere-me a existência radicada em mim de um
fundamento, uma realidade última que sustenta a continuidade, consistência e
permanência desse “Eu”. É a experiência constante, existencial, deste “Eu” que me leva a supor a existência de um
alicerce metafísico para a “mesmidade” do meu ser. Se podemos conhecê-lo? Hume
e Kant diriam que não, pois não podemos objetivamente conhecer o que ultrapassa
os limites da nossa experiência. Podemos experimentar a continuidade, a
“mesmidade”, mas não podemos experimentar a “alma”, o “ser”, metafisicamente
falando (ainda que em Kant possamos pelo menos pensá-lo).
Do mesmo modo, no mundo ao alcance
dos fenómenos encontramos mil e uma razões para supor uma continuidade e
permanência semelhantes: não é comum o chão fugir-nos debaixo dos nossos pés, a
não ser em circunstâncias muito excecionais e relativamente previsíveis; se vou
trabalhar de manhã tenho a expetativa (como
diria Popper) de que à noite, quando chegar do trabalho, a minha casa ainda se
encontrará no mesmo sítio, bem como os móveis da minha sala; se coloco a água
ao lume, tenho a expetativa de que, dentro de alguns minutos, a água irá
ferver. No mundo “real”, criamos expetativas com base na imagem ordenada e
racional que temos dele; quando alguma dessas expetativas sai gorada, surge um problema, o que de certo não acontece,
por exemplo, no mundo onírico.
Esta continuidade e regularidade tantas vezes experimentada, em mim e no
mundo, é reforçada pelo modo como a natureza – pelo menos a nível macro – obedece
a determinadas leis, tornando-se previsível até certo ponto, mas não
totalmente. As leis físicas, biológicas, químicas, etc. são a mais manifesta
expressão dessa regularidade. Mas, de onde vêm estas leis? Qual o seu fundamento? Serão cegas ou terão uma
finalidade, isto é, serão teleológicas? Porquê estas e não outras? Todas estas
questões são diferentes faces da questão principal – a da natureza última da
realidade.
Valerá também a pena dizer o seguinte: as leis físicas não são a realidade última; apenas a
manifestam. Leis “macro” como a da gravidade e decorrentes dela, só existem na
medida em que a matéria se organizou e complexificou previamente até a força
gravitacional pudesse manifestar-se e influenciar corpos físicos de massa
suficiente. Se nos colocarmos ao nível dos átomos deixa de fazer sentido falar
em leis da gravitação, e temos de começar a falar em leis derivadas da relação
entre “força nuclear forte” e “força nuclear fraca”, que mantêm as partículas
subatómicas unidas. Se nos colocarmos ao nível dos constituintes atómicos, como
protões e electrões, e começarmos a tentar analisar isoladamente as suas
naturezas e comportamentos, deparamo-nos com o domínio da incerteza e da
probabilidade, e ao invés de leis e regularidades encontramos anomalias e
aspetos inusitados, como sejam a possibilidade de um electrão se poder comportar
simultaneamente como onda e partícula, dependendo de estar ou não a ser “observado”;
ou, se projetado (como na famosa experiência do duplo orifício) poder, em
teoria, percorrer ao mesmo tempo vários percursos possíveis (várias
“histórias”), ou até a possibilidade de dois electrões projetados em direções
opostas se influenciarem de forma recíproca e instantânea, mesmo à distância de
milhões de quilómetros no espaço (quantum
entanglement).
Significa, portanto, que a nível “micro” as leis divergem, tornam-se mais
fundamentais, como que se “libertam” do determinismo macro (já para não dizer
que estão na sua base). A emergência de novas leis naturais decorre da
emergência de novas realidades, decorrentes da complexificação da matéria; por
outro lado, a própria organização e complexificação da matéria é ela própria
regida por leis. Uma molécula de água emerge da associação entre átomos de
oxigénio e hidrogénio, segundo as leis físico-químicas que regem essa
associação; mas ao emergir enquanto molécula de água tornou-se mais do que a
simples soma das suas partes, e já pode por sua vez relacionar-se com outras
moléculas de água de modo a formar um composto – a própria água, no estado
sólido, líquido ou gasoso – capaz de, por exemplo, ser afetado e afetar campos
gravitacionais, conduzir electricidade, absorver e despender calor (e deste
modo entrar no jogo das leis da termodinâmica, leis “macro” por excelência),
etc.
A nível “macro”, por conseguinte, o universo torna-se mais previsível,
mas essa previsibilidade assenta, fundamentalmente, na imprevisibilidade e no
caos aparente. Escapam-nos as leis “micro”, quanto mais nos aventuramos nos
abismos do ser. As leis determinam,
isto é, são causa eficiente e formal dos fenómenos; conduzem-nos numa dada
direção, com vista a uma dada finalidade (veja-se, por ex., o modo como as leis
da genética permitem que uma semente se torne numa flor, e uma flor num fruto).
A lei causa o fenómeno, mas o fenómeno, ao que parece, também causa a lei, ou
pelo menos cria as condições para que a lei emirja.
No limite, se nos dedicarmos a um exercício tipicamente filosófico de
regressão infinita, chegaremos ao âmbito da realidade última onde não existe
anterioridade formal ou legal; isto é, onde toda a lei tem o seu princípio, bem
como todo o fenómeno; pois, neste domínio, Lei e Fenómeno são uma e a mesma
coisa. A Lei é a Realidade, a Realidade é a Lei. E como a realidade última não
é determinada por nada, senão por ela própria, então ela não é apenas o lugar
onde a toda a lei começa, mas também a própria lei; não só é livre de criar e de
se criar, como constitui a própria liberdade em estado puro.
Muito naturalmente, e quem sabe
senão por um vício da razão, desembocamos na ideia aristotélica de causa sui, a “causa primeira” porque “não
causada”, substância ou motor imóvel que causa tudo o resto, mas que não é
causada por nada, senão por si própria. Não falo, porém, numa causa em sentido
temporal-sequencial, do tipo da primeira peça do dominó que, uma vez tombada,
faz tombar sequencialmente as peças seguintes, com uma origem e uma finalidade
bem delimitados no tempo e no espaço.
Dito de outra forma, não me refiro a uma causa que tem lugar de uma vez
para sempre, como num momento criacional, que depois se retira para dar lugar a
uma sequência causal determinada, teleológica. Refiro-me antes a uma “causa
primeira” bem enraizada no aqui-e-agora e em cada ente, que pervade tanto
essências como aparências (o mesmo é dizer, pervade as coisas na sua
objetividade, bem como o pensamento que as pensa por representações, e a
consciência que permite a compreensão pela subjetividade). Isto é, permeia tudo
aquilo que, de algum modo, é ou possui ser (uma aparência, que é uma
ideia, também possui um ser, uma “qualidade” que permite a sua experiência
subjetiva enquanto tal).
Refiro-me a um fundamento que não se limita a “sustentar”, como um
alicerce estático, uma camada superficial de realidade substantivamente
diferente, mas que, ao criar continuamente a própria realidade, a cada momento
a torna existente e presente, num fluxo de contínua criação.
De notar que atualmente são os próprios físicos a admitir que é incorreto
falar de um “nada” ou “vazio absoluto”, pois a todo o momento há partículas
fundamentais, como quarks, a “aparecer” e “desaparecer” da realidade, vindas do
nada para logo retornarem ao nada, como se a matéria-prima do real estivesse a
todo o momento a ser produzida e destruída, num fervilhar ininterrupto.
V
Mas todas estas considerações em
torno da causa primeira não são senão formalismos, derivações lógicas,
exterioridades que não nos levam a um conhecimento concreto da natureza última
da realidade. Por um lado, o facto de podermos deduzir, por regressão infinita,
a existência de um fundamento, seja ele qual for, não significa que esse
fundamento seja real. O mesmo se aplica à conclusão da existência de uma “causa
não causada”, ou de uma realidade absoluta, não relativa. A nossa razão
encaminha-nos facilmente para tais conclusões, por natureza e vocação, mas tais
conclusões não podem ser senão meramente reguladoras e esquemáticas, e talvez
digam mais acerca do nosso modo de pensar do que da realidade em si mesma.
Na verdade, o conhecimento que
buscamos acerca da realidade última não pretende ser meramente exterior,
esquemático e conceptual. A unidade interessa-nos; a ideia de absoluto
inquieta-nos. Pressentimos que talvez haja alguma verdade nestes grandes conceitos
e esquemas às quais nos conduz a razão, mas há um limite que se nos impõe e impede-nos
de aceder aos “conteúdos” desses esquemas, de modo a que pudéssemos
verificá-los ou prová-los experimental ou observacionalmente. Reconhecemos a
incompletude desse conhecimento, e talvez por isso é que estejamos sempre, uma
e outra vez, ao longo da história do pensamento, a retornar ao problema do ser,
mesmo depois de declarada a morte de Deus e da metafísica; mesmo depois do
positivismo, do neo-positivismo, do cientismo, e outros ismos que reduzem a
realidade à matéria observável.
O que realmente pretendemos com a
questão acerca da natureza ou essência do real, não é apenas de caráter
epistemológico, mas também ético-existencial. Não queremos compreender a
realidade última apenas para “possuir” um determinado conhecimento explicativo que
depois possamos usar a nosso proveito, mas também não o fazemos apenas por
diletantismo. Suspeitamos que se pudéssemos desvendar a natureza íntima do real
conquistaríamos a chave para o Sentido, não apenas do universo como um todo,
mas também de nós próprios, seres do universo. Mais do que formalismos e
esquemas intelectuais, queremos conteúdos existenciais. E atenção que esta
busca não é exclusivo apanágio dos muitas vezes pejorativamente apelidados de
“místicos”, mas de todos aqueles que se dedicam ao pensamento e à ciência:
veja-se, por exemplo, como os físicos atuais se debatem por uma “teoria de
tudo”, uma simples fórmula capaz de explicar toda a realidade, uma chave
matemática para todos os fenómenos do real, capaz não só de explicar como de
prever…
O esforço de redução/simplificação é
sempre um esforço esquemático da razão, seja produzindo uma conceção metafísica
de Ser ou uma fórmula matemática. É sempre a razão procurando apropriar-se da
natureza dos fenómenos, sem todavia ser capaz de a ela aceder senão de forma
muito superficial e redutora. A razão, por natureza, busca a Forma, mas não se
pode confundi-la com conteúdo substantivo. A razão não tem qualquer privilégio
epistemológico de acesso às “essências”, como várias gerações de racionalistas
defendiam, seja através de ideias inatas ou dos princípios lógico-matemáticos.
Não se chega à verdade por via exclusivamente intelectual, senão por
aproximação teórica através da conjetura, da tentativa e do erro.
VI
E se, ao invés de conceitos, abstração
e dedução racional existirem outras formas mais “intuitivas” de aceder à
essência e unidade metafísica do real, à verdade em sentido absoluto? Dito de
outro modo: poderá a realidade última, mais do que ser pensada como teoria, ser
realmente existida, isto é,
experienciada subjetivamente na sua absoluta objetividade através de uma
experiência subjetiva, pessoal? Poderá a consciência chegar onde a razão não
chega, proporcionando-nos uma experiência de conhecimento significativa,
pessoal e atual, possivelmente inefável e intransmissível (como qualquer
experiência subjetiva “qualitativa”) da realidade última ou, chamemos-lhe,
“coisa em si”?
Porque não, se a realidade que
procuramos é essencial e constitutiva do nosso próprio ser – corpo, mente e
consciência?
Será possível, por assim dizer, um
autoconhecimento absoluto, no qual a consciência fosse capaz de se conhecer a
si própria absolutamente, no seu ser mais profundo? Um conhecimento
monadológico, que pressupõe uma identificação plena entre sujeito que conhece e
objeto conhecido?
Haverá outra forma de conhecer plenamente
uma realidade que se supõe absoluta, em
si, senão a partir de dentro dessa mesma realidade, existindo-a como
existimos a nossa própria vida e interioridade? Podemos fazer da realidade
metafísica fundamental, mundo?
Não se trata da “dissolução do Eu”
na unidade cósmica - porque conhecimento
ou tomada de consciência pressupõe sempre e necessariamente um sujeito - mas de
alargamento da consciência do “Eu” até que, de algum modo, este se confunda e
reconheça no seu verdadeiro eu, aquele que constitui o absoluto da realidade
última que tudo pervade. Por este “Eu” metafísico, radicado na realidade,
significo, antes de mais, uma Existência, e não um ser pessoal superlativo, um
homem ou um deus no sentido tradicional. Essa Existência, por ser em si, e por não estar sustentada em
mais nada senão em si própria, confere a si própria o seu ser, cria-se
continuamente, e por isso É para si própria – precisamente como uma mónada.
Cada um de nós é também uma
existência, absoluta nos seus próprios termos, porque irredutível a outrem,
porque intransmissível, porque capaz de se mover a si própria dentro do seu
próprio mundo, livremente, deslocando o seu centro sem nunca se perder dele,
seja através do espaço e do tempo, seja através do intelecto. Cada um de nós é
também “ser para si”, pelo modo como está assente em si próprio, na sua
“mesmidade”, sem precisar de recorrer a algo exterior a si.
De certo modo, podemos pensar que
entre a Existência (enquanto fundamento do real) e a existência (fundamento do
nosso “Eu” particular) não existe uma
rutura, um abismo intransponível, mas antes uma diferença de grau. Conhecer a
realidade última de um modo existencial significaria superar essa diferença, de
modo que a pequena existência, absoluta do seu modo, fosse capaz de alargar o
seu âmbito através de um alargamento da consciência, ao ponto de ser capaz de
aceder à fonte da sua própria existência absoluta – a realidade última. Um
alargamento e aprofundamento da consciência significa que ela se torna capaz de
proporcionar experiências subjetivas de realidades cada vez mais profundas,
tornando-se sensível, no limite, à sua própria natureza.
Este alargamento e aprofundamento da nossa consciência não pode deixar o
“Eu” subjetivo intocado e imóvel – a consciência que se expande é acompanhada
por uma expansão do “Eu”, isto é, da própria subjetividade, até que esta, no
limite, se identifique plenamente com o “Eu” da Existência absoluta que constitui
o absoluto por excelência, bem enraizado na medula de todo o real. Neste
movimento jamais existe dissolução mística do “Eu” – apenas aprofundamento e
expansão. Um absoluto, como o próprio nome indica, não se pode dissolver.
Apenas pode aprofundar e expandir-se em direção aos seus verdadeiros limites.
Talvez esteja na altura da filosofia ocidental se voltar seriamente para
a antiga sabedoria milenar de certas religiões e místicas orientais, que há
muito praticam modos não intelectuais de aceder à unidade metafísica do real,
em vez de simplesmente as renegar como pseudo-ciências ou superstições sem
sentido. Há muito que o poder da ascese, seja através de formas de oração,
yoga, e outras, parece estar intimamente ligada à capacidade de expandir a
consciência, de tal modo que essa expansão parece estar diretamente relacionada
com um profundo e inefável sentimento de unidade cósmica. Esta parece ser a via
para uma forma de conhecimento existencial, mais do que meramente intelectual
ou conceptual. Um conhecimento que é sabedoria, isto é, que não é visado
exclusivamente como posse, poder, informação, mas cuja busca diz respeito à
realização do homem integral numa perspetiva holística, ou se quisermos,
cósmica.
VII
Coloquemos a questão com honestidade:
o que sobra daquela estante de livros à minha frente quando não está a ser
observada? (Falo da estante apenas a título de exemplo). A estante que ali
está, com as suas formas, os seus ângulos retos, cores e nuances de luz,
confronta-me objetivamente. Não creio, como os realistas mais radicais, que a
estante exista tal como é, isto é, tal como a vejo, quando ninguém está a
observá-la, como totalidade objetal com qualidades. A perspetiva que dela tenho
é resultado da minha perceção visual, mas também do modo como a minha mente
completa as lacunas do que não posso ver, inserindo essa imagem parcial num
contexto espaciotemporal, com dimensões e extensão, e também com um propósito e
até uma história, um valor e um significado.
Também não sou idealista puro: não
acredito que, o que quer que ali exista e que eu vejo como "estante”, deixe pura
e simplesmente de existir, logo que deixo de o percecionar. O seu ser ou
natureza não existem apenas quando as perceciono (o Esse est percipi), mas existem – suponho - por si, embora possam
ser diametralmente diferentes do objeto que perceciono. O que sem dúvida
sustento com o meu olhar e consciência não é o “ser” da estante, mas
exclusivamente o seu ser para mim, o
móvel enquanto ideia e fenómeno.
Acredito, sem dúvida, que algo
resiste do ser da estante quando ninguém está a observá-la, o que faz de mim
até certo ponto um realista. Ora, quando retirarmos de cena o ser para nós, o que sobrará? Só uma coisa pode sobrar: o ser para si.
Em que consiste este ser para si que resiste? Seja o que for,
é algo que lhe confere consistência ontológica, ser, permitindo a sua
continuidade e permanência, pelo que posso voltar a ver a estante logo que abro
os olhos, e esperar que tal sempre aconteça. Não é a sua forma geométrica, não
é a sua massa, não é nenhuma suposta qualidade primária ou secundária que
subsiste. Todas as qualidades que vejo e analiso não são senão diferentes
formas de ser para mim.
Suponho, pelo contrário, que o que quer que resista tem de ser o mais
simples possível, pois qualquer objeto que se dê à minha perspetiva é sempre
composto de partes diferenciadas que posso distinguir, e o próprio objeto,
enquanto tal, é ele próprio aquilo que é (i.e., enquanto ser para mim) na medida em que se distingue por individuação. Logo
que deixo de percecioná-lo, é como se se abatessem todas as divisões e
distinções, e o ser repousasse de novo sobre si próprio na simplicidade
absoluta.
Mas essa simplicidade absoluta não é
o reino do não-ser. É antes o ser no seu estado mais puro, elementar e
absoluto. É o ser no seu estado permanente, sustentado em si próprio, porque
capaz de ser para si, de tal modo
que, para ser, não precisa de ser sustentado por nenhuma existência, visão ou
perceção exterior. O ser-para-si sustenta-se pela sua própria existência e
presença para si próprio.
Imagino, portanto, que quando
deixamos de percecionar um qualquer objeto, é apenas a imagem dele que
desaparece e o seu ser real que subsiste, a sua essência, que é a essência do
real no seu todo – a realidade última. Esta essência não é já o objeto-estante
nem nada tem que ver com ele, mas antes – imagino – um oceano de partículas
infinitamente simples, tipo mónadas absolutas, que são para si próprias, na
plena presença de si próprias, sustentando o seu próprio ser pela sua presença,
quiçá através de uma autoconsciência ou autovisão plenas. Será, sem dúvida, o mais
próximo que temos de Deus, ou de deuses (“Tudo está cheio de deuses”, escreveu
Tales; estaria realmente certo?).
VIII
Falar em “ser para si” ou “coisa em si”, é pressupor a existência de uma
realidade que se situa para além da experiência das nossas perceções. É um
pressuposto arriscado, sobretudo se pensarmos como os empiristas céticos ou idealistas,
segundo os quais todo o conhecimento que possamos ter do mundo é conhecimento
de perceções e ideias, o que nos impede de “sair para exterior” para provarmos
a nossa crença num “mundo em si”, exterior às nossas perceções.
Se pensarmos assim, colocamos um limite ao nosso conhecimento, sob o
pressuposto de que existe uma realidade essencialmente incognoscível, o que,
por conseguinte, e paradoxalmente, nos obrigaria por sua vez a provar a
incognoscibilidade dessa mesma realidade, o que só poderia acontecer se
pudéssemos conhecê-la. Mas se não podemos conhecê-la, então não podemos provar
que é incognoscível, e por aqui entramos no famoso problema da
autorefutabilidade do ceticismo radical.
De facto, saber que há limites
inultrapassáveis implica que se conheçam esses limites, e o que está para além
deles. Conhecer apenas um lado de uma fronteira não nos diz positivamente o
porquê de ela não se poder atravessar. Podemos estar proibidos, mas isso não é
o mesmo que saber.
Pode ser ainda que tais limites não sejam, em si, inultrapassáveis, mas
antes que os limites residam nos nossos instrumentos cognitivos. Mesmo nesse
caso, porém, só podemos estar certos de tais limites se estivermos também
certos de que existem dimensões do real que os ultrapassam. Temos fortes razões
para acreditar que existem átomos, e também espectros de luz e som que não
podemos ver nem ouvir, e portanto admitimos, com base nessas crenças, que o
alcance dos nossos sentidos é limitado.
De qualquer modo, admitimos que por vias indiretas podemos ter acesso a
essas realidades e, por consequência, podemos superar parcialmente as nossas
limitações naturais.
E com a ajuda dos instrumentos lógicos da nossa razão, conseguimos
construir teorias e ideias explicativas coerentes de dimensões do real,
normalmente inacessíveis ao senso comum.
É possível que nunca venhamos a ter a prova definitiva, positiva, das
nossas hipóteses e teorias mais elaboradas, pelo menos através da via
estritamente científica (isto é, racional, observacional e experimental). Os
instrumentos, princípios e regras lógicas do nosso pensamento são apenas isso
mesmo - instrumentos, meros “andaimes” do pensamento; não descrevem a realidade
em si, e muitos menos são essa
realidade. São reguladores estruturantes do pensamento, necessários à
construção de qualquer edifício teórico, não “reflexo puro” de “substâncias” ou
“princípios metafísicos”.
A “coisa em si” consiste, portanto, naquilo cuja existência e natureza
não podem ser conhecidas nem provadas. É esse “sempre mais além” cuja
existência intuímos, e que enveredamos todos os nossos esforços cognitivos para
desocultar, embora o fim nunca seja o fim, e a verdade total sempre nos escape.
Na verdade, não temos senão experiência imediata da qualidade subjetiva
das nossas perceções, sensações e ideias, no seio da nossa irredutível
interioridade. Cada uma destas qualidades – sejam sensações, pensamentos ou
sentimentos – é um “em si” que eu posso conhecer, objetiva e absolutamente. Não
falo dos objetos exteriores, mas da qualidade subjetiva das representações e
imagens da minha mente – a qualidade intensa, viva, incontornável de uma
perceção, cujo único ser consiste, na verdade, em ser para mim (ao contrário de
qualquer objeto exterior).
A qualidade de uma perceção visual ou táctil (p.ex. a rugosidade ou
lisura da mesa onde escrevo), tem um ser próprio que é para mim diretamente
acessível e é, na verdade, o seu único ser (o Esse est percipi aplica-se às ideias e perceções, mas não aos
objetos exteriores, como anteriormente já vimos). Diria, com rigor, que só no
seio de uma subjetividade é possível a absoluta subjetividade.
O mundo dos fenómenos situa-se, por assim dizer, entre duas metafísicas: uma à qual temos acesso direto através da
consciência, no reduto da nossa interioridade subjetiva; e a outra, que é
aquela que se situa no exterior da nossa interioridade, para além e na base de
todo o fenómeno. A primeira é a dos objetos/essências mentais, situadas no
domínio da nossa interioridade subjetiva; a segunda a das essências
metafísicas, situadas para além da esfera da nossa consciência.
Talvez não exista, como já vimos, uma divisão absoluta entre ambas as
metafísicas. O mundo não chega a ser uma barreira: é apenas um espaço que se
abre à nossa existência, enquanto seres biológicos muito peculiares, desde que
começamos a existir, para que possamos efetivamente existir. Não nos limitamos
a existir no mundo, porque o mundo,
existencialmente falando, não é um lugar. Existimo-lo,
porque a nossa natureza é existir, e através das nossas virtualidades biológicas
e da nossa liberdade; o que quer que lá fora haja de certa forma se entrega, e
por vezes se molda, não apenas ao que já somos, mas ao que voluntariamente
desejamos ser. O mundo não está pronto, à espera do ser para existir. Mundo e
existência são uma só realidade – não é apenas o homem que é ser-no-mundo, mas
o mundo que é ser-no-homem.
Dizia eu: talvez não exista uma divisão absoluta entre as metafísicas.
Desde que a consciência, e com ela a interioridade, se possam alargar e
expandir, quem sabe se no limite não é possível ter experiência subjetiva,
imediata, das essências do mundo, da “coisa em si”? Pudéssemos nós apreender a
“coisa em si” como se fosse uma ideia, uma qualidade mental, e qualquer
representação/mediação seria dispensável.
Peguemos em qualquer ideia, como a de “cavalo”, por exemplo. A perceção
que temos da imagem mental “cavalo” é imediata. Possuímos uma experiência
subjetiva, que é o mesmo que dizer, direta da ideia “cavalo”. Esta ideia é para
nós um objeto mental, uma totalidade absolutamente presente à nossa
consciência, pois a sua natureza consiste, integralmente, em ser-para-mim na
experiência de uma qualidade subjetiva. A sua natureza de evento fisiológico ou
neuronal não me interessa, não me diz respeito; pode ser causa da minha perceção, mas definitivamente não é a perceção, porque essa só existe ao
ser percecionada. Só aí, no espaço de uma consciência, é que ela emerge como
ideia, e só essa imagem me diz respeito, como qualidade que eu posso apreender.
Ora, supondo, como o fiz no início, que a realidade última, a “essência
de tudo” que é Existência, reside em tudo o que tem ser, e sustenta todo o ser,
então também a minha ideia de “cavalo” é constituída, na essência da sua
qualidade de perceção, pela realidade última.
E supondo também que um conhecimento da realidade última tem de ser
existencial, isto é, só se efetiva a
partir de dentro do absoluto da existência primeira ou Existência, por via
de uma expansão da consciência/subjetividade pessoal até aos limites da consciência/subjetividade
absoluta.
Segue-se, portanto, que a imediaticidade do conhecimento da realidade
última em muito se assemelha ao conhecimento imediato de uma ideia ou perceção.
Isto é: presença absoluta de uma
totalidade que consiste integralmente em ser-para-nós.
Mas, se uma ideia/perceção é já, em si mesma, presença absoluta, será
possível que ela possua uma natureza ainda mais profunda, como seja a da
realidade última que a constitui? Será possível à consciência conhecer-se sendo, de outra forma que não seja
através de uma absoluta presença de si para si própria, na forma de uma
experiência qualitativa de uma perceção ou imagem mental?
Respondo que a experiência da presença absoluta de um objeto mental à
consciência, é já sintoma, em pequena escala, da imediaticidade decorrente de
um situação em que uma certa realidade tem acesso imediato à sua natureza
essencial – neste caso, falamos da consciência, que se experimenta a si própria
na qualidade dos seus objetos.
Ao ter acesso imediato à sua natureza essencial, denunciada pelo modo
absoluto como as ideias se apresentam perante a consciência, em total
ser-para-nós, a consciência encontra-se, realmente, presente a si própria na
sua natureza. A consciência revela-se, portanto, ser-para-si, condição de qualquer absoluto.
Diríamos, por conseguinte que a natureza da realidade última está já
presente nessa qualidade que é experimentada subjetivamente e que consiste em
absoluta presença, constitutiva de qualquer perceção ou ideia. Assim, conhecer
objetivamente a natureza da realidade última, como existência absoluta, não
seria mais do que expandir a consciência até que ela fosse capaz de se tornar
absolutamente presente para si própria, na sua inteireza, explodindo com todas
as formas – perceções, ideias, conceitos -, deixando apenas, intacta, a
qualidade da pura presença.
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