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quarta-feira, março 25, 2009

Nova Idade Média



Hoje, enquanto via um programa no canal história sobre o éden biblico e a sua possível localização geográfica, tive uma espécie de epifania intelectual: a sociedade em que vivemos está a perder a ligação às suas raizes. Estamos a perder noção do nosso passado, e de quão importante é a conexão com a raiz que nos sustenta, a terra de onde vimos e para onde vamos. O preço desta negligência crescente é um outono eterno, uma cada vez maior perda de vitalidade nas folhas que somos, nos frutos que produzimos, nos ramos de onde derivamos. O preço de tudo isto é um derivar ideológico, intelectual, um amorfismo de pensamento, de crenças, de convicções. O preço de tudo isto é uma nova idade média na qual já entramos, embora ainda não lhe chamemos tal coisa. É uma idade de novos fanatismos, novos obscurantismos, pouco espírito verdadeiramente racional e crítico do mundo e da vida. A moda e o status quo arredam-nos dos centros de decisão política. Não é por acaso que 90 por cento da população simplesmente não se interessa por política, nem lê jornais, nem se informa devidamente sobre nada. A moda e o status quo arredam-nos dos humanismos, das ciências, do pensamento em geral. Não é por acaso que pertencer a uma área científica ou humanista em Portugal é, quase sempre, uma condenação a um fracasso profissional gritante e nada digno. Não é por acaso que se põe a tónica no tecnológico, no aparentemente útil, no tecnicismo.

Não é por acaso que vivemos num tempo em que a imagem, a publicidade, a força da opinião dita pública é dominada pela opinião privada – a opinião da maioria não é mais do que a opinião estrategicamente colocada e vestida pelo marketing -. Não é por acaso que cada vez mais jovens não saibam nada da história universal, ou sequer da história do seu país, ignorância encarada como natural, e com um sorriso condescendente no rosto. As televisões são o reflexo de um pseudo-serviço público, apostado menos em responder às verdadeiras aspirações intelectuais das pessoas, dos jovens, das crianças, do que aos interesses dos seus patrocinadores. Os conteúdos televisivos não formam nem informam; antes desinformam e desformam. Apostam numa rotina de mediocridades, de lugares-comuns, de conteúdos light que não obrigam a pensar muito... E sublinho o papel das televisões porque são o meio mais popular e mais ubíquo em todo o mundo. Ainda que não queiramos, os seus conteúdos entram pelas nossas casas, e, subliminarmente, pelas nossas consciências ou inconsciências adentro. Um estudo com alguns anos demontra que, em média, os europeus vêem 3 a 4 horas de televisão por dia! Ora, feitas as contas, 8 horas são para dormir, 4 para ver televisão (já são 12 horas), mais 8 para trabalhar, e as restantes 4 são para comer, beber, tomar banho, estar no trânsito, etc. Portanto, quanto tempo sobra para o resto? Nenhum. Chamo-lhe a rotina da estupidificação, na qual, infelizmente, estou também incluído até certo ponto. As necessidades materiais, a pobreza crescente, agudizada pela crise internacional (crise que pode ser desculpa para tudo, inclusive para acentuar este status quo a favor de alguns interesses económicos e políticos pouco claros que tudo controlam) vão piorar e agudizar esta rotina da estupidificação. Enquanto se mantiverem as massas ocupadas com a sua própria sobrevivência, certamente que não terão tempo nem paciência para ler Homero ou pensarem sobre questões fundamentais como de onde vimos? ou para onde vamos?. Pois certamente que não. Entretanto é tão mais fácil manipular o dito povo que mais ordena.

2 comentários:

Sara disse...

Caro Ruben,

Parabéns pleo texto, não poderia concordar mais com o que escreves e transmites pelas tuas palavras.

Felizmente, no meio desta estupidificação generalizada há sempre alguns diferentes que vão tocando aqui e ali, e vão alterando e transformando.

Não podemos mudar o mundo, mas podemos começar por nós e todos os que nos são próximos.

Continua a escrever de forma reflectida e pensante :-).

Abraço.

Sara

Marise von disse...

Olá Rubens,

Parabéns pelo texto!!!
Concordo plenamente com você, a solução seria consertar o homem...para mudar o mundo, mas o homem não quer ser consertado. Para mudarmos é necessário o "querer", e esse querer está fora de moda.
Abraço,
Marise.