Anúncios google

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Respondendo à Crise Mundial - e eu não sou economista...




Somos confrontados diariamente com o espectro da crise. Ela parece estar em todo o lado, de todas as maneiras, e a verdade é que está para durar. O desemprego aumenta de dia para dia a uma velocidade exponencial. Fecham empresas, descobrem-se fraudes milionárias na alta finança, e o optimismo dá lugar ao desespero. Nos EUA, Obama está com imensas dificuldades em fazer passar o seu plano de 800 mil milhões de dólares. O que é curioso, é que antes do plano Obama existiu um plano Bush de 700 mil milhões que pouco ou nenhum efeito positivo teve na economia. Ou seja, o ataque à crise tem-se baseado na injecção massiva de dinheiro do Estado na esfera privada, essa mesma que supostamente se regulava a si própria e reclamava menos estado. Parece-me incrível que os grandes economistas, nomeadamente o sr Greenspan, tenham ignorado um princípio fundamental denominado princípio da entropia. Era óbvio que perante a crescente globalização do mercado – e de tudo o que a globalização implica – o epílogo desta caminhada só poderia ser o caos. O princípio da entropia diz que, num qualquer sistema fechado, o aumento da complexidade do sistema conduz, inexoravelmente, ao aumento do caos.

A globalização rege-se por três princípios: o princípio borboleta, o princípio da entropia, e o princípio bola de neve. O princípio borboleta designa que o que se passa num determinado sector da economia de mercado influencia, mais tarde ou mais cedo, todos os outros sectores, inclusive os mais periféricos. O princípio da entropia designa o que já disse no parágrafo anterior, ou seja, quanto maior a complexidade da rede de relações entre um número cada vez maior de agentes económicos, maior o caos e a desordem. Por fim, o princípio da bola de neve. Este princípio é o mais curioso, na medida em que tende a amplificar as intenções latentes ao económico, tornando-as dominantes. Ora, na medida em que aumenta o número de agentes económicos, aumenta também a competitividade. O aumento crescente da competitividade abre caminho a uma inversão de valores. Ou seja, se o impulso inicial da globalização se baseava na responsabilidade, o aumento da competitividade e da ferocidade na luta pelo domínio conduz a uma crescente tolerância à irresponsabilidade, ou seja, e traduzindo em linguagem económica, ao risco. Se o impulso inicial era uma certa contenção e austeridade, o aumento do caos e da competitividade conduz a uma crescente tolerância em relação à ganância. Portanto, a bola de neve consiste na amplificação de impulsos que existiam de forma moderada, mas que, por questões de competividade e de lucro, se tornaram dominantes em relação aos impulsos originais. Isto vê-se, por exemplo, ao nível do trabalho. Podemos dizer que ao longo do séc. XX muitas foram as conquistas ao nível das condições de trabalho. Por exemplo, as 40 horas semanais, as férias pagas, os cuidados de saúde, o subsídio de desemprego, os contratos de trabalho. Ora, na medida em que a economia está globalizada e conta, hoje, com novos actores como a China, a Indía, a Rússia, está-se a abrir caminho à tolerância em relação a condições de trabalho menos vantajosas e, em muitos casos, absolutamente desumanas. Está a dar-se uma inversão de valores, na medida em que o trabalhador também passou a fazer parte do jogo do mercado, ou seja, assim como uma indústria procura obter a sua matéria prima ao preço mais barato do mercado, é também legítimo (segundo as leis do mercado) que esta mesma indústria procure trabalhadores ao preço mais barato do mercado. Isto justifica deslocalizações em massa para países como a China. Ora, perante isto, a China vê-se subitamente catapultado para a cena internacional como incontornável agente económico. E o que acontece de seguida? É forçoso que hajam ajustamentos internacionais (princípio da borboleta) que conduzem a um aumento brutal do desemprego, para que o mercado de trabalho se dilate e contenha agora milhões de pessoas que, perante a inevitabilidade das circunstâncias, se vejam obrigadas a trabalhar sob condições de trabalho mais precárias e com salários muito inferiores a que, em muitas situações, estavam habituadas. Esta crise mais não é do que um brutal e terramótico ajustamente aos novos valores de mercado, como sejam a consagração da irresponsabilidade, da ganância efectiva, e do homem-produto.

Deixo algumas medidas que poderiam ser postas em prática para fazer face à crise.

- Proteccionismo financeiro – todas as grandes fortunas só poderão sair de Portugal com a aprovação do BP.

- Reforço do aparelho produtivo agrícola, com integração de quadros qualificados, bem como de mão de obra indiferenciada. Portugal não pode apenas um país de serviços – Negociação com Bruxelas das cotas impostas

- Perdão de dívidas fiscais até 10 mil euros.

- Nos casos de maior necessidade, em que um determinado agregado familiar se veja em risco de não conseguir pagar a prestação ao banco, o Estado comparticipa pagando os juros associados, ou uma determinada percentagem mais significativa da prestação mensal, durante um período de tempo a combinar com a instituição bancária.

- É preciso facilitar e fomentar mobilidade dentro da UE a nível de empregabilidade. O mercado global determina que haja mobilidade também ao nível do mercado de emprego, e portanto, o estado deve facilitar, seja através de bolsas ou outros tipo de comparticipações, o emprego fora de Portugal, sobretudo para os mais qualificados.

- O emprego electrónico deve ser também fomentado. As empresas devem apostar cada vez mais em emprego não presencial. Deve ser possível que alguém viva em Portugal e trabalhe para uma empresa Belga, sem sair de Portugal.

- Comércio justo. A UE deve esforçar-se por fazer valer os seus valores de trabalho justo e leal. Os países que fomentam o trabalho precário, mal pago, desumano, desrespeitador dos direitos mais elementares do trabalhador, devem ser censurados, os seus produtos boicotados, e as empresas que se deslocam para estes países, multadas.

- A união europeia tem de criar uma política económica que configure uma unidade real, universal, concreta.

- Os prevaricadores e fomentadores da irresponsabilidade financeira e económica devem ser punidos de forma exemplar.

...

1 comentário:

Anónimo disse...

O número de desempregados inscritos nos centros de emprego atingiu um número alarmante: meio milhão de pessoas que de um dia para o outro deixaram de ter acesso ao dinheiro para as suas despesas ou para pagarem as suas dívidas. Em meados de Abril de 2009 já se tinham perdido cerca de 100.000 empregos desde Agosto de 2008 (é preciso notar que muitas pessoas nem sequer se inscrevem nos centros de “desemprego”) numa média de 1.000 empregos por dia perdidos, ou seja 1.000 pessoas que “perdem” a sua vida de um dia para o outro. Muitos dos desempregados, a recibos verdes, nem sequer têm direito a nenhum subsídio, pois tendo património não se podem candidatar ao rendimento mínimo.

O Crédito malparado subiu 32% ou seja o equivalente a um total de 773 milhões em cobranças duvidosas (a uma média de 5,75 milhões por dia), dos quais 76% são empréstimos por pagar, de empresas. No caso dos particulares o malparado incide essencialmente sobre os empréstimos de compra de habitação. Da mesma forma nos impostos os pagamentos fraccionados estão a substituir os pagamentos a pronto e muitos contribuintes não conseguem mesmo cumprir as suas obrigações fiscais. Indiferente à crise, as finanças continuam a aplicar as suas pesadas multas, independentemente da situação financeira de indivíduos ou famílias…