Anúncios google

terça-feira, novembro 20, 2007

Congresso de Aconselhamento Ético Filosófico




No passado fim de semana (16,17 e 18 de Novembro) teve lugar em Faro o Congresso Internacional de Filosofia Aplicada dinamizado pela APAEF. Contou com a presença de personalidades reconhecidas nacional e internacionalmente, nesta nova disciplina a que chamam Aconselhamento Ético Filosófico.

Porque eu já havia ouvido falar na Filosofia Clínica, e tinha achado o conceito interessante e inovador, decidi percorrer o país de norte a sul para assistir ao congresso. O auditório da Escola Secundária João de Deus, apesar de tudo, não estava tão repleto como eu pensava que iria estar. As pessoas que encontrei eram na maioria do Algarve, e muitas pertenciam à APAEF. Como alguém haveria de dizer «são sempre os mesmos». Para mim não eram os mesmos, eram todos novos.

Abordaram-se temáticas relacionadas com a saúde numa vertente holística. Apresentaram-se métodos inovadores de aconselhamento: Raciopoetismo, Project, Análise de Sonhos, entre outros. Enfim, uma miríade de metodologias que neste momento devem menos a um estudo realmente sistemático e sintético, do que ao à vontade e imaginação de quem os pratica. Na prática, qualquer licenciado em Filosofia pode abrir um consultório de aconselhamento. Não existe nenhuma licença especial, embora seja conveniente ter uma formação creditada pela APAEF. Formação que passa normalmente por workshops mais ou menos elaborados, mais ou menos longos. Tudo está muito no começo, embora haja já um sinal da credibilidade que a disciplina de aconselhamento poderá vir a assumir, na medida em que o Instituto Piaget vai abrir uma pós-graduação nesta área.

Achei também muito interessante a ideia de criar gabinetes de apoio filosófico nas escolas. Os psicólogos que se cuidem. Havia muitos psicólogos na conferência mas não participaram como eu esperava, nem se levantaram em nenhum momento para defender de espada em punho a sua ciência. Nem quando um dos conferencistas praticamente reduziu a Psicologia ao estudo do inconsciente… Continuando. Claramente as escolas têm imensa matéria prima para os conselheiros filosóficos. Não falo apenas dos adolescentes, assoberbados em dilemas típicos desta fase, mas dos professores e até dos pais.

Pareceu-me que a ideia fundamental do aconselhamento passa por ajudar, ou dar as ferramentas para que o «cliente» clarifique perante si mesmo as suas dúvidas, os seus temores, as suas concepções de vida. Clarificar passa por fazer uma análise conceptual dos conceitos que estruturam o seu pensamento. Há aqui algo de socrático nesta ideia de «extrair» do outro a concepção que ele próprio tem dentro de si mas de que se esqueceu, ou ocultou com o véu dos seus preconceitos, ou dos seus erros e falácias do seu pensamento. E atenção que aqui não cabe a psicanálise, nem os egos ou super-egos freudianos. Segundo alguns dos conferencistas, é preciso evitar uma atitude paternalista por parte do conselheiro, ou uma situação de superioridade moral ou ética deste, em relação ao seu cliente. O conselheiro é só e apenas um orientador. A imagem no ínicio é um retrato de María Zambrano, importante filósofa espanhola do séc XX que parece ter sido a mãe da ideia de que se poderia pôr em prática um tipo de aconselhamento eminentemente filosófico.

A ver. Um dia também eu vou abrir o meu consultório de aconselhamento.

2 comentários:

Elisabete Joaquim disse...

É verdade, só por teres atravessado o país mereces uma condecoração =)

Já eu achei que os psicólogos falaram de mais =p

Quanto à Maria Zambrano, ela não foi a «mãe» do Aconselhamento Filosófico, nem acho sequer que ela o tenha praticado (houve é dois conferencistas que aplicaram a Filosofia dela ao Aconselhamento).

A ideia da Filosofia aconselhar as pessoas não é «nova»: é tão velha quanto as ruas que os filósofos gregos pisavam em diálogo permanente, e solicitado, com os trauseuntes. Enquanto actividade de gabinete, ela surge na década de 80, há quem diga que na Alemanha, há quem diga que nos EUA. No estrangeiro esta actividade está já em pleno funcionamento há décadas: é mesmo só em Portugal que isto ainda cheira a novo =)

JoanaRSSousa disse...

E diz lá que não valeu a pena correr o país de uma ponta à outra?