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terça-feira, setembro 06, 2005

Pés-de-barro

Estaremos condenados eternamente à mesquinhice e à corrupção humanas?
Para onde quer que olhemos há ódios, fúrias, corrupção. Em actos ou em palavras, o homem novo (por muitos considerado o último homem; o homem do pós-modernismo) submete progressivamente a sua mundivisão a um jogo simples, de troca por troca, interesse e regozijo (fruto mesquinho da concretização dos mais fúteis objectivos e vivências). As grandes sociedades fizeram deste jogo o objectivo primeiro da alma humana, o cerne da existência pessoal, e a sua razão de ser. Cada vez mais o hábito justifica o status, e a rotina enterra as grandes questões. A máquina viceja perfeita, acomodada, enquanto o barulho, o fácil e o vazio justificam o seu funcionamento. Porque na verdade, este homem novo e sem polpa (referência ao homem light de E. Rojas) caminha sem saber porquê, olha sem ver, sente um vazio que não sabe explicar, e não vê outra solução senão preenchê-lo com a felicidade fácil, enlatada, e com livro de instruções, disponibilizada pela própria sociedade em que vive.

Eis porque duvido sempre da modernidade: ser moderno é sobretudo estar na moda, e todas as modas são efémeras. Como tal, em todas as épocas da história se foi moderno, e em todas existiram modernidades. Mas o homem novo... Esse dá a modernidade como garantida. Para ele, o fim da história está aí, ao virar da esquina. Tudo o resto é tema para loucos. Também os romanos na antiguidade clássica vaguearam felizes nas ruas, dando graças ao seu tempo, à modernidade! Então quando menos esperaram vieram os «bárbaros», e despedaçaram-lhes o seu adorado ídolo de pés-de-barro...

Por todo o lado há ídolos de pés-de-barro. Todo o homem com sentido de eternidade terá sempre este aviso na boca: «afastem-se um pouco dos vossos ídolos para que os possam ver melhor na globalidade; vejam o ouro das cabeças, como brilha mais que tudo o resto; mas se o ouro é eterno, o barro não o é, e esse é que mantem a cabeça erguida...»

O mundo hoje é um grande jogo de necessidades. Joga-se com o que é necessário para que se possa lucrar com os outros; se as necessidades não chegam há que inventar outras, convencendo os homens de que não são nada sem elas. Por um lado há um jogo cumulativo de inovação tecnológica e científica que é inegável. Por outro, acaba-se por dar um valor à materialidade completamente imerecido, deturpando a natureza humana, os valores, e o homem na sua essência.

Pergunte-se hoje a um homem sobre qual será o verdadeiro objectivo da sociedade em si mesma. O que responderá? Provavelmente dar-se-á conta de que nunca pensou em profundidade no assunto, e depois esboçará respostas hesitantes do estilo «a felicidade» ou «a prosperidade». Depois calar-se-á e retomará o seu caminho sem voltar a pensar muito no assunto.

É portanto nesta ideia de felicidade – mal compreendida e usada em exagero – que se alicerça toda a organização social, e para onde convergem todos os seus esforços. Felicidade essa escondida na fachada publicitária, incutindo no indivíduo a ideia de que só será feliz seguindo determinados requisitos, modelos, arquétipos. É o aproveitamento do homem pelo homem, na busca de necessidades ilusórias através das quais atrairá o seu próximo, que por sua vez busca uma forma fácil de preencher o seu vazio moral e intelectual. Com isto sofre a arte, subjugada pelos interesses fáceis e efémeros das massas, sempre na demanda do seu (s) ópio (s). Nisto perde o homem, que ao ser privado da sua essência não têm força, deixando-se levar pelo turbilhão da imagem, da publicidade, do vazio. Nisto perde também o Estado, cuja missão mais imediata passa a ser a de manter entretido o povo, iludindo-o, dando sempre a tónica ao económico, ao crescimento. Nos bastidores desta tragédia definha a educação, a cultura mendiga, e o homem esvazia-se.

Pois desengane-se quem vê neste homem novo o último homem. Historiadores vindouros rir-se-ão das suas pretensões de modernidade e civilização. Dirão: «Apesar de toda a tecnologia que o homem pós-moderno suportava, a sua incapacidade para na mesma medida se desenvolver moralmente e espiritualmente, foi a primeira razão pela qual ficou muito longe daquilo a que hoje podemos chamar de civilização ecuménica e universal. Ficou provado que não há pleno desenvolvimento se, ao furor tecnológico e cientifico não estiver associada uma forte vertente filosófica, litúrgica e cultural, muito mais importante, e que deve ser cultivada antes de tudo o resto.»

3 comentários:

Anónimo disse...

18.Setembro.2005.
Recebemos a notícia da tua entrada na FLUP, no curso de Filosofia. Rejubilámos em uníssono, através de msgs de telemóvel a alguns kms de distância. Tão longe e, no entanto, sempre tão perto. Enlouqueço de alegria, palavras não consigo exprimir, mas as emoções atingiram o rubro há minutos atrás.
Neste momento, meu adorado Poeta, só tenho a dizer-te o seguinte:
OBRIGADA POR SERES MEU FILHO! Quem precisa de riquezas materiais com filhos como vocês? Sou a mãe e mulher mais feliz do mundo...
Sinto que minha missão nesta terra está atingindo os seus pontos fulcrais...
Muito obrigada...
AMO-TE!!! Mãe

Daniel disse...

Parabéns Ruben!

Anónimo disse...

Olá, ainda não tiva tempo de ler todos os teus textos, pois a tua criatividade e vontade de escrever estao constantement em ebulição e ultimament também não tenho tido muito tempo, mas do pouco que li o que tnhu a dizer é positivo (mais que positivo até)! Prometo ler o máximo que puder e fazer uma reflexão cuidada, pois torno a comentar com a minha perspicacia científica :P (joking)! força, estas no bom caminho e tens todo o meu apoio!
bjs da tua prima Inês :)********